quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Os alemães e teuto-brasileiros na indústria pelotense do século XIX

             A fábrica de línguas do Sr. Henrique Blethmuller                               


                                                                                     A.F.Monquelat


         A fábrica de línguas do Sr. Henrique Blethmuller, uma das três estabelecidas em Pelotas na década de 80 do século XIX, estava instalada à Rua São Miguel [atual 15de Novembro] nº 265. 
        Para o preparo das línguas era realizado o seguinte processo: logo que as línguas chegavam das charqueadas, eram colocadas, em número de trinta (30), dentro de uma caldeira de cobre para depois pelarem.
         Depois disto, eram colocadas sobre algumas mesas e ali, com facas apropriadas, eram peladas e aparadas para ficarem bonitas à vista.

         Em seguida, eram salgadas e logo depois passavam para as prensas. Eram três caixotes de madeira comportando cada um a média de mil línguas.

         Ali ficavam por dois ou três dias; sendo, então, passadas para as pipas de salmoura onde permaneciam de seis a quatorze dias.
         O estabelecimento possuía 25 pipas destinadas à salmoura.

         Em seguida à salmoura, iam as línguas para o varal, que podia comportar quatro mil línguas, e ali ficavam a secar; sendo por último levados para o fumeiro, uma estufa onde cabiam oitocentas línguas, que ficavam sofrendo a ação da fumaça de lenha de goiabeira.
         Dali eram as línguas retiradas para cinco barricas grandes, onde ficavam depositadas até serem postas nos recipientes próprios para o despacho: barricas menores que comportavam duzentas e trinta línguas.

         Neste estabelecimento industrial, trabalhavam cinco pessoas.
         O Sr. Henrique era natural da Alemanha e estava estabelecido há vinte e dois anos, o que nos remete à década de 60 do século XIX, data da provável instalação da sua fábrica de línguas em conserva.

         O estabelecimento preparava e exportava anualmente sessenta e tantas mil línguas.

A fábrica de chapéus de Bamman & Cia.


         Esta fábrica esteve instalada à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] nºs 161 e 163 em prédio próprio.
         À frente, estava a loja e, ao fundo, a fábrica.

         No primeiro compartimento, havia uma máquina de arquear fabricação de H.H. Niebehur & Son, Altona, Alemanha. Esta máquina podia arquear, diariamente, 48 chapéus.
         Nesta máquina, eram empregados dois (2) operários.

         Em frente, ficava uma mesa para arrasar e bastir onde trabalhavam três (3) operários.

         No compartimento anexo, estavam duas (2) caldeiras de fulas [caldeiras de vapor] onde trabalhavam oito operários.

         Seguia-se a oficina da enformação dos chapéus onde trabalhavam três (3) operários.
         Havia uma pequena máquina para lustrar, movida à mão, que podia servir tanto para chapéus de feltro quanto para os chapéus de seda. Com capacidade para lustrar setenta e dois chapéus por dia.

         No mesmo compartimento, estava uma fornalha-caldeira de tintar, uma caldeira a vapor para enformar os chapéus e um fogão para esquentar os ferros, servindo ao mesmo tempo de estufa para os chapéus.
         No pátio, havia um tanque de cimento para a tintura a frio e outro para lavar os chapéus.

         Logo a seguir, estava o depósito de carvão de Coke, de madeira, de lenha e outros materiais.
         Havendo também uma pequena máquina para cortar abas, marca João Hullmann, Hamburg, que era movida à mão e com capacidade para cortar, diariamente, doze dúzias de abas.
         Trabalhavam neste estabelecimento quatorze operários, dos quais um era escravo.
        
          Fora da fábrica, seis costureiras lhes prestavam serviços.

         Na loja, havia três máquinas de costura.
         A fábrica estava estabelecida há vinte e um anos em Pelotas, isto no ano de 1884; mas a denominação de Bamman & Maiaera recente, somente a partir do ano de 1876.

