quarta-feira, 1 de março de 2017

Eusébios: três feiticeiros da pequena África pelotense
 (parte 2)


         Cândida e sua filha Brandina acusaram Eusébio de praticar a feitiçaria e de viver à custa da exploração feita a pobres mulheres, que moravam em sua companhia.

        
      Acrescentaram elas que o dinheiro ganho por aquelas mulheres, em seus empregos, era por ele usufruído.
         Segundo as duas “pretas”, a casa de Eusébio Silva era um verdadeiro “museu de feitiçaria”.
         De acordo com informações colhidas pelo jornalista, na casa de Eusébio, que ficava no centro da cidade, realizavam-se seguidamente batuques, os quais, não raro, acabavam em grosso sarilho.
         Cândida tinha mais duas filhas menores, Palmira e Maria Emília, as quais se achavam em companhia de Eusébio.
         Em seguida que as filhas de Cândida estiveram no 1º posto, este comunicou a denúncia ao 3º posto, a cuja circunscrição estava afeto o caso.
         Na Rua General Argolo nº 456, estiveram dois guardas do 3º posto, para tomarem conhecimento do fato.
         Cândida foi intimada a prestar depoimento naquele posto policial.
         No dia seguinte ao ocorrido, voltava o jornal A Opinião Pública a trazer  novas notícias sobre o fato. Informava que o “preto Eusébio”, morador à Rua Andrade Neves nº861 e contra quem a “infeliz preta” Cândida Silva se queixara de tê-la espancado brutalmente, fora preso pelo Sr. tenente Francisco Vernetti, subintendente do 1º distrito.
         Na residência de Eusébio, foi encontrado um verdadeiro arsenal de bugigangas que serviam, segundo o jornal, para confirmar as informações recebidas de que “aquele indivíduo exercia a feitiçaria”.
         Entre esses objetos achavam-se dois bonecos, aos quais Eusébio dava o nome “de São Cosme e São Damião”, além de outro, maior, chamado Santo Antônio.
         O Sr. tenente Vernetti apreendeu tais objetos, fazendo recolher o “feiticeiro” ao 3º posto.
         Dali, foi Eusébio removido para o 6º posto policial, no Areal.
         São Cosme e São Damião que o valessem, finalizava o jornalista.
         Aos 20 dias do mês de dezembro de 1912, o jornal a Opinião Pública referindo-se a Eusébio, denominando-o de curandeiro manque [fracassado, charlatão], dizia que este estava se tornando cada vez mais célebre pelas suas façanhas, arvorando-se em curandeiro.
         Informava a matéria, que há algum tempo, enfermava no lugar conhecido como Passo do João Padre, pouco além do Monte Bonito, a mulher do pardo Paulo de tal, empregado na turma de operários da estrada da colônia Santo Antônio.
         Agravando-se os padecimentos da referida mulher, Paulo trouxe-a para a cidade, a fim de consultar um médico.
         Aqui chegando, Paulo foi levado à casa do “patife curandeiro”, o qual lhe pediu a importância de 40$000 [réis], uma cabrita e uma ovelha, bem gordas, dizendo que com o sangue destes animais ele faria o remédio para curar a enferma.
         Paulo tratou, em seguida, de providenciar, conseguindo com grande sacrifício a importância, a cabrita e a ovelha.
         Eusébio, segundo o jornalista, naturalmente guardou os bichos para festejar o Natal, realizando em sua casa batuques, que tanto incomodavam a vizinhança.
         Depois de ingerir o remédio fornecido pelo “explorador”, a infeliz mulher” começou a manifestar sintomas de loucura.
         O fato foi levado ao conhecimento do capitão Francisco Vernetti, subintendente, que mandou intimar Eusébio, que viajara para Rio Grande.
         Com aquele ocorrido, dizia o jornal, era o terceiro ou quarto fato grave, cometido por Eusébio, a quem aquela autoridade deveria dar o castigo merecido.
         A última notícia encontrada sobre o nosso personagem, nos vem através do jornal O Rebate de 21 de dezembro de 1917, na qual sob a denominação de “Queixa”, nos é informado que o Sr. Gabriel Barcellos, residente à Rua Marquês de Caxias [atual Rua Santos Dumont] nº 570, apresentara, naquele dia, queixa na delegacia de polícia contra o “curandeiro” Eusébio Silva dizendo que, tendo “há dias” falecido um homem de “cor preta”, que morava próximo a sua residência, o qual durante a sua enfermidade fora cliente do “referido curandeiro” e este, como uma formalidade da sua “maneira de tratar”, despiu o cadáver e jogou todas as vestes deste, bem como roupa de cama, colchão e travesseiros, em um poço ali existente, e de onde todos os moradores daquelas imediações se abasteciam de água.
         Dias depois, por acaso, descobriram “essas imundícies” no citado poço, pois, tendo caído um balde ali e alguém tratando de apanhá-lo, ao invés de pegar o balde começou a recolher as vestes que pertenceram ao cliente de Eusébio, vindo então a descobrirem o ocorrido.
         Já era muita falta de escrúpulo, dizia o jornal.
                                                                                                      
                                                                                                                                                                                                     Continua...
                           
        
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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
 Revisão do texto: Jonas Tenfen

Postagem: Bruna Detoni

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