sábado, 26 de dezembro de 2015

Bule Monstro: pequena história de uma grande loja

 (parte 3)                               

                                              
                                                                                     A.F.Monquelat


         Por havermos esquecido de acrescentar, o que fazemos agora graças ao Sr. Fábio da Pretérita uRBe, que nos indagou a respeito, o bazar Bule Monstro, de propriedade do Sr. Alfredo Ferreira Sampaio, mudou-se para a Rua Andrade Neves nº 145, esquina em frente a casa Scholberg & Joucla, em 9 de maio de 1904.




O bazar Bule Monstro adquire o Jarro Monstro


         Aos 31 dias do mês de maio de 1914 o Sr. Antônio Gigante, proprietário do bazar Bule Monstro, levava ao conhecimento da imprensa e do público em geral que havia adquirido, por compra, todas as existências do “importante bazar JARRO MONSTRO”, dos Srs. Teixeira Vaz & Sampaio, cujas existências ele anexara ao grande estoque do Bule Monstro que ficava, assim “mais do que sempre, em perfeitas condições para atender as encomendas de sua digníssima freguesia”.
         Aproveitando a oportunidade o Sr. Antônio Gigante comunicava que acabara de introduzir na Seção de Varejo do Bule Monstro notáveis melhoramentos, tornando-se absolutamente independente das outras seções.
         A seção de varejo, completamente remodelada e independente como se encontrava, ficaria sob a gerência do Sr. Alfredo Gigante, que não pouparia esforços no sentido de atender solicitamente as ordens com que fosse distinguido.
         Igualmente, comunicava que, em virtude da compra feita das existências do Jarro Monstro, criara também a Seção de Máquinas de Costura que ficava a cargo do Sr. Manoel J. da Silva Neto.
         Quer na Seção de Máquinas de Costura, como na Seção de Varejo, para poder ainda oferecer maiores vantagens nos preços “vender-se-à exclusivamente a dinheiro à vista”, ficando por isso, abolidas as vendas a crédito de toda e qualquer natureza, não se oferecendo amostras.
         Agradecendo a generosa preferência que recebia e, recomendando uma visitas as Seções Máquinas de Costura e Seção de Varejo, firmava-se atenciosamente.
         Em 5 de janeiro de 1916 o Sr. Antônio Gigante, proprietário do Bule Monstro, enviou ao jornal Opinião Pública uma carta com o seguinte teor: “Amigos e Senhores. A presente acompanham algumas latas de litro e vários vidros de 60 gramas do excelente produto denominado Creol.  

         Como terão ocasião de certificar-se o Creol é o mais poderoso desinfetante que há na química, pois a sua moderna fórmula encerra os princípios mais ativos que a ciência indica.
         O Creol é de incomparável efeito e de máxima eficácia não só na sua ilimitada aplicação doméstica (pois é indicado para dezenas de casos) como é um excelente remédio para tratamento do gado, porque cura a sarna e mata a bicheira logo nas primeiras aplicações.
         Após ligeiro exame de confronto, resultará para o Creol a prova de ser ele o desinfetante de mais alta concentração que existe, sendo superior a todos os seus similares, nacionais e estrangeiros.
         O Creol já se acha adotado em quase todos os hospitais do Estado, havendo sido igualmente, após muitas experiências em que se entraram todos os similares, adotados pela Light & Power, desta cidade, para a lavagem antisséptica dos seus carros.
         Agradecendo, penhorados, a publicação destas linhas. Ass. Antônio Gigante”.
         O Creol, segundo nota do Jornal, vendia-se em todas as drogarias, farmácias, armazéns e vendas desta cidade.
         O Sr. Antônio Gigante, em 10 de fevereiro de 1916, comunicava via imprensa que tendo tomado para si a venda exclusiva e propaganda do poderoso desinfetante Creol, vendido em todo o Brasil, essa nova seção lhe trazia um grande aumento de trabalho e não sendo possível, assim, cuidar de todas as dependências do Bule Monstro, resolvera ficar unicamente com a Seção de Atacado, por isso, até 31 de junho daquele ano faria a liquidação total da seção de Varejo para que ela fosse encerrada, definitivamente, até aquela data.
         Para que fosse possível reduzir o incomparável sortimento exposto na Seção de Varejo, a partir daquele dia, faria extraordinária redução nos preços de todo o ESTOQUE, o que constituiria uma formidável liquidação, por isso, quem necessitasse fazer compras de louças, vidros, porcelanas, cristais, etc., apressasse-se em visitar a Seção de Varejo do Bule monstro, onde teria ocasião de fazer ótimas compras.
         Essa colossal liquidação atingiria igualmente a Seção Máquinas de Costura, onde se venderiam todos os artigos por preços nunca vistos.
         As vendas seriam feitas só a dinheiro à vista.
         Aproveitava a oportunidade para, publicamente, agradecer a honrosa preferência com que sempre fora distinguido pela sua amável freguesia, hipotecando o seu eterno agradecimento a todos aqueles que foram seus fregueses.
         Dia 26 de agosto de 1916 os jornais noticiavam que o conhecido empório de louças Bule Monstro, de sobejo conhecido pela excelência de seus artigos e pela modicidade dos preços, faria, no dia seguinte, mais uma das suas costumeiras exposições, principalmente de objetos próprios para presente.
         Em 5 de janeiro de 1917 a imprensa de Pelotas noticiava que o “operoso” Sr. Antônio Gigante, fabricante do poderoso e popular desinfetante Creol, ia lançar no mercado mais um produto de “suas importantes usinas”.
         Tratava-se de um sabonete higiênico derivado do Creol e que iria se impor ao consumo público pelas altas propriedades antissépticas que possuía, em nada inferior a outros similares estrangeiros.
  



