quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Religiões de matriz africana em Pelotas (parte 5)

Religiões de matriz africana em Pelotas(parte 5)


A.F.Monquelat
Jonas tenfen






Feiticeira tétrica


         Aos 25 de maio de 1882, o jornalista do Onze de Junho, destacando a palavra Feiticeira, dizia logo a seguir que, vendo a palavra de longe, logo despertava certa curiosidade, julgando ele que leria algum romance de amores, logrado nos olhos de alguma gentil e travessa feiticeira.
         A seguir, conta ele em poucas palavras, as proezas de uma feiticeira, mas de uma feiticeira prosaica, fúnebre, tétrica, a Sra. Maria Ignacia Pereira, moradora à Rua 16 de Julho [Dr. Cassiano] que, ao invés de seduzir os vivos com doces remédios e irresistíveis encantos os enganava com uma...caveira.
         A polícia que podia, quando muito, tolerar feiticeiras gentis de sedutora magia, como as das quais falavam os poetas alemães, mas não tão horrendos e medonhos sortilégios nem bruxas tão grosseiras, asilou-a devidamente na ...cadeia civil.

Maria...a santa italiana


         Diz o jornal A Discussão que o Sr. Júlio Maurel, subdelegado do 1º distrito, por denúncia que teve, encaminhou-se dia 5 de setembro de 1883 à Rua São José [atual General Teles], na Várzea, à casa da italiana Maria de tal, conhecida que era por Santa, onde apreendeu grande quantidade de objetos destinados à feitiçaria como sejam: garrafas com ingredientes, cabelos e uma cinta com 3 campainhas que, segundo o jornalista, eram usadas para realizar milagres, assim como grande número de velas de cera, etc.

Pedro, o preto mina e sua magia


         Era notícia do Correio Mercantil de 23 de outubro de 1883 que o preto mina Pedro de tal, sempre tivera queda decidida pela magia branca e pelas ciências ocultas.
         Assim era que, em sua casa, dava lições muito aproveitáveis à crioula Maria, mostrando nas estrelas e em certos outros pontos, as nuvens, segredos cerrados a profanos ouvidos e vista.
         A Maria, porém, bateu com a língua nos dentes e divulgou o segredo...
         A polícia por sua vez quis também assistir uma daquelas sessões...  de encontrar lenitivo aos seus
         E foi.
         A coisa, no entanto, não prestava.
         Como estímulo as novas descobertas e mais aprofundados estudos, a polícia obrigou o Pedro e a Maria a um conciliábulo no xadrez da polícia, e a perderem os objetos essenciais ao ofício.
         Aquilo foi uma crueldade.

A italiana curandeira


         Chegou ao conhecimento do redator do Diário de Pelotas, dia 18 de janeiro de 1888, que na Rua Santa Bárbara [atual Marechal Deodoro] habitava uma mulher italiana que se empregava em iludir a confiança dos incautos e supersticiosos que tinham a desgraça de cair em seu consultório aonde iam à esperança de encontrar lenitivo aos seus padecimentos, mas de onde só saíam com drogas nocivas à saúde.
         A nova filha de Hipócrates não contente de especular com a boa fé de sua clientela, se incumbia também de deitar cartas à sorte, profetizando o futuro, dando assim mais ampla propriedade à Medina [um dos locais sagrados do islamismo].
         Se as nossas autoridades se dignassem comparecer ao referido consultório médico-cartomante, talvez que se curassem da desídia que os perseguia no cumprimento de seus deveres.
       Experimentassem, e podia ser que conseguissem fazer ver a essa curandeira o seu futuro, que haveria de ser desvendado através das paredes do palacete [cadeia] do Braga [o carcereiro].
         Não custaria nada, e além do mais faria muito bem ao... público.

Bruxaria no “muquiço”do preto mina


         Dia 22 de julho de 1889, à noite, o Sr. subdelegado do 1º distrito prendeu um preto mina, morador à Rua Barroso nº 30, que se dedicava unicamente à prática da feitiçaria.
         No “muquiço” do maníaco preto, foi encontrada grande quantidade de bugigangas, tais como: chifres de bode, galinhas pretas, várias ervas e dois indivíduos de pau, competentemente vestidos, dois santos marandubas [inverossímeis, desconhecidos] padroeiros daquela inferneira toda.
         O referido feiticeiro foi, no dia seguinte, posto em liberdade, porém com a condição de se por ao fresco [partir, vazar], no prazo de oito dias e não mais voltar a esta hospitaleira terra, dizia o jornalista, desejando, de maneira irônica, uma boa viagem.

Sr. subdelegado, é bom continuar...


         Segundo o jornal Onze de Junho de 24 de julho de 1889, o Sr. subdelegado do 1º distrito Manoel da Silva Rosa, deu, e em boa hora entendia o jornalista, de embirrar com os feiticeiros e com as feiticeiras também, e onde estivessem manipansos, manitus, santos Boduns e magna caterva, via-se ele pondo moxinifada [misturas de comidas, bebidas e temperos] nos pandarecos, e levando os negrinhos que explorávamos beócios para a cadeia.
         Lamentava o jornalista que a autoridade não pudesse meter também na cadeia os beócios que acreditavam naquelas parvoíces, mas como o que não tem remédio remediado está, deixasse então cada louco com a sua manta e se prosseguisse indiretamente curando o mal.
         Agora, se o Sr. subdelegado do 1º distrito quisesse continuar prestando bons serviços à moralidade pública, acabando com aquela nova indústria implantada na terra, se dirigisse à rua Santa Bárbara [Marechal Deodoro] , onde encontraria  uma italiana, curandeira acreditada, feiticeira em convivência privada com Satanás, e cartomante que se propunha a repetir ipsis verbis [textualmente] o passado e predizer o futuro.
         Essa acreditada sibila tinha a habilidade de transtornar a cabeça de gente muito decente, e bom serviço prestaria o Sr. subdelegado à moralidade pública, se fizesse à audaciosa pitonisa compreender que não era decente explorar a credulidade dos simplórios.

Feitiçaria... na ponta!


            No jornal A Pátria do dia 22 de janeiro de 1890, lia-se que havia sido recolhido à prisão o “preto” João Banmam, africano, morador à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] nº 34, por exercer a profissão de feiticeiro.
         Possuindo o condão de transformar os clientes em burregos [tolos], era provável, diz o jornalista, que arranjasse meios de escapar do xilindró.
         Portanto, toda a cautela seria pouca.
          No dia 23 daquele mês, chegara ao conhecimento do jornalista que na casa de nº36 da Rua General Argolo havia uma tal de Germana, “que é bruxa” e empurrava feitiços a todo preço.        
         Dizia também o jornalista que Germana, tinha muitos fregueses.
            E, por último, soubera ele que havia outro pândego que exercia tal profissão: um tal de Porfírio, morador à Rua General Osório.
         Sugeria o jornalista que as autoridades fossem até o palacete do Porfírio dar uma resfriada no amor que este tinha pela arte.


Continua...

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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense – CDOV  e Pelotas dos Excluídos


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