sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Mosaicos Stanisci: saiba por onde pisa!




      A data de instalação da fábrica de mosaicos do Sr. Domingos Stanisci em Pelotas ocorreu no ano de 1891, sem que possamos poder afirmar ter sido esta a primeira fábrica de mosaicos da cidade.
         Três anos depois da instalação da fábrica, em uma pequena propaganda publicada no jornal Correio Mercantil de janeiro de 1894, era divulgado sob o título de Indústria Nacional que a fábrica de mosaicos de Domingos Stanisci, cujas especialidades eram tijoleiras com letreiros para passeios, pátios, soteias, tijoleiras em azulejo para forrar corredores e cozinhas. Garantia em prontidão, nitidez e preços módicos, bem como  encarregava-se de qualquer trabalho em terra romana.
Informava por último, que a fabrica do Sr. Stanisci estava localizada à Rua General Osório nº9.
         Em novo anúncio, publicado pelo Correio Mercantil em abril de 1896, agora com nova razão social que mudara para Domenico Stanisci & C., com casa em Pelotas, à Rua General Osório º33, e filial em Rio Grande, à Rua Zalony nº51; lia-se que, tendo os proprietários deste estabelecimento feito aquisição de importantes máquinas, grande e variado sortimento de moldes e material, podiam fornecer a preço sem concorrência, tijoleiras para passeios, pátios, soteias, mesas para jardins, para forrar corredores, cozinhas, letreiros, etc.
         Tendo a casa numeroso pessoal podia atender com prontidão a qualquer pedido.
         Embora instalada desde o ano de 1891 é somente em fevereiro do ano de 1900 que vamos encontrar uma descrição mais pormenorizada da fábrica.
         A fábrica, que mudara do número 9 da Rua General Osório para o número 33 da mesma rua, ficava na esquina da Rua Sete de Abril [D. Pedro II].
        

      O estabelecimento estava em condições de atender as mais caprichosas exigências do consumo, com mais de cem tipos diversos de tijoletas, de cimento e granito, aplicáveis a passeios de rua, pátios, soteias e outras dependências de casa.
         Na fábrica, para a confecção dos produtos, usava-se apenas areia e cimento, e dali saíam os mais variados mosaicos de inteligente e artística combinação, com os requisitos que se exigissem.
         O pessoal empregado era de 12 a 16 homens e a produção da fábrica era avultada e grande era o consumo de seus produtos, principalmente em Pelotas.  O Sr. Stanisci atendia também diversos pedidos de outras cidades do interior do Estado, assim como de outros estados do país.
         Seu maquinário era composto de duas prensas, as mais aperfeiçoadas no gênero, “em incessante atividade”. Estas prensas sentavam sobre as tijoletas dentro das formas em que se adaptavam, estas tijoletas saíam para ficar em depósito durante o espaço de 24 horas nas prateleiras, passando então aos tanques, retiradas daí, depois de igual espaço de tempo, estavam prontas para uso. O trabalho era todo manual.
         O depósito do estabelecimento era de 20:000$000, com um capital de 40:000$000, para o seu atual funcionamento.
         As máquinas como todos os contramoldes, de ferro, em número superior a 300, eram oriundos da Argentina, na sua grande maioria.
       Da mesma procedência recebia a fábrica, em grandes partidas, pedaços de mármore de cores que, combinados com o cimento, na medida em que entravam geravam peças de granito artificial, preferíveis ao mármore em solidez e durabilidade. Havia trabalhos desta natureza em colunas, escadarias, balaústres, etc., “admiravelmente acabados”.
         A fábrica do Sr. Domingos Stanisci era “um legítimo orgulho para o seu fundador e para a indústria da cidade de Pelotas”.

