terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Devaneios (5)

Balançar o saco, nem pensar 





     Terminei de secar a última panela, guardei-a no paneleiro e joguei o guardanapo molhado dentro do tanque, conforme instruções dadas pela matriarca, e tratei de cair fora daquela cozinha, antes que me arrumassem alguma outra tarefa, o que naquela casa, não seria novidade alguma.
      Ali, toda vez que terminava ou faltava alguma coisa, era sempre depois que eu chegava do colégio.
     “Bem, Domenico, é hora de cuidar dos teus interesses; portanto, mãos à obra”. Era ela.
     Ouvi aquilo meio desconfiado; pois, por primeira vez, desde que ela aparecera, para encher o meu saco, dizia algo coerente. Do contrário, era só “Domenico, olha bem o que tu vais fazer”. “E olha isso”, e “olha aquilo”, e “aquele outro”. Desde que a vozinha surgira, e de onde, era coisa que eu ainda não descobrira, ela não me dava trégua. Era eu passar, e pronto. Ela se manifestava.
     Tracei a minha estratégia, que consistia em um único ponto: todo e qualquer vidro, inteiro ou quebrado, pedaços de ferro e ossos que estivessem na superfície, solo ou subsolo do nosso território, daquele momento em diante seria confiscado e considerado propriedade do Domenico. Que era eu.
     O primeiro passo a dar, para a perfeita perfeição do plano, era fazer o percurso palmo a palmo da área compreendida, tendo o maior cuidado com os canteiros da minha mãe, que ocupavam pelo menos a metade da horta, que ficava no fundo do terreno da casa. Lá, no lado direito de quem entrasse, minha mãe plantava uma variedade de legumes e hortaliças, cuja produção aliviava as despesas da casa.
     Por sorte do verdureiro não dependia ele para sobreviver das compras que não eram feitas pela minha mãe. Poucas, pouquíssimas vezes a vi comprar alguma coisa. Vez que outra, um ou dois pés de couve; do contrario, melancias, que eram familiarmente devoradas sob a sombra da enorme parreira que havia ao fundo da horta, do lado esquerdo de quem ali entrasse.
     O verdureiro estacionava a charrete bem na frente de nossa casa, que ficava no meio da quadra, não sem antes bater fortemente com o cabo do relho na madeira da charrete, anunciando pra toda a vizinhança sua chegada: “Verdureiro, olha o verdureiro e a verdura bem novinha. Verdureiro, olha o verdureiro...”.
     Aquele anúncio de chegada do verdureiro era mágico. As portas, janelas e portões das casas em volta abriam-se para que as donas de casa surgissem, como que por encanto, para aproveitarem e saber umas das vidas das outras e como iam os filhos de todas. Desfeito o enxame de vizinhas, voltavam elas para suas vidinhas com suas tarefas diárias nos seus fogões a lenha a prepararem os almoços. E lá ia o verdureiro em direção à quadra seguinte: “Vâmo égua, vâmo...”.
     Nem bem a égua se afastava, lá vinha o: “Domenico, recolhe a bosta da égua do seu Paulo com a pá lá no meio da rua, e coloca ao lado do portão da horta”.
     Minha mãe aproveitava tudo, foi com ela que o Lavoisier teria aprendido que nada se perde, tudo se transforma; enquanto que eu, era aproveitado para fazer o trabalho sujo: recolher a bosta deixada pela égua do verdureiro, e era bom fazer o quanto antes, pois alguma carroça poderia passar e espalhar o bolo pelos paralelepípedos do calçamento, o que seria uma tragédia. Portanto, Domenico, pá na bosta.
     Palmilhado o lado direito, deixei espalhado pelos corredores, entre os canteiros, tudo o que encontrei à vista. A coleta, dar-se-ia após eu ter feito o mesmo no lado esquerdo. Lado em que eu contava ter mais sorte, principalmente perto da figueira, local que servia como um depósito de lixo seco.


