quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Hotel Schaefer, Pelotas

Hotel Schaefer, Pelotas

                                                                                 A. F. Monquelat

 
Um dia movimentado no Hotel Schaefer

Os hotéis do sobrado da Felix da Cunha, esquina da Praça

    O sobrado no qual o Hotel Schaefer se instalou, em fevereiro de 1922, teve, anteriormente, como hóspedes pelo menos mais dois hotéis, sejam eles: Hotel Paris e Hotel Petrópolis.

Hotel Paris

    Em junho do ano de 1919, era anunciado pela imprensa de Pelotas que a Exma. Sra. Cecília Blonwaki acabara de adquirir, por compra, as existências do “conhecido” Hotel Paris.
    Esse estabelecimento, situado à rua Felix da Cunha esquina da Praça da República (sobrado, na hoje praça Pedro Osório], seria  daquela data em diante dirigido por sua amável proprietária, que procuraria servir da maneira mais correta possível à sua clientela, comprometendo-se também  a manter uma frequência respeitável e idônea.
    Dispondo de pessoal apto para todos os serviços do ramo e estando a cozinha a cargo de excelentes profissionais, o Hotel Paris poderia ser ocupado pelas pessoas mais exigentes, que ali encontrariam tratamento excelente e dedicado.
    O Hotel Paris contava com boas acomodações para seus hóspedes e estava situado em ótimo local.
    Dois meses após anunciada a compra do Hotel Paris, era divulgado se encontrar este, depois da mudança de proprietário, “verdadeiramente transformado”, fornecendo comida para fora, pelo preço de 60$000 (réis) por pessoa, mensalmente, sendo servidos 5 pratos no almoço e 5 pratos no jantar, comida ótima e variada diariamente.

De Paris, para Hotel Petrópolis

    Em meados do mês de janeiro de 1921 via-se em alguns jornais da cidade, um anúncio do Hotel Petrópolis e, entre parênteses, logo abaixo, a informação de: (Antigo Hotel Paris). Lia-se, no mesmo anúncio que, este estabelecimento, tendo mudado de proprietário, se encontrava completamente modificado. Tinha quartos higiênicos e confortáveis, todos com janela para a rua. (...)
   

A inauguração do Hotel Schaefer

    Foi inaugurado sábado, dia 4 de fevereiro de 1922, às 21 horas, no vasto prédio à rua Felix da Cunha, esquina da Praça da República [atual Pedro Osório], o Hotel Schaefer, de propriedade do Sr. Henrique Schaefer.
    O novo estabelecimento, montado com todos os requisitos a uma casa de tal gênero, dispunha de 18 quartos na parte superior do sobrado, todos confortavelmente mobiliados, quarto para banhos, quentes e frios, e demais dependências.
    A sala de refeições estava situada no salão térreo, e o serviço de cozinha era atendido convenientemente pelo próprio Sr. Schaefer.
    O prédio havia sido completamente reformado, oferecendo assim um agradável aspecto.
    Por ocasião da inauguração, foi oferecido um lauto jantar aos representantes da imprensa e convidados, no momento em que trocaram brindes e saudaram o novo estabelecimento.

