A.F.Monquelat
Dando continuidade ao nosso trabalho sobre o mundo dos
cortiços, e a origem de grande parte de seus moradores, destacamos aqui a
matéria veiculada no Correio Mercantil de
17 de janeiro de 1888, sob o título de Assuntos
do dia, na qual era dito que: “Contra a nossa expectativa e contra todas as
convenções estabelecidas, têm dado nestes últimos dias algumas fugas de
contratados dos estabelecimentos industriais desta cidade”.
Um destes estabelecimentos, dizia o jornalista, o do Sr.
Brutus Almeida, sem dúvida o mais importante em seu gênero, era o que por esse
lado tinha sofrido maiores consequências e prejuízos, perdendo em menos de
cinco dias vinte trabalhadores libertados “recentemente sob condição de
serviços”.
Este fato, além de outras fatais consequências, produzia
sérios embaraços na marcha do trabalho e poderia ocasionar a paralisação do
serviço industrial.
Por mais abolicionista que fosse não poderia por forma
alguma suportar em silêncio essa violação de contratos realizados em boa fé e
sob a garantia de homens de confiança, dizia o redator do Correio Mercantil.
Ainda sobre aquelas fugas voltava o Correio Mercantil, no dia 18 de janeiro de 1888, a informar que no
dia anterior, “foram presos por particulares e polícias da Costa [do Arroio] e
conduzidos para o estabelecimento industrial do Sr. Brutus Almeida, sete
contratados do mesmo, dali fugidos”.
E quanto ao 13 de maio de 1888 em Pelotas?
Quanto ao 13 de maio, o jornal A Pátria, de 18 de maio de 1888, informava que o Centro Etiópico
resolvera adiar para o dia 3 de junho, “quando termina a safra”, os festejos
que estavam anunciados para o dia 27 de maio.
O motivo de semelhante resolução claramente se depreendia do
fato dos charqueadores terem nomeado uma comissão, entre si, e mandarem
entender-se com o presidente do Clube Abolicionista, o Sr. Dr. Canabarro, afim
de que ele, junto ao seu colega do Clube Etiópico, transferisse os seus
festejos para um dos primeiros dias do mês de junho, visto estar acertado que
os trabalhos das charqueadas findariam dia 31 daquele mês.
No caso de os festejos populares ocorressem antes,
contribuiriam muito em prejuízo dos fazendeiros da província e dos
proprietários dos estabelecimentos industriais, pois as tropas em marcha à
Tablada, que chegariam nos últimos dias daquele mês de maio, não poderiam ser
disputadas e compradas se os charqueadores não contassem com braços para o
serviço manual, porque, era de presumir que os 2.600 ex-escravos que iriam
festejar “a aurora de sua liberdade”, não o fariam em menos tempo do que dois
ou três dias.
A partir da abolição, alguns órgãos de imprensa passaram a
tratar, em especial aos ex-escravos como vagabundos e, para eles, chamarem a
atenção das autoridades, como se pode ver pela notícia divulgada no jornal A Pátria, de 11 de junho de 1888, que
fora informado “por pessoa fidedigna”, de que todas as noites reunia-se um
número avultado de “homens de cor” na casa da Rua Santa Cruz, antiga moradia do
Sr. tenente-coronel Brutus de Almeida, “atualmente desocupada”.
Segundo o jornalista, esses indivíduos, sem eira nem beira,
ali se reuniam e dali saíam, à noite, para praticarem todo o tipo de “roubos e
tropelias”.
Para tal fato, chamava o jornal a atenção da polícia.
Enquanto isso, o major delegado de polícia ordenava “a
muitos dos vagabundos” encontrados nos cortiços da cidade, que tirassem
caderneta na câmara municipal e procurassem ocupação.
Dia 14 de junho, voltava o jornal A Pátria a divulgar outra Revista
nos casebres pelo Sr. delegado de polícia que, acompanhado do subdelegado
de polícia do 1º distrito Sr. Pedro Batista Filho, do suplente Sr. Vicente José
Ribeiro, comandante de polícia particular, escrivão e seis praças, continuando
assim a percorrer os cortiços e casebres desta cidade no intuito de obrigar aos
seus “inocentes” habitantes a
munirem-se da respectiva caderneta e procurarem ocupação séria.
O jornalista, para melhor informar aos leitores, acompanhou
de perto as diligências.
Notou ele que muitos “indivíduos vadios” possuíam a
caderneta para “mais facilmente iludir a autoridade”, porquanto nelas nada
continha por escrito que provasse o lugar onde trabalhavam e ao serviço de
quem.
A estes, advertiu a autoridade que, se fossem outra vez
encontrados sem as declarações legais em suas cadernetas, teriam a correção
conveniente.
Outros, e nestes muitas libertas, disseram que em nada se
ocupavam, pelo que foram imediatamente presas.
Era incrível, dizia o jornalista, a quantidade de pessoas
que moravam em “apertados e mefíticos [que tem cheiro repugnante, pestilento]
corredores”, ainda divididos estes em seis e mais quartos. E acrescentava: “A
imundície e a doença tem ali o seu império”.
Merecia todos os louvores o Sr. delegado de polícia pela
solicitude e energia que vinha praticando no empenho “de livrar a sociedade da
ação dos vagabundos”.
Ora, agora nos indagamos: terminada a safra das charqueadas,
que outro destino teriam aqueles ex-escravos, que apenas conheciam outra
atividade daquele mundo, despreparados e jogados ao abandono como ficaram,
senão a de virem para a cidade?
E a caçada aos “vagabundos” continuava, pois, dia 8 de julho
de 1889, foram presas, e recolhidas ao xadrez da cadeia civil, “diversas
mulheres de cor”, que, exercendo a profissão de criadas de servir,
encontravam-se na vadiação há muito tempo e foram, pela polícia, encontradas em
bailes públicos e orgias pela rua.
Dia 10, foram as referidas mulheres, soltas e “entregues a
diversos alugadores de seus serviços”, com a condição retornarem para a prisão
se “voltarem à vidinha regalada”.
Segundo o jornalista do Correio
Mercantil, a polícia jurara não consentir na vagabundagem “que assolava a
cidade”.
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Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
.... Muito bom....
ResponderExcluiradorei as matérias do blog Monquelat. Vou ficar fã, aliás já sou fã e com certeza ao ler, vou me inspirar nos teus escritos pra escrever o capítulo 3. Ótimo trabalho, parabéns!
ResponderExcluirObrigado por tuas palavras AnaPaula, será um enorme prazer te ter seguindo o Blog, e tomara que te seja útil. Abraço.
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