     Ao passar pela frente do portão, que ficava no centro da horta, o Fiel latiu. Tentava, com as patas, abri-lo. Nessa hora, o galo estava em posição de briga. A rixa do galo com o Fiel era uma rixa antiga. Afinal de contas, muitas de suas galinhas haviam sido mortas pelo Fiel.
     Tratei logo de abrir o portão e pô-lo para dentro da horta, caso contrário, as galinhas, que temiam o Fiel, ficariam alvoroçadas. Lá dentro a preocupação era menor, havia apenas o casal de quero-queros, com os quais o Fiel, não sei bem por que, não implicava. E eles tinham para com o Fiel a mesma postura. De forma que eu e o Fiel fomos para um lado, e o casal da família dos Caradriíedos, Belonopterus cayennensis para o outro.
     Da maneira, cabisbaixa, com que o Fiel me acompanhou até a figueira, me pareceu que ele já havia provado do poder daqueles esporões. Mas, como minha missão ali era outra, querelas entre bípedes e um quadrúpede não era coisa que me levasse a desviar a atenção dos objetos que estavam à minha frente; aí então falei para ele: “Fiel, vamos estrear no mundo dos negócios, em pesado estilo. Olha só, quanto ferro e garrafas têm aqui”.
     Ele fez uma cara de desinteressado, e se deitou virado de frente para o lado que os quero-queros estavam. Sobre os ossos, não achei conveniente comentar alguma coisa com ele.
     A questão, naquele momento, era o que fazer com todo aquele monte de coisas que, até então, eu julgava inúteis, sem despertar a curiosidade da tríade ou a da minha mãe.
     “Domenico, o que é que tu estás fazendo aí?” – Era ela, com suas eternas perguntas. “Puta que o pariu, porque será que mãe tá sempre perguntando o que não é pra perguntar?”. Foi a pergunta que me fiz, enquanto pensava no que responder ao que ela não era para ter perguntado. E respondi:
     “Tô olhando a figueira, para ver se já se pode arrancar os figos”.
     “Domenico, tu tá mentindo para a tua mãe. E isso é feio Domenico”. Foi o que eu ouvi, da que não deveria ter se pronunciado. A tal de vozinha, que não soltava do meu pé. Mas, deixei para lá. Afinal de contas, o assunto era entre eu e minha mãe.
     “Acho que daqui uns dias mais já dará”. Estarão no ponto”.
     Doce de figo foi, é e será o meu doce preferido. Principalmente o que era feito pelas mãos da minha mãe, que o deixara de fazer bem antes de sua morte.
     Há poucos dias, uma das Três Marias me trouxe um vidro cheio de doce de figo. Não perguntei a ela, mas acho que era a primeira vez que o fazia. Nem de longe se parecia aos feitos pela nossa mãe. Isto, eu não lhe disse. Ao contrário, dei-lhe algumas sugestões, que ela disse que ia aproveitar.
     Dias depois, ela me aparece com um segundo vidro, que, à primeira vista, me pareceu estar quase no ponto certo.
     Quando se faz doce de figo, o que eu nunca fiz, não se pode fazê-lo enganando a receita. Senão, não há colher de pau ou mão que consiga dar o ponto certo. O ponto, é isto!
     Faltava o ponto exato para que os figos daquela figueira pudessem virar um bom doce de figo.
     Natal sem doce de figo, para mim, era o mesmo que ver um Papai Noel sem o saco. E saco, era o que meu pai não tinha. Creio ser por isso, que ele não esperava chegar a meia-noite. Deitava logo a seguir à ceia, que fazíamos juntos.
     Nos primeiros natais, o que o Papai Noel me deixava eu recebia sem perguntar nada. Depois, comecei a desconfiar do que me diziam: “Olha Domenico, o Papai Noel trouxe para ti”. E olha isto, e olha aquilo e olha aquele outro.
     “Olha Domenico, que caminhãozinho lindo”. “Vejam a bola que o Domenico ganhou do Papai Noel”.
     Ora bolas! Como é que um velhinho gordo, barbudo e carregando um saco enorme nas costas, conseguiria entra na minha casa que nem chaminé tinha? Além do mais, antes de deitarmos, minha mãe trancava tudo; portanto, não havia como ele entrar, e muito menos com o saco nas costas. Sem falar no Fiel, sempre atento a tudo e qualquer coisa que se mexesse, dentro ou fora do território dele.
     Ai do saco do Papai Noel, caso viesse a balançá-lo perto do Fiel.


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Imagem: acervo do autor
Postagem: Bruna Detoni

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O pecado (última parte)


Ratoneiro furta joias de uma horizontal
Dia 3 de maio de 1889, o temível gatuno Manuel Antônio de Oliveira penetrou em casa de uma horizontal [prostituta] e lhe furtou uma caixa contendo diversas joias de algum valor.
O “ativo” delegado de polícia, logo que teve conhecimento do ocorrido, mandou prender o ratoneiro e restituiu os objetos furtados a sua legítima dona, é o que nos informa o jornal A Pátria daquele mesmo dia.

Desordem no maxixe
Na noite de sábado, 27 de julho de 1889, em um maxixe à Rua Andrade Neves, houve grande desordem entre os convidados, os quais se viram ameaçados de grossa pancadaria.
Felizmente, dizia o jornalista, sabedores do que ocorria, compareceram no salão do baile os Srs. subdelegados do 1º distrito, comandantes da polícia particular e da seção fixa, os quais acompanhados da respectiva força acalmaram os ânimos sendo as damas conduzidas para o xadrez da polícia e os cavalheiros para o palacete da Rua Sete de Setembro.



