O
pecado (parte 5)*
pelotasdeontem.blogspot.com.br
A.F. Monquelat
Coisas
da polícia
Às duas horas da
madrugada do dia 13 de fevereiro de 1884, dois praças da seção policial
arrombaram a porta do botequim de Pedro Canderini, à Rua General Osório, e dali
tiraram à força Gabriela Ferreira da Silva, inquilina daquela bodega, e a
arrastaram para fora da cidade, “cevando nela seus instintos brutais”.
Nesta façanha, foi
coadjuvante um ex-praça da polícia.
O proprietário do
botequim ficou bastante machucado por ter-lhe caído sobre um pé a porta, na
ocasião de ser arrombada.
Constava que, sabendo do
ocorrido, o Sr. delegado de polícia mandou recolher ao xadrez os autores da
façanha.
Padeiro
espanhol, por causa de uma cocote, tenta o suicídio.
O fato foi noticiado
como mais uma loucura e um crime provenientes das exigências do coração, dos
devaneios da fantasia ou do desarranjo das faculdades mentais. Manoel Malhão,
espanhol, 30 anos, profissão padeiro, entretinha relações amorosas com certa
“deidade do mundo equívoco” com residência à Rua Santo Antônio [Miguel
Barcelos]. (Este santo bem poderia ter evitado a desgraça se fosse mais
milagrosamente casamenteiro.)
Viviam um para o outro
e pareciam ter encontrado a suprema felicidade.
De repente... ela, por
suas conveniências ou por qualquer outra circunstância, bateu a linda plumagem,
como lá se dizia, deixando abandonado o quarto em que residia e entregando a
chave ao seu proprietário.
Manoel deu pelo caso
quando voltou para casa, no horário de costume.
Imaginem que de
torturas, que de contrariedades, que de alucinações não sofreu Manoel ao ver
deserto o ninho de seus amores.
Não hesitou um
instante.
A paixão tem dessas
resoluções extremas.
Muniu-se de uma porção
de verde-paris [Verde-paris foi um dos primeiros "inseticidas" a ser
utilizado. Ele é lembrado como um dos exemplos mais emblemáticos de um inseticida
sintético inorgânico, e tem uma história bastante peculiar] e de uma garrafa de
cachaça.
Saltou o muro dos
fundos da casa onde gozara de seus gratos instantes de felicidade, sentou-se ao
portal do quarto, que pertencera à fugitiva, e, para vingar-se dela, do seu
desprezo, ingeriu o verde-paris e a cachaça também.
Tudo isto aconteceu por
volta da meia-noite do dia 18 de fevereiro de 1884, quando a lua despontava no
firmamento.
Pobre e infortunado
Manoel.
Que tormentos não
passou no terrível instante de sentir a vida resvalar pela vala comum.
Não era, porém, chegada
a sua hora, como diria um fatalista.
A cachaça salvou-o pois
é um excelente contra veneno.
Dia 19, pela manhã, foi
encontrado quase morimbundo.
O delegado de polícia
soube da ocorrência e o mandou transportar à Santa Casa de Misericórdia.
Talvez escapasse da
morte, embora fosse grave o seu estado.
Se assim acontecesse,
comentava o jornalista, seria mais um mártir do amor e menos uma vítima das
cocotes [prostitutas].
No bolso do Sr. Malhão,
foi encontrada a seguinte carta, dirigida a ele mesmo: “Sr. Manoel Malhão. Peço
desculpas a meus amigos e conhecidos, e às Sras. Autoridades [peço que] não
tomem conta nisto porque, talvez, com o positivo será encontrado morto ou vivo,
envenenado pela minha própria mão. Peço desculpas à autoridade, e que não faça
caso nenhum, donde quer que eu seja achado. Pelotas, 18 de fevereiro de 1884”.
Preta,
louca, seminua, obscena e vagabunda
Aos 14 dias do mês de
março de 1884, o jornalista do A Nação chamava a atenção do Sr. Delegado de
polícia para uma infeliz “preta louca” que percorria as ruas da cidade, seminua
e proferindo obscenidades, inconsciente do que fazia.
Além de dar-se
diariamente um “espetáculo repugnante” perante o público, excitava a compaixão
pelo seu miserando estado.
Condoesse-se também
dela a autoridade, providenciando, de modo a fazer cessar “a vagabundagem da
infeliz alienada”, e prestaria assim um serviço à moralidade pública.
Rolo
na bodega da Rua General Osório
O jornal A Nação de 23
de maio de 1884 chamava a atenção do Sr. delegado de polícia para diversas
bodegas da Rua General Osório, onde continuamente se davam distúrbios, com
grave ofensa da moralidade pública.
Ainda na noite do dia
anterior houve forte baderna numa daquelas bodegas, e, depois de grossa
pancadaria ficou gravemente ferido, com uma facada, um indivíduo que se opôs a
que um tal João Alfaiate esfaqueasse uma meretriz que morava na tal bodega.
Não convinha que em uma
cidade como Pelotas repetissem-se diariamente aquelas cenas, por isso o jornal
apelava para o Sr. major Caldeira, esperando que este, com toda a energia,
pusesse um fim a tantos desmandos.
Cenas
escandalosas
Alerta Sr. Major
Delegado de polícia e tome providências para obstar a repetição das cenas
vergonhosas que estavam acontecendo na Rua Gonçalves Chaves, promovidas pela
meretriz Amélia da Cunha.
As certas horas da
noite agrupavam-se à porta daquela mulher alguns rapazolas e começava o
tiroteio de obscenidades, provocados por Amélia da Cunha.
A bem da moralidade
pública e em atenção às respeitáveis famílias que moravam nas proximidades
daquele local, pedia o jornalista do A Nação ao Sr. delegado de polícia que
pusesse fim a tais desmandos.
Atenção
para as imoralidades no antigo salão da Bixa
O jornalista do A
Nação, dia 23 de junho de 1884, chamava a atenção da autoridade policial para o
fato de os proprietários do antigo salão da Bixa, à Rua São Jerônimo [atual
Marechal Floriano], estarem programando bailes na sexta e sábado apesar de não
terem obtido licença da autoridade.
Sabia o jornalista que
para iludirem aquela formalidade, os bailes teriam o caráter de particulares,
mas as entradas seriam cobradas dentro do salão.
Para isto, chamava a
atenção do Sr. Major Delegado de Polícia que, sem dúvida alguma, não quereria
desaprovar publicamente o ato de moralidade praticado pelo seu digno suplente,
o Sr. tenente Alves Guimarães que, atendendo às reclamações da imprensa, cassou
terminantemente as licenças concedidas para aqueles bailes, “verdadeiros focos
de imoralidade”.
Samba
na bodega do porto
Na noite de 3 de agosto
de 1884, houve um samba [desordem, bagunça] numa bodega do porto da cidade;
onde costumavam reunir-se mulheres de “má vida” e ébrios, que ali praticavam
cenas da mais desenfreada devassidão.
Da desordem, resultou
sair ferido, com uma facada, um praça de linha, que fazia parte da guarda da
Mesa de Rendas, e que acudira em defesa do dono da bodega.
O autor do ferimento
foi um marinheiro conhecido por João Algarvio.
O jornalista do A Nação
chamava a tenção da polícia para aquela locanda [bodega, taberna, tasca].
Continua...
___________________________________________________
* Extraído do livro,
ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
Nenhum comentário:
Postar um comentário