As fábricas de louça de barro de Pelotas
. A.F. Monquelat
Em dezembro de 1885, o jornal Correio Mercantil divulgou
uma minuciosa estatística sobre as indústrias e profissões existentes em
Pelotas, onde podemos encontrar o registro da existência de 3 fabricantes de
“louça de barro”.
Neste mesmo ano, quando da visita da Princesa Isabel a esta
cidade, o jornalista Maximino Serzedello, que acompanhou a comitiva,
descrevendo a visita e citando estabelecimentos que tomou conhecimento da
existência ou visitou, nos diz a certa altura do relato que poderia citar
muitas outras fábricas ou casas importantes em Pelotas, como fossem: “(...); a
olaria e fábrica de louças diversas do Sr. M. Paulo Loureiro; (...).”
É bastante provável que a olaria e fábrica de louças citadas
pelo jornalista imperial seja aquela a que se refere o jornal Correio Mercantil
de 22 de dezembro de 1875, quanto então se tratava de fundar “entre nós” um
estabelecimento destinado ao fabrico de louça de barro de toda a qualidade.
Dizia o repórter, na ocasião, ter visto amostra de alguns
objetos que haviam servido de experiência e que em coisa alguma eram inferiores
aos que provinham de Porto Alegre ou da Bahia.
O barro era completamente vermelho, consistente, de um
tinir agradável e com a útil propriedade de filtrar a água.
Desde que existisse a matéria-prima em grande quantidade e
nas condições apropriadas, argumentava o jornalista, a questão restringia-se em
conseguir “artistas” que se dedicassem a semelhante trabalho, e esses, estava
ele informado, existiam em Pelotas e possuiam as necessárias habilitações.
Restava então que o proprietário da fábrica não esmorecesse
em seu propósito, certo de que, no seu entender, teria todo o apoio e
compensação por seus esforços.
Outra das fábricas existentes e registradas, tanto pelo
jornalista da comitiva imperial quanto pela estatística sobre as indústrias e
profissões do ano de 1885, era a estabelecida à rua São José [atual rua General
Teles] nº 20, de propriedade do francês Elie Boulard, estabelecido em Pelotas
desde o ano de 1881.
Nos compartimentos da casa onde o Sr. Boulard instalara sua
fábrica, havia em depósito vários produtos de sua fabricação, tais como talhas
de diversos feitios: para água, moringas, quartinhas, garrafas, copos, vasos;
enfim, toda a variedade de louça de barro feita ao torno.
A fundo da fábrica, em dois galpões, estavam dois fornos
grandes para queimar louça.
Na época, ano de 1884, não conseguindo dar vazão às
encomendas, tratava o Sr. Boulard de construir outro forno, maior que os que
até então possuía.
Em outro galpão, estava a oficina onde havia quatro tornos,
de madeira, para fabricar louça, movidos a pé. Em cada torno, trabalhava um
operário.
Era tal a perfeição de seus produtos que os negociantes
vendiam-nos como se fossem oriundas das fábricas baianas ou porto-alegrenses, o
que levou o Sr. Boulard a marcar todos os objetos fabricados em seu
estabelecimento industrial, conforme vemos na ilustração deste artigo, para que
assim pudesse o público identificá-los, evitando ser ludibriado.
Marca usada pelo Sr. Boulard em seus produtos |
Trabalhavam no estabelecimento seis operários; e seu
proprietário já havia encomendado para a Europa uma máquina especial para
amassar o barro.
Aquela operação, considerada difícil na época, era feita à
força de braços.
O Sr. Boulard residia no Império há dez anos e, segundo o
jornalista que o havia entrevistado, era um industrial que merecia a atenção do
povo pelotense.
E, por último, a fábrica de louças de barro instalada à rua
Paysandu [atual Barão de Santa Tecla] nº 5, de propriedade dos Srs. João Lopes
Ferreira Duarte e Antônio Lopes Ferreira Duarte, desde o ano de 1888.
A fábrica, fundada em 1879, empregava dez operários, e o
seu trabalho, que era de sol a sol, consumia 50 arrobas de barro por dia.
Era o barro, conforme a natureza do produto que se
desejasse, fino ou comum tanto vermelho quanto branco ou preto.
O barro fino, procedente do Passo das Pedras, era desde o
momento de sua chegada lançado em um tanque com água, onde se tornava “a goma
do barro”. Esta passava para outro tanque, voltando à água ao primeiro tanque.
Uma vez depositado, secava nas telhas em que era recolhido.
Só estaria pronto depois que lhe fosse retirado os caroços que pudessem restar,
a entrar para o cilindro, onde era sovado até ficar bem macio.
O barro comum, oriundo da Costa do Arroio Pelotas, entrava
nos tanques para ser bem misturado com o branco e o preto, caldeado e dali era
levado ao cilindro pelo qual, assim como o fino, passava duas vezes.
O barro então preparado era reunido em pilhas, cuja umidade
era conservada por meio de panos molhados, que eram jogados sobre ele, que
estava sempre em condições de ser manuseado sobre os tornos, tocados com grande
velocidade, onde recebia todas as formas que lhes quisessem dar os operários
encarregados daquele serviço.
Era bastante admirável tal trabalho, todo manual, e
surpreendente a uniformidade que apresentavam todos os objetos, como se tivesse
saído de uma máquina, tal a precisão dos detalhes.
Havia também na fábrica formas de gesso, para trabalhos de
maior complexidade. Possuía a fábrica, em atividade, 4 máquinas.
Depois de secarem, durante o espaço de 8 dias no inverno e
3 no verão, os artigos fabricados eram levados ao forno, dividido em dois
compartimentos, onde demoravam regularmente 36 horas cozinhando.
No intervalo entre uma e outra cozedura, os que exigiam complemento na fabricação eram vidrados.
Dizia um dos jornalistas que havia visitado a fábrica Lopes
Duarte & Irmão que era inumerável a quantidade de produtos ali fabricados,
alguns de delicado e fino gosto, além da perfeição de detalhes, e bem acabado
remate, com mais de 60 tipos diversos contidos no seu catálogo, adaptado a
todas as necessidades domésticas, além de adornos, brinquedos, etc.
Teve ainda o jornalista a oportunidade de ver algumas
amostras dos trabalhos em preparo, podendo ele afirmar que não havia no mercado
nem poderiam vir do exterior artigos tão bem acabados em elegância e perfeição.
As vendas eram feitas por atacado e a varejo, contando como
principal mercado, das suas transações em alta escala, a cidade do Rio Grande,
além de quase todas as localidades do interior do Estado.
Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F.
Monquelat
Revisão de texto: Jonas
Tenfen
postagem: Bruna Detoni
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