quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Hotel Schaefer, Pelotas

Hotel Schaefer, Pelotas

                                                                                 A. F. Monquelat

 
Um dia movimentado no Hotel Schaefer

Os hotéis do sobrado da Felix da Cunha, esquina da Praça

    O sobrado no qual o Hotel Schaefer se instalou, em fevereiro de 1922, teve, anteriormente, como hóspedes pelo menos mais dois hotéis, sejam eles: Hotel Paris e Hotel Petrópolis.

Hotel Paris

    Em junho do ano de 1919, era anunciado pela imprensa de Pelotas que a Exma. Sra. Cecília Blonwaki acabara de adquirir, por compra, as existências do “conhecido” Hotel Paris.
    Esse estabelecimento, situado à rua Felix da Cunha esquina da Praça da República (sobrado, na hoje praça Pedro Osório], seria  daquela data em diante dirigido por sua amável proprietária, que procuraria servir da maneira mais correta possível à sua clientela, comprometendo-se também  a manter uma frequência respeitável e idônea.
    Dispondo de pessoal apto para todos os serviços do ramo e estando a cozinha a cargo de excelentes profissionais, o Hotel Paris poderia ser ocupado pelas pessoas mais exigentes, que ali encontrariam tratamento excelente e dedicado.
    O Hotel Paris contava com boas acomodações para seus hóspedes e estava situado em ótimo local.
    Dois meses após anunciada a compra do Hotel Paris, era divulgado se encontrar este, depois da mudança de proprietário, “verdadeiramente transformado”, fornecendo comida para fora, pelo preço de 60$000 (réis) por pessoa, mensalmente, sendo servidos 5 pratos no almoço e 5 pratos no jantar, comida ótima e variada diariamente.

De Paris, para Hotel Petrópolis

    Em meados do mês de janeiro de 1921 via-se em alguns jornais da cidade, um anúncio do Hotel Petrópolis e, entre parênteses, logo abaixo, a informação de: (Antigo Hotel Paris). Lia-se, no mesmo anúncio que, este estabelecimento, tendo mudado de proprietário, se encontrava completamente modificado. Tinha quartos higiênicos e confortáveis, todos com janela para a rua. (...)
   

A inauguração do Hotel Schaefer

    Foi inaugurado sábado, dia 4 de fevereiro de 1922, às 21 horas, no vasto prédio à rua Felix da Cunha, esquina da Praça da República [atual Pedro Osório], o Hotel Schaefer, de propriedade do Sr. Henrique Schaefer.
    O novo estabelecimento, montado com todos os requisitos a uma casa de tal gênero, dispunha de 18 quartos na parte superior do sobrado, todos confortavelmente mobiliados, quarto para banhos, quentes e frios, e demais dependências.
    A sala de refeições estava situada no salão térreo, e o serviço de cozinha era atendido convenientemente pelo próprio Sr. Schaefer.
    O prédio havia sido completamente reformado, oferecendo assim um agradável aspecto.
    Por ocasião da inauguração, foi oferecido um lauto jantar aos representantes da imprensa e convidados, no momento em que trocaram brindes e saudaram o novo estabelecimento.

