terça-feira, 7 de junho de 2016

Ciclismo: um esporte da elite pelotense

(parte 4)






As festas para o feriado de Tiradentes

         Em sessão de 12 de abril de 1898, realizada pelo Club Cyclista, pela diretoria e demais membros, ficou resolvido e projetado para que o referido clube solenizasse com brilhantismo e imponência o feriado nacional de 21 do mês de abril. 

         Assim é, tanto que já ficou eleito o comitê, que distribuiu cinco comissões, para a organização de atraentes corridas no Prado Pelotense e festa no Parque Souza Soares.
         O programa, confeccionado com “gosto e capricho”, constaria de seis páreos, havendo um excepcionalmente interessante: uma completa novidade no esporte velocipédico, que, até então não constava que em parte alguma tivesse havido semelhante experiência, completamente original.
         O Bazar Musical, os Srs. Daniel Wiering, Willi Spanier, todos importadores de afamadas marcas de bicicletas, a Companhia de Bondes, a Banda do Clube Caixeral, o Sr. Elie Bloch e o ciclista Sr. Myrtil Franck, além “gentilíssimas senhoritas de nossa sociedade”, ofereceram àquela atraente festa, dando “mimosos e valiosos” prêmios aos vencedores das corridas.
         O Sr. Elie Bloch cedeu ao Club determinado número de convites com direito a arquibancada especial, ficando a distribuição destes a cargo da comissão para esse fim nomeada, composta dos ciclistas Srs. Heráclito Brusque, Carino de Souza e Fritz Boyunga.
         Que seria uma festa deslumbrante, dizia o jornalista do A Opinião Pública, estava certo, pois reinava já intenso entusiasmo entre os “bravos ciclistas”.     
         De tal modo que o Club Cyclista, em cujo seio, contava “já com galantes e gentis meninas, importantes cavalheiros e alegres jovens”, proporcionaria uma festa belíssima, organizada pela “primeira vez entre nós”.




Relação dos prêmios a serem ofertados e demais disposições


         As Comissões reunidas, dia 14 de abril de 1898, para a organização das corridas de bicyclettes no Prado Pelotense, resolveram suprimir a festa projetada no Parque Pelotense, considerando o pouco tempo disponível, depois de terminadas aquelas corridas.
         Às comissões foram oferecidos pelos comerciantes Srs. Gotiwald, um valioso relógio; pelo Sr. Francisco Meira, “um tandem” de bronze, montado por dois ciclistas, objeto de decoração de escritório; pelo Sr. Elie Bloch, um caro alfinete de gravata; pelo Bazar Musical, uma preciosa lanterna americana para ciclista; pela Companhia de Bonds, um objeto de arte e de alto preço; pelo Sr. Daniel Wiering, um precioso boné de seda; idêntica oferta pelo Sr. Willi Spanier; um objeto apropriado pelo amador Sr. Myrtil Franck; e, finalmente, pelo Club Cyclista, uma artística medalha de prata, trabalho de esmerado gosto, para o vencedor do páreo, onde estava inscrito “Club Cyclista, de 1.000 metros”.
         A comissão encarregada dos convites estava preparando o programa.
         Na mesma reunião, ficou decidido que todos os amadores inscritos se  reuniriam naquele dia para o sorteio dos lugares e mais disposições, a fim de se publicar os programas.

A festa na coluna do Vitú e outros comentários

         Vitú, em sua coluna de 20 de abril de 1898, anunciava para o dia seguinte, no Prado, pela 1ª vez nesta cidade, uma imponente festa velocipédica.
         O programa, segundo o jornalista, era tão atraente que ele receava que o anfiteatro do Prado não comportasse a gente que a ele deveria afluir.

A programação da festa

         No dia 21 de abril, escolhido pelo Club Cyclista, ocorreu evento “tão bem organizado quão espontaneamente acolhido pelos apreciadores deste belo gênero de esporte, hoje no apogeu do mundo elegante e civilizado”.
         Faltando local apropriado, sem máquinas especiais para corridas, a despeito do pouco exercício dos corredores, o Club Cyclista proporcionaria aos seus convidados e  ao público um belo divertimento, “hoje favorito e apreciadíssimo nas  mais populosas capitais do mundo”.
         Os atrativos para o grande dia: ao meio-dia, em ponto, estariam todos reunidos em frente ao Lyceu Rio-Grandense e aí formariam, sairiam em marcha que desfilaria pelas Ruas 15 de Novembro e Marechal Floriano, em direção ao Prado, conforme determinara a comissão para esse fim eleita e sob as imediatas ordens do presidente do clube, auxiliado pela comissão da marcha e comissários do clube, Srs. Heráclito Brusque, Lúcio Lopes Sobrinho e Carino de Souza.
         Chegados ao Prado e incorporados aos corredores, fariam em volta da pista o passeio que precederia ao primeiro páreo, prolongando assim a “geral ansiedade que forçosamente reinaria entre todos os espectadores de tão original e atraente festa”.
         Terminada a última corrida e dado o descanso necessário aos participantes desta, formaria novamente o clube, percorrendo com os vencedores à frente, outra vez, a circunferência do Prado, partindo em seguida para a cidade, onde, após curto passeio, dispersaria.
         A imprensa recebera um “delicado convite, acompanhando o programa das corridas, impresso em papel chinês, verdadeiro mimo e novidade”.
         Ao coronel Sampaio, comandante do 29º batalhão de infantaria, e sua oficialidade e famílias, foi dirigido pela comissão atencioso ofício, convidando-os a comparecerem às corridas
         Aos presidentes dos Club Caixeiral, Club de Regatas e das sociedades de tiro ao alvo e de ginástica, também foram enviados ofícios, “bem como convites às distintas famílias de nossa elite”.
         As bandas musicais do Club Caixeiral e do 29º batalhão de infantaria haviam se oferecido para dar maior brilho às corridas inaugurais do clube.
         No Prado, estaria uma comissão, composta dos Srs. Dr. Ildefonso Simões Lopes, Dr. Luiz Sandalio Leivas e João Sattamini Filho, para a recepção dos convidados.
         A exposição dos prêmios, aos vencedores, continuaria até a véspera do evento, na vitrina da Joven España [alfaiataria], do Sr. Rafael Bassols.
         O Sr. Bassols ofertara um precioso par de abotoaduras para punhos, ao vencedor do páreo “perde-ganha”.
         Na ocasião da entrada do clube na pista do Prado, o amador Sr. José Brisolara da Silva tiraria uma fotografia extra-rápida.
         Constava que do Rio Grande viriam muitas pessoas para assistir a festa ciclista de Pelotas, que com tantos atrativos, seria “concorridíssima e bela”.
         Atendendo ao extraordinário entusiasmo que se notava na cidade, seria de inteira justiça que a classe comercial atendesse ao pedido que o Club Cyclista lhe dirigia, por intermédio da imprensa, para fechar o expediente de suas casas às 10 horas da manhã.
                                                                                    
                                                                                              
Segue...


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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Tratamento de imagens: Bruna Detoni

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