         O Sr. Bamman era natural da Alemanha e o Sr. Maia natural de Portugal.
         Fabricavam eles diversos tipos e feitios de chapéus e, na exposição Brasileiro-Alemã, em Porto Alegre, os produtos de sua fábrica obtiveram uma medalha de prata.

 

A fábrica de chapéus de Cordeiro & Wiener


       A fábrica esteve estabelecida à Praça da Constituição [atual Praça 20 de Setembro] nº 70, em prédio apropriado para tal fim.

         À entrada do portão da fábrica dos Srs. Cordeiro & Wiener, ficava um espaçoso pátio para onde davam as portas de todas as oficinas, o depósito e o escritório, de onde o proprietário podia fiscalizar, de perto, o trabalho.
         Na casa das fornalhas, ficavam duas caldeiras-cilindros, de ferro, que geravam vapor para mover todos os mecanismos da fábrica.

         Um dos cilindros tinha dez metros de comprimento por um metro de diâmetro e, o outro também de mesmo comprimento, mas de diâmetro setenta centímetros.
         Sobre estes cilindros, aproveitava o Sr. Wiener para secar os cloches [espécie de chapéu apertado de senhoras] visto o pátio ser muito pequeno para caber o número de cloches fabricados e que precisavam secar diariamente.

         No mesmo galpão, havia uma excelente ferraria onde eram feitos todos os consertos necessários nas máquinas, para o qual havia pessoal habilitado.
         Na peça contígua, estava o motor de sistema norte-americano, mas fabricado nas oficinas dos Srs. Menning Frères, Bruxelas, de força de 20 cavalos.

         Havia também três (3) bombas movidas a vapor, sendo uma (condensador) para alimentação de água; outra para alimentar as caldeiras aonde ia a água, quase fervendo, o que resultava uma não pequena economia de combustível e, por último a terceira delas, que servia para alimentar o depósito da casa, conduzindo a água a cinquenta metros de altura.
         No pátio, havia um enorme poço, de tijolos, cuja água era aproveitada.

         Do pátio, se ia para a oficina de rebater pelos, onde havia um tambor de madeira, indústria nacional, fabricado na carpintaria da própria fábrica, para misturar o pelo, operação esta que era feita por meio de uns espigões de ferro que o vapor movia em sentido contrário ao impulso dado pela mão ao tambor.
         Uma máquina de rebater pelos, fabricação de Scheneider, Hamburg, com sete compartimentos grandes, onde o pelo mais grosso ficava quase imperceptível e pronto para ser trabalhado.

         Debaixo da máquina, havia uma corrediça [esteira] que conduzia novamente aos cilindros o pelo grosso que caía.

         Tal máquina podia rebater 100 quilos de pelo.

Oficina de bastir e rasoir [retirada de pelos através de aparelho para tal]

         Havia na fábrica uma bastisseuse [máquina de formatar chapéus com bastos de pelo ou lã] que agarrava o pelo e, por diversos mecanismos o conduzia a formar a carapuça. Em anexo havia um depósito de água quente, que molhava a carapuça [parte superior; a armação] quando pronta para segurar o pelo.
         Debaixo do local onde era dado a forma da carapuça, havia um ventilador, sendo o ar deste graduado.

         Esta máquina podia, diariamente, fabricar de trezentos a trezentos e cinquenta chapéus, levando cada um o tempo de meio a três minutos, conforme o peso, e empregava dois operários.
         Com apenas dois operários, a máquina fazia o trabalho de cinquenta pessoas e com muito maior perfeição.

         Daquele local, se passava para o compartimento onde apertavam as carapuças e, para tal função, eram empregados dois operários.
         Nesta oficina, estavam também os oficiais [mão de obra especializada], que trabalhavam em lã, sendo que toda a lã utilizada na fábrica era produzida na Província.

Casa da fula

         Havia quatro (4) fulas, sendo duas para o trabalho de seis (6) operários em cada e as outras duas, menores, para quatro (4) operários em cada.