O Dr. Assis Brasil em campanha, hóspede do Hotel Schaefer

    Aos 31 dias do mês de outubro de 1922, vindo de Pedras Altas, chegou a Pelotas o Dr. Assis Brasil, candidato apresentado para o futuro quinquênio do governo sul-rio-grandense.
    Além da comissão composta de vários cidadãos ilustres de Pelotas, inúmeras famílias e grande massa popular foram saudá-lo entre manifestações “de respeito e simpatia”.
    Depois de receber cumprimentos da comissão, e ladeado pelos Srs. Drs. Edmundo Berchon e Urbano Garcia,  seguiu o político rumo ao Hotel Schaefer onde lhe estavam reservados aposentos.
    À entrada do hotel, “o ilustre rio-grandense” agradeceu, em breves palavras, a carinhosa manifestação de que fora alvo.
    No dia seguinte, às 21 horas, estando o grande Theatro Guarany repleto, o Dr. Joaquim Francisco de Assis Brasil realizou a conferência prometida, como um dos candidatos à presidência do Estado.
Dr. Assis Brasil, seu regresso a Pelotas e jantar íntimo
    Ao final do mês de novembro de 1922, às 19 horas, no Hotel Schaefer, foi oferecido ao Dr. Assis Brasil um jantar, em que tomaram parte todos os membros do Comitê Pró-Assis, do Diretório Federalista e representantes de diversos municípios.
    No jantar, foi o Dr. Assis Brasil saudado pelo Dr. Francisco Simões.
    No dia seguinte, regressou o homenageado para Pedras Altas, tendo sido muito concorrido o seu “bota-fora.”
    Quando o trem se pôs em marcha, uma prolongada salva de palmas saudou o ilustre político.
Jantar em homenagem aos bravos generais de passagem, em Pelotas
    No Hotel Schaefer, segundo a imprensa, seria oferecido dia 21 de maio de 1924, às 19h30, um jantar íntimo aos bravos e denodados generais Leonel Rocha e Zeca Neto, que se encontravam de passagem, em Pelotas.
    Esse jantar íntimo era promovido pela Aliança Libertadora.  A ele comparecendo admiradores daqueles bravos cabos de guerra, cheios de serviços à causa sagrada da libertação, segundo nota divulgada pela imprensa daquele dia.

O jantar e os admiradores presentes:

    Conforme fora divulgado pela imprensa aconteceu, no Hotel Schaefer, o jantar oferecido pela Aliança Libertadora aos generais José Antônio Neto, que havia chegado no dia anterior de Pedras Altas, e Leonel Rocha.
    A cabeceira da mesa foi ocupada pelos invencíveis cabos de guerra, bem como pelo Sr. Urbano Garcia.
    Os demais lugares foram ocupados pelos chefes da oposição, Srs. Dr. Ildefonso Simões Lopes Filho; Emílio Nunes; Acadêmico Carlos Bozano; Dr. João de Barros Cassal; Dr. Francisco Simões; Sr. J. Miranda, secretário da Aliança Libertadora de Caçapava; Sr. Joaquim Passos; Dr. Miguel de Souza Soares; Major Elpídio Martins; Sr. Artilano Costa; Dr. Araújo Cunha; Dr. Jaime Faria; Sr. Mário Piegas; Dr. J. Pereira Lima; Sr. Zeferino Costa Filho; Coronel Ezequiel Centeno, presidente da Junta Libertadora de São Lourenço;Sr. José de Matos; Sr. Leovegildo Piegas; Sr. Haroldo Farinha; Sr. Anacleto Firpo; Coronel Leônidas Damasceno; Sr. Maurício Campos; Dr. João C. de |Freitas e Sr. Antônio Costa.
    A festa foi abrilhantada, com palavras carinhosas e entusiásticas, pelo Sr. Emílio Nunes, que salientou os inesquecíveis feitos do intrépido General Leonel Rocha.
    O Dr. Francisco Simões, tomando a palavra, saudou o corajoso General Zeca Neto, pronunciando um esplêndido discurso.
    Também fizeram uso da palavra o Dr. Barros Cassal, agradecendo a homenagem ao General Leonel Rocha; o Dr. Simões Lopes Filho, que saudou com vibrantes palavras os homenageados; o Acadêmico Carlos Bolzano, que pronunciou um belo discurso. Assim se sucederam vários outros oradores, e, finalmente, o Sr. Dr. Augusto Simões Filho, que homenageou o Sr. Fernando Abott, que se achava doente.

    A mesa, segundo o repórter, achava-se organizada com muito gosto e arte.
O jantar, que aconteceu sob a mais franca cordialidade, teve início às 20 horas, terminando às 22 horas.

