quarta-feira, 20 de abril de 2016


Ciclismo: um esporte da elite pelotense

                                                                                     A.F. Monquelat

         Os primeiros biciclos [veículo de duas rodas geralmente de diâmetros desiguais, tendo a da frente, a maior, as funções de diretriz e motriz] apareceram em Pelotas por volta do ano de 1885. Foram eles adquiridos pelo visconde de Souza Soares, como instrumentos de diversão, para as festas ocorridas no Parque Souza Soares.
         Por serem já usadas, é possível que tivessem pertencido a algum circo de variedades, dos tantos que passaram pela cidade.
         A armação desses biciclos era metálica, sendo que as rodas eram de madeira, chapeadas de ferro, com um diâmetro de cerca de 80 centímetros e uma base de 3 cm. O comprimento era de mais ou menos 1.80 m. Como fossem longos, davam a impressão de bicicletas, se bem que os pedais acionassem a roda anterior.
         Por volta do ano seguinte, 1886, surgiu em Pelotas um biciclo “bem típico e belo”, vindo de Paris e que era, segundo diziam, elegantemente dirigido por Bernardo da Nova Monteiro. A roda da frente deveria ter 1.20m de diâmetro e a menor 30 ou 35 centímetros. Eram forradas com borracha maciça de 2 cm de base, sendo o pedal na roda da frente.
         Dava-se-lhe o impulso correndo subia-se por dois pedais que havia no suporte da roda traseira.
         É importante lembrar que naquela época as ruas da cidade não ofereciam as mínimas condições para passeio em tal veículo; entretanto, o Sr. Monteiro chegou a ir algumas vezes ao Parque Souza Soares, assistir às diversões domingueiras naquele recanto no novo meio de transporte.
         As primeiras bicicletas que aqui chegaram foram pelo início do ano de 1896. Eram de dois irmãos Leivas Leite e de outros dois Simões Lopes, vindas especialmente da Europa.
         Nesse mesmo ano, logo a seguir, o visconde de Souza Soares trouxe de Paris outras duas, para seus filhos Leopoldo e Miguel de Souza Soares, que se encontravam estudando na cidade de Rio Grande. Eram elas da famosa marca Clement, com pneus de pressão, da fábrica Dunlop, trazendo os primeiros antiderrapantes ao nosso meio.
         Estes pioneiros do mundo do ciclismo faziam muito sucesso quando saíam pelas ruas de Rio Grande (onde não eram conhecidas as bicicletas), provocando um acúmulo de pessoas às portas das lojas, armazéns e diversas outras casas de comércio, curiosos com a novidade.
         O duro contratempo era provocado pelos cães das ruas (que na época infestavam as ruas da cidade), que atacavam os iniciantes ciclistas, jogando-se contra as pernas destes.
         No ano de 1897, vieram de Paris outras bicicletas por encomenda, como a de Myrtil Franck (o Boulanger), a de Carino Souza, da marca La Française, que viera acompanhada de dois trajes completo de ciclista. A de Myrtil Franck era de borrachas maciças, de péssimo cômodo e de um insuportável peso de pedais.
Carino Souza
         Do grupo de ciclistas amadores, irmanados nas excursões dominicais, participavam também Ambrósio Perret Júnior, Lúcio Lopes dos Santos Sobrinho, Miguel de Souza Soares e muitos outros.
         Depois surgiram os irmãos Le Coultre, relojoeiros suíços, estabelecidos à Rua General Osório nº 256, que aqui montaram a primeira bicicleta Tandem, com dois selins, que era uma bicicleta de grande comprimento.
         A seguir, Hermann von Hüelsen Filho, mecânico em Pelotas, que aumentou o desenvolvimento de sua bicicleta fabricando uma roda dentada bem maior e um pinhão adaptado, para conseguir vencer o campeão riograndino, em corrida realizada no antigo Prado Pelotense, disputando mais tarde com um cavalo, em corrida especial, saindo vencedor o ciclista.
Hermann von Hüelsen
         Posteriormente, apareceram muitas outras marcas, de vários países, com freio contrapedal, pedal-livre, com mudanças de velocidade, contadores de marchas e de quilômetros, etc. As primeiras eram iluminadas a querosene, depois a acetileno e, por último, à eletricidade.
 
Notícias sobre o hábito do ciclismo em Pelotas
         Com o título de “Sobre Bicyclettes”, dia 29 de agosto de 1897, o Correio Mercantil publicou a tradução feita por um colaborador daquele jornal, que se assinava K (que acreditamos se tratar de João Simões Lopes Neto), na seção SPORT, a qual o jornalista chamou de interessante tradução.
         Dizia ainda o redator do jornal, que tendo se desenvolvido aqui o gosto pela “bicycletia”, recomendava tal artigo especialmente à atenção dos que a praticavam.
         Aos 7 dias de setembro de 1897 no Parque Pelotense, onde tocou a banda de música União Democrata e afluíram numerosos visitantes, estiveram, à tarde, os membros do Club Cyclista, “que se entregaram a diversos exercícios”.
 
Novas atividades dos membros do Club Cyclista
         Informava o Correio Mercantil de 26 de setembro de 1897, que às 6 horas daquele dia, os membros do Club Cyclista fariam uma excursão até o Passo do Salso [Fragata], a duas léguas desta cidade, caminho da Serra dos Tapes.
         No regresso, os ciclistas passariam no Parque Souza Soares, onde seriam fotografados por um amador, pelo processo instantâneo, com as máquinas (bicicletas) em movimento de carreira.
 
Nova excursão ao Passo do Salso
         O Club Cyclista comunicava via imprensa que, às 5 horas da manhã do dia 10 de outubro de 1897, seguiriam em direção ao Passo do Salso “os cyclistas desta cidade”, cujo número era cada vez maior, e, às 14 horas, se reuniriam no Parque Pelotense.
         Informava o Club também, que brevemente fariam uma viagem à São Lourenço, cuja distância era aproximadamente de 14 léguas desta cidade.
 
O Prado Pelotense e o ciclismo
         A direção do Prado Pelotense em 6 de novembro de 1897, sob o título de “Velocipedia”, comunicava pretender organizar no domingo (14-11-1897) uma corrida de bicyclettes na raia daquele hipódromo, e para esse fim reuniria os “nossos velocipedistas” com o intuito de com eles combinar as bases da diversão.
         A reunião seria no dia 8 daquele mês, no escritório do Prado, às l9 horas.
         Esperava a diretoria que a corrida fosse organizada e o público pelotense pudesse, pela primeira vez, gozar daquele interessante divertimento, “hoje tão em voga” nas principais cidades do Brasil.
         Dando prosseguimento à ideia, a diretoria do Prado pelotense publicou uma nota, na qual chamava aos Srs. ciclistas e reunirem-se na segunda-feira, 8 de novembro de 1897, às 19 horas na Rua 16 de Julho [atual Dr. Cassiano] nº 72ª (escritório do Prado) para tratar da organização das corridas de bicyclettes a efetuarem-se no dia 14 daquele mês.

                                                                                             

                                                                                              Segue...
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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto / tratamento de imagens: Jonas Tenfen

Um comentário:

  1. Meus parabéns. Que blog legal. Faço votos que continue nos trazendo ótimas histórias. Abrçs

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