A desordem da Thereza
Dia 16 de março de 1931, às 5h30, Thereza Lemos, da Pensão
Antoninha, à Rua Cassiano, em estado de embriaguês, promoveu grosso sarilho.
Ao ser presa e conduzida ao 1º posto, pelo soldado
Francelino Ignacio de Souza, foi preciso o emprego de força, sendo, assim,
esbofeteada pelo soldado.
Chegada ao 1º posto, com diversas equimoses e com o rosto
banhado em sangue, foi chamada a Assistência [Ambulância] que conduziu a bêbada
para a Santa Casa, porém, antes de lá chegar, Thereza jogou-se do veículo, recebendo escoriações.
Depois de medicada, Thereza ficou internada na Enfermaria
Brusque.
O soldado Francelino foi autuado e recolhido ao xadrez do 4º
Batalhão da Brigada Militar.
Sargento alveja
Antoninha
Sábado, 31 de dezembro de 1932, um sargento do Exército, de
nome Favorino de tal, impedido de entrar na Pensão de Antoninha Silva, alvejou-a
com um tiro.
Antoninha telefonou para o quartel comunicando o ocorrido.
Ao local, compareceu uma patrulha daquela corporação,
comandada pelo sargento Nercy Gonçalves que, inteirado do sucedido pela própria
Antoninha, “teria tomado naturalmente, as providências necessárias...”.
Parece, porém, que Antoninha não se deu por satisfeita ainda
e foi se queixar à Delegacia de Polícia também.
Prostituta, embriagada,
despenha-se da sacada
Carmen Louzada, de 22 anos de idade, casada, residente na
Pensão Antoninha, à Rua Voluntários nº 459, sobrado, gostava imensamente da pinga e, quando bebia, ficava nervosa.
Domingo, 7 de janeiro de 1934, já bastante tonta, Carmen
resolveu tomar ares na sacada do sobrado.
Pouco depois, sem que soubessem como, Carmen se despenhou da
sacada abaixo, vindo cair na calçada.
Socorrida pelo agente Satyro Castro, da Guarda Noturna, foi
Carmen transportada para a Santa Casa, onde recebeu os necessários curativos.
Apresentava ela contusões e escoriações generalizadas pelo
corpo.
Fantasma põe puteiro em
polvorosa
O caso, divulgado pela imprensa em 31 de março de 1934,
ficou conhecido como o “Fantasma da Rua Voluntários”.
Era
um caso verdadeiramente singular. Já há alguns dias, moradoras de uma pensão
viviam apavoradas com um fantasma que aparecia e desaparecia misteriosamente.
À
Rua Voluntários, quadra entre as Ruas Felix da Cunha e Gonçalves Chaves, no
prédio de nº 162, existia uma pensão de mulheres conhecida por Pensão da
Antoninha.
Dia
29 de março, à noite, mais ou menos por volta das 21h30, o guarda do
policiamento, de serviço naquela zona, avisou para o 1º Posto Policial que
havia algo de anormal na Pensão Antoninha, pedindo reforço para efetuar uma
diligência.
Imediatamente,
para ali, seguiu a “viúva alegre” [denominação popular dada ao carro da polícia
durante certa época], conduzindo diversos soldados do policiamento, tendo,
também, comparecido o Sr. tenente Carlos Souza, subdelegado de polícia, que
estava ocupando, interinamente, o cargo de delegado.
Tratava-se
do seguinte: uma das mulheres residentes na referida pensão, enxergara um homem
sobre o telhado de um pequeno compartimento da casa, onde se achavam as
instalações higiênicas.
Chegada
a força policial, foi dada rigorosa busca em toda a casa, no quintal da mesma e
nos quintais vizinhos, assim como em uma casa desocupada, à Rua Felix da Cunha
nº 758, cujos fundos davam para a pensão.
Essa
busca resultou infrutífera, pois o “homem da capa preta” não foi encontrado.
Como
era natural, dado o fato de ser ainda cedo, grande foi a aglomeração de pessoas
no local.
Entre
os presentes, encontrava-se um dos repórteres do jornal A Opinião Pública que
ouviu curiosos comentários que despertaram sua atenção para o caso, à primeira
vista banal.
Os
comentários giravam em torno da pergunta:
-
Ladrão ou fantasma?
Dia
30 de março, pela manhã, a reportagem do jornal visitou o local, no intuito de
saber o que, de fato, estava ocorrendo.
Procurando
ouvir as vizinhas, uma delas, que pareceu mais sensata por ser bastante idosa, explicou
o seguinte – sendo confirmado por outras: há oito dias vinha se verificando, na
Pensão Antoninha, fatos que estavam trazendo em constante sobressalto, não só
as pensionistas da casa, como a todos os vizinhos.
Para
ela, não se tratava de coisa deste mundo. Imaginasse o repórter, que na noite
de sexta-feira, a mulher de nome Lourdes, que morava na pensão, precisando ir
aos fundos da casa, viu, perfeitamente bem, um homem sentado sobre o telhado da
patente [banheiro]. Dado alarma,
acudiram alguns vizinhos que, como nada vissem, atribuíram o caso a um simples
susto de Lourdes.
Na
noite seguinte, quando já ninguém mais se recordava do que ocorrera na véspera,
Lourdes indo novamente aos fundos da casa, esbarrou com um vulto, que
reconheceu ser o mesmo que na noite anterior deparara sentado sobre o telhado
da patente.
Repetiu-se,
então, a mesma cena da véspera, isto é, foi dada busca no quintal, nada sendo
encontrado.
O
fato, porém começou a preocupar vivamente não só as moradoras da Pensão
Antoninha, como aos vizinhos.
Todas
as noites, desde aquela fatídica sexta-feira, o tal “homem-fantasma” era visto,
ora sobre o muro dos fundos da casa, ora no interior do pátio e até dentro de
casa.
Em
uma daquelas últimas noites, uma das moradoras da pensão, viu encostado a uma
vitrola, o mesmo misterioso indivíduo.
Perguntando-lhe
o que desejava, o homem, sem se perturbar, depois de olhá-la fixamente, com os
olhos parados, sem dizer palavra, retirou-se pela porta dos fundos, quando o
poderia ter feito pela da frente, pois achava-se esta aberta.
Segundo
a mesma informante, várias mulheres residentes na pensão tinham visto, por
vezes, a misteriosa aparição.
Diziam
elas que o “fantasma era de estatura alta, moreno, moço ainda, usava suíças, e
apresentava-se bem vestido, calças brancas e casaco preto ou azul-marinho”.
Disse
ainda a informante que o guarda do
policiamento vira também o homem-fantasma.
À
noite, quando ainda era bastante intenso o movimento nas ruas, em virtude das
comemorações da Semana Santa, a reportagem, que não perdera mais de vista o
prédio à Rua Voluntários nº 162 foi atraída por um novo e grande agrupamento de
pessoas à porta do referido prédio.
Outra
vez o homem? – indagou o repórter.
-
Sim. – Disse-lhe uma mulher, residente na pensão. E, acrescentando, informou
que “hoje ele anda todo de branco”, e que ela o vira em cima do muro.
Em
seguida, chegou “a viúva alegre”, conduzindo vários soldados do policiamento.
Com
auxílio de lanternas elétricas, foi dada rigorosa busca, não só na pensão
Antoninha, como nos quintais vizinhos e casa que se achavam desocupadas naquele
quarteirão.
Nada,
porém, foi encontrado.
As
diligências daquela noite foram dirigidas pessoalmente pelo Sr. subprefeito,
que tomou as providências que o caso exigia.
E
assim foi que durante vários dias o “Fantasma da Rua Voluntários”, com suas
aparições e desaparições, ocupou a página principal de um dos mais importantes
jornais da cidade, tendo sido convocada, inclusive, uma junta espírita para
tentar desvendar o caso, sem que esta tivesse obtido algum resultado favorável.
Até
que... Tendo sido chamados todas as mulheres residentes na Pensão Antoninha e
sua proprietária, estas, após demorado interrogatório, acabaram por confessar
que haviam organizado um truque por questões de amantes, com o fim de
amedrontar uma das mulheres da pensão.
Segundo
ainda declararam as referidas mulheres às autoridades, não as supunham que o
fato tomasse o vulto que tomara, motivo esse que as amedrontou, obrigando-as a
não revelar a verdade logo que foi dado o alarme publicamente.
Estava,
pois, desvendado o mistério que tanto preocupara e chamara a atenção pública.
João
espanca a Rita
Na madrugada do dia 31 de janeiro de 1936, João Machado, em
estado de embriaguês, penetrou na Pensão Antoninha para espancar a mulher Rita
Gonçalves da Costa, com quem mantivera relações.
Aos gritos de Rita, acudiram outras moradoras da referida
pensão, que trataram de avisar a polícia sobre o que estava ocorrendo.
A polícia compareceu e fez com que Machado abandonasse o
local, intimando-o a comparecer, naquele mesmo dia, à Delegacia de Polícia.
O homem, porém, estava firmemente disposto a mimosear Rita e tanto assim, que logo
que a polícia se afastou da Pensão Antoninha, Machado ali voltou e começou a
espancar “heroicamente” a indefesa mulher.
Desta vez, no entanto, o valente
foi trancafiado em uma das celas do 1º posto policial.
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Fontes: acervo da
Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
Tratamento de imagens:
Bruna Detoni
Existe o prédio ou o local onde era a Pensão Antoninha hoje?
ResponderExcluirMeu caro Paulo José, é possível que exista, mas não tenho ideia de onde fique dada a troca de números ocorrida mais de uma vez. Grato pela consulta. Abraço.
ExcluirOnde fica atualmente?
ResponderExcluirMeu caro Anônimo, não tenho ideia de onde seja, atualmente, o prédio. Abraço.
ExcluirÀ Rua Voluntários, quadra entre as Ruas Felix da Cunha e Gonçalves Chaves, no prédio de nº 162, existia uma pensão de mulheres conhecida por Pensão da Antoninha.
ResponderExcluirÉ bem provável que seja a mesma pensão. Abraço.
ResponderExcluirParabéns pela compilação. Provavelmente a famosa pensão era onde hoje é o Edifício Magnus (Voluntários da Pátria, 692), pois este fica na esquina com a Félix da Cunha. Em um dos trechos fala que o quintal da pensão dava para o quintal de uma residência na Félix da Cunha, o que me fez concluir isso, já que na outra esquina fica um sobrado muito antigo que já existia nos anos 30, inclusive um tio-avô meu residiu nesse sobrado.
ResponderExcluirE a Pensão da Turca, na Cassiano? Conheceste?
Meu caro Anônimo, acredito que tuas informações estão corretas e passaram a enriquecer o texto sobre a Pensão. A pensão da Turca que conheci na adolescência, embora o "leão de chácara" não tenha me deixado entrar, pois decerto achou que eu não teria dinheiro para gastar ali, no que ele estava certo, ficava na Curva da Morte, ou mudou da Cassiano pra lá ou vice-versa. Grande abraço, e grato por suas importantes e preciosas intervenções.
ResponderExcluirFico feliz em contribuir! Aproveito a oportunidade para parabenizar pelo blog. Sou um grande apreciador das histórias da Velha Pelotas. Sábado o assunto das pensões aqui tratado será objeto das conversas que tenho com meus tios no Café Aquário, hehehe. Grande abraço! Rodrigo Simões Lopes Peixoto.
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