O Dr. Assis Brasil em campanha, hóspede do Hotel Schaefer

    Aos 31 dias do mês de outubro de 1922, vindo de Pedras Altas, chegou a Pelotas o Dr. Assis Brasil, candidato apresentado para o futuro quinquênio do governo sul-rio-grandense.
    Além da comissão composta de vários cidadãos ilustres de Pelotas, inúmeras famílias e grande massa popular foram saudá-lo entre manifestações “de respeito e simpatia”.
    Depois de receber cumprimentos da comissão, e ladeado pelos Srs. Drs. Edmundo Berchon e Urbano Garcia,  seguiu o político rumo ao Hotel Schaefer onde lhe estavam reservados aposentos.
    À entrada do hotel, “o ilustre rio-grandense” agradeceu, em breves palavras, a carinhosa manifestação de que fora alvo.
    No dia seguinte, às 21 horas, estando o grande Theatro Guarany repleto, o Dr. Joaquim Francisco de Assis Brasil realizou a conferência prometida, como um dos candidatos à presidência do Estado.
Dr. Assis Brasil, seu regresso a Pelotas e jantar íntimo
    Ao final do mês de novembro de 1922, às 19 horas, no Hotel Schaefer, foi oferecido ao Dr. Assis Brasil um jantar, em que tomaram parte todos os membros do Comitê Pró-Assis, do Diretório Federalista e representantes de diversos municípios.
    No jantar, foi o Dr. Assis Brasil saudado pelo Dr. Francisco Simões.
    No dia seguinte, regressou o homenageado para Pedras Altas, tendo sido muito concorrido o seu “bota-fora.”
    Quando o trem se pôs em marcha, uma prolongada salva de palmas saudou o ilustre político.
Jantar em homenagem aos bravos generais de passagem, em Pelotas
    No Hotel Schaefer, segundo a imprensa, seria oferecido dia 21 de maio de 1924, às 19h30, um jantar íntimo aos bravos e denodados generais Leonel Rocha e Zeca Neto, que se encontravam de passagem, em Pelotas.
    Esse jantar íntimo era promovido pela Aliança Libertadora.  A ele comparecendo admiradores daqueles bravos cabos de guerra, cheios de serviços à causa sagrada da libertação, segundo nota divulgada pela imprensa daquele dia.

O jantar e os admiradores presentes:

    Conforme fora divulgado pela imprensa aconteceu, no Hotel Schaefer, o jantar oferecido pela Aliança Libertadora aos generais José Antônio Neto, que havia chegado no dia anterior de Pedras Altas, e Leonel Rocha.
    A cabeceira da mesa foi ocupada pelos invencíveis cabos de guerra, bem como pelo Sr. Urbano Garcia.
    Os demais lugares foram ocupados pelos chefes da oposição, Srs. Dr. Ildefonso Simões Lopes Filho; Emílio Nunes; Acadêmico Carlos Bozano; Dr. João de Barros Cassal; Dr. Francisco Simões; Sr. J. Miranda, secretário da Aliança Libertadora de Caçapava; Sr. Joaquim Passos; Dr. Miguel de Souza Soares; Major Elpídio Martins; Sr. Artilano Costa; Dr. Araújo Cunha; Dr. Jaime Faria; Sr. Mário Piegas; Dr. J. Pereira Lima; Sr. Zeferino Costa Filho; Coronel Ezequiel Centeno, presidente da Junta Libertadora de São Lourenço;Sr. José de Matos; Sr. Leovegildo Piegas; Sr. Haroldo Farinha; Sr. Anacleto Firpo; Coronel Leônidas Damasceno; Sr. Maurício Campos; Dr. João C. de |Freitas e Sr. Antônio Costa.
    A festa foi abrilhantada, com palavras carinhosas e entusiásticas, pelo Sr. Emílio Nunes, que salientou os inesquecíveis feitos do intrépido General Leonel Rocha.
    O Dr. Francisco Simões, tomando a palavra, saudou o corajoso General Zeca Neto, pronunciando um esplêndido discurso.
    Também fizeram uso da palavra o Dr. Barros Cassal, agradecendo a homenagem ao General Leonel Rocha; o Dr. Simões Lopes Filho, que saudou com vibrantes palavras os homenageados; o Acadêmico Carlos Bolzano, que pronunciou um belo discurso. Assim se sucederam vários outros oradores, e, finalmente, o Sr. Dr. Augusto Simões Filho, que homenageou o Sr. Fernando Abott, que se achava doente.

    A mesa, segundo o repórter, achava-se organizada com muito gosto e arte.
O jantar, que aconteceu sob a mais franca cordialidade, teve início às 20 horas, terminando às 22 horas.

    Após, os presentes foram acompanhar o General Zeca Neto à residência do Sr. Major Hugo Almeida, e o General Leonel Rocha ao Hotel Grindler, onde estava hospedado.

