Religiões de matriz africana em Pelotas(parte 5)
A.F.Monquelat
Jonas tenfen
Feiticeira tétrica
Aos 25 de maio de 1882, o jornalista do Onze de Junho,
destacando a palavra Feiticeira, dizia
logo a seguir que, vendo a palavra de longe, logo despertava certa curiosidade,
julgando ele que leria algum romance de amores, logrado nos olhos de alguma
gentil e travessa feiticeira.
A seguir, conta ele em poucas palavras, as proezas de uma
feiticeira, mas de uma feiticeira prosaica, fúnebre, tétrica, a Sra. Maria
Ignacia Pereira, moradora à Rua 16 de Julho [Dr. Cassiano] que, ao invés de
seduzir os vivos com doces remédios e irresistíveis encantos os enganava com
uma...caveira.
A polícia que podia, quando muito, tolerar feiticeiras
gentis de sedutora magia, como as das quais falavam os poetas alemães, mas não
tão horrendos e medonhos sortilégios nem bruxas tão grosseiras, asilou-a
devidamente na ...cadeia civil.
Maria...a santa italiana
Diz o jornal A Discussão que o Sr. Júlio Maurel, subdelegado
do 1º distrito, por denúncia que teve, encaminhou-se dia 5 de setembro de 1883
à Rua São José [atual General Teles], na Várzea, à casa da italiana Maria de
tal, conhecida que era por Santa, onde apreendeu grande quantidade de objetos
destinados à feitiçaria como sejam: garrafas com ingredientes, cabelos e uma
cinta com 3 campainhas que, segundo o jornalista, eram usadas para realizar
milagres, assim como grande número de velas de cera, etc.
Pedro, o preto mina e sua magia
Era notícia do Correio Mercantil de 23 de outubro de 1883
que o preto mina Pedro de tal, sempre tivera queda decidida pela magia branca e
pelas ciências ocultas.
Assim era que, em sua casa, dava lições muito aproveitáveis
à crioula Maria, mostrando nas estrelas e em certos outros pontos, as nuvens,
segredos cerrados a profanos ouvidos e vista.
A Maria, porém, bateu com a língua nos dentes e divulgou o
segredo...
A polícia por sua vez quis também assistir uma daquelas
sessões... de encontrar lenitivo aos
seus
E foi.
A coisa, no entanto, não prestava.
Como estímulo as novas descobertas e mais aprofundados
estudos, a polícia obrigou o Pedro e a Maria a um conciliábulo no xadrez da polícia,
e a perderem os objetos essenciais ao ofício.
Aquilo foi uma crueldade.
A italiana curandeira
Chegou ao conhecimento do redator do Diário de Pelotas, dia
18 de janeiro de 1888, que na Rua Santa Bárbara [atual Marechal Deodoro]
habitava uma mulher italiana que se empregava em iludir a confiança dos
incautos e supersticiosos que tinham a desgraça de cair em seu consultório aonde iam à esperança de
encontrar lenitivo aos seus padecimentos, mas de onde só saíam com drogas
nocivas à saúde.
A nova filha de Hipócrates não contente de especular com a
boa fé de sua clientela, se incumbia também de deitar cartas à sorte,
profetizando o futuro, dando assim mais ampla propriedade à Medina [um dos
locais sagrados do islamismo].
Se as nossas autoridades se dignassem comparecer ao referido
consultório médico-cartomante, talvez que se curassem da desídia que os
perseguia no cumprimento de seus deveres.
Experimentassem, e podia ser que conseguissem fazer ver a
essa curandeira o seu futuro, que haveria de ser desvendado através das paredes
do palacete [cadeia] do Braga [o carcereiro].
Não
custaria nada, e além do mais faria muito bem ao... público.
Bruxaria no “muquiço”do preto mina
Dia 22 de julho de 1889, à noite, o Sr.
subdelegado do 1º distrito prendeu um preto mina, morador à Rua Barroso nº 30,
que se dedicava unicamente à prática da feitiçaria.
No
“muquiço” do maníaco preto, foi encontrada grande quantidade de bugigangas,
tais como: chifres de bode, galinhas pretas, várias ervas e dois indivíduos de
pau, competentemente vestidos, dois santos marandubas [inverossímeis,
desconhecidos] padroeiros daquela inferneira toda.
O referido feiticeiro foi, no dia seguinte, posto em liberdade,
porém com a condição de se por ao fresco [partir, vazar], no prazo de oito dias
e não mais voltar a esta hospitaleira terra, dizia o jornalista, desejando, de
maneira irônica, uma boa viagem.
Sr. subdelegado, é bom continuar...
Segundo o jornal Onze de Junho de 24 de julho de 1889, o Sr.
subdelegado do 1º distrito Manoel da Silva Rosa, deu, e em boa hora entendia o
jornalista, de embirrar com os feiticeiros e com as feiticeiras também, e onde
estivessem manipansos, manitus, santos Boduns e magna caterva, via-se ele pondo
moxinifada [misturas de comidas, bebidas e temperos] nos pandarecos, e levando
os negrinhos que explorávamos beócios para a cadeia.
Lamentava o jornalista que a autoridade não pudesse meter
também na cadeia os beócios que acreditavam naquelas parvoíces, mas como o que
não tem remédio remediado está, deixasse então cada louco com a sua manta e se
prosseguisse indiretamente curando o mal.
Agora, se o Sr. subdelegado do 1º distrito quisesse
continuar prestando bons serviços à moralidade pública, acabando com aquela
nova indústria implantada na terra, se dirigisse à rua Santa Bárbara [Marechal
Deodoro] , onde encontraria uma
italiana, curandeira acreditada, feiticeira em convivência privada com Satanás,
e cartomante que se propunha a repetir ipsis verbis [textualmente] o passado e
predizer o futuro.
Essa acreditada sibila tinha a habilidade de transtornar a
cabeça de gente muito decente, e bom serviço prestaria o Sr. subdelegado à
moralidade pública, se fizesse à audaciosa pitonisa compreender que não era
decente explorar a credulidade dos simplórios.
Feitiçaria... na ponta!
No jornal A Pátria do dia 22 de janeiro
de 1890, lia-se que havia sido recolhido à prisão o “preto” João Banmam, africano,
morador à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] nº 34, por exercer a profissão de feiticeiro.
Possuindo o condão de transformar os clientes em burregos
[tolos], era provável, diz o jornalista, que arranjasse meios de escapar do xilindró.
Portanto, toda a cautela seria pouca.
No dia 23 daquele mês,
chegara ao conhecimento do jornalista que na casa de nº36 da Rua General Argolo
havia uma tal de Germana, “que é bruxa”
e empurrava feitiços a todo preço.
Dizia também o jornalista que Germana, tinha muitos fregueses.
E, por último, soubera ele que havia
outro pândego que exercia tal profissão:
um tal de Porfírio, morador à Rua General Osório.
Sugeria o jornalista que as autoridades fossem até o palacete do Porfírio dar uma resfriada
no amor que este tinha pela arte.
Continua...
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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense – CDOV e Pelotas dos Excluídos
Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense – CDOV e Pelotas dos Excluídos
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