Um vigarista na fábrica de mosaicos


         Em abril de 1913, Antônio Datto, que se intitulava profissional no serviço de mosaicos, foi ao escritório da fábrica do Sr. Domingos Stanisci solicitar-lhe emprego, no que foi bem sucedido.
         Tendo-se empregado tratou logo de arranjar uma aparência adequada para um conto do vigário que tinha em mente aplicar.
         E assim planejando, conseguiu a confiança do Sr. Stanisci, que lhe adiantou, segundo informações obtidas pela imprensa da época, a importância de 225$000 além de uma fiança que dera para Antônio mandar confeccionar um terno de casimira, no valor de 80$000.
         Na manhã de 8 de abril, como Antônio soubesse que o Sr. Domingos Stanisci, que se encontrava em Rio Grande, resolvera voltar para Pelotas, não teve dúvidas em pôr-se ao fresco. Para isso, dirigiu-se à estação da Viação Férrea, com o intuito de tomar o trem que se dirigia para o interior.
         Havendo denúncia à polícia administrativa, esta tentou, na estação, prender o vigarista.  Antônio, vendo movimento suspeito, se escondeu no interior dos carros.
          Sendo perseguido pela polícia, resolveu refugiar-se em lugar seguro, escolhendo para isso o WC de um carro de primeira classe. Fechando-se por dentro, conseguiu  ir até o Capão do Leão. No entanto, em seguida, foi trazido para Pelotas.
         O Sr. Stanisci deu parte do ocorrido ao Sr. capitão Pedro Dias, dizendo ter sido vítima de uma exploração.
         O capitão Dias tomou providências a respeito.
         Ainda hoje pelas calçadas da cidade é possível ver um que outro desses mosaicos, já centenários,  mas sólidos, portanto...veja por onde pisa.


*Haviam, na cidade, outras fábrica de mosaico. Estes, assim como os mosaicos Stanisci, ainda podem ser vistos pelas ruas.



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Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV e acervo de A.F. Monquelat
Revisão do texto e tratamento de imagem: Bruna Detoni            

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O fotógrafo Augusto Amorety em Pelotas (parte 2/2)


                                                                                     A.F.Monquelat

         O jornal A Discussão, em julho de 1882, sob o título de Trabalhos Fotográficos dizia aos seus leitores que a arte de Daguerre [Louis Jacques Mandé,(1787-1851)],  progressivamente, tinha apresentado melhoramentos sensíveis. Nos domínios do desenho havia produzido uma revolução, não só pela rapidez, assim como pela exatidão na reprodução de toda a natureza: desde obras de arte, até do próprio ente humano.
         Nesta cidade, que primava pelo desenvolvimento intelectual e material em todos os ramos essenciais da vida social, notava-se com vantagem esse trabalho artístico em um atelier que não poderia o jornal deixar de apontar ao público, como digno de toda a procura, em consequência dos melhoramentos que ali observavam, em harmonia com o que de mais moderno tinha essa arte conquistado na Europa.
         Queria o jornal falar do estabelecimento fotográfico do Sr. Augusto Amorety, à Rua General neto nº46, onde o observador poderia apreciar os retratos mais bem acabados e julgar o mérito de suas obras, que mereceram na Exposição Alemã-Brasileira a medalha de ouro, prova essa excessivamente honrosa para o distinto fotógrafo.
         Não era apenas uma recomendação que o jornal fazia daquela bem montada oficina fotográfica, era de toda justiça que dissesse que ali se executavam os mais belos trabalhos sob a direção do Sr. Amorety.
         Em maio de 1885 o Sr. Amorety enviou à exposição de Belas Artes três caixinhas de “aprimorado gosto”, contendo os retratos da princesa imperial, do Sr. conde d’Eu e seus filhos.
         Estas fotografias seguiram em um vapor que saiu de Pelotas para a Corte, a fim de serem oferecidas a S.S. A.A. Imperiais.
         Em junho de 1885, o Sr. Amorety, com vistas a angariar recursos em benefício do Asilo de Mendigos de Pelotas, ofertou uma “bela fotografia” do interior do salão principal da Bibliotheca Pública Pelotense, onde teve lugar a exposição de Belas Artes em favor do Asilo.
         O Sr. Amorety foi um dos esforçados cooperadores daquele evento, ocasião em que destinou algumas de suas fotografias para o Bazar [espécie de brechó].
     