Por causa de uma horizontal
Às 23 horas do dia 21 de outubro de 1889, na casa de negócios do Sr. Augusto Ramires, no porto da cidade, o indivíduo Lino Fernandes Ramos, armado de facão, promoveu desordem por causa de uma horizontal [prostituta], agredindo e ferindo diversas pessoas que ali estavam, entre elas um inspetor de quarteirão, que tentou prendê-lo.
Comparecendo a polícia particular, apaziguou os ânimos, efetuando a prisão do delinquente, o qual também ficou gravemente ferido.
No local do acontecimento, compareceu o Sr. subdelegado do 1º distrito, que mandou proceder o auto de perguntas e corpo de delito nos feridos.
Ramos foi conduzido, no dia seguinte, para a Santa Casa de Misericórdia.

Idílio e gatunice
A “preta” Felisberta Amaral, de 40 anos de idade, que outrora havia pertencido à viúva D. Flora Amaral e, na época alugada [empregada] em casa do Sr. José Maria de Brito, achava-se domingo [26 de outubro de 1889], à noite, em um bailareco à Rua Gonçalves Chaves, junto à taberna do Sr. Lourenço Guimarães, a qual fazia esquina à Rua General Neto, quando, sentindo-se presa do desejo de tomar um cálice de conhaque, dirigiu-se a referida taberna e bateu à porta.
Lourenço abriu e, ao saber do desejo de Felisberta, ponderou-lhe que muito melhor seria que ela ficasse em sua companhia durante o resto da noite, em vez de voltar ao maxixe, onde, além dos perigos de um resfriado, poderia sobrevir o de uma visita da polícia.
Felisberta derreteu-se toda ao contato dessa chama amorosa, e como era para o bem do Sr. Lourenço... ficou.
Fecharam-se as portas e, lá pela alta madrugada, o Sr. Lourenço, entregue a um sono reparador, despertou assustado com o ruído que fazia uma patrulha da polícia particular à porta do seu estabelecimento.
A patrulha vinha comunicar-lhe que a casa estava aberta e era preciso não confiar muito na generosidade dos gatunos.
Levanta-se o Sr. Lourenço, procura a melíflua Felisberta, e não a encontra.
– Estou roubado, – grita ele – aquela mulher roubou-me. Pasmo da patrulha e, tremores nervosos do Sr. Lourenço.
Ora, eis o que se passou, segundo a confissão de Felisberta: quando ela se deixou seduzir pelo Sr. Lourenço, e por entregarem-se a repetidas libações de conhaque, sucedeu ficarem ambos um pouco na chuva.
Felisberta, porém, teve o tino preciso para, ao ver o amoroso Sr. Lourenço dormindo, tirar-lhe do bolso do casaco a chave de uma gaveta, onde havia dinheiro, e dessa gaveta arrebatar-lhe 300$000 em moeda papel, 15$000 em nacionais de prata, 1 nacional de ouro, 2 condores, 1 argentina, uma portuguesa e 5 dólares, 7 moedas de prata boliviana e peruanas e 3$000 em balastracas e níqueis.
E mais um guarda-sol de seda, em bom uso.
Munida desse sortimento, Felisberta deixou o Sr. Lourenço a sonhar com a Vênus Calipígia e deu sebo às pernas em direção a casa onde estava empregada.
         Como não lhe quiseram abrir a porta, Felisberta dirigiu-se ao Hotel São Pedro, pediu um quarto, não sem haver deixado que o proprietário daquele estabelecimento e outras pessoas vissem, em seu poder, um lenço com a dinheirama dentro.
O proprietário do hotel, ao amanhecer, comunicou o caso ao Sr. Araújo, subdelegado de polícia do 1º distrito, que logo se pôs em campo.
Ao mesmo tempo o Sr. José Maximo, subdelegado do 2º distrito, fazia prender Felisberta, por já saber da queixa do Sr. Lourenço.
Felisberta foi conduzida para a cadeia e ali, interrogada pelo subdelegado Araújo, declarou o já exposto e, que a história do furto fora obra da carraspana do conhaque, porque ela, Felisberta, a sangue frio, nunca fizera nem era capaz de fazer uma áfrica [aventura] semelhante.
O dinheiro furtado foi entregue ao Sr. Lourenço, com a diferença, para menos, apenas de cinco mil e tanto.
Aí estava, concluía o jornalista, o que se chamava um homem feliz.
Como se tratava de um crime particular, e não havia sobre ele queixa em juízo, Felisberta teve de ser posta em liberdade.
Caros amores, e péssimo conhaque.

