sexta-feira, 10 de junho de 2016

A célebre Pensão da Nóca


Pelotas, como em toda parte, tinha as suas pensões.
Para elas afluíam, geralmente, os notívagos no intuito de passarem algumas horas divertidas. Uma dessas pensões, ou bordéis, ou casas de tolerância ou fosse lá qual outro nome que a imprensa local lhes desse, tornou-se célebre dada a quantidade de vezes que frequentou as páginas policiais dos jornais da cidade: trata-se da Pensão da Nóca.   



Prisão de um “valente”

         O Ermenegildo Souza tirou a noite de 9 de abril de 1936 para “se divertir” e, por certo, procurou ambiente apropriado. Dirigiu-se à casa de tolerância conhecida por Pensão da Nóca e ali começou a fazer lastro ou encher o porão.
         Bebeu bastante; bebeu até ficar “valente”.
         Uma vez nesse estado começou a provocar e ameaçar os demais presentes, incluindo as pensionistas da Nóca.
         Lá pelas tantas, achando que Souza estava ficando “valente” demais, o guarda do policiamento encarregado de impor ordem [ordem relativa, como se vê] no referido bordel, convidou-o a moderar-se.
         Souza, porém, não atendeu e quis virar bicho com o policial.
         Resultado: foi trancafiado no xadrez do 1º posto policial, onde ficou purgando-se do mau procedimento.     
 
Desordem na Pensão da Nóca

Em Pelotas, porém, guarnecida como era, por uma corporação instruída para os misteres da guerra e desconhecedora completamente da disciplina policial, segundo o Diário Popular de 5 de setembro de 1936, não era sempre que o boêmio ia a uma pensão unicamente para se divertir, como ainda acontecera na madrugada daquele dia, em uma dessas casas.
Para o sururu, que, em linhas gerais, o jornalista narrava, servira de teatro a Pensão da Nóca, já tão conhecida, célebre pelas desordens que ali aconteciam constantemente.
A 1 hora da madrugada, chegaram à referida pensão dois homens um tanto alcoolizados.
À entrada, por motivos fúteis, se desentenderam com o guarda do policiamento ali destacado.
Após rápida discussão, se engalfinharam.
Dona Nóca, proprietária da casa, avisou, por telefone, à polícia, que daí instante estava presente e, sem cerimônia, metendo o sabre a torto e a direito.
Conclusão: os dois homens foram procurar a Santa Casa, e a delegacia de polícia abriu inquérito a fim de apurar as responsabilidades.
Na Santa Casa, foram os boêmios atendidos pelo Dr. João Xavier, que constatou os seguintes ferimentos: Álvaro Ribeiro da Silva, de 26 anos, residente à Rua 7 de Abril [D. Pedro II] nº 973, um ferimento contuso na região frontal direita e outro também contuso na fronte parietal esquerda; Manoel Ribeiro da Silva, 28 anos, morador à Rua Paysandu [Barão de Santa Tecla] nº454, ferimento contuso no couro cabeludo em plena região ocíptal-parietal direita.
Aceitava o jornalista que houvesse razão para prender os notívagos, porém, não concordava ele com o modo de efetuar prisões.

 Nova desordem na Pensão da Nóca

Uma grossa desordem se verificou na primeira hora do dia 29 de setembro de 1936, na pensão da Nóca, quando a casa estava cheia e não havia uma só mesa desocupada.
O ambiente a cada momento ficava mais carregado, pois havia muitos bambas no salão.
Em certo momento, Walter Costa resolveu brigar, provocando, a princípio um seu antigo desafeto, o qual procurou evitar o mais que pode, para não quebrar a harmonia da reunião.
Pouco depois, Walter Costa, desejoso de mostrar sua coragem, quis dar pancada em Rafael Brandi, que, com habilidade, ainda conseguiu evitar que o fervo tivesse início.
Walter Costa ainda não estava contente, pois queria fazer média como valente.
Não demorou muito em encontrar ele um conviva que lhe fizesse frente.
Lutaram, derrubaram mesas, arrastaram cadeiras, quebraram louças e o ambiente todo foi posto em polvorosa.
Para que os ânimos se acalmassem, interveio o praça do policiamento, Severino Farias dos Santos Costa.
Mas, Walter não atendeu o guarda, avançando contra o policial que não teve outro remédio se não o de dar na cabeça do seu agressor com a coronha do revólver.
O bamba, então, acalmou-se, e dali foi levado à Santa Casa, onde recebeu curativos, sendo a seguir levado para o 1º posto e metido no xadrez.

Desordeiros são presos na Pensão da Nóca

         Na madrugada do dia 17 de outubro de 1939, o inspetor de polícia Rubens Pereira Dias prendeu na Pensão da Nóca, à Rua Voluntários nº166, os indivíduos Neri Pacheco, Domingos Toreli e Oscar Rodrigues, que ali praticavam desordens.
         Os desordeiros, que se encontravam bastante alcoolizados, foram recolhidos ao xadrez.
Autoridades pensam em fechar a Pensão da Nóca
         No dia 10 de setembro de 1940, pela madrugada, no interior da Pensão da Nóca, situada à Rua Barão de Santa Tecla nº 402, e de propriedade de Universina Ferreira, verificou-se grande desordem promovida por Nelson Ferreira e Francisco Reis.
         O inspetor Silveira da Silva, de plantão na delegacia, efetuou a prisão dos desordeiros e da proprietária da pensão, recolhendo-os ao xadrez da delegacia de polícia.
         Segundo a reportagem do jornal A Opinião Pública, as autoridades policiais estavam decididas a ordenar o fechamento da Pensão da Nóca, local que se tinha transformado, “ultimamente”, em perigoso centro de desordens. Essa decisão, segundo o jornal, era a medida acertada, no momento, reclamada a bem do sossego das famílias residentes nas imediações do “famigerado antro de perdição”.
         Em meados de outubro de 1940, a Delegacia de Polícia determinou o fechamento da Pensão Noca localizada à Rua Barão de Santa Tecla nº402 e de propriedade de Universina Ferreira.
         Constantes desordens ali verificadas, e que ainda haviam se repetido na madrugada do dia 14 de outubro, motivaram aquela providência  da autoridade reclamada a bem do sossego público.
         Na mesma ocasião, foi fechado o dancing que funcionava à Rua Dr. Cassiano, quadra entre as ruas Andrade Neves e 15 de Novembro por ser considerado foco de ajuntamentos perniciosos.
         Idênticas providências seriam tomadas, segundo informações obtidas pelo jornalista da Folha do Povo, em relação a outras casas de natureza suspeita, existentes naquele e em outros locais da cidade.

                                                                                                                                
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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen

Seleção de imagem: Bruna Detoni

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