    O jornal A Discussão, de 30 de setembro de 1885, informava aos seus leitores, que o hábil fotógrafo residente nesta cidade Sr. Augusto Amorety, estava anunciando por aquele órgão uma grande redução nos preços de seus trabalhos.  
       Há tempos domiciliado nesta cidade, o público reconhecia o mérito do Sr. Amorety, cujos trabalhos honravam a sua bem montada oficina.
         Atualmente, dizia o jornalista, expunha o Sr. Amorety em sua vitrina retratos de perfeição inigualável, o que se podia desejar de melhor, aliado as regras de bom gosto. Uma visita, pois, ao atelier do Sr. Amorety, ou ao menos, à vitrina é o que recomendava o jornal.
         Aos 20 de novembro de 1886, à noite, inaugurou-se à Rua Andrade Neves nº 102 o novo atelier do “emérito artista fotógrafo”, o Sr. Augusto Amorety, onde os que o visitassem poderiam apreciar as grandes reformas e os notáveis melhoramentos praticados pelo Sr. Amorety. Havia no estabelecimento um elegante boudoir [salão, toucador] para as senhoras e uma confortável sala de espera, todos forrados de papel e atapetados.
         Todas as dependências eram amplas e ornamentadas “com todo o luxo e bom gosto”.
                   Segundo o Sr. Amorety eram poucas as casas desse gênero no Império e até mesmo em Paris, montadas com tanto apuro e delicadeza.
         As vitrinas continham grande número de retratos, trabalhados a capricho, que demonstravam a capacidade artística do Sr. Amorety.
     


    Em março de 1887 o Sr. Amorety informava ao público que, chegara recentemente da Europa o Sr. Guilherme Johansen, artista da Academia de Belas Artes de São Petersburgo [Rússia] e, tendo entrado em acordo com o proprietário deste estabelecimento (Photographia Amorety), o abaixo assinado avisa aos seus fregueses e ao público em geral que no seu estabelecimento tiram-se retratos a óleo sobre tela, fotografias de qualquer tamanho, retocadas a óleo, pastel, aquarela, crayon e tinta china, igual ao melhor trabalho artístico que possa vir de Paris, como o público poderia verificar pelos trabalhos que se achavam expostos em suas vitrinas à Rua Andrade Neves nº 102, os quais ficariam em exposição até o dia 21 daquele mês.
         Ao final havia um N.B. com o seguinte teor: Reproduz-se qualquer retrato nos sistemas acima mencionados, por pequeno que seja ao tamanho que se desejar.
         A galeria do conceituado profissional Sr. Augusto Amorety, estabelecida no Bazar Musica [que ficava na Rua 15 de Novembro] foi, em quatro de julho de 1901, aumentada com a bela coleção de fotografias com que aquele fotógrafo concorrera à Exposição Estadual.
         Aqueles trabalhos ali permaneceriam por oito dias e eram dignos do apreço público.
         A imprensa de Pelotas anunciava para o dia 15de maio de 1902 um importante leilão, no qual o Sr. J. M. da Cunha, leiloeiro desta praça, remataria móveis, cristais, porcelanas, máquinas fotográficas, piano superior e outros bens, tudo pertencente ao prédio nº 115 da Rua 15 de Novembro, Fotografia Amorety, por ordem do Sr. Dr. juiz distrital.
         O leilão teria início às 11 horas.
                  