    Após, os presentes foram acompanhar o General Zeca Neto à residência do Sr. Major Hugo Almeida, e o General Leonel Rocha ao Hotel Grindler, onde estava hospedado.

Porteiro rouba camareira do hotel

    Aos 14 dias do mês de agosto de 1929, Luiza, camareira do Hotel Schaefer, que cuidava dos quartos do anexo deste, foi vítima de seu colega Rodolfo Neidorf, porteiro do mesmo estabelecimento, “que lhe furtou” a quantia de 740$000 (réis), para o que fez uso de um revólver amedrontando-a.
    Por ordem do Sr. capitão Arnoldo Siqueira, subintendente do 1º distrito, Rodolfo foi preso e entregue à delegacia de polícia.

Restaurant Europa

    Inaugurado em 4 de fevereiro de 1922, o Hotel Schaeferteve, salvo melhor juízo, curta existência, pois em 25 de fevereiro de 1933 vamos encontrar em um dos jornais da cidade o seguinte anúncio: “Restaurant Europa (antigo Hotel Schaefer)”, comunicando os serviços que prestava, o que nos leva a supor que, já na década de 30, não mais existisse.
                           
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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Confeitaria A Dalila, Pelotas

Confeitaria A Dalila, Pelotas

                                               A.F. Monquelat

Propaganda de A Dalila

Ainda que não seja a confeitaria mais antiga a ser fundada em Pelotas, a confeitaria A Dalila em curto prazo tornou-se uma das confeitarias mais tradicionais, famosas e importantes da cidade.
E foi com esta denominação, A Dalila, que a imprensa local anunciava, para o dia 7 de setembro de 1916, a inauguração, à rua Marechal Floriano nº 5, de uma bem montada confeitaria, de propriedade do Sr. Domingos Souza Moreira.
A nova casa, em condições de receber a visita das famílias, dispunha de uma ampla e magnífica sala para o serviço de gelados, refrescos e toda a qualidade de bebidas e doces.
Todo o mobiliário fora confeccionado na conceituada Marcenaria Moderna, do Sr. Arthur Ignacio de Souza, que, segundo a imprensa, mais uma vez dava provas de seu bom gosto e competência.
A armação era composta por quatro elegantes bufês, completada por dois cristaleiros e dois mostradores, tudo em moderno estilo, “oferecendo magnífico aspecto”.
Na véspera da inauguração, à noite, o proprietário do novo estabelecimento faria uma exposição, para a qual recomendava o jornalista.

A circular distribuída à Imprensa

Às vésperas da inauguração, o Sr. Souza Moreira, proprietário da nova confeitaria, enviou à imprensa da cidade, a seguinte circular: “Ilmo. Sr. – O abaixo assinado, solicitando vênia a V. Sª., vem, por este meio, comunicar-vos que no dia 7 do corrente inaugurará nesta cidade, à rua marechal Floriano nº 5 (próximo à Praça da República) uma bem montada Confeitaria.
“Um estabelecimento de 1ª ordem, a qual receberá diretamente das principais praças nacionais e estrangeiras grande variedade de comestíveis e molhados finos, mantendo um completo sortimento em doces, folhados, bolos, biscoitos, pastilhas e bombons cristalizados, fabricados diretamente no próprio estabelecimento, para cujo mister conta com profissional competentíssimo.
“Certo de que V. Sª se dignará auxiliar este novel estabelecimento, subscreve-se, hipotecando-vos o mais profundo respeito, elevado apreço e imperecível gratidão o vosso humildíssimo criado. D. Souza Moreira”.

