Ciclismo:
um esporte da elite pelotense
A.F.
Monquelat
Os primeiros biciclos [veículo de duas rodas geralmente de
diâmetros desiguais, tendo a da frente, a maior, as funções de diretriz e
motriz] apareceram em Pelotas por volta do ano de 1885. Foram eles adquiridos
pelo visconde de Souza Soares, como instrumentos de diversão, para as festas
ocorridas no Parque Souza Soares.
Por serem já usadas, é possível que tivessem pertencido a
algum circo de variedades, dos tantos que passaram pela cidade.
A armação desses biciclos era metálica, sendo que as rodas
eram de madeira, chapeadas de ferro, com um diâmetro de cerca de 80 centímetros
e uma base de 3 cm. O comprimento era de mais ou menos 1.80 m. Como fossem
longos, davam a impressão de bicicletas, se bem que os pedais acionassem a roda
anterior.
Por volta do ano seguinte, 1886, surgiu em Pelotas um
biciclo “bem típico e belo”, vindo de Paris e que era, segundo diziam,
elegantemente dirigido por Bernardo da Nova Monteiro. A roda da frente deveria
ter 1.20m de diâmetro e a menor 30 ou 35 centímetros. Eram forradas com
borracha maciça de 2 cm de base, sendo o pedal na roda da frente.
Dava-se-lhe o impulso correndo subia-se por dois pedais que
havia no suporte da roda traseira.
É importante lembrar que naquela época as ruas da cidade não
ofereciam as mínimas condições para passeio em tal veículo; entretanto, o Sr. Monteiro
chegou a ir algumas vezes ao Parque Souza Soares, assistir às diversões domingueiras
naquele recanto no novo meio de transporte.
As primeiras bicicletas que aqui chegaram foram pelo início
do ano de 1896. Eram de dois irmãos Leivas Leite e de outros dois Simões Lopes,
vindas especialmente da Europa.
Nesse mesmo ano, logo a seguir, o visconde de Souza Soares
trouxe de Paris outras duas, para seus filhos Leopoldo e Miguel de Souza
Soares, que se encontravam estudando na cidade de Rio Grande. Eram elas da
famosa marca Clement, com pneus de pressão, da fábrica Dunlop, trazendo os
primeiros antiderrapantes ao nosso meio.
Estes pioneiros do mundo do ciclismo faziam muito sucesso
quando saíam pelas ruas de Rio Grande (onde não eram conhecidas as bicicletas),
provocando um acúmulo de pessoas às portas das lojas, armazéns e diversas outras
casas de comércio, curiosos com a novidade.
O duro contratempo era provocado pelos cães das ruas (que na
época infestavam as ruas da cidade), que atacavam os iniciantes ciclistas,
jogando-se contra as pernas destes.
No ano de 1897, vieram de Paris outras bicicletas por
encomenda, como a de Myrtil Franck (o Boulanger),
a de Carino Souza, da marca La Française,
que viera acompanhada de dois trajes completo de ciclista. A de Myrtil Franck
era de borrachas maciças, de péssimo cômodo e de um insuportável peso de
pedais.
Do grupo de ciclistas amadores, irmanados nas excursões
dominicais, participavam também Ambrósio Perret Júnior, Lúcio Lopes dos Santos
Sobrinho, Miguel de Souza Soares e muitos outros.
Depois surgiram os irmãos Le Coultre, relojoeiros suíços,
estabelecidos à Rua General Osório nº 256, que aqui montaram a primeira
bicicleta Tandem, com dois selins, que era uma bicicleta de grande comprimento.
A seguir, Hermann von Hüelsen Filho, mecânico em Pelotas,
que aumentou o desenvolvimento de sua bicicleta fabricando uma roda dentada bem
maior e um pinhão adaptado, para conseguir vencer o campeão riograndino, em
corrida realizada no antigo Prado Pelotense, disputando mais tarde com um
cavalo, em corrida especial, saindo vencedor o ciclista.
Posteriormente, apareceram muitas outras marcas, de vários
países, com freio contrapedal, pedal-livre, com mudanças de velocidade,
contadores de marchas e de quilômetros, etc. As primeiras eram iluminadas a
querosene, depois a acetileno e, por último, à eletricidade.
Notícias sobre o hábito
do ciclismo em Pelotas
Com o título de “Sobre Bicyclettes”, dia
29 de agosto de 1897, o Correio Mercantil
publicou a tradução feita por um colaborador daquele jornal, que se assinava K (que acreditamos se tratar de João
Simões Lopes Neto), na seção SPORT,
a qual o jornalista chamou de interessante tradução.
Dizia ainda o redator do jornal, que tendo se desenvolvido
aqui o gosto pela “bicycletia”, recomendava tal artigo especialmente à atenção
dos que a praticavam.
Aos 7 dias de setembro de 1897 no Parque Pelotense, onde
tocou a banda de música União Democrata e afluíram numerosos visitantes,
estiveram, à tarde, os membros do Club Cyclista, “que se entregaram a diversos
exercícios”.
Novas atividades dos
membros do Club Cyclista
Informava o Correio
Mercantil de 26 de setembro de 1897, que às 6 horas daquele dia, os membros
do Club Cyclista fariam uma excursão até o Passo do Salso [Fragata], a duas
léguas desta cidade, caminho da Serra dos Tapes.
No regresso, os ciclistas passariam no Parque Souza Soares,
onde seriam fotografados por um amador, pelo processo instantâneo, com as máquinas
(bicicletas) em movimento de carreira.
Nova excursão ao Passo
do Salso
O Club Cyclista comunicava via imprensa que, às 5 horas da
manhã do dia 10 de outubro de 1897, seguiriam em direção ao Passo do Salso “os
cyclistas desta cidade”, cujo número era cada vez maior, e, às 14 horas, se
reuniriam no Parque Pelotense.
Informava o Club também, que brevemente fariam uma viagem à
São Lourenço, cuja distância era aproximadamente de 14 léguas desta cidade.
O Prado Pelotense e o
ciclismo
A direção do Prado Pelotense em 6 de novembro de 1897, sob o
título de “Velocipedia”, comunicava pretender organizar no domingo (14-11-1897)
uma corrida de bicyclettes na raia daquele hipódromo, e para esse fim reuniria
os “nossos velocipedistas” com o intuito de com eles combinar as bases da
diversão.
A reunião seria no dia 8 daquele mês, no escritório do
Prado, às l9 horas.
Esperava a diretoria que a corrida fosse organizada e o
público pelotense pudesse, pela primeira vez, gozar daquele interessante divertimento,
“hoje tão em voga” nas principais cidades do Brasil.
Dando prosseguimento à ideia, a diretoria do Prado pelotense
publicou uma nota, na qual chamava aos Srs. ciclistas e reunirem-se na
segunda-feira, 8 de novembro de 1897, às 19 horas na Rua 16 de Julho [atual Dr.
Cassiano] nº 72ª (escritório do Prado) para tratar da organização das corridas
de bicyclettes a efetuarem-se no dia 14 daquele mês.
Segue...
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Fontes: acervo da Bibliotheca
Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto / tratamento de imagens: Jonas
Tenfen
Meus parabéns. Que blog legal. Faço votos que continue nos trazendo ótimas histórias. Abrçs
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