sábado, 2 de abril de 2016

A célebre bodega do Antônio* (parte 2/2)


                                                                                     A.F.Monquelat

As cenas do Bairro Sujo: um policial é ferido na tasca maldita

            Entra em cena novamente a tasca de Antônio Fernandes, à Rua Tiradentes nº554, onde regularmente se desenrolavam as cenas mais degradantes e imorais.
         Naquele antro imundo, anti-higiênico, cheio de miasmas, de uma atmosfera repugnante, naquele antro teria alguma cena de sangue, dentro em breve, se a polícia não providenciasse alguma atitude, dizia o jornalista.
         A polícia seria a única responsável, que as desordens quotidianas se transformavam em crimes horripilantes.
         A culpa recairia toda sobre ela. A ela cabia evitar o mal que se propagava assustadoramente.
         Ontem, 2 de agosto de 1916, ocorrera ali uma desordem que, era uma bela promessa: Rosalino Jorge, ébrio e desordeiro conhecido, foi, como de costume, à tasca de Fernandes e começou a beber em companhia de outros. Não tardou o álcool a produzir os seus efeitos em Rosalino e seus camaradas. Discutiram a valer. Da discussão, chegaram à via de fato. Houve punhais, facas e revólveres arrancados. A confusão foi enorme. O guarda nº21, do 1º posto, quis fazer cessar a desordem. Rosalino, não se conformando com a sua presença ali, começou a ofendê-lo com palavras ásperas e chegando a dar-lhe um talho na mão esquerda.
         O guarda, sentindo-se ferido, apitou por socorro. Compareceram dois companheiros que o auxiliaram a efetuar a prisão de Rosalino.
         Este foi recolhido ao xadrez do 1º posto e, no dia seguinte, seria posto de novo na rua e tornaria a frequentar a tasca imunda.

As cenas do Bairro Sujo: a tasca maldita é varejada pela polícia


            Dia 5 de agosto de 1916, à noite, o ajudante Abarahy, acompanhado de alguns guardas, deu uma batida nas bodegas do Bairro Sujo.
         A primeira a ser visitada foi a célebre tasca maldita de Antônio Fernandes, à Rua Tiradentes nº554.
         “Ora, até que enfim, vai começar a Inana”, concluía o jornalista de O Rebate.

De novo a bodega do Fernandes

            Começaram de novo as badernas no Bairro Sujo, à Rua Tiradentes, na bodega de Antônio Fernandes.
         Um soldado da escolta que conduzia os presos de Canguçu para esta cidade, dia 7 de setembro de 1916, às 22 horas, embriagou-se, promovendo grossa “baderna” no local acima.
         O soldado principiou por espancar a mulher Maria Marta, sendo preso à ordem do Sr. Delegado de polícia, e entregue ao comandante da escolta.

Medida louvável: saneamento da “Encrencópolis”

            Sábado último [09.09.1916], pelas 23 horas, o Sr. tenente Luiz Felipe Abarahy, ajudante do 1º posto, acompanhado de alguns guardas, deu uma batida na celebrizada bodega do português Antônio Fernandes, na Encrencópolis, efetuando a prisão dos indivíduos Gilbert Felix, Antônio Dias, Manoel Teixeira, Fernando Pereira, Bernardino Carlos Pinto, Amaro Porto, Alípio Bandeira, José Freitas, Arlindo Barbosa, Walter Rosa, Adolfo Freitas, Hermínio Rodrigues, Manoel Gonçalves, Octavio Fagundes de Oliveira, José Gonçalves e das mulheres Cândida Palácio, Máxima Maria da Silva, Honorina Machado e Ignez Ferreira da Silva.
         Toda essa assembleia, que ali promovia desordens, foi recolhida ao 3º posto.
         A polícia ordenou também o fechamento da pocilga.
         Digno de aplausos era por certo essa medida, que de há muito se tornava necessária, pois, como era sabido, a bodega de Antônio Fernandes era ponto de terríveis desordeiros, que ali cometiam toda a sorte de tropelias, concluía o jornalista do Opinião Pública.

Agressão à navalha no “bairro sujo”

            Ontem, 17 de novembro de 1916, às 21 horas, o indivíduo Antônio Fernandes, depois de beber demais, em uma tasca à Rua Tiradentes nº554, encontrou-se com sua ex-amásia Joana Tertuliana Rodrigues e, por motivos de ciúmes, teve com ela uma troca de palavras.
         Fernandes, que é um indivíduo de maus instintos, puxou de uma navalha, fazendo-lhe os seguintes ferimentos: um na cabeça, um no pescoço e outro no ombro direito.
         Comunicando o fato à polícia, esta compareceu ao local, efetuando a prisão do agressor, que tinha a navalha oculta na botina e negou ter sido o autor da façanha. A vítima medicou-se na Santa Casa.

Agressão à navalha

         Esteve na redação de O Rebate, dia 18 de novembro de 1916, o Sr. Antonio Fernandes, proprietário da bodega sita à Rua Tiradentes nº554, e disse-lhes que não fora ele, e sim o indivíduo Isac Mascarenhas, amante de Joana Tertuliana Rodrigues, que agredira a navalha, a mesma mulher.
         O fato, disse o referido senhor, passara-se na rua, e não naquele estabelecimento.


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(*) Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado

Revisão do texto: Jonas Tenfen

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