A inauguração vista pela imprensa

Ao ato de inauguração da confeitaria, dia 7 de setembro de 1916, estiveram presentes representantes da imprensa, Dr. Cipriano Barcelos, intendente do município, e grande número de convidados e famílias, os quais muito elogiaram o bom gosto com que estava montado “o elegante estabelecimento”.
O Sr. Moreira, auxiliado pelo Sr. Joaquim Louzada, foi incansável em gentilezas a todos servindo finos e delicados doces, acompanhados de champagne.
Falaram, fazendo votos de prosperidade à Dalila, os Srs. José Veríssimo Alves Filho e o reverendo Manoel Felix, representante do Lusitano.
O Sr. Moreira agradeceu, fazendo referência à independência do Brasil, para a qual teve carinhosas palavras.
Também foi muito cumprimentado o Sr. Felix Fanocchia, “hábil diretor da fabricação de doces”.
Mesma imagem, informações diferente

À colônia italiana

Dias depois de inaugurada, o proprietário de A Dalila participava à distinta colônia italiana, bem como ao público em geral, ter recebido os seguintes gêneros: vinho espumante Lambrusco, vinho Marsala, vinho Lacryma, vinho Christi, vinho Capri (Scala), vinho Chianti, Ferro-quina de Bisleri, Arenghes, Accinghe salate, Tartufi, Funghi secchi, all’olio e AL naturale, Olio gambogi, Olive Pio Moro, etc.
Uma visita, pois, a confeitaria A Dalila.

A festa da Faculdade de Direito na confeitaria!

Dia 20 de novembro de 1916, às 14 horas, na sala da confeitaria, teve lugar a festa de despedida que os novos bacharéis da Faculdade de direito de Pelotas ofereceram a congregação desse estabelecimento.
Ao champagne, falou pelos que se despediam o Dr. Tancredo do Amaral Braga, respondendo pela congregação o Dr. Bruno Lima, lente do primeiro ano.
Saudou os alunos do 4º ano o Dr. França Pinto, agradecendo o advogado Álvaro da Silva.
Estiveram presentes à festa, que ocorreu na maior tranqüilidade, os Srs. Drs. Francisco Brusque, Albuquerque Barros, Bruno Lima, Alexandre Mendonça, Tancredo Braga, Luiz frança Pinto, Octavio Pitrez e acadêmicos dos diversos cursos daquela Faculdade, Álvaro da Silva, Edmundo Appel, Francisco da Mota Topin, Abdon de Mello, Pedro Vergara, Álvaro Appel e Clarimundo Rosa Nepomuceno da Silva.
O  Sr. Dr. Luiz Mello Guimrães, lente do 5º ano, se fez representar por seu filho Luiz Teixeira Guimarães.

A comemoração do 1º aniversário de A Dalila

Comemorando o primeiro aniversário de fundação da conceituada confeitaria, o seu proprietário Sr. Domingos Moreira ofereceu um chá, na noite do dia 7 de setembro de 1917, às famílias e fregueses do estabelecimento.
Durante a reunião,  fez-se ouvir um afinado terceto, sob a direção do Sr. Domingos Bandeira.
Os convidados e representantes da imprensa da cidade foram gentilmente recepcionados pelo proprietário.
A banda musical União Democrata esteve presente cumprimentando a casa aniversariante, executando várias peças de seu repertório, na frente da confeitaria.
Os músicos foram obsequiados fidalgamente com doces e líquidos.

A Dalila em seu 15º aniversário: 7 de setembro de 1931

A luxuosa confeitaria A Dalila, estabelecimento que viria a ampliar “o nosso comércio de especialidades e comestíveis”, sob a propriedade do Sr. Domingos de Souza Moreira que lhe dera, de início, uma direção firme e “modelada no progresso da cidade”.
Mais tarde, o Sr. Frutuoso Gonçalves, num louvável trabalho e para melhor corresponder à preferência dos clientes, associando-se ao Sr. Antônio Alves de Freitas, colocou a confeitaria num nível de destaque que, naquela data, tornara-se o ponto dileto “da aristocracia pelotense”.
A confeitaria, durante o dia, esteve repleta de clientes e pessoas do meio social pelotense, que foram levar seus cumprimentos dos dirigentes daquela casa.
O preferido ambiente, dizia o jornalista, apresentava lindo aspecto com sugestivas ornamentações de flores e bandeiras nacionais e rio-grandenses.
Em celebração, os Srs. Gustavo Teixeira, que passara a fazer parte da firma desde o 1º dia daquele mês, e o Sr. Freitas ofereceram chopes e sanduíches aos seus clientes.