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Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV e acervo de A.F. Monquelat
Revisão do texto e tratamento de imagem: Bruna Detoni

sábado, 16 de janeiro de 2016

O fotógrafo Augusto Amorety em Pelotas (parte 1/2)


         Em 23 de janeiro de 1876  era anunciada a abertura do atelier do Sr. Augusto Amorety, “hábil e distinto fotógrafo” já vantajosamente conhecido pela perfeição de seus trabalhos.
         Seu estabelecimento era recomendado pela boa técnica e acabamento de seus trabalhos. Além de tirar retratos por todos os sistemas conhecidos, o Sr. Amorety tirava-os instantaneamente bem como os de crianças, qualquer que fosse a idade, com perfeição e nitidez.

A oficina fotográfica de Augusto Amorety

         Estava estabelecida, a bem conceituada oficina fotográfica do Sr. Augusto Amorety, à Rua General Neto nº 46.
         À frente estava o gabinete particular de trabalho e, em seguida, a galeria onde estavam expostos diversos trabalhos fotográficos.
         Ao fundo estava um lindo chalé, que servia de atelier para tirar os retratos. Estava bem mobiliado e com lindos acessórios. Ali se achava também a câmara escura.
    
     Possuía o Sr. Amorety as seguintes máquinas fotográficas: três máquinas objetivas de Ross, Londres; três de Dallmeyer, Londres; sendo duas para vistas e uma para extra chapa; uma máquina para estereoscópico, de Darlot; quatro prensas para retratos, de diversos fabricantes e tamanhos, e um retocador.

         Uma das especialidades do Sr. Amorety era o retrato em porcelana.
         Os trabalhos deste fotógrafo foram premiados com medalha de ouro na Exposição Brasileiro-Alemã, de Porto Alegre.
         O Sr. Amorety era brasileiro e estava estabelecido em Pelotas desde o ano de 1876, ano em que adquiriu o atelier fotográfico do Sr. Baptiste Lulhier, localizado à Rua Sete de Setembro nº61, sendo figura já bastante conhecida, como fotógrafo, na Província.
         Dia 27 de setembro de 1878, o Sr. Augusto Amorety expôs em sua vitrina, à Rua Sete de Setembro, “uma importante vista fotográfica”, em ponto grande, representando o aspecto da multidão em frente à Câmara Municipal, no dia 25, por ocasião dos primeiros festejos ao Sr. Dr. Barcelos.
         Segundo a imprensa da época, aquela era uma foto exata e de excelente efeito.
         Destacava-se perfeitamente a figura do Dr. Barcelos na portaria da Câmara, e de outras muitíssimas pessoas, que formavam o imenso grupo.
         Aos apreciadores, a imprensa recomendava àquele trabalho que em qualquer época seria uma agradável recordação daqueles momentos de regozijo.
         O Jornal do Commercio de 30 de outubro de 1879 comunicava aos seus leitores, que A Photographia, de Augusto Amorety  mudara-se para a Rua General Neto nº 33, estando aquele estabelecimento montado à capricho, podendo assim garantir a perfeição de seu trabalho. 