         Havia também uma máquina de fular que era utilizada para os chapéus mais ordinários [simples, inferiores].

         Enchendo a caixa, em seis horas a máquina fazia o trabalho de 20 operários.

         Duas caldeiras duplas, de cobre, onde eram tintos, a banho-maria, os chapéus e funcionavam com dois operários.

         Próximo ao pátio, existia um suador, que servia para conservar a forma dada aos chapéus.
         Na oficina, existia uma máquina dupla, que funcionava com dois operários, podendo diariamente afinar dezoito dúzias de chapéus enquanto que cada operário não conseguiria afinar mais do que 30 chapéus; sendo que o trabalho destes não seria tão bem feito quanto o da máquina.

         Rente ao piso estava outra máquina para cortar o pau Campeche [uma árvore leguminosa, cuja madeira avermelhada se emprega na tinturaria] podendo, duas pessoas, preparar por dia trinta arrobas de raspas desta madeira.

         O Campeche utilizado era nacional e a máquina era a única existente em toda a Província.
         Dois aquecedores para lã, movidos à mão.

         Fabricavam diariamente 80 chapéus de lã e trezentos e tantos de pelo.

         A fábrica do Sr. Wiener utilizava somente lã nacional, pelo de lebre, coelho, castor e ratão. O pelo de ratão tingia mais facilmente do que qualquer outro pelo.

Oficina de planchadores
         Logo à entrada da oficina, havia dois cloches a vapor para dar suador ao chapéu na enformação.
         Uma prensa para engomar chapéus patent.

         Duas prensas hidráulicas para prensar chapéus de feltro, que também eram únicas na Província, tendo próximo delas um torno movido avapor e por meio de fricção, onde o chapéu era escovado e retirado o excesso de tinta e pelo grosso.

         Um operário por dia, dependendo da qualidade do chapéu, produzia de vinte a vinte e cinco dúzias de chapéus.
         Possuía também um aparelho nacional para chamuscar os pelos.

         A um canto da oficina estavam duas fornalhas para aquentar ferros de engomar, podendo ao mesmo tempo servir de estufa para os chapéus.
         Trabalhava ali 24 operários.

         Passava-se dali para os depósitos, sendo o primeiro deles o dos chapéus prontos para a exportação.
         Ao redor deste depósito, havia uma estufa que conservava o ar em temperatura regular, evitando a umidade.

         A seguir vinha o depósito de forros, metins, cetins, chapéus ainda não terminados, tendo ao redor grandes armários e ao centro do depósito diversas prateleiras.
         Próximo, ficava o depósito da lã, pelos, pau Campeche e diversos produtos químicos.

Oficina de cartonagem e formas

         Naquele local, ficava um operário que produzia 400 caixas por mês.
         Havia uma prensa para imprimir a logomarca da fábrica nos forros e outra para fazer folhos [tiras para abas dos chapéus].

         Outro operário fabricava as formas de chapéus, evitando assim que fosse mandado fazer fora do estabelecimento.
         Aproveitavam ainda as peles de ratão,que, depois de extraído o pelo, era matéria prima para fazer cola.

         Havia também na fábrica uma oficina de costureiras que, por maior que tivesse sido o esforço do Sr. Wiener para que elas trabalhassem naquele local, preferiam fazê-lo em suas próprias casas.
         A fábrica empregava sessenta operários, entre homens e crianças e vinte e duas costureiras.

         As vendas anuais da fábrica giravam em torno de duzentos contos ou mais.
         Nesta fábrica, nada se desperdiçava, pois o pelo e a lã que não serviam para o fabrico dos chapéus era vendido aos colchoeiros.

         O Sr. Wiener era natural da Alemanha e vivia no Brasil desde o ano de 1870. Era ele, segundo a imprensa da época, um cavalheiro amável e atencioso e um industrial bem quisto não só pela lisura em seus compromissos como pela sua maneira austera de proceder.

