quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019


Mistérios de Pelotas: o homem do chapéu cinzento


A.F. Monquelat
        
        Entre os últimos dias do mês de dezembro do ano de 1934 e os primeiros do mês de janeiro de 1935, a Vila Fonseca esteve alarmada com o fato que ficou conhecido como o do “homem do chapéu cinzento”.
       A Vila Fonseca, situada à rua Marechal Floriano nº 368, pouco além da Usina Elétrica, viu-se de um momento para outro objeto de uma ocorrência que se tinha tornado na preocupação constante dos habitantes da referida vila, que passavam as noites intranquilos, sob a impressão de uma constante ameaça.
       Antes de vermos o fato, vejamos o que era a Vila Fonseca: uma habitação coletiva, construída em sentido transversal à rua Marechal Floriano e composta de 26 casas. Assim, como as demais habitações desse gênero existentes em Pelotas, a Vila Fonseca, além da falta de higiene e total ausência de conforto, à  noite mergulhava na mais profunda escuridão.
    E era nesse cenário, pouco ou nada agradável, que vinha acontecendo uma visita inquietante, pelo menos, há quinze dias.
    Uma visita que, por volta da meia-noite fazia, com que os habitantes da Vila Fonseca fossem despertados por fortes encontrões dado nas portas e janelas dos fundos de suas moradias.
     Quase todas as casas já tinham sido visadas pelo misterioso notívago.
     Vários moradores da Vila, ao ouvirem o barulho dos encontrões, corriam ao fundo da moradia e, abrindo uma porta ou janela, viam um vulto de chapéu cor de cinza que, com incrível agilidade, saltava o muro que dava para uma barraca de couros, que existia na rua Marechal Floriano, desaparecendo nas trevas.
O  mais curioso: no quintal da barraca de couros existia um cão feroz.
    Pois bem, esse cão nem sequer dava sinal de existir e, entretanto, ele ali estava para fazer guarda, em virtude de sua ferocidade.
   Outras vezes, o homem de chapéu cor de cinza, ao ser pressentido, subia para o telhado, como se fosse um gato, e correndo em direção aos fundos da Vila, tomava destino ignorado.
      A Vila Fonseca, como é fácil imaginar, era habitada por pessoas pobres, na maioria famílias que trabalhavam para viver.
    Que pretenderia, o misterioso visitante noturno? Roubar? Arriscar a vida, arrombando casas que sabia serem habitadas por pessoas que nada de valor possuíam?
         Era, realmente, um acontecimento muito estranho.
     Segundo a imprensa, o mistério do homem do chapéu cinzento     cabia à polícia desvendar, pois somente assim, voltaria novamente a reinar a calma na Vila Fonseca.
       Intrigada com o acontecimento, resolveu a reportagem de um dos jornais da cidade investigar o caso dirigindo-se para o local e, por volta das 22 horas, já na Vila Fonseca começou a entrevistar os moradores. Todos se mostravam apreensivos, em especial as famílias.
       Um dos moradores com o qual conversou a reportagem, contou que, na quarta-feira, daquela semana, resolveu levar o fato ao conhecimento da polícia.
      Dirigiu-se, para isso ao Sr. Capitão Cesar Brisolara, subprefeito, que, após ter ouvido o relato das misteriosas ocorrências, prometeu mandar, à noite, investigar o local.
      Tal como prometera, o Sr. Subprefeito, às 23 horas, para o local enviou três policiais.
       Estes, porém, segundo os moradores informaram, tiveram antes de qualquer coisa, o cuidado de tornarem notada a sua presença.
         Para tal, conversavam em voz alta, tanto na frente dos prédios quanto nos fundos.
   Depois, resolveram os referidos soldados fazer um reconhecimento do terreno que ficava nos fundos da Vila, o que deixou os habitantes na expectativa e com o ouvido atento.
         De repente, ouviu-se o estampido de um tiro.
     Como não foi ouvido um segundo estampido, os moradores julgaram que os policiais tivessem morto, ou pelo menos, ferido o homem do chapéu cinzento.
      Decorrido alguns minutos chegaram os policiais ao local das habitações. Dirigindo-se um deles a um grupo de pessoas que, ansiosamente os aguardava, disse:
         - Ouviram? Vimos um vulto, nas trevas, que procurava fugir e sem perder a calma, um dos nossos companheiros sacou do revólver e atirou...era um cachorro...
       Após o acontecido e antes da meia-noite, os policiais, alegando afazeres no posto policial, retiraram-se; prometeram, contudo, regressar por volta das duas horas da madrugada.
       No entanto, até a hora em que lá esteve a reportagem do jornal, que ocorreu dois dias depois, os policiais ainda não haviam regressado.
        Segundo informaram os moradores, momentos após a retirada dos policiais, o misterioso visitante forçou a porta dos fundos de uma das casas, desaparecendo, em seguida, como das outras vezes.
      Dizia um dos jornalistas tratar-se de um caso que a polícia precisava investigar, pois o homem do chapéu cinzento bem poderia ser um gatuno.
       Fosse lá o que fosse o que não deixava dúvida era que os habitantes da Vila viviam alarmados durante a noite, e que o caso precisava ter um fim.
         Cuidasse o Sr. Subprefeito pessoalmente do caso, acreditava o jornalista que em pouco tempo o caso seria desvendado, pois o homem do chapéu cinzento seria identificado e os habitantes da Vila Fonseca estariam livres do pesadelo que há quinze dias lhes vinha perturbando a tranquilidade.

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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
 Revisão do texto e Postagem: Jonas Tenfen

2 comentários:

  1. Cibis, esse caso assim como tantos outros de natureza semelhante, pelo visto não foi resolvido, pois a imprensa parou de se ocupar do mesmo, já acostumada com a quantidade de casos insolúveis em Pelotas.

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