         Aos 29 dias do mês de janeiro de 1880 o Jornal do Commercio comunicava aos seus leitores haver em Pelotas um estabelecimento de fotografias, no qual eram tirados os retratos pelos sistemas mais modernos e com a máxima perfeição. Este estabelecimento, dizia o jornalista, pertencente ao Sr. Augusto Amorety que se achava situado à Rua General Neto nº 33, recomendava-se pelo conjunto de suas bem combinadas disposições para o fim a que se dedicava, com verdadeiro amor pela arte.
         Constava de uma câmara solar de reflexão, cuja máquina de grande força aumentava ao tamanho natural os próprios retratos em miniatura.
         O Atelier Vitrô, propriamente dito, era engenhosamente combinado para produzir as diversas vistas de paisagem, salão ou outros cenários, que figurassem no fundo dos retratos.
         As máquinas de fotografar e todos os seus acessórios eram do aperfeiçoamento mais moderno e, por isso,  suficiente para produzir os melhores resultados na arte de Daguerre, elevada a tão grande altura.
         A galeria de retratos, na maior parte de pessoas conhecidas da sociedade pelotense, era um ornamento artístico que prendia a atenção do visitantevnaquele atelier.
         Uma sala de espera, de um gosto aprimorado e modesto ao mesmo tempo, oferecia um cômodo de estar às famílias que quisessem utilizar os trabalhos que o proprietário do estabelecimento se propunha executar à vontade do público.
         Brevemente a atual vitrina seria transformada em uma nova e mais aparatosa exposição, na qual figurariam os últimos resultados obtidos pelo que havia de mais moderno em trabalhos de fotografia.
         O jornal tinha o prazer de recomendar ao público, especialmente ao “belo sexo”, o atelier fotográfico do Sr. Augusto Amorety.
         Pelotas na exposição é o título da matéria publicada no Correio Mercantil de setembro de 1881, na qual é dito que os trabalhos de fotografia remetidos pelo Sr. Amorety para a Exposição de Porto Alegre faziam jus ao seu atelier, muito mais porque não eram trabalhos feitos especialmente para concorrer àquele torneio de artistas e agricultores.
                  As fotografias escolhidas estavam colocadas em um grande quadro, com moldura dourada. Estas eram amostras tiradas aleatoriamente das coleções de retratos, do seu estabelecimento fotográfico, justamente conceituado.
         A parte central do quadro era ocupada por um retrato oval, em ponto grande, busto notável pela perfeição dos retoques, pela distribuição suave da luz e pelos detalhes artísticos aproveitados sem o menor descuido.
         Como que formando um cortejo a este excelente retrato, encontravam-se em torno dele mais dez retratos modelo Rembrandt, quatro carton promenade, quatro cabinet e dois ovais, informava o jornalista.
         Estes dez retratos eram, em geral, de uma semelhança notável, de uma nitidez e correção artística que faziam honra ao “distinto expositor”.
         Em molduras separadas, remeteu o Sr. Amorety duas belas fotografias, formando “uma graciosa coleção”.
         Uma delas representava duas crianças sentadas às bordas de um lago, que lhes refletia as imagens, seguindo com inocente curiosidade o curso vagaroso de um navio, que fundia mansamente as águas tranquilas. No outro se viam três crianças embarcadas em um elegante barquinho, amarrado a uma das margens arborizadas do lago.
         A reflexão deste grupo no espelho das águas era de um belo efeito e de uma completa ilusão.
         Os dois quadros eram em ponto grande.
         No mesmo gênero, em cartão promenade, expunha também o Sr. Amorety uma bela fotografia, representando um quadro campestre à beira do rio.
         A suavidade dos panoramas reproduzidos com uma fidelidade admirável fazia honra ao artista e bastavam para firmar o crédito do estabelecimento.
         Concluindo a matéria, o jornal felicitava o Sr. Amorety, a quem com certeza estaria reservado um lugar de destaque na Exposição Brasileiro-Alemã.

                                                                                              Continua...

        
Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV e acervo de A.F. Monquelat
Revisão do texto e tratamento de imagem: Bruna Detoni



sábado, 9 de janeiro de 2016

Um fotógrafo francês na Pelotas do século XIX

                                                                                     A.F. Monquelat


         O Jornal do Commercio informava ter visto, dia 18 de fevereiro de 1879, no atelier do Sr. Baptista Lulhier, situado à Rua General Osório, dois magníficos retratos a óleo, feitos pelo “hábil artista” Sr. [Dominique] Pineau sobre fotografias do Sr. Lulhier.
         O trabalho, segundo o jornalista, nada deixava a desejar pelo lado artístico, notando-se a pureza do colorido e a correção dos contornos.
         Ao público era recomendada uma visita àquele estabelecimento, a fim de apreciar os dois magníficos retratos que ali se encontravam em exposição.
         O hábil e prestigiado fotógrafo Sr. Baptista Lulhier em junho de 1882 passara a adotar o novo sistema instantâneo em seu bem aparelhado estabelecimento.
         Com uma rapidez extraordinária, por aquele novo sistema, eram tiradas as fotos, mesmo as mais difíceis, com tanta fidelidade e rapidez, que os objetos fotografados apareciam exatamente como estavam no momento da foto. 
       