 

        

Fonte de consulta e imagens: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV

Revisão do texto: Jonas Tenfen        

Tratamento de imagem: Bruna Detoni

          

 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Os alemães e teuto-brasileiros na indústria pelotense



As façanhas de Jacob Klaes (parte 3 e última)


(Dedicado aos amigos Jonas Tenfen e Sérgio Schwanz)

                                                                                                                                                                                                     A.F.Monquelat

O Sr. Klaes e as tratativas para a vinda de novos colonos alemães

         Na edição do Correio Mercantil de 13 de outubro de 1888 lia-se que estava em Pelotas, já há alguns dias, o súdito alemão Sr. Guilherme Schivelhein, procedente de São Paulo e encarregado, por alguns de seus patrícios – que de lá deveriam partir em seguida em direção à Província do Rio Grande do Sul – de examinar as terras do município de Pelotas, a fim de proporcionar-lhes boas compras das referidas terras.

         Essa gente era a de que tratara o Sr. Jacob Klaes, em carta dirigida ao proprietário do Mercantil quando da estada deste na Corte, no intuito de obter para ela passagem gratuita, em paquetes de linha subvencionada.

         Segundo informações do Sr. Jacob Klaes, tais colonos vinham dispostos a comprar terras neste município e aqui se domiciliarem, caso não fossem exagerados os preços que lhes pedissem pelos lotes.

         A vantagem resultante da vinda dos colonos em tais condições para o município de Pelotas era tão evidente, segundo o jornalista, que ele se julgava dispensado de demonstrá-la.

         O Sr. Guilherme Schivelhein estava hospedado na casa do Sr. Antônio Jacobs, proprietário do Depósito da Colônia, e ali poderia ser procurado.

 
As notícias do Sr. Jacob Klaes

         No mês de maio do ano de 1889 o Sr. Jacob Klaes comunicava através da imprensa de Pelotas, que sua empresa se tornara o único agente da “colossal” fábrica de charutos Viúva Simas, estabelecida em São Felix, Bahia, a primeira em seu gênero e cujos produtos eram conhecidos não somente no império brasileiro, mas também na Europa.

         Ainda naquele mês de maio de 1889, voltaria o Sr. Klaes a noticiar “A mais preciosa descoberta do século XIX”, pois, de sua já conhecida casa, acabava de surgir mais uma especialidade em fumos caporais, que com orgulho ele apresentava à venda sob o nome de Caporal de Saúde.

         O fumo não continha nicotina alguma e tinha um gosto, aroma e cor muitíssimo agradáveis.

         O fumo era vendido em pacotes de 50 gramas e em latas.

Dissolvendo uma sociedade

         Miguel José Lopes Braga e Jacob Klaes, aos oito (8) dias do mês de setembro de 1889, comunicavam à praça de Pelotas que, de comum acordo, davam por dissolvida a empresa que girava sob a denominação de Miguel Braga & Cia., ficando o sócio Klaes pago e satisfeito de seu capital e lucros correspondentes.

         Declaravam ainda, que a firma social deles nada devia e, se alguém se julgasse prejudicado poderia apresentar suas contas que, sendo justas, seriam prontamente pagas.

Notícia de uma possível venda da fábrica e retirada de Pelotas

         Aos 16 dias do mês de setembro de 1889 o Correio Mercantil, a pedido do Sr. Jacob Klaes, noticiava não ser verdadeira a notícia divulgada em outro órgão de imprensa, na qual era dito que o Sr. Klaes vendera sua fábrica e estava de partida da cidade de Pelotas, pois, quanto à venda da indústria estava esta em fase de negociação e, caso viesse a se concretizar não pretendia mudar-se de Pelotas e sim, retirar-se para uma chácara de sua propriedade, localizada nos arredores da cidade, para tratar da abalada saúde de sua esposa.

