sexta-feira, 21 de outubro de 2016

O pecado (parte 7)*

            
            A.F.Monquelat


Ó Antônio, não bulas com a dulcineia dos outros
O súdito português Antônio d’Oliveira, patrão do iate Oliveira 1º, estando dia 28 de maio, à noite no botequim São João, na Rua General Osório, foi preso pela polícia do Sr. Caldeira, em virtude de ter se dirigido a uma dulcineia, amante de um soldado.
No momento da prisão, o Sr. Oliveira fez algumas objeções, que bastaram para a polícia cair-lhe de espada, ferindo-o na cabeça.
A vítima do furor bélico dos soldados da polícia foi recolhida ao xadrez policial, donde saiu no dia seguinte ao meio-dia, por pedido de diversas pessoas.
Os autores da agressão “ficaram em santa paz”.
Encerrando a notícia dizia o jornalista que a polícia precisava ser policiada e indagava se aquele fato não era merecedor da intervenção do vice-consulado português?

Desordem na bodega da Clarinda
Dia 4 de junho de 1885, à noite, no porto da cidade, na bodega de uma tal Clarinda, bodega esta, que, segundo o jornalista do Rio-Grandense, há muito deveria estar fechada por ser um foco de vagabundos e desordeiros, deram-se diversos distúrbios, resultando sair ferido um indivíduo.
Avisado do ocorrido o Sr. delegado de polícia, que se encontrava no Teatro, mandou quatro praças de polícia prender os desordeiros; chegados os praças à tal bodega, estes prenderam dois indivíduos, indicados como autores das desordens e ferimentos.
Quando as praças vinham com os dois presos “para a cidade”, foram alcançadas e atacadas por vinte e tantos indivíduos, de diversas nacionalidades, que, armados de cacetes e pedras, conseguiram livrar os presos, depois de terem ferido duas das praças, que caíram sem sentidos.
Os soldados atacados foram José Maria da Silva, ficando com um grande ferimento na cabeça, e João Adriano, com um ferimento junto à fronte esquerda, atingindo o ouvido.
Os feridos foram medicados, à uma hora da noite, na farmácia de propriedade do Sr. João da Silva Silveira [Farmácia Popular].
Dos agressores, constava-se que também ficara ferido um “preto”, marinheiro.
Sabedor do fato o Sr. alferes Nuno de Macedo, comandante da polícia particular, seguiu para o porto com suas praças, porém já não encontrou os desordeiros.
Não era a primeira vez que na bodega da tal Clarinda se davam desordens daquela natureza; ali se jogava e se bebia até alta noite, sem que as autoridades policiais dessem a menor providência para coibir semelhantes abusos.
Entendia o jornalista ser o próprio delegado de polícia o responsável daquelas desbragadas orgias, que consentia que bodegas daquela espécie, na qual se dera a desordem, estivessem abertas, com ajuntamentos ilícitos, até fora de horas.
Usasse o Sr. delegado de polícia de toda a vigilância naquelas bodegas, que assim os crimes não se repetiriam com tanta assiduidade.


Orgia e sarilho

Às 23 horas do dia 22 de julho de 1885, em uns casebres juntos à venda do Sr. José Barun, à Rua Sete de Abril [atual D. Pedro II], houve grande sarilho entre diversos escravos e pessoas livres que estavam “em completa orgia”, resultando renhida briga.
Aparecendo a polícia particular e alguns praças da seção fixa, para apaziguarem os turbulentos, foram recebidos a ponta de facas e a cacetes.
A polícia, apesar da belicosa atitude dos turbulentos, conseguiu pôr em fuga alguns e desarmar a outros.
Entre os brigões, encontrava-se o “preto” Paulo, contratado do Sr. Joaquim da Silva Tavares, que saiu ferido, deixando na fuga o poncho e o chapéu.
Um praça da seção policial, ordenança do Sr. delegado de polícia, ficou bastante ferido.
A polícia particular, segundo o jornalista, prestara muito bons serviços, do contrário o conflito teria tomado grandes proporções.
O Sr. major delegado de polícia, tomando conhecimento do fato, daria as providências necessárias para a punição dos orgíacos briguentos.

Ferimento na bodega da Clarinda

Dia 26 de julho de 1885, na bodega da Clarinda de tal, no porto da cidade, mais ou menos ao meio-dia, o pardo Geminiano feriu gravemente com uma facada o pardo Júlio Joaquim Vieira, trabalhador na barraca do Sr. Fraeb.
O criminoso fugiu, e o ferido foi conduzido à Santa Casa de Misericórdia, onde ficou em tratamento.
Até o final da tarde do dia seguinte ao ocorrido, nenhuma autoridade havia tomado conhecimento do fato e, portanto, não se procedera ao auto de corpo delito, nem deram a menor providência para a captura do criminoso.
“Isto não se comenta”, foi a frase final da notícia.

Os cortiços do Sr. Barun, ou o Beco da Muquirana

Em matéria veiculada no Rio-Grandense de 10 de dezembro de 1885, diz aquele órgão de imprensa que os ilustres chefes de família, moradores das imediações dos casebres, por outra, das pocilgas de propriedade do Sr. Manoel Rodrigues Barun, à Rua Sete de Abril [atual D. Pedro II], há muito que pediam providências às autoridades policiais sobre os escândalos cometidos pelas devassas moradoras daquelas pocilgas que se embriagavam na taverna do Sr. Barun e praticavam cenas tão escandalosas, tão repugnantes, que as famílias viam-se na necessidade de fecharem suas janelas para não presenciarem os espetáculos dessas megeras.
Avisado que fora o Sr. Barun não só pelos chefes de família, como pelas autoridades policiais, para fazer retirar aquelas megeras de suas pocilgas, ele nenhum caso fez, e o escândalo continuou.
O subdelegado de polícia Sr. Manoel da Silva Rosa, escudado na lei, ordenou que os inquilinos do Sr. Barun se mudassem, o que fora cumprido.
Era falso, portanto, que aquela autoridade tivesse ameaçado de meter na cadeia as pessoas que fossem morar nos cortiços - pocilgas do Sr. Barun -; a verdade era que a autoridade em bem da moral pública, não consentia que continuassem os escândalos e as imoralidades cometidas diariamente naquele lugar, batizado pelo povo de Beco da Muquirana.
Os cortiços, como se lhes chamava o Sr. Barun, eram imundos e sem a menor higiene, e neles só tinham habitado o que havia de mais infame na última camada social, cujos moradores por diversas vezes tinham sido presos como desordeiros.
Não fazia muito tempo, por causa dos moradores daquelas pocilgas e dos ajuntamentos ilícitos na taverna do Sr. Barun, que sua esposa tivera a cabeça quebrada por um praça do contingente de linha; fato esse que se dera na rua, conforme o próprio Sr. Barun informara ao Sr. major Macedo, no Teatro Sete de Abril, e na mesma noite do ocorrido.
O Sr. Barun já entendia, portanto, que o subdelegado Rosa tinha procedência e razão em atender a reclamação dos chefes de família, seus vizinhos, em ordenar a mudança das megeras que moravam em seus cortiços, e que tantas imoralidades praticavam.



                   Continua...



____________________________________________________________             *Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV

Revisão do texto: Jonas Tenfen       

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