       Congratulando-se com o progresso da indústria local, os jornais davam os parabéns ao Sr. Antônio Gigante por mais essa tentativa de seu empreendedor espírito.
         A Opinião Pública de 17 de fevereiro de 1917, acusando o recebimento de algumas ventarolas [abanadores, tipo leques], reclame do conhecido desinfetante Creol, que o Sr. Antônio Gigante enviara, anunciava que no dia seguinte seriam expostos na vitrina de A Instaladora, todos os prêmios, medalhas de ouro e etc., conquistados em várias exposições pelo Creol.

         Informava também, que por aqueles dias seria entregue ao consumo público o sabonete antisséptico, derivado do Creol e que se recomendava para as afecções da pele.

                                                                                     Continua...

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Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV 
Tratamento de imagem: Bruna Detoni


                           


sábado, 19 de dezembro de 2015

Bule Monstro: pequena história de um grande bazar

 (parte 2)

                   
                                                                                                A.F.Monquelat





         Em 1º de outubro de 1912, a imprensa de Pelotas noticiava o fato de o Sr. Antônio Gigante, “proprietário do acreditado Bule Monstro”, ter introduzido naquele estabelecimento mais um melhoramento de importância incontestável.
         Referência à iluminação elétrica instalada no “antigo e conceituado empório” e inaugurada dia 28 de agosto daquele ano, já com grandes resultados, apesar de não estar ainda concluída.
         Não havia dúvida alguma que as vistosas exposições permanentes de artigos de porcelana, cristais e finíssimos metais resaltavam de uma maneira feérica, ante os olhos de quem passasse, dando ao Bule Monstro um aspecto magnífico.
         Constava tal instalação elétrica de um possante dínamo de 115 volts e 34/8 amperes, acionado por um excelente motor da fábrica Gasmotorem Fabrik Deutz e com a força de 8 cavalos.
         O dínamo era fabricação da Siemens Schuckert Werke.
         Para o resfriamento do motor, foram colocadas, em uma área próxima ao lugar em que este se encontrava, duas grandes pipas, que estavam cheias de água, a qual duraria pelo tempo de dois anos.
         Espalhadas pelas diversas dependências do vasto prédio eram distribuídas 22 lâmpadas, a mais fraca destas era de 50 velas, havendo algumas de quatrocentas e quinhentas velas.

         Mesmo sem estar concluída a iluminação, essas lâmpadas iluminavam de maneira farta e segura ao estabelecimento.
         A iluminação seria também dotada de uma bateria de sessenta acumuladores, provenientes da Alemanha.
         Além disso, seriam colocados poderosos focos na frente do prédio, devendo também o grande bule, ali instalado, ser iluminado por focos de cores variadas.
         Também seria colocado na fachada do prédio o letreiro da casa, formado de pequenos focos coloridos.
         O Sr. Alberto Gigante, irmão do proprietário do Bule Monstro, Sr. Antônio Gigante, e um dos sustentáculos deste estabelecimento, fora quem forneceu as informações que constavam das matérias jornalísticas.
         A instalação elétrica foi feita pela casa Bromberg & Cia., de Pelotas.
         No dia seguinte ao da inauguração da luz elétrica, à noite, foi feita deslumbrante exposição de vários artigos, desde o mais barato ao mais luxuoso e de elevado preço.
         A exposição foi vista por centenas de pessoas que, segundo a imprensa da época, tiveram a melhor impressão.
   

   Aos quatro dias do mês de novembro de 1912,  a Seção de Varejo do bazar Bule Monstro, localizada à Rua Andrade Neves nº 619, anunciava que acabara de receber completo sortimento de artigos, tais como banheiras, pias, lavatórios, toaletes para senhoras com água quente e fria, torneiras, filtros de pensão para encanamentos hidráulicos, etc.

         Dia nove daquele mesmo mês, era anunciado que, dentro de poucos dias, seria feita no Bule Monstro uma deslumbrante exposição de artigos prateados.
         Para tal, estavam sendo ultimados no Rio de Janeiro, onde se encontrava o Sr. Antônio Gigante, os despachos dos referidos artigos, provenientes da Wurttfmbergische “a melhor e a mais importante em todo o mundo de artigos prateados para presentes”.
         O jornal A Reacção de 17 de dezembro de 1912 noticiava que o Bule Monstro iria oferecer à sua numerosa freguesia, como presente de fim de ano, excelentes copos para água ou cerveja.
         Seria este um brinde de verdadeira utilidade, comentava o jornalista, que fora contemplado com uma dúzia dos referidos copos.
         Completando a notícia, era divulgado que em breve o Bule Monstro instalaria cinco elegantes escaparates, para exposição dos numerosos artigos que recebia frequentemente.

         Tendo feito a aquisição de uma caixa registradora, o Bule Monstro, a partir de outubro de 1913, passou a fornecer aos compradores uma cautela correspondente ao valor de suas compras, sendo que todo o cliente que apresentasse cautelas no valor de 25$000 [réis], o bazar daria, como bonificação, 10% em mercadorias.

