quinta-feira, 10 de novembro de 2016


O  pecado (parte 9)*

pelotasdeontem.blogspot.com.br

                                                                                                         

            A.F. Monquelat

 

Polícia de heróis

Disse o redator do Diário de Pelotas de 16 de março de 1886 que a polícia da cidade era uma polícia de heróis.

Não havia dia em que a imprensa, aquela moralizada e honesta        , não registrasse um fato que pusesse em relevo a energia e grande devotamento consagrado à causa pública pelas autoridades ordeiras e sensatas da situação.

Ainda no domingo, dia 13, praticaram elas mais uma das suas heroicas façanhas.

Eis o caso, como foi relatado ao jornalista, sem acréscimo algum.

Por volta das 17 horas daquele domingo, foi à redação do Diário de Pelotas, com o braço todo cortado e vertendo grande quantidade de sangue, o Sr. Marcelino de Souza, e contou ao jornalista que, estando ele conversando com uma dessas Dulcineias do demi-monde, à janela, chegou-se a ele o soldado Elpídio, que começou a injuriar-lhe, querendo proibir a tal conversação.

Alfredo, porém, não fez caso das ameaças do tal soldado e continuou a conversação, sendo novamente insultado, pois dizia Elpídio, que aquela mulher era sua amásia e, portanto, usando de seus direitos, não tolerava que conversasse com semelhante indivíduo.

Então, o soldado, vendo o pouco caso que Alfredo dava às suas ordens, puxou enfurecido do chanfalho e, sem mais nem menos, começou a desferir pranchadas no indefeso Alfredo deixando-lhe o braço em frangalhos.

Nesse ínterim, Bernardino Lemos Xavier, que estava numa taverna próxima, foi em socorro do seu amigo, outra vítima do furor bélico do soldado, saindo também esse com alguns talhos na cabeça.

Saindo dali, Alfredo foi à casa do Sr. delegado major Macedo queixar-se da arbitrariedade cometida por um representante da ordem.

O Sr. major Macedo, porém, a nada atendeu, e disse textualmente; “que era pouco, deviam ter-lhe quebrado a cabeça”.

À vista disto, Alfredo retirou-se pacificamente e foi pedir ao jornalista que publicasse aquele ato de bravura das autoridades, que ele jornalista, evitava comentar.
 

Ferimento grave em casa de meretriz

Foi recolhido à cadeia civil José Maria Ribeiro, acusado como autor de ferimentos graves feitos no bolieiro Alfredo Camilo Moreira.

Sabedor de diversas versões quanto ao ocorrido, o jornalista optou por duas: a primeira era a de que o agressor agira em legítima defesa; a outra dizia que Camilo fora provocado por José Maria.

O fato dera-se em casa da meretriz Filomena, mulher de Camilo, moradora à Rua l6 de Julho [Dr. Cassiano], onde Camilo, apesar de separado dela, ia frequentemente.

José Maria achava-se armado de uma faca, com a qual fez os ferimentos em Camilo, enquanto este portava um arreador [espécie de chicote comprido para tocar os animais].

Os ferimentos foram considerados graves, pois um deles atingira o pulmão direito e outro um dos braços.

No dia 20 de abril, começaria o inquérito policial, assistido pelo Dr. Francisco de Paulo Azevedo e Souza como advogado, e Serafim Antônio Alves como procurador do acusado.


Boletim policial

Lê-se no “Boletim Policial”, publicado pelo Diário de Pelotas em 1º de maio de 1886, que haviam chegado a alguns dias de Taquarembó (Uruguai) e alojado-se, no Hotel São Pedro, “três filhas de Jerusalém” [acreditamos que o jornalista tenha usado num sentido figurado, como sinônimo de prostitutas].

Uma italiana de avançada idade, e as duas outras, ainda moças, de boa aparência.

A polícia, porém, percebendo tratar-se de uma cafetina, dia 30 de abril, à noite, através do Sr. subdelegado de polícia, dirigiu-se ao referido hotel e intimou-as a mudarem de terra.

Ficou, entretanto, uma delas depositada em casa do Sr. Manuel Joaquim Dias Coelho, a qual disse chamar-se Maria Mendá, sendo natural de Taquarembó, de onde viera, a pouco de mês e meio como servente da cafetina, recebendo 3 pesos por mês.

Era a menina, presumia o jornalista, uma inocente prestes a ser arrastada ao abismo da prostituição.

Resultado: as três “filhas de Jerusalém” embarcaram no trem e seguiram viagem em direção à Bagé.

E assim, a autoridade policial, “desafrontou a sociedade”.

A autoridade de Bagé foi comunicada, para que, por sua vez repelisse de lá tais “agentes da corrupção e imoralidade”.
 

Os “maléficos” bailes públicos

Apenas começados os bailes públicos, o Diário de Pelotas já chamava a atenção para os resultados maléficos que estavam acontecendo no salão da Rua São Miguel [15 de Novembro].

No domingo último, por motivos que a decência mandava calar, disse o jornalista ter acontecido naquele salão uma grande discórdia onde foram desembainhados facões, adagas e outras armas proibidas, cujo resultado foi o de saírem ferido um filho do Sr. Francisco José Dias e o filho de Manoel Soveral.

Se a polícia, em vez de andar tratando de aberturas de casas de jogo, para de elas tirarem proveito nas lutas eleitorais, pro a criar amor ao vício e ao ócio, prestaria um grande serviço à humanidade que tinha, com aqueles bailes públicos, perturbados seu sossego e a sua tranquilidade.
 

Entretenimento de vagabundos

À porta da casa da meretriz Paulina de tal, à Rua Marquês de Caxias [atual Santos Dumont], foram presos cinco vagabundos que se entretinham agredindo e espancando a quem por ali passasse.

Na cadeia, foram acalmar o furor.
 

Por causa dos cabelos da china

Às 21 horas do dia cinco de dezembro de 1886, na casa de negócio do Sr. Anacleto Ferreira, do outro lado do arroio Santa Bárbara, deu-se uma desordem.

Achava-se ali a china Angelina, amante do negro Serafim Durão, a qual foi por este inesperadamente agarrada pelos cabelos e jogada ao chão.

Tão brutal procedimento chamou a atenção e intervenção de outras pessoas ali presentes; porém, Francisco de tal, filho de Evaristo, tomou a defesa de Serafim e, de facão em punho, fez dois ferimentos no braço esquerdo de Manoel Fernandes Louro, caixeiro de Anacleto.

Compareceu ao local o subdelegado de polícia Moncorvo Júnior que, coadjuvado pela polícia particular, conseguiu apenas prender o negro Serafim.

O ferido recebeu os primeiros socorros do Sr. João da Silva Silveira, proprietário da Farmácia Popular.

O Sr. Dr. Rasgado também compareceu ao local e, examinando os ferimentos, a um deles julgou bastante grave.
 

Uma cafetina na área

Chegou ao conhecimento do Diário de Pelotas, dia 13 de janeiro de 1887, que à Rua General Osório, uma mulher que se empregava em seduzir meninas de menor idade, com o criminoso fim de tirar delas proveito em seu benefício.

Em sua companhia, denunciava o jornal, estava uma dessas infelizes que pela sua pouca experiência, caíra em poder daquela cafetina.

Às autoridades, o Diário de Pelotas recomendava o fato.

 


                   Continua...

 

 

____________________________________________________________*
Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado

Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV

Postagem: Bruna Detoni

Seleção de imagem: Janaína Vergas Rangel

Revisão do texto: Jonas Tenfen      

Nenhum comentário:

Postar um comentário