Porteiro rouba camareira do hotel

    Aos 14 dias do mês de agosto de 1929, Luiza, camareira do Hotel Schaefer, que cuidava dos quartos do anexo deste, foi vítima de seu colega Rodolfo Neidorf, porteiro do mesmo estabelecimento, “que lhe furtou” a quantia de 740$000 (réis), para o que fez uso de um revólver amedrontando-a.
    Por ordem do Sr. capitão Arnoldo Siqueira, subintendente do 1º distrito, Rodolfo foi preso e entregue à delegacia de polícia.

Restaurant Europa

    Inaugurado em 4 de fevereiro de 1922, o Hotel Schaeferteve, salvo melhor juízo, curta existência, pois em 25 de fevereiro de 1933 vamos encontrar em um dos jornais da cidade o seguinte anúncio: “Restaurant Europa (antigo Hotel Schaefer)”, comunicando os serviços que prestava, o que nos leva a supor que, já na década de 30, não mais existisse.
                           
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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Confeitaria A Dalila, Pelotas

Confeitaria A Dalila, Pelotas

                                               A.F. Monquelat

Propaganda de A Dalila

Ainda que não seja a confeitaria mais antiga a ser fundada em Pelotas, a confeitaria A Dalila em curto prazo tornou-se uma das confeitarias mais tradicionais, famosas e importantes da cidade.
E foi com esta denominação, A Dalila, que a imprensa local anunciava, para o dia 7 de setembro de 1916, a inauguração, à rua Marechal Floriano nº 5, de uma bem montada confeitaria, de propriedade do Sr. Domingos Souza Moreira.
A nova casa, em condições de receber a visita das famílias, dispunha de uma ampla e magnífica sala para o serviço de gelados, refrescos e toda a qualidade de bebidas e doces.
Todo o mobiliário fora confeccionado na conceituada Marcenaria Moderna, do Sr. Arthur Ignacio de Souza, que, segundo a imprensa, mais uma vez dava provas de seu bom gosto e competência.
A armação era composta por quatro elegantes bufês, completada por dois cristaleiros e dois mostradores, tudo em moderno estilo, “oferecendo magnífico aspecto”.
Na véspera da inauguração, à noite, o proprietário do novo estabelecimento faria uma exposição, para a qual recomendava o jornalista.

A circular distribuída à Imprensa

Às vésperas da inauguração, o Sr. Souza Moreira, proprietário da nova confeitaria, enviou à imprensa da cidade, a seguinte circular: “Ilmo. Sr. – O abaixo assinado, solicitando vênia a V. Sª., vem, por este meio, comunicar-vos que no dia 7 do corrente inaugurará nesta cidade, à rua marechal Floriano nº 5 (próximo à Praça da República) uma bem montada Confeitaria.
“Um estabelecimento de 1ª ordem, a qual receberá diretamente das principais praças nacionais e estrangeiras grande variedade de comestíveis e molhados finos, mantendo um completo sortimento em doces, folhados, bolos, biscoitos, pastilhas e bombons cristalizados, fabricados diretamente no próprio estabelecimento, para cujo mister conta com profissional competentíssimo.
“Certo de que V. Sª se dignará auxiliar este novel estabelecimento, subscreve-se, hipotecando-vos o mais profundo respeito, elevado apreço e imperecível gratidão o vosso humildíssimo criado. D. Souza Moreira”.

