sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Simões Lopes Neto no cinema, e em outras homenagens?


                                                                                     A.F.Monquelat





         Em 27 de novembro de 1949, a imprensa de Pelotas divulgava que seria vertido para a tela “o famoso conto Manantial”; isso porque a viúva do “extraordinário” regionalista, João Simões Lopes Neto recebera a visita do diretor de cinema Alberto Ruschel, o qual depois de ler o Contos Gauchescos, tomou o avião e veio parar aqui, em Pelotas.
         Em rápidas palavras, disse o diretor de cinema que viera à cidade conhecer a viúva de Simões Lopes Neto, “Vamos filmar Manantial, extraordinário conto do maior regionalista rio-grandense”.
         Alberto Ruschel, naquela ocasião, era um dos diretores da Horizonte Produções Cinematográficas Limitada, empresa que, nos primeiros meses do ano seguinte ao daquela visita, estaria realizando este projeto, com material importado da Inglaterra, diretamente dos famosos estúdios de J. Arthur Rank, “o magnata do celuloide britânico”.
         Ruschel contou seus planos, mostrou ao jornalista a adaptação do conto, que na tela teria o nome de A Rosa e o Pântano e fez, ainda, uma série de revelações que o jornalista prometeu divulgar “brevemente”.
         Durante a visita, Alberto Ruschel colheu “preciosos elementos” para o filme, que deveria rodar depois de março, deixando em Pelotas, segundo o jornalista que o entrevistara, interessantes dados que seriam divulgados em reportagens a serem publicadas “por estes dias”.
         Dias depois da visita do diretor de cinema, pela manhã Alberto Ruschel, esteve novamente, segundo a reportagem, com a viúva do “grande escritor”. Foi uma palestra que durou mais de duas horas, toda com recordações, com “Dona Velha”, lembrando o passado do companheiro, mostrando manuscritos, narrando fatos. O “magnífico artigo” de Mozart Victor Russomano esteve em pauta, principalmente o trecho em que o articulista afirmava que Simões Lopes Neto nunca fora tão falado “como nos últimos tempos”.
         Considerando o fato da visita do cineasta ter ocorrido em novembro de 1949, é provável que o conto escolhido, Manantial, tenha sido selecionado por Ruschel após a leitura da edição crítica dos Contos Gauchescos e Lendas do Sul, publicada naquele mesmo ano, 1949, pela Editora Globo.
         Tenha ou não tal escolha ocorrido em consequência da leitura daquela reedição dos Contos Gauchescos e Lendas do Sul, é preciso levar em consideração que o nome e a memória de João Simões Lopes Neto, tanto antes, bem como depois de sua morte, nunca deixou de ser reverenciada, tanto em sua terra natal, Pelotas, como em outras cidades do Rio Grande do Sul, para tanto basta folharmos os jornais de então para constatarmos tal fato.
         Pegamos, aleatoriamente, um dos inúmeros jornais de Pelotas, que provariam a afirmação que ora fazemos, o Folha do Povo, edição de 13 de junho de 1939, onde podemos ler o seguinte: “Na data de amanhã, em 1916, nesta cidade, falecia o ilustre pelotense cujo nome, caro a todos nós, encima estas linhas.
         João Simões Lopes Neto, de tradicional família desta terra [Pelotas], foi um escritor que muito fez, com talento e dedicação, pela grandeza e pela glória da terra do seu berço.
         Espírito culto, grandemente investigador, jornalista de mérito, patriota ardente, ele criou entre nós a Semana Centenária, instituição de alto civismo, para que as gerações novas pudessem ir cultuando, através as etapas dos anos, as tradições do seu ninho e da sua gente.
         Redigiu, com carinho, a Revista do 1º Centenário, publicação farta das mais preciosas achegas, históricas e sociais, para a festa secular da sua amada terra.
         Escreveu Lendas do Sul e Contos Gauchescos, duas Bíblias imortais do Pampa, que fazem de João Simões Lopes Neto o maior regionalista, sem emulo, do nosso pago.
         A evocação do seu nome, passantes vinte e três anos sobre sua morte, é um imperativo da nossa admiração e da nossa saudade.
         Que ele cante entre nós, pela garganta de Blau, como o rapsodo eterno do seu estilo imortal – a plena aleluia olímpica e sagrada, da nossa literatura, da nossa tradição e da nossa saudade”.
         Dois outros fatos vêm ao nosso encontro, com o propósito de reforçar o prestígio do qual gozava João Simões Lopes Neto, não somente em sua terra natal, mas em todo o Rio Grande do Sul. O primeiro deles, fomos encontrar no jornal A Opinião Pública de 24 de junho de 1939, sob o título de “Ereção de herma Simões Lopes Neto”, que a família do saudoso pelotense Simões Lopes Neto recebera, naquele dia, o seguinte telegrama: “Exma. Família Simões Lopes Neto. Pelotas. Tenho honra levar conhecimento vossencias proposta Dr. Faria Corrêa, Academia de Letras do Rio Grande do Sul deliberou ereção em Pelotas herma inesquecível Simões Lopes Neto tanto honrou terra natal. João C. de Freitas – Presidente”.
         Em resposta ao telegrama recebido, foi expedido o seguinte despacho: “Exmo. Sr. João C. de Freitas – Presidente Academia Letras Rio Grande – Porto Alegre. Família saudoso João Simões Lopes Neto representada pessoas viúva e irmãs acusa recebimento honrosa comunicação ereção Pelotas herma memória pranteado extinto, sob patrocínio dessa emérita Academia virtude proposta Dr. Faria Corrêa, sensibilizada profundamente externa sentimentos gratidão imorredoura, nobre gesto. Saudações respeitosas – Francisca Meirelles Simões Lopes, Silvana Lopes Mendes, Maria Izabel Lopes Barcelos”.   
         O segundo fato pode ser visto através das páginas do Diário Popular de 1943 com a chamada de: “Monumento a João Simões Lopes Neto”, onde é dito que, há muito tempo, cogitava-se em Pelotas render uma homenagem à memória de um dos mais destacados vultos da literatura gaúcha, que muito colaborara para o progresso de Pelotas através de sua dedicação e valor.
         Tratava-se do pelotense João Simões Lopes Neto a quem os seus conterrâneos cumprindo os seus deveres de gratidão pela maneira digna com que elevara o nome de sua terra natal, há vários anos, tencionavam erguer um monumento, perpetuando o “seu nome ilustre”.     