O Bule Monstro distribui pratos e canecas aos pobres

         Como forma de comemorar o seu aniversário, o bazar Bule Monstro faria grande distribuição de pratos, no mês de maio de 1914, às meias-dúzias, pelos necessitados.
         O lote de cartões, que para esse fim fora entregue à imprensa pelo Sr. Antônio Gigante, para que essa os distribuísse pelos pobres que à gerência dos jornais os fossem procurar.
         O jornal Correio Mercantil de 19 de dezembro de 1914, noticiava que, na segunda-feira, dia 21 de dezembro, o importante e conhecido bazar Bule Monstro faria a distribuição do “valioso donativo” de 1.200 canecas de louça aos pobres, como festas de natal.
         Os cartões, que davam direito às canecas, entregues ao Correio Mercantil já estavam todos distribuídos, bem como os cartões entregues aos outros jornais da cidade, ao que o redator do jornal acrescentava que iria assistir, pois “é uma simpática e curiosa procissão”.
        
                                                              
                       

                                 Continua...

                  
Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen        
Tratamento de imagem: Bruna Detoni

sábado, 12 de dezembro de 2015

Bule Monstro: pequena história de um grande bazar

 (parte 1)

         A.F. Monquelat


        
         Dia 15 de abril de 1882, com a denominação de Bule Monstro, abria-se à concorrência pública um estabelecimento de louças, cristais, porcelanas, móveis nacionais, estrangeiros e infinidade de outros artigos de bom gosto, modernos e luxuosos.
         Eram proprietários da nova loja os senhores Alfredo Ferreira Sampaio e Antônio Francisco Madureira. A sociedade Sampaio & Madureira durou até 31 de maio de 1885.
         O local, segundo a imprensa da época, Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] nº 177, era um dos melhores da cidade.

         A especialidade do bazar, quando inaugurado, era os mais lindos aparelhos, salvas, estátuas e etecétera, feitos de finíssimo barro e cujo trabalho, diziam os proprietários, era de uma perfeição admirável.  

         Dia 15 de fevereiro de 1885, S. A. a princesa imperial visitou em Pelotas, pela manhã, a ourivesaria do Sr. João Resende, a relojoaria do Sr. Nathorf, a loja de louça Bule Monstro, a correaria do Sr. João Loth e o estabelecimento de móveis do Sr. Vignoles.
         Aos seis dias do mês de julho de 1885 o Sr. Alfredo Ferreira Sampaio, estabelecido nesta cidade com loja de louça à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] denominada Bule Monstro, participava ao comércio e ao público em geral que, em data de 1º de junho de 1885, fizera sociedade com o Sr. Pedro Afonso dos Santos na referida casa de negócio, cuja razão social passaria a ser Sampaio & Santos.

         Em 2 de setembro de 1899, foi noticiado pelo Correio Mercantil estar na cidade, onde vinha fixar residência, associando-se a casa de louças Bule Monstro, o Sr. Alberto Sampaio, que fora negociante na cidade de Rio Grande.
         Aos 19 dias do mês de junho de 1912,  o Correio Mercantil publicava a seguinte circular: “Pelotas, 1º de junho de 1912. Ilmo. Sr.: Tenho a honra de levar ao vosso conhecimento, que nesta data adquiri, por compra feita à Exma. Sra. Fortunata de Faria Sampaio, todas as existências de sua casa de louças denominada Bule Monstro, que foi de propriedade de seu finado marido Sr. Alfredo Ferreira Sampaio, continuando debaixo da minha firma individual a explorar o mesmo ramo de comércio e mais o que convier possa.
         Apesar de ser este estabelecimento o mais antigo e acreditado de Pelotas, não obstante procurarei ainda introduzir grandes melhoramentos e sempre conservar escrupuloso sortimento.
         Dessa forma penso poder merecer-lhe a mesma confiança que dispensastes ao meu antecessor.

          Ass. Antônio Gigante.” 

      Também a Sra. Fortunata de Faria Sampaio comunicou ao redator do Correio Mercantil ter vendido ao Sr. Gigante a aludida casa.


         Em 10 de julho de 1912, era anunciado que no domingo, dia 7 de julho, fora inaugurado no “velho e acreditado bazar” Bule Monstro estabelecido à Rua Andrade Neves, então de propriedade do Sr. Antônio Gigante, uma seção de coroas e ornamentos fúnebres.
         Era, segundo a imprensa, extraordinária a variedades de artísticas coroas expostas.
         O sortimento de cruzes, ramos e outros ornatos, era enormes.
         Até altas horas, no dia da inauguração, conservara-se em exposição à seção recém-inaugurada, sendo grande o número de pessoas que foram apreciá-la.
         Conforme fora anunciado, dia 9 de março de 1913, realizou-se uma grandiosa exposição na “conhecida casa de louças Bule Monstro”.
         Na primeira vitrina, que era a maior, foi exposto um grande mostruário de artigos niquelados e prateados da marca Württfmbergische,  uma das indústrias mais afamadas e conhecida em todos os mercados.
         Esse sortimento, que era colossal, compunha-se de aparelhos para lavatórios, chá, café, serviços para champagne, água, vinhos, cerveja, gelados, ovos, foreiros, jarras, vasos para flores, fruteiras, centros, geladeiras e muitas outras peças diferentes, com diversas utilidades, sobressaindo um grande serviço doméstico, muitíssimo variado.
         Na vitrina imediata àquela, achava-se exposto um completo sortimento de niquelados, da mesma marca Würitemsbergische.
         No salão principal, em continuação às vitrinas, foi feita uma exposição geral de artigos de porcelana de Sévres, aparelhos para jantar, chá e café. 