A firma Jacob Klaes & C. se torna uma empresa individual

         Aos 14 dias do mês de dezembro de 1889 era publicado na imprensa de Pelotas um “À Praça”, no qual foi dito que os abaixo assinados, sócios componentes da firma Jacob Klaes & C. Sucessores, estabelecida nesta cidade com fábrica de beneficiar fumos, à Rua Santa Bárbara [atual Marechal Deodoro] nºs 44 e 46, declaram ao comércio da praça de Pelotas e do interior, que nesta data dissolveram amigavelmente a referida sociedade, retirando-se o sócio Avelino Nuñez Gregores pago de seu capital e lucros e exonerado de toda e qualquer responsabilidade.

         Ficava a cargo do sócio Francisco de Paula Olivé todo o ativo e passivo, que continuaria com o mesmo ramo de negócio sob a mesma firma e debaixo de sua responsabilidade individual.

         Na mesma data e logo abaixo, havia outra publicação, sendo esta do Sr. Avelino Nuñes Gregores ratificando o “A Praça” e acrescentando que, retirando-se para o Rio de Janeiro, julgava nada dever na praça de Pelotas ou fora dela; porém, se alguém se julgasse prejudicado com tal declaração que apresentasse seus títulos ao Sr. Joaquim Mascarenhas, em casa dos Srs. Jacob Klaes & C. Sucessores que, se legais, seriam imediatamente pagos.

        
 

 


Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV

Revisão do texto: Jonas Tenfen        

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Os alemães e teuto-brasileiros na indústria pelotense


As façanhas de Jacob Klaes (parte 2)


(Dedicado aos amigos Jonas Tenfen e Sérgio Schwanz)

                                                                                                                                                                                                     A.F.Monquelat

        

         Antes de darmos continuidade à descrição da fábrica de fumos de Jacob Klaes, queremos acrescentar que o Sr. Klaes era filho de Anna Maria Klaes e nasceu na Alemanha, como já o dissemos, aos dois (2) dias do mês de novembro de 1834.

         No Brasil, recebeu sua carta de naturalização aos 28 de agosto de 1867, em Minas Gerais, conforme Decreto Imperial de nº 1419.

         O Sr. Jacob Klaes foi o primeiro industrial a estabelecer fábrica de fumos na cidade de Pelotas. A fábrica estava situada à Rua Santa Bárbara [atual Marechal Deodoro] nºs 44 e 46.

O maquinário da fábrica em Pelotas

         À entrada, estava o armazém de fumos beneficiados, prontos para o consumo, estando à esquerda de quem entrava o escritório.

         Ao fundo, ficava a passagem para os depósitos e oficinas.

         Em primeiro lugar, vinha o depósito de fumos em folhas e desfiados em um espaçoso armazém, seguindo-se um pátio enorme onde, em pequenos mas regulares quartos, ficavam algumas oficinas.

         Primeira – a oficina de cigarros tendo seis operários e podendo fabricar mensalmente de quatrocentos a quatrocentos e cinquenta mil cigarros.

         Tinha também uma pequena máquina americana, movida a braço e destinada a picar fumo pelo sistema de Havana [Cuba]. 

         Segunda – oficina de enlatação e preparação de fumos desfiados.

         No centro da oficina, havia um imenso tabuleiro para o enlatamento.

         Ao lado, duas prensas destinadas ao fumo em corda e, do outro lado, outro tabuleiro para o fumo desfiado.

         Nesta oficina, trabalhavam três (3) operários.

         No pátio próximo da casa das máquinas, ficava um forno-caldeira, de cobre, destinado a abrir o fumo desfiado.

         Terceira – oficina de máquinas. Um motor vertical marca Lincoln, força de dois (2) cavalos, que movia os seguintes aparelhos: um tambor de desfiar fumo, indústria nacional, fabricado em Rio Grande na fundição do Sr. Joaquim José Dias; uma serra redonda, para serrar a lenha para o motor; e uma importante máquina de cortar fumos, marca Robert Legós, que podia cortar diariamente vinte arrobas de fumo.

