Desordem e prisões na bodega
Despacho de Madame
Dia 12 de
dezembro de 1885, à noite, na famosa bodega denominada Despacho de Madame, à Rua 16 de Julho [Dr. Cassiano], houve grande
desordem entre diversos indivíduos que ali se encontravam em completa orgia,
segundo informava o jornal Rio-Grandense.
A polícia, que
em tudo metia o bedelho, conduziu os
turbulentos para a cadeia, para ali esfriarem um pouco o ardor bélico.
A proprietária
da tal bodega, Tereza Lopes, italiana, e que também exercia a profissão honrosa de cafetina, foi presa
e recolhida à cadeia, por desobedecer às ordens da autoridade policial.
Seria, dizia o
jornalista, um grande serviço prestado à moralidade se o Sr. major delegado de
polícia mandasse fechar aquela casa, verdadeira cova de caco [covil de ladrões].
Um foco de imoralidades
Foi necessário,
dizia o Diário de Pelotas, que dia 22
de dezembro de 1885, às 2 horas da madrugada, se desenvolvesse uma grande
desordem em uma bodega à Rua 16 de Julho [atual Dr. Cassiano], entre as de São
Miguel [15 de Novembro] e General Vitorino [Anchieta], para a polícia tomar
conhecimento das cenas indecorosas como as que diariamente presenciava a
vizinhança daquele foco de imoralidades.
Viviam ali
quatro mulheres que reuniam ,todas as noites, certa malta de vagabundos para
praticarem cenas que a decência mandava calar.
Às autoridades,
a imprensa havia solicitado o fechamento ou a mudança de local daquela bodega,
e elas permaneciam surdas àquelas solicitações; no entanto, a imprensa
continuaria aguardando providências enérgicas e ativas por parte das autoridades policiais.
Por causa de uma demi-monde
Sem que houvesse
dia em que a imprensa moralizada e honesta não registrasse um fato que
destacasse a energia e o grande devotamento consagrados à causa pública
pelas autoridades ordeiras e sensatas da situação, foi a observação
feita pelo Diário de Pelotas antes de
noticiar que naquele domingo estas autoridades haviam praticado mais uma das
suas heroicas façanhas.
O fato foi que
por volta das 5 horas da tarde, chegara ao escritório do jornal, com o braço
todo cortado e vertendo grande quantidade de sangue, o Sr. Alfredo Marcelino de
Souza, que contou o seguinte:
Estando ele a
conversar com uma daquelas dulcineias do demi-monde, à janela, chegou até ele o
soldado Elpídio e começou a injuriá-lo e proibindo aquela conversa.
Alfredo, porém,
não fez caso das injúrias e ameaças do Elpídio e continuou,a conversação
voltando a novamente ser caluniado e ouvindo que aquela mulher era sua amante
e, portanto, ele usando de seus direitos não admitia que conversasse com
semelhante indivíduo.
Vendo Elpídio o
pouco caso dado às suas palavras e ordens que Alfredo fazia, puxou enfurecido
do chanfalho e, sem mais nem menos, começou a descarregar pranchadas no
indefeso Alfredo, deixando-lhe o braço completamente lesionado.
Naquele ínterim,
Bernardino Lemos Xavier, que estava em uma taverna próxima, foi em socorro do
amigo, outra vítima do furor bélico de Elpídio, saindo também com alguns talhos
profundos na cabeça.
Saindo dali,
Alfredo foi à casa do Sr. major Macedo queixar-se da arbitrariedade cometida
por um representante da ordem.
O Sr. major
Macedo, porém, a nada atendeu e disse, textualmente, “que era pouco, deviam é
ter-lhe quebrado a cabeça”.
À vista daquilo,
Alfredo retirou-se pacificamente e foi pedir na redação do jornal que dessem
conhecimento ao público daquele ato de bravura.
O jornalista
encerrava dizendo que o ocorrido se passara tal qual era por ele narrado.
Meretriz se suicida com tiro no
peito
Pelotas acordou
dia 12 de janeiro de 1886 com o rumor de uma notícia espantosa.
A meretriz Maria
José Pereira, moradora à Rua Voluntários da Pátria, esquina Gonçalves Chaves,
natural de Bagé, mulher ainda jovem, apareceu morta, completamente vestida e
penteada, tendo sobre o coração um profundo ferimento de bala.
As
circunstâncias que rodearam esse caso eram as mais misteriosas possíveis, e
geraram várias versões na imprensa da época.
Tendo o
jornalista do Correio Mercantil
assistido ao inquérito na secretaria de polícia, narrou-o dizendo que, por
volta das 20 horas da noite de 11 de janeiro de 1886, regressaram de um passeio
aos Campos Elíseos as meretrizes Maria José pereira e Teodora Lopes dos Santos
e que moravam juntas na casa e rua já citadas.
Pouco depois,
apareceu por lá Diogo Ricardo Higgins, bem como um empregado da companhia Great Atraction.
Este se retirou
com Teodora Lopes, deixando Maria José Pereira com Higgins.
Pouco depois, o
Sr. Higgins saiu e chegou o Sr. José Pedro Duarte, que não passou do corredor
do prédio, isto antes das 22 horas, hora em que ele retirou-se.
Não se sabendo o
que aconteceu depois disso.
Certo é que
entre 23 e 24 horas, o Sr. José Pedro Duarte, segundo o seu depoimento, foi
chamado por uma mulher vizinha de Maria José; dizia ela que a sua companheira
se tinha suicidado, disparando um tiro.
Respondeu o Sr.
Duarte que não tinha coisa alguma que ver com semelhante ocorrência e que
fossem chamar um médico, mas, por generosidade, saiu ele também para chamar o
Sr. Dr. João Chaves Campelo, e foram ambos para casa de Maria José,
encontrando-a morta.
As diversas
testemunhas ouvidas foram contestes em suas afirmativas.
Não conheciam
inimigos de Maria José, e quase todas as pessoas envolvidas disseram que
ouviram muitas vezes a finada dizer que: “se fosse abandonada se suicidaria”.
Sarilho entre damas da vida solta
Às 22 horas do
dia 16 de fevereiro de 1886, houve um alarido infernal na Rua General Neto.
Cinco damas da vida solta esmurravam-se com
todas as forças do furor e vociferavam quantos termos delicados aquela patuleia
[ralé] tinha no bojo do seu vocabulário.
Atraído pela
desordem, um sargento da polícia pública não conseguiu prendê-las, por se terem
asilado em um estabelecimento de jogo, que constava funcionar por ali.
Descoberto o autor do furto das
joias da meretriz
Noticiava o
jornal Rio-Grandense de 16 de março
de 1886 que o autor do furto que há dias fora feito das joias da meretriz
Virginia havia sido descoberto pelo subdelegado de polícia, Sr. Manoel Rosa.
As joias foram
encontradas em mãos de um tal João
Antônio dos Santos, que declarou havê-las comprado a um desconhecido, pela
quantia de dez mil réis.
Pois que ficasse
de férias o desconhecido e ficasse bem conhecido
o “honrado” Santos, que estava estabelecido,
segundo o jornalista, à Rua Andrade Neves.
Continua...
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Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Postagem: Bruna Detoni
Seleção de imagem:
Janaína Vergas Rangel
Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
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