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* Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Postagem: Bruna Detoni
Seleção de imagem: Janaína Vergas Rangel

Revisão do texto: Jonas Tenfen       

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Devaneios (4)

Ao vencedor, a louça para secar



                                                                                                 A.F. Monquelat
           
           
          Não sei se o Fiel pensava; mas mordidas, ele não errava. Todas as tentativas ou investidas eram certeiras. Nem mesmo com os de casa ele baixava a guarda, era um escoteiro: sempre alerta. Mordeu quase todos, exceto minha mãe e eu. O que se compreende.
          Levava ele o papel de guardião tão a sério, que quase arruinou a minha estréia no mundo dos negócios. A coisa aconteceu, mais ou menos assim: um certo dia de uma certa hora de um certo almoço, alguém bateu palmas no portão da frente da casa. Por preguiça das minhas irmãs – ou por fome – e hierarquia dos meus pais, acabou sobrando para mim ver quem era, e de quê se tratava. O Fiel, acorrentado que estava, apenas latiu. No portão, me deparei com um senhor, que me pareceu bastante velho, coisa que naquela época era bastante comum, as pessoas parecerem mais velhas do que eram; mas, o que me chamou a atenção era o volume dos sacos que ele tinha nas costas. Eram dois ou três sacos, parecendo tão pesados quanto volumosos.
         Além dos sacos, outro detalhe que me deixou curioso foi um objeto metálico, com um gancho na ponta, e que durante nossa conversa eu fiquei sabendo se tratar de uma balança, que ele portava presa ao cinto da calça.
          Conversa vai, e conversa vem, acertamos que ele passaria uns dias depois quando, então, faríamos o nosso primeiro negócio.
           Voltei para o almoço, animado pelo negócio que eu e o meu futuro sócio, o homem da balança presa na calça, dentro de poucos dias estaríamos realizando.
           “Quem era?”. Foi a pergunta que me fizeram. Dei uma desculpa qualquer aos curiosos, e me atraquei na comida; porém, meus olhos percorriam todos os pratos atento aos ossos de cada um deles, sem descuidar da sopeira onde restavam outros à espera de alguém que os desnudasse. Tudo isso, sem chamar a atenção.
           Terminado o almoço, esperei a faxina dos pratos e, como sempre o fazia, levei as sobras para o Fiel. Enquanto ele tratava da fome dele, eu aproveitei para dizer-lhe que daquele almoço em diante, quem ficaria com os ossos era eu. Portanto, ele que os mordesse e descarnasse, mas que não os roesse demais e muito menos que os enterrasse. Acho que ele entendeu, pois em seguida pegou o maior dos ossos, e o levou para dentro da casinha.
           Fiquei na minha, naquelas horas não era muito aconselhável contrariá-lo. E muito menos se ele estivesse com algum osso na boca, que era exatamente a situação. Com o Fiel, o melhor mesmo era esperar pela hora da séstea, que ele não dispensava.
         Voltei para dentro de casa com o prato raspado e fui direto à cozinha, onde o deixei perto da encarregada de lavar a louça naquele dia e fui saindo de fininho, quando ouvi uma das três falar bem alto: “Ô mãe,...”. Como eu já sabia o que viria depois do “Ô mãe”, nem esperei para ouvir o “Ajuda as tuas irmãs, seca a louça pra elas”. Voltei, e desta vez sem retrucar ou dizer algo que não fosse: “tá bem mãe”.
         Ter de secar louça é um trauma que até hoje não consegui superar. Era muita louça.
          Secar aquela louça toda ia me roubar um tempão, o negócio era agir. E agir imediatamente para escapar daquela tarefa inútil. Olhei então para aquela tríade, e optei por Beatriz. Não que as outras duas não merecessem me fazer aquele favor, e sim por achar que, dentre elas, as três que estavam ali na cozinha. Beatriz era a de raciocínio, digamos, mais lento, embora as outras não fossem lá umas mentes muito brilhantes. Cheguei, então, o mais perto dela que pude, e lasquei: “Escuta aqui, preciso que tu me faças um favor”. Ela, de costas para mim, falou: “Eu?”. Depois daquela resposta não tive mais dúvidas, era a escolha certa: “Diz que tu vais secar a louça no meu lugar, tá bem? Depois te explico o porquê”. Ela, sem me encarar, seguiu limpando a chapa do fogão a lenha, e respondeu: “E por que é que eu faria isso por ti?”. Depois de uma resposta-pergunta tão idiota, acabara de demonstrar o quando eu estava certo com relação ao raciocínio lento, que desde há muito eu já constatara.