         Havia também uma máquina movida a mão, para picar fumo, podendo picar diariamente onze arrobas.

         Possuía ainda outra máquina, marca Robert Legós, uma das mais aperfeiçoadas na época, também destinada a cortar fumo para desfiar.

         Nesta mesma área, estava instalada a oficina de ferreiro, para o conserto das máquinas quando necessário.

         Naquela seção, trabalhavam três (3) operários.

         Passando-se novamente ao pátio, encontrava-se, ao fundo, a oficina de extrato, onde havia uma fornalha-caldeira, de ferro, para o extrato que podia conter cinco (5) arrobas de mel.

         Neste pátio, e próximo ao armazém, havia um depósito onde o fumo era arejado.

         Além dos fumos, aqui mencionados, o Sr. Klaes fabricava também toda a qualidade de charutos e cigarros.

O Sr. Jacob e o trigo

         No primeiro trimestre do ano de 1887, chegaram a bordo do paquete Jaguarão e, a expensas do Sr. Jacob klaes, duas famílias de colonos alemães, oriundas de Santa Catarina, onde estavam domiciliadas.

         As famílias eram compostas de 11 pessoas, todas conhecedoras da cultura do trigo.

         Esses colonos foram instalados em terras do finado Serafim Gonçalves Escobar, situadas entre as estações de Basílio e Piratini.

         Dizia o jornal estar informado de que o Sr. Jacob Klaes estava empenhado em mandar vir mais colonos para estabelecerem-se em “nossas vastas regiões” para dedicarem-se ao cultivo do trigo e do fumo.

         Tais notícias, que o jornal registrava com satisfação, eram sempre  prenúncio do progresso e do futuro engrandecimento agrícola e industrial.

         Honra, portanto ao Sr. Klaes que, dessa forma, tornava-se credor do progresso agrícola e industrial pelotense e eram os votos do jornal que não esfriasse em suas tão úteis e proveitosas iniciativas.

Os telhados de papelão do Sr. Jacob Klaes

         Aos 10 dias do mês de abril de 1887, foram convidados alguns jornalistas da imprensa pelotense para visitarem a “lindíssima residência campestre” do incansável e criativo empreendedor Jacob Klaes, situada em um dos mais “pitorescos locais dos subúrbios” desta cidade, onde tiveram eles a oportunidade de observar, entre várias coleções “artísticas de objetos que o espírito do notável industrialista” se deleitava em criar e organizar, a utilidade das telhas de papelão.

         O telhado de papelão ainda não estava em uso “entre nós”, entretanto, para galpões, meias águas, galinheiros e outras peças necessárias em uma casa de comércio ou de residência, oferecia inúmeras vantagens, segundo avaliação de um dos jornalistas presentes.

         O telhado inventado pelo Sr. Klaes tinha a seu favor a grande modicidade do preço, a leveza que permitia colocar estas telhas sobre madeiramentos fracos ou de segunda mão, a duração e a consistência que não possuíam as telhas comuns, sujeitas de quebrarem-se ao choque de qualquer objeto.

         A colocação das telhas, como visto foi, era facílima e pouco trabalhosa. Dava-lhes a consistência e a impermeabilidade necessárias, aplicando ao papelão sucessivas pinturas de alcatrão e camadas de areia fina.

         Era um novo e barato sistema de cobrir galpões, contra-feitos [puxados] e outras peças do interior das habitações, coisa que os jornalistas, por primeira vez, viram posta em prática na propriedade do Sr. Klaes.

  

 

                                                                                              Continua...

                  

        

Fonte de consulta e imagens: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV 
 


Revisão do texto: Jonas Tenfen        

Tratamento de imagem: Bruna Detoni

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O francesismo pelotense

(parte 2/2)


                                                                                              A.F. Monquelat

 
  
          Sendo o cavalheiro um apreciador dos bons petiscos tinha a escolha de apreciá-los no Restaurant Francez, junto à ponte metálica do São Gonçalo, que dispunha de um serviço À la minute.