A oficina fotográfica de Baptiste Lhullier


         O atelier fotográfico do Sr. Baptista Lulhier era uma das boas oficinas fotográficas que existiam em Pelotas no século XIX. Estava estabelecida à Rua General Osório nº174.
         À direita de quem entrasse na oficina estava um gabinete de espera, e que servia de galeria para trabalhos fotográficos.
         Ali, segundo depoimentos da época, viam-se bonitas e bem acabadas fotografias.
         À esquerda estava à sala de trabalho particular e o depósito de cartões, máquinas fotográficas, etc.
         Possuía o Sr. Lhullier as seguintes máquinas: uma objetiva de J. H. Dalmeyer, Londres, que podia tirar retratos de 1.50 de diâmetro; outra de Ross, Londres, para extra chapa; uma de Emil Blach Rithesow, para triple paisagem; uma pequena máquina de Ross, Londres, extra rápida; uma objetiva de Derlot, Paris, para retratos comuns; uma boa máquina de Derogy, Paris-Londres, para duplicações até 1.50, a lente tinha trinta e seis centímetros; uma máquina bijou com a qual podia tirar trinta e seis retratos instantâneos; outra máquina, elétrica, Magnesium lamp. De J. Salomon, Londres, para poder tirar fotografias de noite.
         Possuía ainda uma máquina pneumática Cadetts, fabricada por Masrion & C., de rotação instantânea.              
         Esta máquina era tão eficiente que podia fotografar um pássaro voando, uma locomotiva em toda velocidade, etc.
         E, finalmente, outra máquina, igual, mas para atelier.
         O Sr. Lulhier, em fevereiro de 1884, ainda esperava receber novas máquinas e, com as reformas que estava pretendendo realizar em sua oficina, deixaria o seu estabelecimento um primor.
         Ao fundo do corredor de entrada, que possuía quarenta e cinco palmos de comprido por vinte e cinco de largura, estava uma escada que dava para o atelier. Ao pé da escada estava o laboratório químico e a câmara escura.
        
         Continha também bonitos acessórios, mas que também deveriam ser substituídos por outros mais modernos, que estavam por chegar de viagem.
         No atelier havia um compartimento, que servia para toalete, pequeno, mas bem ajeitado.                


         O Sr. Baptiste Lulhier era natural de França, e residia em Pelotas desde o ano de 1870.
         Ativo, trabalhador e tendo sido feliz em seus trabalhos, pretendia tornar seu estabelecimento um dos principais da província.
         Estava exposto, dia 26 de janeiro de 1888, no conhecido atelier de fotografia do Sr. João Baptista Lulhier um quadro contendo o retrato em miniatura, a óleo, de duas filhas do Sr. Daniel Wiering, estabelecido com chapelaria à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro].
         As duas “galantes crianças” eram representadas sob a frondosa ramagem de um bosquete “magistralmente” pintada, e sentadas em um tronco de árvore atravessado no solo.
         As figuras, bem como os acessórios, formavam um belo conjunto e de surpreendente efeito, pela boa combinação de cores e tom vivo da luz.
         O quadro, segundo o jornalista, era produto de artista hábil mas modesto e consciencioso.
         A Photographia Lulhier aceitava encomendas para trabalhos idênticos por preço realmente módico.
         O Sr. Baptista Lulhier, cidadão francês, fotógrafo, estabelecido nesta cidade, requereu em 19 de fevereiro de 1888 corpo de delito nos ferimentos que disse lhe terem sido feitos, em sua própria residência, pelo Sr. José Francisco Vieira.
         Foram peritos os Srs. Drs. Romano e Requião, que declararam ter encontrado “uma solução de continuidade com bordos irregulares envolvendo a pele e tecido celular adjacente de cinco centímetros de extensão na região frontal esquerda, e outra apresentando os mesmos sinais com dois centímetros de extensão, formando ângulo reto com a extremidade superior da primeira. Ferimentos leves”.
         O Sr. Lulhier apresentou queixa contra o sr. Vieira. Era seu advogado o Sr. Dr. Piratinino de Almeida.

