Pelotas,
como em toda parte, tinha as suas pensões.
Para
elas afluíam, geralmente, os notívagos no intuito de passarem algumas horas
divertidas. Uma dessas pensões, ou bordéis, ou casas de tolerância ou fosse lá
qual outro nome que a imprensa local lhes desse, tornou-se célebre dada a quantidade
de vezes que frequentou as páginas policiais dos jornais da cidade: trata-se da
Pensão da Nóca.
Prisão de um “valente”
O Ermenegildo Souza tirou a noite de 9 de abril de 1936 para
“se divertir” e, por certo, procurou ambiente apropriado. Dirigiu-se à casa de
tolerância conhecida por Pensão da Nóca e ali começou a fazer lastro ou encher o
porão.
Bebeu bastante; bebeu até ficar “valente”.
Uma vez nesse estado começou a provocar e ameaçar os demais
presentes, incluindo as pensionistas da Nóca.
Lá pelas tantas, achando que Souza estava ficando “valente”
demais, o guarda do policiamento encarregado de impor ordem [ordem relativa,
como se vê] no referido bordel, convidou-o a moderar-se.
Souza, porém, não atendeu e quis virar bicho com o policial.
Resultado: foi trancafiado no xadrez do 1º posto policial, onde
ficou purgando-se do mau procedimento.
Desordem na Pensão da
Nóca
Em
Pelotas, porém, guarnecida como era, por uma corporação instruída para os
misteres da guerra e desconhecedora completamente da disciplina policial,
segundo o Diário Popular de 5 de
setembro de 1936, não era sempre que o boêmio ia a uma pensão unicamente para
se divertir, como ainda acontecera na madrugada daquele dia, em uma dessas
casas.
Para
o sururu, que, em linhas gerais, o jornalista narrava, servira de teatro a
Pensão da Nóca, já tão conhecida, célebre pelas desordens que ali aconteciam
constantemente.
A
1 hora da madrugada, chegaram à referida pensão dois homens um tanto
alcoolizados.
À
entrada, por motivos fúteis, se desentenderam com o guarda do policiamento ali
destacado.
Após
rápida discussão, se engalfinharam.
Dona
Nóca, proprietária da casa, avisou, por telefone, à polícia, que daí instante
estava presente e, sem cerimônia, metendo o sabre a torto e a direito.
Conclusão:
os dois homens foram procurar a Santa Casa, e a delegacia de polícia abriu
inquérito a fim de apurar as responsabilidades.
Na
Santa Casa, foram os boêmios atendidos pelo Dr. João Xavier, que constatou os
seguintes ferimentos: Álvaro Ribeiro da Silva, de 26 anos, residente à Rua 7 de
Abril [D. Pedro II] nº 973, um ferimento contuso na região frontal direita e
outro também contuso na fronte parietal esquerda; Manoel Ribeiro da Silva, 28
anos, morador à Rua Paysandu [Barão de Santa Tecla] nº454, ferimento contuso no
couro cabeludo em plena região ocíptal-parietal direita.
Aceitava
o jornalista que houvesse razão para prender os notívagos, porém, não
concordava ele com o modo de efetuar prisões.
Nova desordem na Pensão da Nóca
Uma
grossa desordem se verificou na primeira hora do dia 29 de setembro de 1936, na
pensão da Nóca, quando a casa estava cheia e não havia uma só mesa desocupada.
O
ambiente a cada momento ficava mais carregado,
pois havia muitos bambas no salão.
Em
certo momento, Walter Costa resolveu brigar, provocando, a princípio um seu
antigo desafeto, o qual procurou evitar o mais que pode, para não quebrar a
harmonia da reunião.
Pouco
depois, Walter Costa, desejoso de mostrar sua coragem, quis dar pancada em Rafael Brandi, que, com habilidade,
ainda conseguiu evitar que o fervo
tivesse início.
Walter
Costa ainda não estava contente, pois queria fazer média como valente.
Não
demorou muito em encontrar ele um conviva que lhe fizesse frente.
Lutaram,
derrubaram mesas, arrastaram cadeiras, quebraram louças e o ambiente todo foi
posto em polvorosa.
Para
que os ânimos se acalmassem, interveio o praça do policiamento, Severino Farias
dos Santos Costa.
Mas,
Walter não atendeu o guarda, avançando contra o policial que não teve outro
remédio se não o de dar na cabeça do seu agressor com a coronha do revólver.
O
bamba, então, acalmou-se, e dali foi
levado à Santa Casa, onde recebeu curativos, sendo a seguir levado para o 1º
posto e metido no xadrez.
Desordeiros são presos
na Pensão da Nóca
Na madrugada do dia 17 de outubro de 1939, o inspetor de
polícia Rubens Pereira Dias prendeu na Pensão da Nóca, à Rua Voluntários nº166,
os indivíduos Neri Pacheco, Domingos Toreli e Oscar Rodrigues, que ali
praticavam desordens.
Os desordeiros, que se encontravam bastante alcoolizados,
foram recolhidos ao xadrez.
Autoridades pensam em
fechar a Pensão da Nóca
No dia 10 de setembro de 1940, pela madrugada, no interior
da Pensão da Nóca, situada à Rua Barão de Santa Tecla nº 402, e de propriedade
de Universina Ferreira, verificou-se grande desordem promovida por Nelson
Ferreira e Francisco Reis.
O inspetor Silveira da Silva, de plantão na delegacia,
efetuou a prisão dos desordeiros e da proprietária da pensão, recolhendo-os ao
xadrez da delegacia de polícia.
Segundo a reportagem do jornal A Opinião Pública, as autoridades policiais estavam decididas a
ordenar o fechamento da Pensão da Nóca, local que se tinha transformado,
“ultimamente”, em perigoso centro de desordens. Essa decisão, segundo o jornal,
era a medida acertada, no momento, reclamada a bem do sossego das famílias
residentes nas imediações do “famigerado antro de perdição”.
Em meados de outubro de 1940, a Delegacia de Polícia
determinou o fechamento da Pensão Noca
localizada à Rua Barão de Santa Tecla nº402 e de propriedade de Universina Ferreira.
Constantes desordens ali verificadas, e que ainda haviam se
repetido na madrugada do dia 14 de outubro, motivaram aquela providência da autoridade reclamada a bem do sossego
público.
Na mesma ocasião, foi fechado o dancing que funcionava à Rua Dr. Cassiano, quadra entre as ruas Andrade
Neves e 15 de Novembro por ser considerado foco de ajuntamentos perniciosos.
Idênticas providências seriam tomadas, segundo informações
obtidas pelo jornalista da Folha do Povo,
em relação a outras casas de natureza suspeita, existentes naquele e em outros
locais da cidade.
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Fontes: acervo da
Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
Seleção de imagem:
Bruna Detoni
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