         Ao restaurante se chegava através dos três quão chics escaleres denominados Ideal, Bela Aurora e Republicano, ancorados no local denominado Laranjeiras e, caso se fizesse acompanhar pela família, haveria maior modicidade nos preços.

         O cardápio? Aliás, o “Menu”? Bem, o cavalheiro poderia pedir um “Poulet aux petit-pois jambom” e madame, quem sabe “Bifteech aux champignons” ? Oui? Então que seja.

         O restaurante ao qual nos referimos, acreditamos não tenha sido bem sucedido: ou os pratos não foram, quando servidos, do agrado da clientela pelotense ou pode ter sido pelo local, distante e não muito afrancesado; pois, em julho de 1884, estava à venda podendo os interessados em comprá-lo se dirigirem ao próprio local ou tratarem, “na cidade”, com Joaquim José Dias Ferreira, Rua General Vitorino [atual Anchieta] nº 168.

         O restaurante possuía um fogão de ferro superior e tudo o mais que era preciso haver em “um estabelecimento desta ordem”.

         Considerando a hipótese do Sr. Joaquim Dias Ferreira ser o proprietário do Restaurante, e de origem portuguesa, o que é bem provável, vemos então quão importante era o ser francês, naquela época, em Pelotas, aliás, ser ou parecer francês era importante, de bom tom e necessário em quase todos os lugares do mundo, pois, o idioma francês era o idioma mais influente, pelo menos no mundo ocidental.

 
         Agora, quisesse o cavalheiro uma novidade e fosse amante de qualquer qualidade de bebidas, como cerveja, licores, etc., etc., etc., e também doces diversos, etc., desse um pulo ao novo estabelecimento denominado Cassino Parisiense, situado à Rua General Vitorino [atual Anchieta] esquina Voluntários, que encontraria um serviço feito verdadeiramente à parisiense por duas senhoras recém-chegadas de Montevidéu, que garantiam o ameno trato e a excelente qualidade das bebidas; era, pois, um recreio agradável oferecido ao respeitável público, que de certo não deixaria de afluir àquele novo estabelecimento, completa novidade em Pelotas.

         Já por sua vez o Sr. Henri Bensa, francês que havia trabalhado nas principais cidades da Europa, bem como no Rio de Janeiro e Montevidéu, dispondo, portanto de uma longa prática, afiançava ao público pelotense que poderia satisfazer qualquer gosto, por mais “esquisito” que fosse em seu estabelecimento,  Colchoaria de Pariz, que estava reaberta (onde fora o comércio dos Srs. J. M. Ribas & Cia.) à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] nº 89, local onde o público pelotense encontraria os serviços de “colchoaria, estofador e armador”, trabalho à capricho, completo sortimento e modicidade em preços.

         Quanto ao Sr. Eduardo Jeanneret, proprietário da “Óptica” localizada à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] nº 153, fazia ciente que comprara do Sr. Leopoldo Leon seu completo “sortimento de objetos de óptica” bem como informava ter à disposição do respeitável público telescópios, microscópios, lentes de óculos de alcance, binóculos para teatro e campanha [zona rural], óculos e pince-nez de ouro, prata dourada, prata, tartaruga e aço. Vidros brancos e de cores de todos os graus, barômetros e termômetros para parede e banhos.

         Na óptica do Sr. Eduardo eram feitos ainda os mais diversos consertos.

         Salientamos também que o relógio da Torre do Mercado foi adquirido pelo município de Pelotas através da empresa do Sr. Jeanneret.