           “Ora, porque eu te disse que o porquê, eu explicaria depois. Entendeste agora?”.
          Virou-se para mim, e numa clara e evidente evidência de não ter entendido, respondeu: “Olha aqui Domenico, vai te catar”.
          Embora ainda eu não tivesse lido o velho Aristóteles, tive de concordar com ele: “Nunca ofereças um cacho de bananas a alguém, cuja capacidade seja a de apenas poder descascar uma por vez”.
           Pegar o cacho de volta, foi o que fiz, ali, parado em frente àquela ingrata. Desisti; mas deixei algo no meu olhar, que a fez acreditar estar eu pensando exatamente aquilo que eu estava pensando, pois: “Ô mãe, vem cá dar um jeitinho no Domenico”.
          O jeitinho que a minha mãe costumava dar, principalmente quando alguém interrompia a sua séstea, já me era bastante familiar. E vinha quase sempre montado em um cabo de vassoura, embora antes viesse o tradicional “Domenico não te faz de bobo, deixa as tuas irmãs em paz”.
          Bater em retirada? Bati.
          Vandré, com toda a certeza se inspirou no “A Arte da Guerra”, quando uma década depois disse: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. E isto, foi exatamente o que fiz, não deixei acontecer.
           Olhei pela janela da cozinha e vi, à sombra da espinheira santa, o Fiel cochilando como era de hábito. Era hora de cuidar dos meus interesses, não sem antes dizer para elas: “E apurem com esta louça”.
         Sem que o Fiel tivesse tempo de ver o acontecido, aconteceu: juntei os ossos todos que ele havia espalhado inclusive o maior e o mais pesado deles, e me afastei. Entender aquele meu gesto ele não iria, mas que fosse se acostumando com a idéia de que daquele dia em diante ele não teria mais a oportunidade de exercitar aquele hábito canino de sepultar ossos, porque um valor mais alto se levantara. Foi por um triz, porque de pé ele já ficara. Apesar do seu escasso vocabulário, e conhecendo os limites dele, que era do tamanho da extensão da coleira acrescido do gancho e comprimento da corrente, não dei a mínima pro seu tom de brabeza manifesto naquele, “Argh, argh, argh”.
         “Domenico, porque é que o Fiel tá brabo?”.
         “E lá vou eu saber. Pergunta pra ele”. Disse isso e me afastei, de lado, para que elas não vissem o butim em minhas mãos. Joguei a pilhagem toda longe das patas e vistas do Fiel, e voltei. Contrariado, mas ainda em tempo de ver o trio, qual as Três Marias, saindo pela porta do fundo da cozinha em direção ao quarto delas. Quando fecharam a porta estranhei o não terem dito: “E seca a loucinha bem direitinho Dominiquinho”.
         Aí, a mais velha abriu a porta, enfiou a cabeça e disse o que não tinham dito. Foi o quanto ela tirou a cabeça, do contrário o guardanapo, qual um chicote, não teria estalado na porta.
         Ao vencedor, a louça para secar.


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Imagem: acervo do autor

Postagem: Bruna Detoni       

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Devaneios (3)

