Em 27 de novembro de 1949, a imprensa de Pelotas divulgava
que seria vertido para a tela “o famoso conto Manantial”; isso porque a viúva
do “extraordinário” regionalista, João Simões Lopes Neto recebera a visita do
diretor de cinema Alberto Ruschel, o qual depois de ler o Contos Gauchescos,
tomou o avião e veio parar aqui, em Pelotas.
Em rápidas palavras, disse o diretor de cinema que viera à cidade
conhecer a viúva de Simões Lopes Neto, “Vamos filmar Manantial, extraordinário
conto do maior regionalista rio-grandense”.
Alberto Ruschel, naquela ocasião, era um dos diretores da
Horizonte Produções Cinematográficas Limitada, empresa que, nos primeiros meses
do ano seguinte ao daquela visita, estaria realizando este projeto, com
material importado da Inglaterra, diretamente dos famosos estúdios de J. Arthur
Rank, “o magnata do celuloide britânico”.
Ruschel contou seus planos, mostrou ao jornalista a
adaptação do conto, que na tela teria o nome de A Rosa e o Pântano e fez, ainda, uma série de revelações que o
jornalista prometeu divulgar “brevemente”.
Durante a visita, Alberto Ruschel colheu “preciosos
elementos” para o filme, que deveria rodar depois de março, deixando em
Pelotas, segundo o jornalista que o entrevistara, interessantes dados que
seriam divulgados em reportagens a serem publicadas “por estes dias”.
Dias depois da visita do diretor de cinema, pela manhã
Alberto Ruschel, esteve novamente, segundo a reportagem, com a viúva do “grande
escritor”. Foi uma palestra que durou mais de duas horas, toda com recordações,
com “Dona Velha”, lembrando o passado do companheiro, mostrando manuscritos,
narrando fatos. O “magnífico artigo” de Mozart Victor Russomano esteve em
pauta, principalmente o trecho em que o articulista afirmava que Simões Lopes
Neto nunca fora tão falado “como nos últimos tempos”.
Considerando o fato da visita do cineasta ter ocorrido em
novembro de 1949, é provável que o conto escolhido, Manantial, tenha sido
selecionado por Ruschel após a leitura da edição crítica dos Contos Gauchescos
e Lendas do Sul, publicada naquele mesmo ano, 1949, pela Editora Globo.
Tenha ou não tal escolha ocorrido em consequência da leitura
daquela reedição dos Contos Gauchescos e Lendas do Sul, é preciso levar em
consideração que o nome e a memória de João Simões Lopes Neto, tanto antes, bem
como depois de sua morte, nunca deixou de ser reverenciada, tanto em sua terra
natal, Pelotas, como em outras cidades do Rio Grande do Sul, para tanto basta
folharmos os jornais de então para constatarmos tal fato.
Pegamos, aleatoriamente, um dos inúmeros jornais de Pelotas,
que provariam a afirmação que ora fazemos, o Folha do Povo, edição de 13 de
junho de 1939, onde podemos ler o seguinte: “Na data de amanhã, em 1916, nesta
cidade, falecia o ilustre pelotense cujo nome, caro a todos nós, encima estas
linhas.
João Simões Lopes Neto, de tradicional família desta terra
[Pelotas], foi um escritor que muito fez, com talento e dedicação, pela
grandeza e pela glória da terra do seu berço.
Espírito culto, grandemente investigador, jornalista de
mérito, patriota ardente, ele criou entre nós a Semana Centenária, instituição de alto civismo, para que as
gerações novas pudessem ir cultuando, através as etapas dos anos, as tradições do
seu ninho e da sua gente.
Redigiu, com carinho, a Revista
do 1º Centenário, publicação farta das mais preciosas achegas, históricas e
sociais, para a festa secular da sua amada terra.
Escreveu Lendas do Sul
e Contos Gauchescos, duas Bíblias
imortais do Pampa, que fazem de João Simões Lopes Neto o maior regionalista,
sem emulo, do nosso pago.
A evocação do seu nome, passantes vinte e três anos sobre
sua morte, é um imperativo da nossa admiração e da nossa saudade.
Que ele cante entre nós, pela garganta de Blau, como o
rapsodo eterno do seu estilo imortal – a plena aleluia olímpica e sagrada, da
nossa literatura, da nossa tradição e da nossa saudade”.
