O português Antônio Fernandes, sem sabermos a partir de quando, foi proprietário de uma das inúmeras bodegas que se instalaram na famosa Rua Tiradentes. Rua esta que a imprensa, pelo excesso de desordens e conflitos ali ocorridos, alcunhou-a de diversas formas, dentre elas: Encrencópolis, Bairro sujo, A Canaã das facadas, Rua das desordens, A célebre quadra, em especial o trecho da Tiradentes entre Anchieta e Quinze de Novembro, a ponto de pedirem às autoridades que “arrasassem o bairro sujo”.
Este fora o palco de um cenário do qual, hoje, só restou o registro das ocorrências policiais nas páginas dos jornais da época; hoje é quase impossível imaginar que tenha tido por atores centenas de personagens, dentre esses, bodegueiros, prostitutas, caftinas, caftens, marinheiros, estrangeiros e tantos outros, sem esquecermos uma proprietária de prostíbulo, por nome Catharina, a qual tinha por agenciadora de mulheres “a preta” caftina Domingas, locadora da Banca nº 5, no Mercado Central, na qual vendia mocotó.
A bodega do Antônio não tardou muito a frequentar as ocorrências policiais, logo recebendo, por parte da imprensa, o apodo de tasca imunda ou tasca maldita, dada a frequência, resolvemos incluí-la, à parte, para formar, junto com a bodega de Catharina Cuniga e o Antro do Mãosinha, o trio que optamos por tratar de maneira individual. Daí que:
Em 4 de fevereiro de 1915, às 22 horas, o indivíduo Luiz Barbosa, de “cor preta”, entrou na Bodega de Antônio Fernandes, à Rua Tiradentes, e mandou vir um pouco da “branquinha”.
Quando esta começou a fazer efeito, Barbosa começou a fazer desordem, querendo meter o pau a torto e a direito, em duas mulheres que estavam no local.
Comparecendo os guardas 14, 35 e 28, do 1º posto, deram voz de prisão ao desordeiro.
Este resistiu.
Os guardas arrancaram dos chanfalhos e espancaram Barbosa barbaramente, levando-o assim até o 1º posto, onde o meteram no xadrez.
O infeliz preso clamava socorro, pois estava sendo por demais castigado.
Dia 5, foi removido para a Bastilha da Lomba.
Mais uma beleza da “heroica” municipal!
Uma mulher gravemente ferida
Dia 10 de junho de 1916, às 12 horas, deu-se grosso sarilho na bodega de propriedade do português Antônio Fernandes, situada no prédio nº 554 do bairro da Encrencópolis [Rua Tiradentes].
A baderna foi promovida por alguns indivíduos embriagados, nela tomando parte o pardo Edmaro Passos Ferreira, cozinheiro da referida bodega.
Este, terminado a primeira refrega, voltou-se para a rapariga Maria Virgínia, ali moradora e que tranquilamente almoçava, começando a dirigir-lhe insultos e esbofeteando-a.
Maria procurou fugir, mas Edmaro não lhe deu tempo a isto, pois, sacando de uma faca, vibrou-lhe profundo golpe na virilha esquerda.
A infeliz caiu logo por terra, banhada em sangue, enquanto Edmaro punha-se em fuga.
Comparecendo a polícia, foi Maria transportada para a Santa Casa.
O ferimento era considerado grave.
A vítima, de cor parda, tinha 17 anos de idade.
Parece que o fato dela não fazer caso de Edmaro deu causa à brutal agressão.
A polícia judiciária providenciou para a captura do criminoso.
A bodega de Antônio Fernandes era diariamente teatro de cenas semelhantes.
Ainda no dia anterior, à noite, dera-se ali mais uma desordem promovida pelo próprio Fernandes e seu cozinheiro.
“Si se fizesse com que o antro fechasse?”, interrogava o jornalista da Opinião Pública.
Conflito e ferimento na bodega do Fernandes
A celebrizada bodega de Antônio Fernandes, na Encrencópolis, foi dia 18 de junho de 1916, teatro de mais uma baderna.
José Sá e Antônio Gusmão, depois de calorosa discussão, o primeiro fez uso de uma navalha, atirando um golpe em Gusmão que recebeu longo ferimento no rosto.
Este, por sua vez, puxou de um facão, ferindo a José no braço esquerdo.
Ambos foram medicados na Santa Casa.
A polícia esteve no local.
Na bodega do Fernandes
Continuavam as rixas, os conflitos, os desaforos de toda jaez, na bodega de Antônio Fernandes, situada no Bairro Sujo [Tiradentes] nº554.
A polícia que estava ali perto, cheirando o seu mau odor, e vendo tudo, parecia ter grande simpatia pelas suas imundícies e pelos seus imundos frequentadores, porque sempre os deixava “ir em paz”.
Ontem, 9 de julho de 1916, às 19 horas, os indivíduos Rodolfo Chaves e Adolfo Mascarenhas, que ali se encontravam libando, se desentenderam e brigaram.
Rodolfo jogou uma pedra no outro, atingindo-o na cabeça.
A confusão foi enorme, houve gritos, palavreados; depois, pouco a pouco, o silêncio, a calma... e a impunidade.
Continua...
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(*) Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Revisão do texto: Jonas Tenfen
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