         Também havia neste compartimento uma magnífica quantidade de cristais de Limoges, aparelhos para lavatórios de 6, 7, 10, 18 e 24 peças, muito variados em cores, que agradavam à vista.
         O assoalho deste salão fora completamente coberto com um grande tapete, sobre o qual se via, em grande profusão, um variado sortimento de elegantes peças de metal prateado.
         Também foram expostos grande número de artigos esmaltados, nacionais e estrangeiros, imitando muito bem a porcelana.
         Ali se via de tudo quanto se fazia necessário para um serviço doméstico completo.
         Destacavam-se, entre os pequenos objetos, algumas baterias de alumínio para cozinha.
         As armações do fundo, envidraçadas, eram tomadas por uma grande exposição de lampiões belgas, vendo-se todos seus acessórios.
         Ainda aparelhos para lavatórios, objetos de fantasia, cristal da Boêmia, licoreiros, biscoiteiras, portas-perfume e porta-joias, bomboneiras, garrafas, etc.
         À Rua Andrade Neves, em um depósito, foram expostas três pirâmides, uma, com Creolina 308, Dynamogenol e Palpite, magnífico sabão concentrado para limpezas na cozinha.
         Aquela exposição, que esteve segundo a imprensa da época, muito bonita, foi muito admirada e continuaria no dia seguinte.
                                                                                    

                                                                                                                      Continua...

                 

Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV      
Revisão do texto: Jonas Tenfen           
Tratamento de imagem: Bruna Detoni

sábado, 5 de dezembro de 2015

Breve história da Casa Scholberg


                                                                                                                              
         Fundada em 1850, a famosa casa Scholberg teve como primeiro proprietário o Sr. Vicin Laport; com a morte deste, passou a razão social a ser Viúva Laport & Irmão.
         Durante muitos anos a casa Scholberg foi dirigida pelo Sr. Alexandre Gadret.
         No decorrer dos anos de funcionamento da Scholberg sucederam-se as firmas Scolberg & Gadet; Scholberg, Joucla & Silva e Scholberg & Joucla.
         No ano de 1882 a firma Scholberg & Gadet informava ao público e comércio em geral que sua nova denominação social seria a de Scholberg, Joucla & Silva, tal informação estava assinada pelos Srs. Guilherme Scholberg, Leopoldo Joucla e Francisco Eurico da Silva.

         Em novembro de 1888 era noticiado que no dia 17 daquele mesmo mês estaria reabrindo para o público a grande e importante fábrica de armas de fogo e instrumentos cirúrgicos dos Srs. Scholberg, Joucla e Silva, que fora transferida para o novo prédio, situado à Rua Sete de Setembro esquina da Andrade Neves.
         Esse prédio, especialmente construído para o aludido fim, constava de um andar térreo e outro superior para moradia da família de um dos sócios da casa, o Sr. Leopoldo Joucla, e era um dos mais elegantes prédios de Pelotas.
         Em visita feita pelo redator do jornal Correio Mercantil, sentiu-se este jornalista maravilhado com o bom gosto, o luxo e a riqueza não só do sortimento como do preparo da casa.
         Pelotas, disse o jornalista, não contava com outro estabelecimento do mesmo gênero em tais condições e o público deveria prestigiar quem por tão boa maneira pretendia servi-lo.
         E, para melhor servi-los, Scholberg, Joucla & Silva participavam ao público e a seus numerosos fregueses tanto desta cidade como de toda a província, que se encontravam novamente no antigo local de seu estabelecimento, agora dotado das grandes reformas que o desenvolvimento de seu comércio exigia, com um esplêndido e variado sortimento dos artigos seguintes: Armamento para caça, alvo e defesa, revólveres para bolso e coldre, armas brancas, cutelaria fina, artigos de metal branco para montaria, artigos de ferro e aço batidos, petrechos de caça, pesca e para viajantes, munições de toda a classe, artigos de couro, talheres, aparelhos de metal fino para mesas e adornos, instrumentos cirúrgicos, lâmpadas belgas sistema Gilles, aperfeiçoadas.
         Dispunham de uma bem montada oficina para qualquer conserto. Galvanizavam qualquer objeto de metal já usado, com perfeição, e aceitavam trabalhos de fundição em metal fino.
         Encarregavam-se mediante módica comissão de mandar vir da Europa ou Estados Unidos todo e qualquer artigo.
         Pediam, pois, ao respeitável público honrarem-nos com sua visita, certos de que ficariam convencidos que sua casa não temia concorrência alguma de casas congêneres quer na qualidade ou variedade de seus artigos especiais, como na modicidade de preços.

A casa Scholberg adquire a fábrica de armas A Estrela


         Aos 12 de julho de 1900 era anunciado que os Srs. Prieu & Dudouet haviam vendido aos Srs. Scholberg & Joucla a antiga fábrica de armas A Estrela, da qual eram proprietários. 

         Aqueles senhores, um dos quais era o Sr. Romão Prieu, fundador do estabelecimento, iriam voltar para a Europa.
         A armaria e cutelaria da Estrela, localizada à Rua Andrade Neves nº 150, era a fabricante das facas Prieu, Pelotas e Estrela.


A morte do Sr. Leopoldo Joucla


         Dia 24 de fevereiro de 1907, vítima de “cruel enfermidade”, falecia nesta cidade o cidadão francês Leopoldo José Maria Joucla,negociante desta praça, estabelecido à Rua Andrade Neves, esquina 7 de Setembro,com antiga casa de armas e outros artigos, e cônsul honorário da França.
         Contava o Sr. Joucla com 74 anos de idade e era casado, por segunda vez, com a Sra. Esther Joucla, de cujo matrimônio houve uma filha, Sra. Sarah Clementina, casada com o Sr. Gabriel Meyer.
         De seu primeiro casamento havia um filho, o Sr. Lucien Joucla, que era empregado na casa comercial de seu progenitor.
         O seu enterramento efetuou-se dia 25, às 17 horas, saindo o féretro da Rua Sete de Setembro nº 42.
         Ao enterro, que foi muito concorrido, compareceram comissões das sociedades de que o finado era membro.
         A banda do Clube Caixeiral também compareceu, indo até o cemitério tocando peças fúnebres.
         O Sr. Joucla era sócio dos clubes Comercial, do Comércio, Caixeiral, Bibliotheca Pública Pelotense e Union Française, que tiveram suas bandeiras em funeral.
         O corpo foi sepultado na catacumba nº 70 da Santa Casa, quadro velho.