         E aproveitando a caminhada pela Rua São Miguel, essa do Café Aquário, demos uma parada na loja dos Srs. Mascarenhas & Barcellos, que anunciaram terem “altas novidades!”: Cortes de vestidos. O que tem aparecido de mais chique neste gênero, tecidos os mais modernos, recém-chegados de Paris. Para os meninos os Srs. Mascarenhas &Barcellos haviam recebido não somente sobretudos franceses, muito baratos, bem como trajes de casimira para todos os preços, calçados superiores para o inverno e meias de lã, muito finas.

         Em caso de festa para ir, e precisando de artigos direto de Paris, sem precisar ir a Paris, era só dar uma chegadinha no “Paraizo das Damas”, que acabara de receber um lindíssimo sortimento de sedas para vestidos e enfeites, cores as mais modernas assim como: rendas finas de diversas qualidades; rendas com vidrilhos; filó de seda, branco e preto, bordados a vidrilhos; sapatos de cetim, em diversas cores e pretos, e muitos outros. Luvas de cores escolhidas, muito modernas. Leques? Também recebera o “Paraizo das Damas” e o que “pode se apresentar demais chic”, informavam os comerciantes.

         Permito-me agora uma pergunta: haveria necessidade de ir a Paris para se sentir um parisiense em Pelotas?

         Enquanto você pensa a respeito, daremos uma olhada no comunicado que a viúva Celestina Bardou fazia ao comércio: “A Viúva Bardou participa ao comércio e a todos os seus fregueses da cidade e da campanha, que a fábrica de seges do finado Furtuné Bardou seu marido, sucessor de Carlos Ruelle”, continuava a operar sob a direção do “antigo e inteligente contramestre Pedro Tapier”.

         No comunicado, a Sra. Bardou dizia esperar continuando a merecer a confiança “que há tanto tempo esta população e a da campanha” tinham dispensado a seu pai e marido.

         Furtuné Bardou, 45 anos de idade, sucessor de seu sogro Carlos Ruelle, ambos artesãos franceses e desde há muito radicados em Pelotas, foi enterrado no cemitério da cidade.
                                        
         Agora, depois de todo esse passeio por essa Pelotas parisiense, que achamos ter lhe mostrado, você ainda achar que foram buscar em Paris os motivos para o surgimento da lenda urbana, nos resta dizer-lhe que embora não pareça haver diferença entre o dizer que Pelotas não foi a Paris, e sim que Paris veio a Pelotas, existe sim e é importante entendê-la.Se não, vejamos: quando é dito que Pelotas foi a Paris, fica-nos a impressão de que o fez por iniciativa própria e com o intuito de se modernizar, não somente agregando conhecimentos novos, em todos os sentidos e áreas, mas, e também, evidenciar o poder econômico de certa classe social.

         Enquanto pensamos a respeito, convidamos o leitor a, juntamente com a enorme colônia francesa se reunir no local situado à Rua Sete de Setembro a fim de deliberar sobre a maneira de comemorar a festa nacional do 14 de Julho [Queda da Bastilha], bastando tratar nos endereços dos Srs. J. Perez, C. Serres, Augusto. Blandin, L. Broqua e Monsieur C. Tarnac.

         A comissão encarregada de organizar a festa teve como Presidente o Sr. Bonelli; vogais os Srs. Dominique Pineau, Augusto Blandin, Ramain Prieux, Adrian Behocaray e Lescure.

          E assim foi que, dia 14 de julho de 1884 a importante colônia francesa de Pelotas, composta dos “mais distintos cavalheiros” celebrou a tomada da Bastilha, dando um grande jantar no Hotel Londres [o Hotel e Restaurant de Londres, de propriedade de Bertrand Bascou & Cie., estava situado à Rua Andrade Neves nº 130] .

         Segundo a imprensa da época, durante o dia (14) estiveram embandeiradas algumas casas de residência e os navios atracados no porto da cidade.








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Fonte: acervo da Bibliotheca Pùblica Pelotense e livro Mercado Central - Pelotas- de Klécio Santos

Ilustrações: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense
Revisão do texto: Professor Jonas Tenfen
Tratamento de imagens: Bruna Detoni