O velho Pongodó, Fiel e o equívoco de Heráclito



        
          Tive uma infância normal, com direito a chiqueirinho, chocalho, corneta, bico, mamadeira – isso depois de ter largado a teta –, cobertor e travesseiro, no caso de sentir sono e dormir ali mesmo – enchiqueirado.
         Nessa fase, tive também meu primeiro contato com a morte, embora disso, que eu vira, somente mais tarde viesse a saber. Essa visão, a da morte, se deu da seguinte maneira: uma parenta da minha mãe tinha ido nos visitar e, como era de costume, essas visitas costumavam durar horas; foi então que a tal visita após o almoço deitou-se para sestear, o que também era um hábito bastante freqüente, e não mais acordou.
          Minha mãe cuidou para que a morta fosse velada na casa onde morrera, a nossa. Já noite e posto para dormir, a certa altura acordei, desci da cama e caminhei no escuro para investigar de onde provinham aqueles cochichos, que me tinham feito despertar. No cochichódromo, a sala de nossa casa, havia muitas pessoas; mulheres, em sua maioria. Corri os olhos e vi muitas daquelas mulheres, algumas de luto preto, e de seus rostos não guardo a menor lembrança, sentadas em sua maioria, cochichando umas nos ouvidos das outras.
         Era um mundo de adultos, e eu, ali, por certo, não deveria estar; mas estava, e não me viram. E assim, sem entender nada daquilo, fui caminhando pelos espaços que havia entre as pessoas que estavam em pé, e de costas para mim, até a mesa da varanda, atraído pelas velas acesas e aquele enorme caixão preto. Dada a altura da mesa, e a minha falta de altura, não consegui ver nada da morta, até que alguém, e não sei quem, se deu conta da minha pequena e intrusa presença e silenciosamente, decidiu me levar de volta para o quarto, e me pôr de novo a dormir.
          Muitos anos depois, relembrei daquele meu episódio com a morte, lembranças não muito claras, e que precisavam ser esclarecidas. E foi assim que, em conversa com minha mãe foram esclarecidos os fatos quanto ao que eu vira quando pequeno, não sem antes ela, surpresa me dizer: “Tu eras tão pequeno, como é que tu te lembras disso?”. O que eu não lembro neste momento, é o que respondi para a minha mãe.
          Não muitos dias depois do meu nascimento, minha mãe e eu fomos visitar os pais da minha avó paterna, meus bisavós de origem portuguesa e, segundo minha mãe, essa portuguesa ao me ver teria dito: “Ô Celina, mas este menino já nasceu criado!”. Estas palavras, é todo o legado que minha bisavó paterna me deixou. E o que ela quis dizer com isso é que eu havia nascido grande e pesado. Do tamanho não lembro, mas meu peso ao nascer foi de quase 5 quilos.
          Do lado materno, não conheci avós ou bisavós. Minha mãe ficou órfã de mãe muito cedo; e de pai, não muito tarde. Foi criada pelo avô, que tomou conta da minha mãe e do meu tio. Este meu bisavô, também de origem portuguesa, era oriundo do Povo Novo, e pelas coisas que dele ouvi, relatadas por minha mãe, era um sujeito bastante temperamental. Contou-me ela que, quando alguém o chamava de “pongodó”, ele ficava furioso e ameaçador.
          Este apelido de “pongodó”, creio eu, era o apelido que davam aos habitantes do Povo Novo por terem ali permanecido depois da retomada do território pelos portugueses em 1776 e que, os que fugiam em direção ao território castelhano, apavorados e temendo a represália por parte das tropas portuguesas, ao passarem pelo Povo Novo diziam a todos aqueles que ali se haviam arranchado ou permanecido durante a ocupação castelhana: “Pongo dó en quien se quede acá”. O que, em tradução livre, entendo seja o mesmo que: tenho dó de quem aqui ficar. Caso seja esta a origem, é bem possível que com o passar dos tempos a expressão tenha adquirido, já contraída, uma conotação pejorativa. Quem sabe? De qualquer maneira, se alguém quisesse provocar a ira do velho José Manoel, meu bisavô, que o chamasse de “pongodó”.
          Outra característica de meu bisavô, era a forma ameaçadora que usava contra o meu tio e a minha mãe, em pequenos, quando eles aprontavam alguma arte, ou algo que o contrariasse. A reação do “pongodó” e o gesto ameaçador era imediato: “Olha crianças, que vos degolo de orelha-a-orelha”. Ao ouvirem isso, o que mais os assustava era o gesto que o velho José Manoel fazia: corria o dedo pelo pescoço, desde uma orelha até a outra.
           Acredito que aquelas palavras e o gesto que o velho “pongodó” fazia, para assustar minha mãe e o meu tio, fossem reminiscências da “Revolução Federalista”, da qual, o meu bisavô participara do lado maragato.
         Deste “pongodó” federalista, segundo minha mãe, herdei a estatura e a cor dos olhos, e hoje devo acrescentar a esta herança, uma simpatia pelos maragatos de outrora.


         Outro personagem importante na minha vida, pelo menos durante os meus dois primeiros sete anos, foi o Fiel. É claro que com este nome, Fiel, deste vocês devem ter logo pensado tratar-se de um cachorro. E era; mas, não um cachorro qualquer. Porque ele, embora bastardo, sempre foi tratado como meu irmão. Cachorro, porém irmão.
         Embora eu e o Fiel tenhamos nascido no mesmo dia, não éramos irmãos gêmeos. De gêmeos, tínhamos apenas o mesmo signo. Nascêramos de mães diferentes. A minha mãe era a minha mãe, a do Fiel, uma cadela qualquer. Uma cadela de rua, uma vadia que meu pai encontrou parindo. Para ser mais preciso, foi em uma valeta próximo do local de trabalho do meu pai, que ele viu o recém nascido Fiel. Meu pai sempre foi cachorreiro; não ao ponto de trazer a cadela e o resto dos bastardinhos, daí ter levado apenas um dos filhos da vadia para a nossa casa, que foi o Fiel.
          Era um dia de outono, aliás, um lindo, belo e ensolarado dia de outono, segundo palavras da minha mãe. Palavras que me levaram a pensar que, aquele dia, tinha sido o dia especial que foi, por causa do meu nascimento; mas depois, me dei conta de que Fiel também tinha nascido no mesmo dia, o que me levou a ter certa dúvida. Dúvida esta, que perdura até hoje.
         Bem, como eu ia dizendo, o Fiel, ao ser apresentado para minha mãe, saiu do bolso do casacão do meu pai e acho que naquele mesmo momento recebeu o nome que lhe deram. Minha mãe foi bastante generosa em adotá-lo. Afinal, onde mama um mamam dois. Eu no peito, ele na mamadeira que os dois improvisaram para ele, que certamente foi uma das que estavam destinadas a mim. E assim, transcorreram os dias, cada qual na sua teta. Bons dias, dias de come e dorme e dorme e come, até que terminou a mamata para o Fiel que foi despejado para o pátio da casa. Eu fiquei vigiando o movimento interno, o Fiel, o externo, o da rua.
         Com a premeditada intenção de tornar o Fiel mais eficiente e perigoso, e evitar que ele virasse um cachorro bundão, minha mãe passou a misturar pimenta na comida dele. Também suspeito que a mesma atitude ela teve comigo; mas são apenas suspeitas e isto, porque adoro pimenta. Não por saber ser a pimenta um afrodisíaco natural, coisa que descobri muito depois. E sim, porque gosto de pimenta.
          E assim, de mordida em mordida e de cadela em cadela, foi o Fiel levando a sua vidinha de cachorro, com casa, comida e pelos lavados.
          E falando em banho, vou aproveitar para lhes dizer que eu e o Fiel, somos prova de que o avô da dialética, o tal de Heráclito, estava redondamente enganado quanto aquela afirmação de que a mesma água não serve para banhar um antes e o outro depois; pois o Fiel tomava o banho dele, quando nenê, na água que eu tinha me banhado; portanto, ao contrário do que pensa o professor de filosofia, João Hobuss, os gregos não acertaram ou pensaram tudo.