Nova inauguração da “Casa Scholberg”


         No vasto prédio, à Rua 7 de Setembro, esquina da Andrade Neves, onde estivera o Banco do Brasil, dar-se-ia, dia 3 de outubro de 1926, a inauguração, ali, da antiga “Casa Scholberg”.
        
A firma, na ocasião, estava constituída pela Srta. Maria Scolberg, com residência na Bélgica e do Sr. capitão Silvino Joaquim Lopes.

         Durante os 76 anos de sua existência, completados naquele ano, a casa Scholberg pela retidão de suas transações e pela superioridade dos seus artigos, conquistara o apreço em geral, angariando imensa freguesia e justo renome, não só no Estado como em todo o Brasil.
         A tradicional marca “Coqueiro” com que eram distinguidos os seus produtos de cutelaria, tornara-se o preferido em toda a parte.
         Importante era também a seção de artigos de ferragens, bazar, louças que de há muito incorporados à “Casa Scholberg”, os quais tinham conquistado com facilidade, os mercados consumidores.
         Dando uma prova da exuberância dos seus grandes e variados estoques, a “Casa Scholberg” realizaria naquele dia e durante os próximos dois, uma grande exposição.
         Para a bonita disposição, que iria apresentar o vasto mostruário da “Casa Scholberg” contribuíra, e muito, o gosto artístico do Sr. Candido Abadie Neto, com prática em São Paulo e Rio de Janeiro.
         O prédio para o qual se mudara a “Casa Scholberg”, a fim de poder ser adaptado as necessidades desta, recebera importantes obras, que o tornara um edifício à altura dos créditos da conhecida casa comercial.
         Para que a tradição não sofresse solução de continuidade, à esquina foi plantado majestoso coqueiro, emblema e divisa da “Casa Scholberg”.
         No dia da inauguração, pela manhã, todos os funcionários da empresa, rendendo um preito de gratidão à memória do Sr. Eugênio Belmondy, que fora sócio da importante casa, iriam ao cemitério, em romaria, visitar o seu túmulo e depositar flores.



        
Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV e  acervos de A.F. Monquelat e Klécio Santos
Revisão do texto: Jonas Tenfen        

Tratamento de imagem: Bruna Detoni

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Breve história da hotelaria pelotense

        
         A palavra mais adequada para expressar o propósito deste trabalho não é hotelaria, pois, esta palavra tem sua datação a partir do ano de 1981 e trataremos aqui de tempos mais remotos; no entanto, é a palavra com maior abrangência e que melhor compreende nossa proposta. O termo hospedaria, cuja datação é do ano de 1567, lembra hoje albergaria ou pousada, além de parecer e soar como uma expressão em desuso, portanto entenda o leitor o emprego de uma palavra moderna para falarmos do passado.
         É importante ressaltar que a palavra hospedaria, por sua vez, nos remeteria a falar de outras atividades que, sem o serem, desempenharam no passado a função de hotel, bastando lembrarmo-nos das bodegas, tabernas, tavernas ou tascas que hospedavam tanto prostitutas quanto viandantes.
         Exposto o objeto do qual trataremos, vejamos a seguir a nossa Breve história da hotelaria pelotense.
         A história da hotelaria em Pelotas começa no ano de 1843. Ano de fundação do primeiro estabelecimento, sob a razão social de Santiago Prati & Cia., embora disto não tenhamos encontrado apoio documental, nem mesmo nas Atas da Câmara Municipal de Pelotas.
         Esta afirmação é baseada nos reclames posteriores encontrados na imprensa, bem como em outras formas de anúncios divulgados, certamente fornecida pelos seus proprietários que diziam, ainda, ser este o estabelecimento mais antigo do Brasil no gênero.
         No dia 6 de setembro de 1854, à noite, a banda de música do batalhão de guardas nacionais de Pelotas foi à porta da Câmara Municipal, onde executou o hino nacional [Hino da Independência], acompanhado de canto, com letras do Sr. Antônio José Domingues, percorrendo depois algumas ruas da cidade, recolhendo-se após ao Hotel Aliança, onde estava à espera um opíparo banquete, por subscrição promovida no mesmo batalhão pelo comandante Sr. tenente-coronel Eliseu Antunes Maciel,o qual “teve a delicada lembrança” de convidar alguns estrangeiros, para tomarem parte no “regozijo de que se achavam repletos os corações nacionais”.
         Do Hotel Aliança, saiu à banda e demais convivas a percorrerem novamente as ruas, tocando a “alvorada do grande dia”.
      
   Não conseguimos apurar se o Hotel Aliança desde sua instalação funcionou na Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] ou para ali se transportou no ano de 1860, data que temos certeza já estar ali funcionando, pois, para tal, apontam não somente anúncios neste sentido, bem como o Almanack para o anno de 1862, publicado em Pelotas, por Joaquim Ferreira Nunes na tipografia à Rua da Igreja [atual Anchieta] nº62.