Tentativa de assalto à casa do Sr. Lulhier e prisão de um pequeno cão


         O jornal A Pátria de nove de junho de 1888, sob o título de “Gatunos?”, noticiava que na noite anterior, dia oito, três indivíduos desconhecidos entraram em casa do Sr. Baptista Lulhier, e sendo por este pressentidos  travaram luta, disparando o Sr. Lulhier três tiros de revólver sobre eles.
         Acudiu ao estampido dos tiros o comandante da polícia particular, com dois praças, porém os indivíduos já haviam escapado, não sendo possível prendê-los.
          Um pequeno cão, que permaneceu preso na casa do Sr. Lulhier após o assalto, poderia ser um sinal por onde talvez chegassem aos três desconhecidos; o cão, por certo, pertencia a algum destes.


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Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV e acervo de A.F. Monquelat
Revisão do texto e tratamento de imagem: Bruna Detoni








segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Ramão Prieu, um armeiro e cuteleiro na terra do charque

                   
                                                                                     A.F.Monquelat

         Em busca de informações diversas, consultamos, dentre outras fontes o Almanack do anno de 1862 publicado pelo Sr. Joaquim Ferreira Nunes, na Typographia à Rua da Igreja [atual Anchieta] nº 62, e encontramos no item Loja de Armeiros e Espingardeiros o registro da firma comercial dos Srs. Scholberg & Gadet, à Rua das Flores [atual Andrade Neves]. Segundo este Almanaque, pode-se depreender que, pelo menos no ano de 1862, era a firma Scholberg & Gadet a única dedicada a tal ramo de atividades na cidade de Pelotas.  

Adicionar legenda

         Dissemos em nosso artigo Breve história da casa Scholberg ter sido esta casa fundada em Pelotas no ano de 1850 e, a esta afirmação, acrescentamos agora a hipótese de ter sido o Sr. Vicin Laport fundador da firma, que mais tarde levou o nome de “Casa Scholberg”, o primeiro armeiro e carabineiro na terra do charque.
         Acreditamos que a presença de estrangeiros fabricantes de armas em Pelotas tenha sua origem nas charqueadas, principalmente pela imensa necessidade de facas, objeto indispensável para os carneadores.
         Dentre os cuteleiros e armeiros que se estabeleceram em Pelotas no século XIX, encontramos o nome de Romain Prieu, cidadão francês, frequentemente envolvido nas comissões encarregadas das comemorações do14 de julho em Pelotas. Prieu, quando da criação em julho de 1884 da sociedade de socorros mútuos L’Union Française, foi indicado como Conselheiro da sociedade.
         E é neste mesmo ano, o de 1884, que vamos encontrar o anúncio de 20 de novembro, no qual o Sr. Ramão Prieu, proprietário da Armaria da Estrela estabelecida à Rua Andrade Neves nº 132, comunicava aos Srs. charqueadores que, nesta casa encontrava-se um completo sortimento de facas para carneadores, o que havia de superior, sem igual nesta cidade, já muito conhecidas pelo “distinto” industrialista [charqueador] Sr. Junius Brutus C. de Almeida.
         Não muito depois deste comunicado, “esta muito conhecida” Armaria da Estrela anunciava ter acabado de receber um completo e variado sortimento de cutelaria, como sejam: tesouras para alfaiates, cabeleireiros, modistas, costureiras, para abrir casas, para bordar, para unhas, para caixeiros [balconistas] de lojas de fazendas [tecidos], para podar e para flores, etc.; o que podia haver de superior neste artigo.
         Também havia recebido navalhas, canivetes, trinchantes, facas para jardineiros e seringas para injeção de permanganato de potássio.
         Continuava a fazer as facas marca Estrela, “bem conhecidas em toda esta província, garantidas por sua superior qualidade, até hoje sem igual”.
         Encontrava-se um completo e variado sortimento de armas de todos os sistemas e de superiores qualidades.
         Fazia-se também, todo e qualquer conserto em armas, garantido e executado pelo próprio proprietário.
         Em fevereiro de 1891 a “Armeria da Estrella” fez publicar na imprensa de Pelotas três anúncios, sendo que, no primeiro deles era avisado aos fazendeiros e habitantes da campanha que quisessem folhas [lâminas] de facas marca “Estrella”, legítimas, só as encontrariam em casa do fabricante abaixo assinado: Romain Prieu, à Rua Andrade Neves nº 132.
     