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Hotel Grindler, Pelotas (parte 4 e última)

Hotel Grindler, Pelotas (parte 4 e última)

A.F. Monquelat

A confortável sala de estar do Hotel Grindler
Coronel Zeca Neto se hospeda no Hotel Grindler
O jornal O Rebate, em 10 de março de 1919, noticiava estar hospedado no Hotel Grindler o prestigiado chefe político de Camaquã, Sr. coronel Zeca Neto.
O “ilustre patrício”, que gozava de alto conceito naquele município, bem como em todo o Estado, era um fervoroso adepto da candidatura do egrégio senador Rui Barbosa à presidência da República.
“Saudemo-lo”.


Participação de falecimento e comunicação de nova razão social
Aos 28 de setembro de 1927, era participado à imprensa o falecimento do “amigo e sócio” André D. Raupp e, conforme distrato da Junta Comercial do Estado, dissolvida razão social de Konrad & Raupp.
Tendo o Sr. Konrady assumido todo o passivo da extinta firma, continuaria ele com o mesmo ramo de negócio, Hotel Grindler, esperando que todos dispensassem à firma individual André Luiz Konrady a mesma confiança e preferência com que sempre distinguiram aos proprietários anteriores.
Sr. André Luiz Konrady

Nominata das pessoas que fixaram residência no Grindler
Em princípios de maio de 1937, o Diário Popular publicou a Nominata de pessoas que, dado o bom trato que o Hotel Grindler dispensava aos seus hóspedes, para lá haviam fixado residência, fato que comprovava a excelência do acreditado hotel, que passara às mãos do Sr. Ascendino Canez, desde meados de janeiro daquele ano de 1937.

O jardim do hotel
A nominata:
Dr. W. Bivar; Dr. Clarindo Severo e família; Dr. Cesar Campos; Sr. Francisco Morales; Tenente Hugo Claro; Tenente Acácio C. da Rocha e esposa; Sr. A. Krauer e esposa; Sr. José B. da Rosa; Sr. Luiz B. da Rosa; Sr. Luiz Ramalho e família; Sr. Carlos L. Pinto e família; Sr. Antônio Sanches; Sr. Salomon Nianchowac; Sra. Marina Leon e família; Sr. Antônio Nobre; Sr. Libargue Nunes; Sr. Hugo Antônio Augusto; Sr. Eurico de Souza; Sr. Hélio Luz; Sr. Domingos Rocha e família; Sr. Wolnei Ferreira; Sr. Dario do Estreito; Major José Afonso da Rocha; Sr. Dirceu Peres; Sr. Dilon Dias; Sr. Rodolfo Martins; Sr. Dimosman Gomes e Sr. Genes Bento.

Breve histórico do Hotel Grindler
Uma folha local em meados de janeiro de 1938 publicou um ligeiro histórico do afamado Hotel Grindler, na época, de propriedade do Sr. Ascendino Canez, no qual foi dito que o atual administrador, dedicado, atencioso e competente, tinha mantido, com alta visão comercial, o bom nome do conceituado estabelecimento, cuja fama se irradiara por todo o Estado.