   
     
“Por ser conhecido em todo o Brasil” [destaque nosso] como homem de cultura e talento literário, a homenagem que lhe seria prestada, “talvez dentro de poucos dias”, não seria somente uma demonstração sincera do reconhecimento do povo de Pelotas, mas também uma distinção que traduziria o pensamento de todos os brasileiros que o conheceram “por intermédio de suas obras”.
         Prosseguindo, dizia a matéria que naquele sentido, o Diretório Regional da Liga de Defesa Nacional sediado em Porto Alegre, dirigira ao núcleo de Pelotas um fonograma redigido nos termos seguintes: “Tomando conhecimento do fonograma recebido, a diretoria da Liga de Defesa Nacional, núcleo de Pelotas, tomou as devidas providências para que seja concretizada essa velha e justa aspiração”.
         Ao que parece, e considerando a não existência, pelo menos até os dias de hoje, da herma ou de outro qualquer monumento em memória de João Simões Lopes Neto, nos resta voltarmos ao filme cujo nome, segundo Ruschel, seria A Rosa e o Pântano. Desta forma, encontramos em uma revista de distribuição nacional, A Cena Muda, nº 2, de 10 de janeiro de 1950, pg. 10, a seguinte informação: “Alberto Ruschel adaptou para o cinema, o conto de Simões Lopes Neto, o Manantial, numa versão cem por cento cinematográfica, dentro de um clima de intensidade dramática que virá a converter o argumento numa produção de primeira ordem. O “script” leva o nome de “A Rosa e o Pântano.”
         Acreditamos que o projeto não tenha passado do roteiro para a tela, pois tampouco encontramos outra referência que não a da revista A Cena Muda.




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 Fontes de pesquisa: Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV e Biblioteca Nacional- RJ
Imagens: Biblioteca Nacional- Rio de Janeiro, e Arquivo digital do autor
Postagem e tratamento de imagem: Bruna Detoni

Revisão do texto: Jonas Tenfen       

3 comentários:

  1. Parabéns! Mais uma prova que existe a história oficial, adotadas e criadas por elementos que se dizem da elite intelectual e donos da verdade e a história à ser reescrita. Apoiado meu amigo.

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  2. Parabéns! Mais uma prova que existe a história oficial, adotadas e criadas por elementos que se dizem da elite intelectual e donos da verdade e a história à ser reescrita. Apoiado meu amigo.

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  3. É, realmente, parece que sobre a história da cidade e seus personagens, ainda há um longo a caminho à trilhar. Abraço, meu caro Sergio.

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