   O segundo reclame anunciava que a “Armeria da Estrella” possuía variadas armas de fogo, todas bem construídas em sua forma e qualidade.
         E, no último deles, lia-se que na “Armeria da Estrella”, conhecida e acreditada casa se encontravam: navalhas, tesouras e canivetes, enfim tudo quanto era concernente à cutelaria, “garantindo-se a sua qualidade”.
         A Folhinha [calendário] do Diário Popular para o 2º semestre de 1891 trazia, dentre outras, a propaganda da “Armeria e Cutelaria da Estrella”, na qual era dito que, à Rua Andrade Neves nº 132, havia um esplêndido sortimento de armas de fogo para caça e para defesa, tesouras, desde a de alfaiate até a de bordar, chairas e facas para charqueadas.
         Magnífico sortimento de tesouras próprias para podar.
         Havia também a afirmação de que o proprietário deste estabelecimento possuía documentos e privilégios, que estava à disposição do público, através dos quais provava as suas habilitações e a superioridade de seus trabalhos.
         Acautelava o anúncio para as falsificações que estavam ocorrendo.
         A modicidade dos preços de todos os artigos era a valiosa recomendação para este estabelecimento.
       

        Encerrando, era dito que nesta casa encontravam-se também facas, garfos e trinchantes para mesas (especiais folhas). Rebolos, canivetes e navalhas para barba, o mais fino que havia nestes artigos.
    As folhas das facas Marca Estrella, marca registrada, verdadeiras, só se encontravam nesta fábrica, que tomassem cuidado com as falsificações.
         Em 1º de julho de 1900 os Srs. Prieu & Dudouet, proprietários da “Armeria e cutelaria da Estrella” à Rua Andrade Neves comunicavam aos interessados que continuava a liquidação em sua casa, e que todos os artigos eram vendidos aos preços mais adequados.
         Bem como, diziam eles, que todos os artigos eram garantidos e de primeira qualidade.
         Encerrando a comunicação, solicitavam que as pessoas que tivessem objetos para conserto na casa, que os fossem retirar.

Prieu & Dudouet, de malas prontas para a Europa


         Aos dez dias do mês de julho de 1900 os Srs. Prieu & Dudouet, proprietários da reputada armaria e cutelaria d’ A Estrella, há longos anos estabelecida nesta cidade, á Rua Andrade Neves, acabavam de liquidar [fechar] aquela casa, vendendo todas as suas existências, assim como a acreditada marca L’Etoile [A Estrela], aos Srs. Scholberg & Joucla. 

         Os Srs. Prieu e Dudouet seguiriam para a Europa e faziam pelas páginas daquele jornal [A Opinião Pública] uma despedida aos seus amigos e fregueses, avisando aos que tinham consertos em sua oficina, que podiam procurá-los, munidos das respectivas cautelas, na firma dos Srs. Scolberg & Joucla, à Rua Andrade Neves, esquina Sete de Setembro.
        
        
Fonte de consulta: Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV e acervo de A.F. Monquelat
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