Há mulheres de má vida na bodega
O jornal A Nação em edição de 12 de novembro de
1884 comunicava à autoridade policial ter recebido denúncias de que em certa
locanda, além do Arroio Santa Bárbara e próximo à ponte, estavam acontecendo
cenas imorais.
Segundo a
denúncia, naquela bodega reuniam-se diversas mulheres de má vida exibindo-se
tão escandalosamente que as famílias que moravam na vizinhança viam-se coagidas
a retirarem-se das janelas para não presenciarem as mais torpes obscenidades.
Os vizinhos indignados...
À Rua 16 de
Julho [atual Dr. Cassiano] nº52, quadra entre as ruas Andrade Neves e São
Miguel [atual 15 de Novembro], em frente ao palacete do “honrado
industrialista” Sr. Joaquim da Silva Tavares, moravam umas mulheres alemãs,
mães e filhas, cujo comportamento irregular e altamente imoral muito estava
indignando as “pessoas pacatas e moralizadas”, que moravam por aquela
vizinhança.
Os Srs. Delegado
e Subdelegado de polícia já tinham sido avisados do comportamento daquelas
mulheres de má vida, porém não constava ao jornalista que tivessem dado providências
aquele fato.
Em todo o caso e
em nome dos “vizinhos indignados”, julgava o jornalista prestar um bom serviço
à moralidade pública, provocando as dignas autoridades policiais para porem fim
a tanto desaforo.
Policie-se a polícia
O estado de
desmoralização e desordem a que chegara a seção policial da cidade de Pelotas,
comandada pelo Sr. Major José Joaquim Caldeira, estava exigindo providências
das autoridades superiores da Província.
Os soldados da
seção, com raras exceções, eram indivíduos desclassificados e oriundos “da
última camada social para sentarem praça”.
Desordeiros por
profissão, em vez de serem garantidores da ordem e zelarem pela tranquilidade
pública, eram os primeiros a provocarem os cidadãos pacatos, levando as suas
provocações até as próprias autoridades policiais, desobedecendo as suas
ordens, contando sempre com a impunidade.
As queixas dos
agredidos pela polícia eram diariamente levadas ao conhecimento do comandante
da seção, porém, este, pelo amor que
tinha aos seus subordinados, não tomava a menor providência, e estes reincidiam
nos abusos, certos de que nada lhes aconteceria.
Dizia o
jornalista que no tempo em que eram comandados pelos enérgicos capitães Lopes,
Delfino e Casado, não se via a desmoralização “que hoje” se notava: os praças
da seção não eram encontrados, “como agora”, dançando nos botequins da Rua
General Osório e provocando os tropeiros por causa das dulcineias, que por ali frequentavam.
A polícia de
então, podia ser dito afoitamente, era um couto de ébrios e vagabundos, que
envergonhavam a civilizada cidade de Pelotas.
Passemos aos
fatos.
Na noite de
sábado (23.12.1884), a patrulha da Rua General Osório, a mando de uma mulher de
má vida, que morava em um botequim, espancou a chicote o súdito português José
Joaquim Ferreira de Castro. Aquele escandaloso fato fora presenciado por mais
de cem pessoas, e os agressores, que foram os soldados Elpídio e Artur, só
deixaram a sua vítima depois da chegada do “digno comandante” da polícia
particular.
Levado o
ocorrido ao conhecimento do Sr. Major Caldeira, este não deu a menor
importância e ficou impune um crime que “em outro lugar talvez fosse
severamente punido”.
Já no domingo à
noite, o mesmo soldado Elpídio, estando de patrulha na referida Rua General
Osório, permitiu que uma malta [bando] de seis indivíduos espancassem um
infeliz pardo que viera de Rio Grande naquele dia. Um cidadão, ao passar no
momento do espancamento, com aquiescência da polícia, reclamou contra o
procedimento desta, e foi desrespeitado e insultado “pelo célebre soldado
Elpídio”.
O cidadão
dirigiu-se ao Teatro e fez ciente ao comandante da seção Sr. Major Caldeira o
procedimento do seu comandado; o Sr. Major contentou-se, depois de findar o
espetáculo, a mandar chamar ao quartel o soldado Elpídio, que já estava a
paisano “dançando nos botequins”, e como Elpídio tivesse negado o ocorrido,
mandou-o continuar se divertindo.
Com vistas à polícia
Na Rua da
Constituição [atual Álvaro Chaves] havia uma bodega da parda Cecília, lugar em
que todas as noites davam-se desordens e cenas “tão repugnantes e imorais” que
as famílias moradoras nas circunvizinhanças privavam-se de chegar às janelas.
A polícia, se
fosse mais cumpridora de seus deveres, poderia dar um corretivo à tal Cecília,
e recomendar-lhe mais moralidade em sua bodega.
Alemães
enfrentam a polícia armados com achas de lenha
Domingo, 22 de
março, à meia noite, encontravam-se alguns alemães e diversas mulheres da “vida
virada” em grande algazarra e borracheira em uma bodega em frente ao Mercado,
quando, para a infelicidade dos pândegos, apareceu “a ativa polícia particular”
que fez dispersar os alegres fregueses.
Dois deles,
protestando contra o ato da polícia e armados de achas de lenha tentaram
opor-se à prisão, mas os praças da noturna não se intimidaram e prenderam os
filhos da pátria de Bismark, trancafiando-os a seguir no xadrez para curarem a
bebedeira.
Porém, segundo
os “alemães que se achavam no divertimento”, a coisa não fora bem assim como a
imprensa divulgara e, como forma de restabelecer a verdade dos fatos ocorridos
na “casa particular” em frente ao Mercado, e não bodega conforme, por mal informado dissera o jornal Onze de
Junho, alega alegaram que estavam diversas pessoas se divertindo na casa
particular de propriedade do Sr. Guilherme Riuster, com algumas senhoras
casadas e solteiras, e não da vida airada, quando apareceu a polícia particular
invadindo a casa, de espadas desembainhadas e ordenando que cessasse o
divertimento, ao que, incontinenti eles obedeceram; levou a polícia para o
quartel dois dos presentes, que estavam um pouco perturbados, mas que não
cometiam desordem e nem faltaram com o respeito aos praças.
Essa era a
verdade tal qual se passara. Não sabendo eles que era proibido divertirem-se
dentro da própria casa; porém, se a polícia assim o queria, paciência.
Para que não
houvesse engano, preveniam que o letreiro Hotel Izola & Caprera pertencia à
antiga casa, que havia ali antes, e não à presente.
“Louvores aos
alemães”.
A bodega da parda Cecília volta à
cena
Cecília,
proprietária da bodega da Rua Constituição [atual Álvaro Chaves], querendo
festejar o sábado de Aleluia, anunciou com estrepitar de foguetes e
embandeiramento um grande baile, que se realizou dia 5 de abril de 1885.
A polícia não
gostou da graça porque Cecília não tinha pago os devidos emolumentos, e quando
os convivas estavam no melhor dos prazeres, mandou encerrar o baile e intimou a
“dançarina” Cecília a comparecer no dia seguinte na secretaria da polícia, a
fim de receber o merecido castigo por sua ousadia
de dar baile sem o competente pagamento do imposto.
Continua...
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* Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
* Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
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