Dois outros fatos vêm ao nosso encontro, com o propósito de
reforçar o prestígio do qual gozava João Simões Lopes Neto, não somente em sua
terra natal, mas em todo o Rio Grande do Sul. O primeiro deles, fomos encontrar
no jornal A Opinião Pública de 24 de junho de 1939, sob o título de “Ereção de
herma Simões Lopes Neto”, que a família do saudoso pelotense Simões Lopes Neto
recebera, naquele dia, o seguinte telegrama: “Exma. Família Simões Lopes Neto.
Pelotas. Tenho honra levar conhecimento vossencias proposta Dr. Faria Corrêa,
Academia de Letras do Rio Grande do Sul deliberou ereção em Pelotas herma
inesquecível Simões Lopes Neto tanto honrou terra natal. João C. de Freitas –
Presidente”.
Em resposta ao telegrama recebido, foi expedido o seguinte
despacho: “Exmo. Sr. João C. de Freitas – Presidente Academia Letras Rio Grande
– Porto Alegre. Família saudoso João Simões Lopes Neto representada pessoas
viúva e irmãs acusa recebimento honrosa comunicação ereção Pelotas herma
memória pranteado extinto, sob patrocínio dessa emérita Academia virtude
proposta Dr. Faria Corrêa, sensibilizada profundamente externa sentimentos
gratidão imorredoura, nobre gesto. Saudações respeitosas – Francisca Meirelles
Simões Lopes, Silvana Lopes Mendes, Maria Izabel Lopes Barcelos”.
O segundo fato pode ser visto através das páginas do Diário
Popular de 1943 com a chamada de: “Monumento a João Simões Lopes Neto”, onde é
dito que, há muito tempo, cogitava-se em Pelotas render uma homenagem à memória
de um dos mais destacados vultos da literatura gaúcha, que muito colaborara
para o progresso de Pelotas através de sua dedicação e valor.
Tratava-se do pelotense João Simões Lopes Neto a quem os
seus conterrâneos cumprindo os seus deveres de gratidão pela maneira digna com
que elevara o nome de sua terra natal, há vários anos, tencionavam erguer um
monumento, perpetuando o “seu nome ilustre”.
“Por ser conhecido em
todo o Brasil” [destaque nosso] como homem de cultura e talento literário,
a homenagem que lhe seria prestada, “talvez dentro de poucos dias”, não seria
somente uma demonstração sincera do reconhecimento do povo de Pelotas, mas
também uma distinção que traduziria o pensamento de todos os brasileiros que o
conheceram “por intermédio de suas obras”.
Prosseguindo, dizia a matéria que naquele sentido, o
Diretório Regional da Liga de Defesa Nacional sediado em Porto Alegre, dirigira
ao núcleo de Pelotas um fonograma redigido nos termos seguintes: “Tomando
conhecimento do fonograma recebido, a diretoria da Liga de Defesa Nacional,
núcleo de Pelotas, tomou as devidas providências para que seja concretizada
essa velha e justa aspiração”.
Ao que parece, e considerando a não existência, pelo menos
até os dias de hoje, da herma ou de outro qualquer monumento em memória de João
Simões Lopes Neto, nos resta voltarmos ao filme cujo nome, segundo Ruschel,
seria A Rosa e o Pântano. Desta forma,
encontramos em uma revista de distribuição nacional, A Cena Muda, nº 2, de 10
de janeiro de 1950, pg. 10, a seguinte informação: “Alberto Ruschel adaptou
para o cinema, o conto de Simões Lopes Neto, o Manantial, numa versão cem por
cento cinematográfica, dentro de um clima de intensidade dramática que virá a
converter o argumento numa produção de primeira ordem. O “script” leva o nome
de “A Rosa e o Pântano.”
Acreditamos que o projeto não tenha passado do roteiro para
a tela, pois tampouco encontramos outra referência que não a da revista A Cena
Muda.
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Fontes de pesquisa: Bibliotheca Pública
Pelotense-CDOV e Biblioteca Nacional-
RJ
Imagens: Biblioteca
Nacional- Rio de Janeiro, e Arquivo digital do autor
Postagem e tratamento
de imagem: Bruna Detoni
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
Parabéns! Mais uma prova que existe a história oficial, adotadas e criadas por elementos que se dizem da elite intelectual e donos da verdade e a história à ser reescrita. Apoiado meu amigo.
ResponderExcluirParabéns! Mais uma prova que existe a história oficial, adotadas e criadas por elementos que se dizem da elite intelectual e donos da verdade e a história à ser reescrita. Apoiado meu amigo.
ResponderExcluirÉ, realmente, parece que sobre a história da cidade e seus personagens, ainda há um longo a caminho à trilhar. Abraço, meu caro Sergio.
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