______________________________________________________Imagem: acervo do autor
Postagem: Bruna Detoni       

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Devaneios (2)

o pARAÍSO PERDIDO

                                                                                                 

                                                                                                                      A.F. Monquelat

Nada é tão prazeroso quanto o escrever ou falar em mulheres. Muitos homens já o fizeram e, certamente, muitos e muitos outros também o farão. Afinal, felizmente, fazem elas parte de nossas vidas.
Embora desnecessário, não é por demais lembrar que toda e qualquer opinião aqui expressa é puramente pessoal e fruto da minha convivência e relacionamento com as muitas e mais diversas mulheres que fizeram, e fazem parte do meu histórico de vida.
Meu primeiro contato com a realidade deu-se através de uma mulher, minha mãe que, para me recepcionar, contratou uma outra mulher – a parteira.
Naquele tempo, tempo do meu nascimento, quase que sem exceção, nascia-se pelas mãos dessas mulheres, que tão logo nos arrancavam fazendo-nos despertar e sair do paradisíaco útero, nos aplicavam a primeira porrada da vida extra paraíso – maldita e despropositada palmada.
Ou você leitor, tem alguma dúvida que o único e verdadeiro paraíso de nossa existência dura apenas nove meses? Tem? Pois então pense, e descubra algum outro lugar que você possa viver e que lhe proporcione tudo o que se perde ao nascer. Não acredito que exista, ou você o encontre. Hóspede da vida intrauterina não paga água, luz, prestação, cartão de crédito, aluguel, imposto de renda, IPTU, IPVA e muitas outras e intermináveis invenções, afora o pedágio que os políticos nos aplicam pela estrada da vida. Ah! os políticos e seus execráveis governos, inferno de nossas existências.
Não foi por devaneio, divergência ou desvio de assunto que lhe propus essa viagem, e sim para lhe mostrar, ou tentar lhe dizer que o paraíso perdido, é o útero – a estalagem que o tempo, ou a vida, não mais nos devolverá.
Voltando à realidade, não esqueci do início deste texto onde eu disse, e agora repito, que não há algo tão prazeroso quanto o escrever ou falar em mulheres.
Nasci, e me criei cercado por mulheres. Além da minha mãe, quatro irmãs, que me encheram de palmadas e carinho. E, para ser sincero, recebi mais carinho do que palmadas, uma das razões para que até hoje mantenha com elas uma relação de afeto e amizade.
À exceção de uma tia, nenhuma outra mulher me infernizou a vida quando criança ou adolescente. Quanto a esta tia, por conselho de minha mãe, ignorei-a sempre que possível.
Uma das mulheres mais marcantes da minha vida foi minha avó paterna. Desta portuguesa herdei a franqueza e bastante conhecimento sobre as mulheres.
Vó Dorva não tinha papas na língua. E aquela língua sabia, como nenhuma outra, cada palavrão que nem é bom falar.
Uma das frases que me marcou, das tantas ditas por ela e que vez por outra me repetia era: “Meu neto, cuidado com as rachadas. Te cuida das rachadas”. Acho até desnecessário explicar quem e por que ela, minha avó, chamava de rachadas.
Dormi dezenas de vezes com vó Dorva. É, acho melhor esclarecer isto, ou dizer de outra maneira: dormi dezenas de vezes no quarto da minha avó. E sempre, luz apagada ou acesa, vó Dorva ficava conversando, até que de repente ela dizia: “Agora chega. É hora de dormir”.
Quase todas as noites, que no quarto dela dormi, ela falava sobre o meu avô Michelangelo. Um italiano de quatro costados, embora nascido em Pelotas. Minha bisavó, mãe do Michelangelo, veio jovem da Itália e com destino a Buenos Aires, assim como meu bisavô, Domenico, e milhares de outros italianos que por razões políticas ou não, imigraram.
Domenico e Maria Luiza, minha bisavó, casaram em Buenos Aires e depois, grávida de meu avô, vieram para Pelotas. Não os conheci. Tampouco conheci meu avô Michelangelo, que morreu jovem. Domenico, assim como o Michelangelo eram “artistas”, que era o mesmo que artífices e o mesmo que artesãos, isto no entender dos funcionários dos Cartórios de Registros; mas, que podemos simplificar para sapateiros, isso é o que eles eram.