         É também neste mesmo Almanack que vamos colher outras informações sobre os hotéis existentes na cidade, pois, diz-nos este no item Hotéis, existirem três, quais sejam: o de Cezario Adolfo Botelho, à Rua da Igreja [Anchieta], o de Ramy & Irmão, à Rua das Flores [atual Andrade Neves], e o de Santiago Prati & Cia. [nome de fantasia Hotel Aliança], à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro].
         O jornal O Tempo, nº 6, de 12 de junho de 1871, publicava à página 4 um anúncio do Hotel do Universo, de propriedade dos Srs. Teixeira & Oliveira, no qual participavam estes ao respeitável público que, à Rua da Igreja [Anchieta], esquina Rua da Palma [General Neto], no sobrado do Ilmo. Sr. coronel João Simões Lopes, acabavam de abrir um hotel, onde se encontrariam espaçosos e arejados quartos para hóspedes, salas para famílias, bilhar, etc.; recebiam encomendas para fora, pensionistas, mesa redonda [reuniões], etc., etc.
         Os infraescritos, não tendo poupado despesas para apresentarem um hotel digno desta importante cidade, esperavam merecer a proteção deste respeitável público e dos Srs. viajantes.
         A entrada para o hotel era pelas duas ruas: Igreja e Palma.
         Inaugurado no ano de 1871, o Hotel do Universo permaneceu em atividade até meados do ano de 1875, quando então o coronel João Simões Lopes cedeu, gratuitamente e pelo prazo de um ano, os magníficos e vastos salões térreos do prédio onde funcionara o hotel, para a instalação da Bibliotheca Pública Pelotense.


        Neste mesmo ano de 1875, aos 24 dias do mês de agosto, chega-nos a notícia da existência de outro hotel em Pelotas, graças ao fato de, naquela noite, uma “preta” escrava, que estava indo a serviço de seu senhor, ter sido, de repente, atacada pelas dores do parto, e ter dado à luz uma criança em plena Praça Pedro II [Praça Coronel Pedro Osório], próximo ao hotel do Sr. Bernardino José Monteiro, pouco aquém do Mercado Público.
         Outro hotel que tomamos conhecimento através de anúncio divulgado na imprensa, em fevereiro de 1876, é o Hotel Club Pelotense, localizado à Rua Voluntários que prometia, a quem tivesse vontade de tomar cerveja de barril da marca Bass, em copo, pelo custo de 240 réis. 
         Segundo o Mapa demonstrativo das penas d’água instaladas pela Companhia Hidráulica Pelotense até junho de 1877, apenas 1 dos hotéis existentes na cidade, até aquele período, instalara tal melhoramento; a pena era de bitola ¾ e, no Mapa, não constava o nome do hotel.
         Dia 30 de março de 1878, foi inaugurado o Hotel Central, próximo ao Teatro, no prédio onde funcionara a Câmara Municipal.
         Aquele estabelecimento encontrava-se instalado com muito gosto e dispunha de numerosas acomodações para hóspedes.
         Os proprietários do hotel, Srs. Oliveira & Cia., bastante conhecidos na cidade, onde gozavam de merecida e boas reputações, procuraram dotar aquele novo estabelecimento de todas as condições que poderiam desejar em uma casa daquele gênero.
         O serviço era esmerado, dispondo de perfeitos cozinheiros e pessoal habilitado, recebendo hóspedes e fornecendo comida a preços módicos.
         Ao público, o Jornal do Commercio recomendava o hotel.
         Ainda que até o presente momento seja apenas especulação, acreditamos tratar-se do mesmo Sr. Oliveira, ou ambos os sócios, que do ano de 1871 ao  de 1875 haviam instalado o Hotel do Universo no prédio da Rua Anchieta esquina General Neto, propriedade do Sr. coronel João Simões Lopes e  que dera lugar à instalação provisória da  Bibliotheca Pública Pelotense.
         O Diário de Pelotas de 29 de dezembro de 1880, reproduzindo em suas páginas umas impressões de viagem do redator da Gazeta de Porto Alegre, diz-nos a certa altura que em Pelotas: “Há três grandes hotéis: Aliança, Universo e Brazil”, que todos forneciam acomodações aos hóspedes, bem como tinham fama de servirem bem aos fregueses.
         Particularmente, afiançava ele o Hotel Aliança, onde “Santiago Prati mantinha ilesas” as tradições de mais de trinta anos.    
         Considerando o fato de o jornalista porto-alegrense ter feito referência, dentre os três “grandes hotéis” ao Hotel do Universo, é possível supormos se tratar do Hotel Central, que há pouco fora inaugurado, próximo ao Teatro Sete de Abril, e que em sua recente instalação, apesar da troca de nome, conservara objetos de cama e mesa com o antigo nome ou os seus proprietários resolveram mantê-lo, apesar da nota na imprensa, quando de sua abertura à Praça D. Pedro II.
         Quanto ao Hotel Brazil, de Perez & C., também inaugurado no ano de 1878, à Praça Pedro II, junto ao Teatro Sete de Abril e à estação dos bondes, era um estabelecimento, segundo seus proprietários, montado a capricho e que estava nas condições de atender, sem receio de concorrência, a todas as exigências do respeitável público.
         Almoços, ceias e banquetes com serviço inexcedível.