Sr. André D. Raupp

O histórico
Carlos Grindler, um trabalhador esforçado, vindo de Cachoeira, fundou em Pelotas, em 1897, logo após cessado o rumor revolucionário, o Hotel Grindler, para onde vinham sempre, atraídos pela sua fama, forasteiros de todos os municípios vizinhos.
Carlos Grindler, muito relacionado no interior, canalizou para sua casa, cujo nome ascendia no conceito público, a admiração de todos os viajantes. 
Em 1919, o Hotel passou a ser administrado, por motivos de saúde do Sr. Grindler, pelos Srs. André Luiz Konrady e André Raupp, cuja sociedade durou até 1927, ficando dessa data em diante, o estabelecimento, sob a exclusiva direção do Sr.André Konrady.
Aos 17 de janeiro de 1937, adquiriu-o por compra o Sr. Ascendino Canez e este, segundo um jornal da época, era um espírito dinâmico e adiantado, que soube mantê-lo com alta dedicação o renome do grande estabelecimento.
O Hotel vinha sofrendo, desde então, sensíveis melhoramentos, como sejam pinturas, adaptações, compra de material, novo mobiliário e muito maior iluminação.
Com 70 quartos, amplos e arejados, era um estabelecimento altamente recomendável ao público.
Nele residiam com todo o conforto, 11 famílias e 41 pensionistas, inteiramente radicados no ambiente sadio e familiar do Hotel.
Mesa farta, serviço atencioso, tratamento cavalheiresco, elegância e distinção, tudo revelava no conceituado  estabelecimento, a sua direção e a solicitude do seu pessoal. 
O Hotel, concluía o jornalista, era um grande elemento de aproximação social, e nele se relacionavam os indivíduos e as famílias, e se estudavam, com informações fidedignas, as mais afastadas regiões do Estado.
Ainda que não esgotado, encerramos aqui nossos apontamentos sobre o Hotel Grindler.


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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Hotel Grindler, Pelotas (parte 3)

Hotel Grindler, Pelotas (parte 3)

A.F. Monquelat


Arrendamento do Hotel Grindler, por motivos de saúde
Em princípio do mês de agosto de 1909, a redação do jornal A Opinião Pública, bem como a de outros jornais da cidade, recebeu a seguinte carta: Amigos e Srs., não podendo, em conseqüência do meu atual estado de saúde, permanecer por mais tempo à frente do Hotel Grindler, pois me vejo forçado a mudar de residência para Caxambu, entregar, por arrendamento, o mesmo estabelecimento, aos Srs. André Luiz Konrady e André Daniel Raupp, meus sobrinhos, que constituídos em sociedade, sob a firma de Konrad & Raupp, comprometeram-se a dar direção idêntica a que sempre usei neste hotel no prazo de 12 ano, que é justamente o tempo que ele tem de funcionamento no sobrado à rua Andrade Neves nº151.
[...]. Aceitai os protestos de minha estima, (...) Carlos Grindler.

Gatuno rouba atriz e é preso ao sair do hotel
De acordo com o jornal A Tribuna de 29 de abril de 1911, às 4 horas e 30 da madrugada, quando saía do Hotel Grindler, conduzindo umas malas, com o propósito de embarcar no trem com destino a cidade de Rio Grande, foi preso o indivíduo Henrique Crum. Dias antes ele se hospedara naquele estabelecimento.
Procurando saber dos motivos daquela prisão, a reportagem do jornal, pondo-se em campo, apurou o seguinte: à noite do dia 27, uma das atrizes da Companhia portuguesa, que se hospedara no Hotel Grindler, deu por falta da quantia de 350$000 réis em moeda papel e de 29 libras que se encontravam em uma das malas de sua propriedade, em seu quarto.
Na porta deste e na fechadura da referida mala, via-se visíveis sinais de violência, o que tudo levou a conclusão lógica de que se tratava de um roubo.
Dada queixa à polícia,  e esta, tomando as medidas cabíveis, efetuou, dia 29, a prisão de Henrique Crum, sobre o qual recaíram logo fundadas suspeitas, por ter ocorrido idêntico fato em Porto Alegre, onde, de um hóspede do Grande Hotel, no qual também Henrique havia se hospedado, ocorrera um furto de 150$000 réis.
O gatuno embarcara com a companhia no porto de Santos, juntamente com uma amante de nacionalidade polonesa, tendo seguido desde então a trupe da Companhia, neste estado.
Em busca realizada no quarto de Henrique, foi encontrada uma pua e um molhe de chaves diversas.
Em poder do larápio, encontravam-se duas notas de 100$000 réis, ambas com marcas da Companhia portuguesa.

