quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Graf Zeppelin: a grande aeronave sob o céu de Pelotas





Revista O Cruzeiro de 1930 registra a primeira viagem do Graf Zeppelin pelo Brasil.


         A primeira viagem do “charuto alemão”, como foi apelidada a aeronave Graf Zeppelin, foi em voo experimental com destino final no Rio de Janeiro, dia 22 de maio de 1930.
         Devido ao alto custo das passagens, algo em torno de 32.000 reais, somente pessoas muito ricas da época viajavam pela aeronave. Dentre os brasileiros a voar pelo Zeppelin estavam o presidente Getúlio Vargas e o compositor Villa Lobos.
         Em apenas três dias, o Graf Zeppelin conduzia os passageiros de continente a continente, através do Atlântico Meridional, viajando-se nele com a mesma comodidade e segurança como em qualquer outro meio de locomoção da época.
         Até então, mais de 80.000 pessoas haviam viajado nos dirigíveis alemães. Somente o Graf Zeppelin havia percorrido naqueles últimos anos mais de 750.000 quilômetros, nas suas viagens aos trópicos, às terras árticas, através dos oceanos e ao redor do mundo.

O Zeppelin a caminho do Sul
         Dia 28 de junho de 1934, às 14h30, o dirigível alemão chegou ao Rio de Janeiro e em ótimas condições.
         Com a aeronave desenvolvendo uma velocidade média de 100 a 110 quilômetros por hora, o percurso Rio-Porto Alegre levou cerca de 13 a 14 horas.

O dirigível em Porto Alegre
         Por volta das 14 horas do dia 29 de junho de 1934, passou o Zeppelin por Porto Alegre. Por mais de quinze minutos, fez evoluções sobre a cidade debaixo da curiosidade popular. Ao passar sobre o palácio do governo, deixou cair uma mensagem de saudação ao general Flores da Cunha.
         Os jornais da capital do Estado, haviam enviado o seguinte telegrama com o propósito de conseguir que aquela grande e bela aeronave alemã cruzasse os ares de Porto Alegre: “Comandante do Graf Zeppelin – Recife (via Western) – A imprensa de Porto Alegre, interpretando a aspiração da população da capital do Rio Grande do Sul, apela para o alto espírito do bravo comandante, no sentido de voar, possivelmente durante o dia, sobre a nossa capital por ocasião da viagem a Buenos Aires. Os jornais gaúchos esperam de vossa fidalguia  a satisfação de tais desejos visto o povo estar ansioso por conhecer a majestosa aeronave, sob o vosso competente comando. Saudações cordiais – A Federação, Correio do Povo, Diário de Notícias, Jornal da Manhã, Jornal da Noite, Edição, Deutsche Zeitung e La Nuova Italia”.

De Porto Alegre a Pelotas
         Segundo informações fornecidas pela Companhia Telefônica Rio-Grandense aos jornais da cidade, o possante aparelho, a majestosa e grande aeronave alemã Graf Zeppelin, fabricação da Luftschiffban-Zeppelin, empresa fundada pelo conde Ferdinand Von Zeppelin, que nos conste, percorria tal itinerário, por onde passou às 14h20 pela Barra do Ribeiro, às 14h50 por Tapes, às 15h10 por Camaquã, às 15h35 pelo Passo da Pacheca e às 15h52 por São Lourenço, em direção a cidade de Pelotas.


Zeppelin sobrevoando a cidade de Pelotas


A passagem do Graf Zeppelin por Pelotas
         Desde cedo, as ruas encheram-se de milhares de pessoas, ávidas para assistirem a passagem do maravilhoso engenho da indústria aérea alemã, por nossa cidade, rumo à capital portenha.
E assim, em meio ao frenesi e crescente expectativa, os minutos foram transcorrendo até que, precisamente, às 16 horas e 40 minutos, surgiu uma mancha prateada, muito longe, era o monumental Graf Zeppelin, que aos poucos foi se aproximando, do lado nordeste, região da Luz, no céu da cidade de Pelotas.
Tão logo a aeronave foi avistada, numerosos grupos que ocupavam as posições mais altas, tais como terraços de prédios particulares e associativos, mirantes, torres dos templos, chaminés de fábricas, bem como a multidão que estava pelas ruas, foram todos tomados uma grande euforia, que era aumentada pelos apitos das indústrias e usinas, buzinas dos automóveis e sirenes dos jornais.
Foram instantes eletrizantes esses, quando, vagarosa e brilhante aos raios solares, a majestosa aeronave alemã, deslizou sobre a cidade, com o barulho dos seus quatro motores em evolução.
O grande pássaro prateado trazia na sua “cauda de peixe”, em duas faces, a cruz suástica, o emblema político que, na época, “dominava a grandiosa nação alemã, chefiada pelo Sr. Adolfo Hitler”, segundo palavras de um dos jornais da cidade.
O Zeppelin cruzou sobre a cidade, tendo desaparecido rumo a Buenos Aires às 17 horas, aonde chegou no dia seguinte, sendo visitado pelo presidente Justo, pelo ministério e corpo diplomático.
Mais de 20.000 pessoas solicitaram permissão para ingressar no Campo de Mayo, para verem a possante aeronave, que podia transportar 60 pessoas, sendo 40 tripulantes e 20 passageiros. O Zeppelin media 200 metros de comprimento.
Em uma das vitrinas da Pelaria Europeia, foram expostas duas “magníficas fotografias” apanhadas pela Foto-Artística, dirigida pelos fotógrafos Srs. Pedro Bevilaqua e Waldemar Mitzcun, documentando a passagem por esta cidade, do Zeppelin.  Essas fotografias foram tomadas do mirante do Clube Caixeiral.
Os Srs. Pedro Bevilaqua e Waldemar Mitzcun, proprietários da Foto-Artística, eram sucessores da antiga Foto-Lanzeta e eram os fotógrafos oficiais das seguintes instituições: Diário de Notícias, para a zona sul do Estado; Jóquei Clube de Pelotas; Ginásio Gonzaga; Clube Diamantinos, Ginásio Pelotense; e, Grêmio dos Alunos do Conservatório de Música.



Graf Zeppelin impressiona a população de Pelotas. Abaixo o atual prédio do Banco Itaú.





Na esquerda da imagem, a Alfaiataria Caprio.



        
Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense e arquivo do autor
Imagens: acervos de Eduardo Arriada e A.F. Monquelat
Revisão de texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni       

4 comentários:

  1. Que acontecimento hein! Registrado para a posteridade. Parabéns pela matéria!

    ResponderExcluir
  2. matéria espetacular. compatível com seu criador. Parabéns. Obrigado

    ResponderExcluir
  3. Forte demonstração do poder alemão; industrial, tecnológico e militar, na época.Porém, os motivos dessas viagens do Zeppelin, ao sul da América do Sul, me deixam curioso por entender esse interesse, em viagens aéreas pela América. Com certeza Getúlio Vargas foi claramente apoiador do nazismo à época: muito ferro brasileiro supriu as industrias alemãs nesse período, que só cessou com o Brasil se posicionando a favor dos aliados em 1942.Por fim, o que quero entender é se devo entender esse fato admirado, maravilhado ou desconfiado?
    Adorei a matéria. Me fez pensar sobre o imperialismo europeu e norte americano, que diga-se de passagem, sempre frequente nas sociedades, até hoje. Espero não ser mal interpretado. Só quis ir além do fato acontecido sobre nossas cabeças e que tem algo mais do que "maravilhoso".

    ResponderExcluir