         Quartos e salas preparados com rigoroso esmero, banhos a qualquer hora, carros e cavalos à disposição dos Srs. hóspedes, e cocheira com todos os acondicionamentos.
         Preços diários para cada hóspede: com vinho, 3$000; sem vinho, 2$500.
         Não muito depois de inaugurado pelos Srs. Perez & C., foi o Hotel Brazil adquirido por Antônio Scotto. Este, no ano de 1880, anunciava a grande reforma que, “esse bem montado estabelecimento, hoje o primeiro em seu gênero, que há bastantes anos se acha fundado e agora sob a direção de seu proprietário Antônio Scotto”, acabava de sofrer com a aquisição que fizera do palacete da Sra. D. Elvira S. Juan, contíguo ao edifício primitivo.
         O Hotel Brazil, segundo seu novo proprietário, reunia todas as condições necessárias para ser considerado o primeiro da cidade, possuía espaçosos quartos e salas para hóspedes e famílias.
         Dispondo também de um excelente caramanchão, onde seus fregueses poderiam saborear os bons petiscos, para os quais tinha um bom adepto da arte culinária, a fim de não haver razão de reclamações.
         Os preços? Eram os mais cômodos possíveis. 
         Mas, nem tudo era petiscar à sombra do caramanchão. Dia 14 de março de 1881, pela manhã, teve prova disso o ator Simões quando, ao penetrar no quarto que ocupava no Hotel Brazil, encontrou arrombada uma pequena mala de couro que continha dinheiro e objetos de valor.
         O ator imediatamente chamou o proprietário do hotel, o Sr. Antônio Scotto, e, juntos, verificaram que tinha sido subtraída da mesma mala a quantia de 5:900$ [cinco mil e novecentos réis].
         Comunicado o fato ao subdelegado do 2º distrito, o Sr. Rozauro Zambrano, foram dadas as providências necessárias para o descobrimento do audaz gatuno.
         O proprietário do hotel, querendo salvaguardar a sua responsabilidade e a credibilidade de seu estabelecimento, requereu ao subdelegado Zambrano para proceder a uma minuciosa busca nas bagagens de seus empregados e nos quartos dos hóspedes, visto que estes também o consentiram.
         Efetuada a busca com as formalidades da lei, e nada tenha sido encontrado, passaram a proceder do mesmo modo em uns quartos em que residiam o cozinheiro e uma criada do mesmo hotel, resultando nada ser encontrado que provasse criminalidade.
         Supuseram então que o gatuno tivesse entrado por uma janela, que sempre estava aberta, pois a chave do quarto ficava em poder do Sr. Scotto.
         A autoridade continuaria as averiguações.
     
    E é também o Hotel Brazil o palco da fuga de um pardinho, quase branco, de 18 anos de idade, cozinheiro, de nome João, de propriedade do cadete Lourenço Bordaguerri, que estava alugado ao hotel.

         Constava dia 14 de junho de 1882, ter sido visto lá para os lados da Luz, e a quem o agarrasse e entregasse “nesta cidade”, seria gratificado.
         Protestava seu proprietário a quem o acoitasse.
         Dia 19 de janeiro de 1883, à tarde, um pardo de nome Ernesto ofereceu a um empregado do Hotel Brazil, à Praça Pedro II, um sobretudo novo.
         Como o preço fosse por demais convidativo e como oferecia desconfiança o vendedor, que já era por demais conhecido no hotel, comunicou aquele empregado o fato ao Sr. subdelegado tenente Eliseu Ribas.
         Ernesto, ao ser interrogado, declarou ingenuamente que não só tinha roubado o sobretudo em questão, como outras roupas e objetos que conservava em seu poder.
         À vista de tanto desenvolvimento, o Sr. subdelegado mandou o hábil prestidigitador para a cadeia civil.
         O Diário de Pelotas de 24 de fevereiro de 1884 divulgava em suas páginas os dados estatísticos de Pelotas, levantados no ano anterior, onde é visto que a cidade possuía 5 hotéis sem, no entanto, serem nominados.
         Noticiava o Nacional dia 25 de maio de 1891 que, do corredor do Hotel Aliança, os gatunos furtaram na noite do dia 23 um pequeno caixão contendo livros e miudezas, pertencente ao Dr. Pedro de Alcântara Souza Gouvêa, médico do exército, de passagem por Pelotas.
         Os larápios, depois de verificarem o que continha o caixão, o abandonaram na calçada junto ao gradil da Praça Regeneração, onde foi encontrado, por um empregado da Companhia do Gaz, que o entregou a polícia.
         O audaz gatuno não fora descoberto.
         Informava o Diário Popular, de 23 de agosto de 1892, que estivera bastante concorrido o ato de inauguração da Confeitaria Pariz, sita à Praça Regeneração, junto ao Hotel Brazil.
         Durante algumas horas tocou, naquele ato, uma banda de música.
         O estabelecimento estava bem montado e servido de um pessoal ativo e amável.
         Dispunha de excelentes bilhares, piano e uma variedade interminável de líquidos e doces.
         No gênero, era uma casa excelente, bem organizada e de acordo com os créditos da cidade.
         Pertencia a Confeitaria Pariz aos “estimáveis cavalheiros” Srs. Dominguez e Ruiz, os quais gozavam de muitas simpatias entre os pelotenses.


Prati & Gotuzzo: pioneiros da hotelaria pelotense

         Santiago Prati e Thomaz Gotuzzo, dois membros da colônia italiana, fundaram no ano de 1843, sob a razão social de Prati & C., o primeiro hotel de Pelotas: o Hotel Aliança.
         Thomaz Gotuzzo faleceu em 30 de junho de 1874, sendo então substituído na sociedade por seu filho, Sr. Caetano Gotuzzo.
         O estabelecimento continuou sob a firma de Santiago Prati & C., até 11 de julho de l8.., data em que falece o outro fundador.
         É então alterada a razão social para a de viúva Prati & C., constituída por D.Thereza Gotuzzo Prati e o Sr. Caetano Gotuzzo.