Das histórias que vó Dorva contava, as sobre o meu avô Michelangelo eram minhas preferidas. Uma dessas histórias, em especial, era a que eu mais gostava. Aquela em que minha avó, no decorrer da narrativa as palavras eram acompanhadas de gestos, a certa altura dizia: “O teu avô, ó, só queria montar”. Ao dizer isso, ela estendia um dos dedos da mão, e com dois outros dedos da outra mão, abertos, ela fazia o gesto de montar, o que não deixava dúvidas quanto ao que ela dizia e nem tampouco o que o Michelangelo queria: ó, só montar.
A seguir os dedos eram desmontados, e ela me contava outras histórias do italiano, que lamento não ter conhecido.
Também minha mãe contava histórias sobre o Michelangelo. Uma das quais era mais ou menos assim: “O teu avô gostava de um maxixe. E uma ou duas vezes por semana, lá ia ele pro tal de maxixe, de onde voltava de madrugada. Tua avó não se importava que ele fosse e até, com muita paciência e dedicação, desde cedo aprontava a roupa, que ela passava e engomava com o maior cuidado, e sem a menor reclamação. O teu avô, aquele italiano, era fogo meu filho”.
Vou abrir aqui um parêntese, para lhes fazer uma confissão: até o presente eu não sabia direito o que era o tal de maxixe, mas eu imaginava fosse algo lascivo, pecaminoso, erótico e por aí afora, até que, ao escrever esta parte do maxixe do Michelangelo, resolvi olhar no “Dicionário de Música” e, com a frieza com que os dicionários nos explicam as coisas que não sabemos, lá estava: “maxixe – Dança urbana surgida no Rio de Janeiro por volta de 1875, de que se originou um gênero musical. Considerada a primeira dança genuinamente brasileira, antecessora do samba, resultou musicalmente da fusão do tango brasileiro e da habanera, pelo aspecto rítmico, com a polca, pelo andamento, com adaptação da síncope afro-portuguesa, segundo Mário de Andrade. É binária como essas outras formas, de caráter mais vivo que o tango ou o choro”.
Visto assim, de maneira tão técnica e fria, prefiro continuar com a minha forma de pensar o maxixe, e imaginar o Michelangelo dançando com sua parceira de maxixe, que, segundo minha mãe, era uma mulata extremamente bonita e sensual, que uma ou duas vezes por semana, com a complacência de vó Dorva, servia de par e companheira do meu avô Michelangelo, um italiano nascido em Pelotas, sapateiro, boêmio e que, segundo minha avó: “ó, só queria montar”.
Com o decorrer dos dias, meses e anos, passei a ver minha vó com menos frequência. Culpa das “rachadas”? Talvez. Circunstâncias da vida? Talvez.
De qualquer forma, e sem sentimento de culpa algum, lamento não ter perguntado tantas outras coisas sobre o Domenico, Maria Luíza, Michelangelo e tudo o mais que ela, com certeza, me responderia.
Pouco antes de sua morte, visitei-a no hospital. Daquele nosso último encontro, guardo-lhe o olhar maroto e o sorriso debochado que conservou até o médico deixar o quarto, não sem antes recomendar-lhe que não comesse doce algum. Tão logo ficamos sós, descobri a razão daquele olhar; pois vó Dorva, diante da proibição feita pelo médico, escondera uma caixa de goiabada debaixo do travesseiro e, em seguida que o médico fechou a porta, ela, com a certeza da minha cumplicidade, mostrou-me a caixa de goiabada, que algum outro cúmplice lhe havia levado, e disse: “Não posso comer doce é, ó, aqui pra esse doutorzinho de merda”. Essa talvez tenha sido sua última irreverência.
Não muitos dias depois de minha visita, vó Dorva morreu. Pouparam-me da notícia de sua morte. Acharam melhor. Fiquei sabendo um mês depois, tempo que levei para voltar a Pelotas. Assim que soube fui ao cemitério realizar a cerimônia do adeus e ali, diante de seu túmulo, fiquei a olhar o retrato daquela mulher, vó Dorva, minha primeira heroína.



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Imagem: acervo do autor
Postagem: Bruna Detoni