O
pecado (parte 9)*
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A.F.
Monquelat
Polícia de heróis
Disse o redator
do Diário de Pelotas de 16 de março
de 1886 que a polícia da cidade era uma polícia de heróis.
Não havia dia em
que a imprensa, aquela moralizada e honesta ,
não registrasse um fato que pusesse em relevo a energia e grande devotamento consagrado
à causa pública pelas autoridades ordeiras
e sensatas da situação.
Ainda no
domingo, dia 13, praticaram elas mais uma das suas heroicas façanhas.
Eis o caso, como
foi relatado ao jornalista, sem acréscimo algum.
Por volta das 17
horas daquele domingo, foi à redação do Diário
de Pelotas, com o braço todo
cortado e vertendo grande quantidade de sangue, o Sr. Marcelino de Souza, e
contou ao jornalista que, estando ele conversando com uma dessas Dulcineias do
demi-monde, à janela, chegou-se a ele o soldado Elpídio, que começou a
injuriar-lhe, querendo proibir a tal conversação.
Alfredo, porém,
não fez caso das ameaças do tal soldado e continuou a conversação, sendo
novamente insultado, pois dizia Elpídio, que aquela mulher era sua amásia e,
portanto, usando de seus direitos, não tolerava que conversasse com semelhante
indivíduo.
Então, o
soldado, vendo o pouco caso que Alfredo dava às suas ordens, puxou enfurecido do chanfalho e, sem mais nem menos,
começou a desferir pranchadas no indefeso Alfredo deixando-lhe o braço em
frangalhos.
Nesse ínterim,
Bernardino Lemos Xavier, que estava numa taverna próxima, foi em socorro do seu
amigo, outra vítima do furor bélico do soldado, saindo também esse com alguns
talhos na cabeça.
Saindo dali,
Alfredo foi à casa do Sr. delegado major Macedo queixar-se da arbitrariedade
cometida por um representante da ordem.
O Sr. major
Macedo, porém, a nada atendeu, e disse textualmente; “que era pouco, deviam
ter-lhe quebrado a cabeça”.
À vista disto,
Alfredo retirou-se pacificamente e foi pedir ao jornalista que publicasse
aquele ato de bravura das
autoridades, que ele jornalista, evitava comentar.
Ferimento grave em casa de meretriz
Foi recolhido à
cadeia civil José Maria Ribeiro, acusado como autor de ferimentos graves feitos
no bolieiro Alfredo Camilo Moreira.
Sabedor de
diversas versões quanto ao ocorrido, o jornalista optou por duas: a primeira
era a de que o agressor agira em legítima defesa; a outra dizia que Camilo fora
provocado por José Maria.
O fato dera-se
em casa da meretriz Filomena, mulher de Camilo, moradora à Rua l6 de Julho [Dr.
Cassiano], onde Camilo, apesar de separado dela, ia frequentemente.
José Maria
achava-se armado de uma faca, com a qual fez os ferimentos em Camilo, enquanto
este portava um arreador [espécie de chicote comprido para tocar os animais].
Os ferimentos
foram considerados graves, pois um deles atingira o pulmão direito e outro um
dos braços.
No dia 20 de
abril, começaria o inquérito policial, assistido pelo Dr. Francisco de Paulo
Azevedo e Souza como advogado, e Serafim Antônio Alves como procurador do
acusado.
Boletim policial
Lê-se no
“Boletim Policial”, publicado pelo Diário
de Pelotas em 1º de maio de 1886,
que haviam chegado a alguns dias de Taquarembó (Uruguai) e alojado-se, no Hotel São Pedro, “três filhas de
Jerusalém” [acreditamos que o jornalista tenha usado num sentido figurado, como
sinônimo de prostitutas].
Uma italiana de
avançada idade, e as duas outras, ainda moças, de boa aparência.
A polícia,
porém, percebendo tratar-se de uma cafetina, dia 30 de abril, à noite, através
do Sr. subdelegado de polícia, dirigiu-se ao referido hotel e intimou-as a
mudarem de terra.
Ficou,
entretanto, uma delas depositada em casa do Sr. Manuel Joaquim Dias Coelho, a
qual disse chamar-se Maria Mendá, sendo natural de Taquarembó, de onde viera, a
pouco de mês e meio como servente da cafetina, recebendo 3 pesos por mês.
Era a menina,
presumia o jornalista, uma inocente prestes a ser arrastada ao abismo da
prostituição.
Resultado: as
três “filhas de Jerusalém” embarcaram no trem e seguiram viagem em direção à
Bagé.
E assim, a
autoridade policial, “desafrontou a sociedade”.
A autoridade de
Bagé foi comunicada, para que, por sua vez repelisse de lá tais “agentes da
corrupção e imoralidade”.
Os
“maléficos” bailes públicos
Apenas começados
os bailes públicos, o Diário de Pelotas
já chamava a atenção para os resultados maléficos que estavam acontecendo no
salão da Rua São Miguel [15 de Novembro].
No domingo
último, por motivos que a decência mandava calar, disse o jornalista ter
acontecido naquele salão uma grande discórdia onde foram desembainhados facões,
adagas e outras armas proibidas, cujo resultado foi o de saírem ferido um filho
do Sr. Francisco José Dias e o filho de Manoel Soveral.
Se a polícia, em
vez de andar tratando de aberturas de casas de jogo, para de elas tirarem
proveito nas lutas eleitorais, pro a criar amor ao vício e ao ócio, prestaria
um grande serviço à humanidade que tinha, com aqueles bailes públicos,
perturbados seu sossego e a sua tranquilidade.
Entretenimento de vagabundos
À porta da casa
da meretriz Paulina de tal, à Rua Marquês de Caxias [atual Santos Dumont],
foram presos cinco vagabundos que se entretinham
agredindo e espancando a quem por ali passasse.
Na cadeia, foram
acalmar o furor.
Por causa dos cabelos da china
Às 21 horas do
dia cinco de dezembro de 1886, na casa de negócio do Sr. Anacleto Ferreira, do
outro lado do arroio Santa Bárbara, deu-se uma desordem.
Achava-se ali a china Angelina, amante do negro Serafim
Durão, a qual foi por este inesperadamente agarrada pelos cabelos e jogada ao
chão.
Tão brutal
procedimento chamou a atenção e intervenção de outras pessoas ali presentes;
porém, Francisco de tal, filho de Evaristo, tomou a defesa de Serafim e, de
facão em punho, fez dois ferimentos no braço esquerdo de Manoel Fernandes
Louro, caixeiro de Anacleto.
Compareceu ao
local o subdelegado de polícia Moncorvo Júnior que, coadjuvado pela polícia
particular, conseguiu apenas prender o negro Serafim.
O ferido recebeu
os primeiros socorros do Sr. João da Silva Silveira, proprietário da Farmácia
Popular.
O Sr. Dr.
Rasgado também compareceu ao local e, examinando os ferimentos, a um deles
julgou bastante grave.
Uma cafetina na área
Chegou ao
conhecimento do Diário de Pelotas,
dia 13 de janeiro de 1887, que à Rua General Osório, uma mulher que se empregava em seduzir meninas de menor
idade, com o criminoso fim de tirar delas proveito em seu benefício.
Em sua
companhia, denunciava o jornal, estava uma dessas infelizes que pela sua pouca
experiência, caíra em poder daquela cafetina.
Às autoridades,
o Diário de Pelotas recomendava o
fato.
Continua...
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Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Postagem: Bruna Detoni
Seleção de imagem:
Janaína Vergas Rangel
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
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