         Dona Thereza Prati retirou-se da sociedade no ano de 1899, sendo substituída por seu genro Sr. José Francisco Agroflogio.
         Instituindo-se a nova firma Gotuzzo & Agroflogio, que subsistiu até 1901, ano de falecimento do sócio José Francisco Agroflogio.
         A partir da morte do sócio Agroflogio, ficou o Sr. Caetano Gotuzzo [pai do pintor Leopoldo Gotuzzo] como único proprietário do Hotel Aliança.
         Teve o hotel como escriturário geral, por longos anos, o Sr. Harold Netto Gotuzzo e, como gerente o Sr. Saverio Graziadio, dirigindo um pessoal qualificado em todos os setores, o que em muito contribuiu para o alto conceito que gozava o estabelecimento.


Um momento do Sr. Santiago Prati na vida da cidade

         Por ocasião da inauguração da ponte do Passo dos Carros, dia 3 de junho de 1877, chegando à comitiva junto a esta, por volta das 11 horas, destacavam-se as bandeiras brasileira, portuguesa e italiana.
         A corporação da câmara, a pedido do empreiteiro Sr. Carlos Zanotta, percorreu a ponte em dois carros.
         Na passagem, foram levantados vivas à Câmara Municipal e ao construtor da ponte Sr. Carlos Zanotta, que foi, depois de minuciosamente examinada, considerada na conformidade do contrato tanto em solidez quanto em elegância.
         Entre os saudados no ato de abertura da ponte ao trânsito público, estava o Sr. Santiago Prati e sua família.
         Depois do ato e das homenagens embarcaram, os membros da câmara, convidados e a banda marcial da sociedade Recreio Pelotense, seguindo para o Capão do Leão, onde, na casa de negócio do Sr. Santiago Prati, foi oferecido por este alguns finos líquidos e improvisado um baile, dançando-se algumas contradanças, polcas e valsas.
         Ao cair da tarde, retiraram-se todos para a cidade, satisfeitos pelo bom acolhimento e tratamento que haviam recebido, não só do empreiteiro Sr. Carlos Zanotta, como do “honrado cidadão italiano” Sr. Santiago Prati e sua esposa D. Thereza Gotuzzo Prati.


A grande reforma do Hotel Aliança

         Por volta de final de março de 1916, ultimaram-se as obras que, há meses, vinham sendo feitas no Hotel Aliança, e que completavam o grande projeto de reformas que resolvera levar a efeito o Sr. Caetano Gotuzzo.
         Com a reforma ficou o Aliança, pelo menos na época, sendo em seu gênero o estabelecimento que maiores comodidades oferecia aos forasteiros e ao público.
        

Antes dos melhoramentos concluídos em março de 1916, o Aliança já recebera outros, não muito comuns em hotéis, como sejam os da instalação de aparelhos telefônicos e canalização de água em todos os quartos e outras dependências.

         Com tais facilidades, suprimento da água e o telefone, ali à mão, permitiam aos hóspedes, sem ausentarem-se de seus quartos, falar para toda a cidade, com Porto Alegre, Rio Grande, Jaguarão e outras localidades até onde se estendessem as linhas da Cia. Rio-Grandense.
         Há esse tempo também, foi o Aliança dotado de iluminação elétrica farta, para a qual fizera dispendiosa instalação própria.
         Em 1916, a iluminação era fornecida pela companhia Luz e Força e fora bastante ampliada.
         Constava da reforma uma completa e custosa instalação de esgotos, que fora confiada aos engenheiros Srs. Gastal & Cia.
         Com esse serviço, completavam-se as excelentes condições de higiene do estabelecimento, facilitando o aumento dos water closets [recintos com vaso sanitário e lavabo], para homens e mulheres, tanto na parte térrea, quanto no pavimento superior.
         Outros banheiros também foram construídos, oferecendo sua instalação melhor bem estar, pois o material e utensílios empregados eram de primeira linha.
         Lavatórios e pias eram  encontrados a cada passo facilitando seu uso aos hóspedes.
         Por sua vez, o grande salão e todos os quartos sofreram sensíveis reformas, resultando em agradável perspectiva e conforto.
         Cozinha e copa também mereceram especiais cuidados, passando por quase radical transformação, aparelhadas perfeitamente para as suas funções, dentro do mais rigoroso asseio.
         Completando as reformas por que passou o Hotel Aliança, entre os anos de 1915 e 1916, foi feita a pintura geral do prédio, tanto interna quanto externamente.
         O trabalho foi executado pelo Sr. Arthur Abreu, que, com seus auxiliares, desempenhou-se perfeitamente da empreitada que lhe fora confiada, pois a pintura dos quartos, toda ela diferente, bem como dos corredores, escadas, área e outras dependência, ficou em alto estilo.
         A variedade dos tons empregados e a diversidade das guarnições provocaram uma agradável impressão.
         Com todos esses melhoramentos, o Hotel Aliança era, naquele momento, um estabelecimento digno de figurar entre os melhores hotéis do país, sendo de lastimar tão somente que sua estrutura física não tivesse capacidade de “corresponder ao constante aumento de hóspedes e ao crescente desenvolvimento da cidade”.




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Acervos consultados: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense e A. F. Monquelat.
Fotos: Acervos de Eduardo Arriada e A.F. Monquelat
Revisão de texto: Prof. Jonas Tenfem
Tratamento de imagens: Raquel Balbinoti