quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Theatro Avenida, Pelotas

 (parte 1)



                                                                                                          A.F. Monquelat





         Dentre os cinemas de Pelotas, da década de 50 em diante, o que mais esteve presente na minha vida foi, sem dúvida alguma, o Avenida.
Durante algum tempo, aquele cinema foi a minha rodoviária, aeroporto e ferrovia; e seus guichês, o local onde eu retirava as entradas para viajar pelo mundo. Foi dessa forma que conheci lugares e gente famosa. Verdadeiros astros, estrelas, mocinhos e bandidos, estes últimos, mais tarde percebi que não eram tão bandidos quanto Hollywood os fazia parecer. John Wayne, por ter matado tantos índios maus não teve lugar no meu panteão.
    Quando de sua construção, ano de 1927, o Theatro Avenida viria, segundo a imprensa, preencher uma lacuna existente naquela parte da cidade, que era a de levar um dos principais - se não o principal - entretenimento para os moradores daquela região.

    A pedra fundamental e a importância, na época, da construção do Avenida
             Aos 21 dias do mês de novembro de 1926, a imprensa noticiava que o esforçado Sr. Francisco Santos, proprietário do Theatro Apolo e arrendatário do Theatro 7 de Abril, submetera a aprovação da Diretoria de Obras da Intendência Municipal o projeto para a edificação de mais uma casa de diversões que teria o nome de Theatro Avenida, e seria situada à Avenida Bento Gonçalves.
             O futuro estabelecimento teria majestoso aspecto e obedeceria a todos os requisitos exigidos nas modernas casas daquele gênero, vindo certamente contribuir destacadamente para o embelezamento da parte da cidade a que iria servir.
             As obras do Theatro Avenida estavam a cargo do conhecido construtor Anacleto Perazzo.
             Poucos dias após aquela divulgação, dia 11 de dezembro de 1926, com a presença de um grande número de pessoas, apesar de não ter sido em caráter oficial, ocorreu o lançamento da primeira pedra para a edificação do Theatro, que a empresa Xavier & Santos mandou levantar em vasto terreno que adquirira â Avenida Bento Gonçalves esquina da Rua Paysandu [atual Barão de Santa Tecla].
              O ato, que decorreu entre o mais franco júbilo da assistência, teve como padrinhos os jovens Homero Santos e Carlos Xavier, filhos respectivamente, dos Srs. Francisco Santos e Francisco Vieira Xavier, diretores da empresa.
             Pela planta da bela construção, que esteve exposta na vitrina da Casa Americana, constatava-se ficar aquela populosa zona da cidade, atendida por casa de espetáculos de primeira linha, com o conforto moderno e nas condições indispensáveis para as pessoas que, na época, tinham de percorrer longo trecho, em busca das casas de “diversões cinematográficas”.
             Com a construção do Avenida, ficaria preenchida uma grande lacuna, graças a iniciativa da empresa Xavier & Santos.

    A inauguração da cumeeira do Avenida
             Depois de seis meses do lançamento da pedra fundamental, a empresa Xavier & Santos já pode inaugurar, dia 14 de maio de 1927, a cumeeira do majestoso Theatro Avenida, que estava construindo à Avenida Bento Gonçalves esquina da atual Barão de Santa Tecla.
             Seguindo rigorosamente o projeto, cuja planta esteve por vários meses exposta na vitrina da Casa Americana, a construção da nova casa de diversões, que assinalaria mais um passo “no progresso da cidade graças a elogiável iniciativa” da empresa Santos & Xavier, fora confiada ao hábil construtor Sr. Anacleto Perazzo, sob imediata direção do Sr. Francisco Vieira Xavier.
             Com um número, em média, de 40 operários e a conjugação de muitos esforços, podia-se após tão curto espaço de tempo, avaliar o que seria, em conforto e beleza, o belo prédio que em muito iria contribuir para o aformoseamento daquele local.
             Edificado em terreno próprio, o Theatro Avenida media 54 metros de fundo por 24 de largura, tendo o corpo do edifício 12 metros de altura.
             O palco, amplo e confortável, tem a altura de 17 metros, facilitando a subida dos cenários abertos, o que economizaria tempo e não inutilizaria o material, tem 9 metros de boca e 15 de fundo, possuindo 8 camarins de cada lado, em dois andares, servidos por escadas cômodas e completo serviço de água em cada andar; banheiros, ampla varanda para a locomoção de cenários.
             A plateia, que seria provida de ótimas poltronas, comportaria 1.600 pessoas, havendo à entrada, sob as galerias, 7 frisas de cada lado com assentos para 35 pessoas.
             As galerias, cobrindo todo o saguão e parte da plateia, com um piso de concreto, comportariam 650 espectadores comodamente sentados, ficando ao centro das galerias o aparelho cinematográfico, instalado em alemã, das fábricas Krupp, o mais aperfeiçoado no gênero.
A fachada do prédio, de belo estilo, contém 19 aberturas térreas e 9 superiores.
À esquerda ficavam as bilheterias, servidas por 3 guichês externos e 2 internos; a secretaria no segundo piso e a enorme copa, para onde e passava depois de penetrar no amplo saguão.
À direita ficava situado um guarda-bengalas, os banheiros da galeria e da plateia, independentes, toalete para mulheres, a escada de acesso para as gerais e a porta de saída destas.
         A cobertura, de zinco, repousava sobre sólido vigamento de aço encomendado à firma porto-alegrense Gustavo Hugo, este sustentado por colunas de ferro colocadas sobre sólidas bases de concreto, sendo o forro de madeira.
         O amplo saguão, que seria ornamentado moderna e discretamente, ostentava fortes colunas que seriam revestidas de fina escaiola.
         Pensava a empresa Xavier & Santos inaugurar o Theatro Avenida na segunda quinzena de unho, exibindo um grande filme.
Visitado pelo Sr. Dr. Ewbank da Câmara, diretor das Obras Públicas do município, este funcionário só teve elogios para o novo teatro, já pela competência evidenciada nessa construção, já pelo excelente serviço sanitário que ia o mesmo sendo dotado.
Comemorando o fato, a empresa ofereceu naquele sábado, 14 de maio, às 16 horas, um suculento churrasco regado a chope aos seus operários, tendo para aquele ato convidado a imprensa e grande número de pessoas amigas.
O Sr, José Inghes [Júlio José Inghes, fotógrafo pelotense] apanhou vários aspectos da agradável festa, durante a qual reinou a mais franca alegria e cordialidade.

                                                                                                                                                                                                                                                                 Continua...     
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          ___________________________________________

Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Foto: Acervo A.F. Monquelat.
Revisão do texto e postagem: Bruna Detoni