Apresentação de um violinista no hotel
Noticiou a imprensa de Pelotas que, dia 2 de dezembro de 1914, foi realizado um concerto, no Hotel Grindler, em audição especial à imprensa e corpo docente desta cidade, pelo violinista cego Sr. Levino Albano da Conceição.
A assistência, que era numerosa, saiu bastante impressionada com a qualidade artística do violinista Levino, como intérprete “sentimental, sóbrio e arrogante quando assim o exigia a técnica musical”.
Assim foi a apresentação, em Pelotas, do exímio violinista brasileiro.

O conto da caixa que continha uma herança
Pelo trem da tarde do dia 24 de outubro de 1916, hospedando-se no Hotel Grindler, chegou um pecuarista no município de Passo Fundo.
Por volta das 21 horas, daquele mesmo dia, o hóspede saiu a passear pela cidade e, ao chegar à rua Andrade Neves, esquina da Marechal Floriano, foi abordado por um desconhecido, “de cor branca” que, mostrando-lhe uma pequena caixa de folha, pintada de preto, disse-lhe que a mesma continha oito contos de réis, dinheiro esse que deixara seu pai, falecido há pouco, na campanha [interior de cidade], para que fosse distribuído entre os pobres da cidade.
Disse o vigarista também que estava hospedado no Hotel Brasil [hotel próximo ao Theatro Sete de Abril] e que, sendo ele um forasteiro, tinha receio de ser roubado, por isso lhe confiaria a caixa com o dinheiro, caso o hóspede do Hotel Grindler lhe desse como garantia a quantia de um conto de réis.
O interpelado, diante da oferta não titubeou e entregou o dinheiro pedido, levando para o Hotel a caixa de folha.
Ao abri-la, logo em seguida viu que esta continha apenas papéis velhos.
Decepcionado foi queixar-se à polícia...
E assim, vê-se como um conto pode acabar rendendo outro.
No entanto, na madrugada do dia seguinte, a polícia conseguiu efetuar a prisão do vigarista, que estava hospedado no Hotel Lisbonense, à rua Sete de Abril [atual rua D. Pedro II]. Este se chamava Antônio Vieira da Silva.
Em seu poder foi apreendida apenas a quantia de 73$000 réis.
Vieira seria processado.

Um homem perverso: ficará impune?
Na Seção Livre do jornal O Rebate do dia 29 de janeiro de 1919, sob o título de “Um homem perverso” seguido da interrogação: “Ficará impune”?, a irmã de Firmino Ferreira, de 14 anos de idade, Paulina Teixeira, denunciava que seu irmão acabara de ser vítima de um ato miserável, que merecia um enérgico castigo.
Funcionário há bastante do Hotel Grindler, seu irmão vivia perseguido pelo “tineiro” do mesmo hotel, de nome Saraiva que, sujeito de baixos instintos que era, queria submetê-lo a práticas imorais, encontrando sempre “a mais enérgica repulsa”, por parte de seu irmão Firmino.
Firmino, entretanto, era perseguido por Saraiva a toda hora e momento, de forma acintosa.
No dia anterior ao da denúncia, renovando suas propostas, o “sátiro” foi além, agarrando Firmino pelas costas com o firme propósito de violentá-lo.
Como seu irmão sacasse de um canivete para se defender, Saraiva levantou-o no ar e atirou-o de encontro à parede fraturando-lhe uma das pernas em dois locais.
Firmino, em lamentável estado foi conduzido para a Santa Casa, onde ficou em tratamento.
Quanto ao agressor, estava impune, rindo-se do ato infame segundo constava a irmã da vítima, ele não seria  pela polícia, pois lhe parecia que tinha “padrinhos”.
Lavrava assim o seu protesto, exigindo a “punição do malvado”, sob pena de voltar à imprensa e apelar para todos os recursos possíveis.


Continua...

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen