segunda-feira, 20 de junho de 2016

A pensão Antoninha




A desordem da Thereza

         Dia 16 de março de 1931, às 5h30, Thereza Lemos, da Pensão Antoninha, à Rua Cassiano, em estado de embriaguês, promoveu grosso sarilho.
         Ao ser presa e conduzida ao 1º posto, pelo soldado Francelino Ignacio de Souza, foi preciso o emprego de força, sendo, assim, esbofeteada pelo soldado.
         Chegada ao 1º posto, com diversas equimoses e com o rosto banhado em sangue, foi chamada a Assistência [Ambulância] que conduziu a bêbada para a Santa Casa, porém, antes de lá chegar, Thereza jogou-se do veículo, recebendo escoriações.
         Depois de medicada, Thereza ficou internada na Enfermaria Brusque.
         O soldado Francelino foi autuado e recolhido ao xadrez do 4º Batalhão da Brigada Militar.




Sargento alveja Antoninha

         Sábado, 31 de dezembro de 1932, um sargento do Exército, de nome Favorino de tal, impedido de entrar na Pensão de Antoninha Silva, alvejou-a com um tiro.
         Antoninha telefonou para o quartel comunicando o ocorrido.
         Ao local, compareceu uma patrulha daquela corporação, comandada pelo sargento Nercy Gonçalves que, inteirado do sucedido pela própria Antoninha, “teria tomado naturalmente, as providências necessárias...”.
         Parece, porém, que Antoninha não se deu por satisfeita ainda e foi se queixar à Delegacia de Polícia também.


Prostituta, embriagada, despenha-se da sacada

         Carmen Louzada, de 22 anos de idade, casada, residente na Pensão Antoninha, à Rua Voluntários nº 459, sobrado, gostava imensamente da pinga e, quando bebia, ficava nervosa.
         Domingo, 7 de janeiro de 1934, já bastante tonta, Carmen resolveu tomar ares na sacada do sobrado.
         Pouco depois, sem que soubessem como, Carmen se despenhou da sacada abaixo, vindo cair na calçada.
         Socorrida pelo agente Satyro Castro, da Guarda Noturna, foi Carmen transportada para a Santa Casa, onde recebeu os necessários curativos.
         Apresentava ela contusões e escoriações generalizadas pelo corpo.

Fantasma põe puteiro em polvorosa

         O caso, divulgado pela imprensa em 31 de março de 1934, ficou conhecido como o “Fantasma da Rua Voluntários”.
Era um caso verdadeiramente singular. Já há alguns dias, moradoras de uma pensão viviam apavoradas com um fantasma que aparecia e desaparecia misteriosamente.
À Rua Voluntários, quadra entre as Ruas Felix da Cunha e Gonçalves Chaves, no prédio de nº 162, existia uma pensão de mulheres conhecida por Pensão da Antoninha.
Dia 29 de março, à noite, mais ou menos por volta das 21h30, o guarda do policiamento, de serviço naquela zona, avisou para o 1º Posto Policial que havia algo de anormal na Pensão Antoninha, pedindo reforço para efetuar uma diligência.
Imediatamente, para ali, seguiu a “viúva alegre” [denominação popular dada ao carro da polícia durante certa época], conduzindo diversos soldados do policiamento, tendo, também, comparecido o Sr. tenente Carlos Souza, subdelegado de polícia, que estava ocupando, interinamente, o cargo de delegado.
Tratava-se do seguinte: uma das mulheres residentes na referida pensão, enxergara um homem sobre o telhado de um pequeno compartimento da casa, onde se achavam as instalações higiênicas.
Chegada a força policial, foi dada rigorosa busca em toda a casa, no quintal da mesma e nos quintais vizinhos, assim como em uma casa desocupada, à Rua Felix da Cunha nº 758, cujos fundos davam para a pensão.
Essa busca resultou infrutífera, pois o “homem da capa preta” não foi encontrado.
Como era natural, dado o fato de ser ainda cedo, grande foi a aglomeração de pessoas no local.
Entre os presentes, encontrava-se um dos repórteres do jornal A Opinião Pública que ouviu curiosos comentários que despertaram sua atenção para o caso, à primeira vista banal.
Os comentários giravam em torno da pergunta:
- Ladrão ou fantasma?
Dia 30 de março, pela manhã, a reportagem do jornal visitou o local, no intuito de saber o que, de fato, estava ocorrendo.
Procurando ouvir as vizinhas, uma delas, que pareceu mais sensata por ser bastante idosa, explicou o seguinte – sendo confirmado por outras: há oito dias vinha se verificando, na Pensão Antoninha, fatos que estavam trazendo em constante sobressalto, não só as pensionistas da casa, como a todos os vizinhos.
Para ela, não se tratava de coisa deste mundo. Imaginasse o repórter, que na noite de sexta-feira, a mulher de nome Lourdes, que morava na pensão, precisando ir aos fundos da casa, viu, perfeitamente bem, um homem sentado sobre o telhado da patente [banheiro]. Dado alarma, acudiram alguns vizinhos que, como nada vissem, atribuíram o caso a um simples susto de Lourdes.
Na noite seguinte, quando já ninguém mais se recordava do que ocorrera na véspera, Lourdes indo novamente aos fundos da casa, esbarrou com um vulto, que reconheceu ser o mesmo que na noite anterior deparara sentado sobre o telhado da patente.
Repetiu-se, então, a mesma cena da véspera, isto é, foi dada busca no quintal, nada sendo encontrado.
O fato, porém começou a preocupar vivamente não só as moradoras da Pensão Antoninha, como aos vizinhos.
Todas as noites, desde aquela fatídica sexta-feira, o tal “homem-fantasma” era visto, ora sobre o muro dos fundos da casa, ora no interior do pátio e até dentro de casa.
Em uma daquelas últimas noites, uma das moradoras da pensão, viu encostado a uma vitrola, o mesmo misterioso indivíduo.
Perguntando-lhe o que desejava, o homem, sem se perturbar, depois de olhá-la fixamente, com os olhos parados, sem dizer palavra, retirou-se pela porta dos fundos, quando o poderia ter feito pela da frente, pois achava-se esta aberta.
Segundo a mesma informante, várias mulheres residentes na pensão tinham visto, por vezes, a misteriosa aparição.
Diziam elas que o “fantasma era de estatura alta, moreno, moço ainda, usava suíças, e apresentava-se bem vestido, calças brancas e casaco preto ou azul-marinho”.
Disse ainda a informante  que o guarda do policiamento vira também o homem-fantasma.
À noite, quando ainda era bastante intenso o movimento nas ruas, em virtude das comemorações da Semana Santa, a reportagem, que não perdera mais de vista o prédio à Rua Voluntários nº 162 foi atraída por um novo e grande agrupamento de pessoas à porta do referido prédio.
Outra vez o homem? – indagou o repórter.
- Sim. – Disse-lhe uma mulher, residente na pensão. E, acrescentando, informou que “hoje ele anda todo de branco”, e que ela o vira em cima do muro.
Em seguida, chegou “a viúva alegre”, conduzindo vários soldados do policiamento.
Com auxílio de lanternas elétricas, foi dada rigorosa busca, não só na pensão Antoninha, como nos quintais vizinhos e casa que se achavam desocupadas naquele quarteirão.
Nada, porém, foi encontrado.
As diligências daquela noite foram dirigidas pessoalmente pelo Sr. subprefeito, que tomou as providências que o caso exigia.
E assim foi que durante vários dias o “Fantasma da Rua Voluntários”, com suas aparições e desaparições, ocupou a página principal de um dos mais importantes jornais da cidade, tendo sido convocada, inclusive, uma junta espírita para tentar desvendar o caso, sem que esta tivesse obtido algum resultado favorável.
Até que... Tendo sido chamados todas as mulheres residentes na Pensão Antoninha e sua proprietária, estas, após demorado interrogatório, acabaram por confessar que haviam organizado um truque por questões de amantes, com o fim de amedrontar uma das mulheres da pensão.
Segundo ainda declararam as referidas mulheres às autoridades, não as supunham que o fato tomasse o vulto que tomara, motivo esse que as amedrontou, obrigando-as a não revelar a verdade logo que foi dado o alarme publicamente.
Estava, pois, desvendado o mistério que tanto preocupara e chamara a atenção pública.  

João espanca a Rita

         Na madrugada do dia 31 de janeiro de 1936, João Machado, em estado de embriaguês, penetrou na Pensão Antoninha para espancar a mulher Rita Gonçalves da Costa, com quem mantivera relações.
         Aos gritos de Rita, acudiram outras moradoras da referida pensão, que trataram de avisar a polícia sobre o que estava ocorrendo.
         A polícia compareceu e fez com que Machado abandonasse o local, intimando-o a comparecer, naquele mesmo dia, à Delegacia de Polícia.
         O homem, porém, estava firmemente disposto a mimosear Rita e tanto assim, que logo que a polícia se afastou da Pensão Antoninha, Machado ali voltou e começou a espancar “heroicamente” a indefesa mulher.
         Desta vez, no entanto, o valente foi trancafiado em uma das celas do 1º posto policial.


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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Tratamento de imagens: Bruna Detoni


9 comentários:

  1. Existe o prédio ou o local onde era a Pensão Antoninha hoje?

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    1. Meu caro Paulo José, é possível que exista, mas não tenho ideia de onde fique dada a troca de números ocorrida mais de uma vez. Grato pela consulta. Abraço.

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    1. Meu caro Anônimo, não tenho ideia de onde seja, atualmente, o prédio. Abraço.

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  3. À Rua Voluntários, quadra entre as Ruas Felix da Cunha e Gonçalves Chaves, no prédio de nº 162, existia uma pensão de mulheres conhecida por Pensão da Antoninha.

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  4. É bem provável que seja a mesma pensão. Abraço.

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  5. Parabéns pela compilação. Provavelmente a famosa pensão era onde hoje é o Edifício Magnus (Voluntários da Pátria, 692), pois este fica na esquina com a Félix da Cunha. Em um dos trechos fala que o quintal da pensão dava para o quintal de uma residência na Félix da Cunha, o que me fez concluir isso, já que na outra esquina fica um sobrado muito antigo que já existia nos anos 30, inclusive um tio-avô meu residiu nesse sobrado.
    E a Pensão da Turca, na Cassiano? Conheceste?

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  6. Meu caro Anônimo, acredito que tuas informações estão corretas e passaram a enriquecer o texto sobre a Pensão. A pensão da Turca que conheci na adolescência, embora o "leão de chácara" não tenha me deixado entrar, pois decerto achou que eu não teria dinheiro para gastar ali, no que ele estava certo, ficava na Curva da Morte, ou mudou da Cassiano pra lá ou vice-versa. Grande abraço, e grato por suas importantes e preciosas intervenções.

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    1. Fico feliz em contribuir! Aproveito a oportunidade para parabenizar pelo blog. Sou um grande apreciador das histórias da Velha Pelotas. Sábado o assunto das pensões aqui tratado será objeto das conversas que tenho com meus tios no Café Aquário, hehehe. Grande abraço! Rodrigo Simões Lopes Peixoto.

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