A inauguração vista pela imprensa

Ao ato de inauguração da confeitaria, dia 7 de setembro de 1916, estiveram presentes representantes da imprensa, Dr. Cipriano Barcelos, intendente do município, e grande número de convidados e famílias, os quais muito elogiaram o bom gosto com que estava montado “o elegante estabelecimento”.
O Sr. Moreira, auxiliado pelo Sr. Joaquim Louzada, foi incansável em gentilezas a todos servindo finos e delicados doces, acompanhados de champagne.
Falaram, fazendo votos de prosperidade à Dalila, os Srs. José Veríssimo Alves Filho e o reverendo Manoel Felix, representante do Lusitano.
O Sr. Moreira agradeceu, fazendo referência à independência do Brasil, para a qual teve carinhosas palavras.
Também foi muito cumprimentado o Sr. Felix Fanocchia, “hábil diretor da fabricação de doces”.
Mesma imagem, informações diferente

À colônia italiana

Dias depois de inaugurada, o proprietário de A Dalila participava à distinta colônia italiana, bem como ao público em geral, ter recebido os seguintes gêneros: vinho espumante Lambrusco, vinho Marsala, vinho Lacryma, vinho Christi, vinho Capri (Scala), vinho Chianti, Ferro-quina de Bisleri, Arenghes, Accinghe salate, Tartufi, Funghi secchi, all’olio e AL naturale, Olio gambogi, Olive Pio Moro, etc.
Uma visita, pois, a confeitaria A Dalila.

A festa da Faculdade de Direito na confeitaria!

Dia 20 de novembro de 1916, às 14 horas, na sala da confeitaria, teve lugar a festa de despedida que os novos bacharéis da Faculdade de direito de Pelotas ofereceram a congregação desse estabelecimento.
Ao champagne, falou pelos que se despediam o Dr. Tancredo do Amaral Braga, respondendo pela congregação o Dr. Bruno Lima, lente do primeiro ano.
Saudou os alunos do 4º ano o Dr. França Pinto, agradecendo o advogado Álvaro da Silva.
Estiveram presentes à festa, que ocorreu na maior tranqüilidade, os Srs. Drs. Francisco Brusque, Albuquerque Barros, Bruno Lima, Alexandre Mendonça, Tancredo Braga, Luiz frança Pinto, Octavio Pitrez e acadêmicos dos diversos cursos daquela Faculdade, Álvaro da Silva, Edmundo Appel, Francisco da Mota Topin, Abdon de Mello, Pedro Vergara, Álvaro Appel e Clarimundo Rosa Nepomuceno da Silva.
O  Sr. Dr. Luiz Mello Guimrães, lente do 5º ano, se fez representar por seu filho Luiz Teixeira Guimarães.

A comemoração do 1º aniversário de A Dalila

Comemorando o primeiro aniversário de fundação da conceituada confeitaria, o seu proprietário Sr. Domingos Moreira ofereceu um chá, na noite do dia 7 de setembro de 1917, às famílias e fregueses do estabelecimento.
Durante a reunião,  fez-se ouvir um afinado terceto, sob a direção do Sr. Domingos Bandeira.
Os convidados e representantes da imprensa da cidade foram gentilmente recepcionados pelo proprietário.
A banda musical União Democrata esteve presente cumprimentando a casa aniversariante, executando várias peças de seu repertório, na frente da confeitaria.
Os músicos foram obsequiados fidalgamente com doces e líquidos.

A Dalila em seu 15º aniversário: 7 de setembro de 1931

A luxuosa confeitaria A Dalila, estabelecimento que viria a ampliar “o nosso comércio de especialidades e comestíveis”, sob a propriedade do Sr. Domingos de Souza Moreira que lhe dera, de início, uma direção firme e “modelada no progresso da cidade”.
Mais tarde, o Sr. Frutuoso Gonçalves, num louvável trabalho e para melhor corresponder à preferência dos clientes, associando-se ao Sr. Antônio Alves de Freitas, colocou a confeitaria num nível de destaque que, naquela data, tornara-se o ponto dileto “da aristocracia pelotense”.
A confeitaria, durante o dia, esteve repleta de clientes e pessoas do meio social pelotense, que foram levar seus cumprimentos dos dirigentes daquela casa.
O preferido ambiente, dizia o jornalista, apresentava lindo aspecto com sugestivas ornamentações de flores e bandeiras nacionais e rio-grandenses.
Em celebração, os Srs. Gustavo Teixeira, que passara a fazer parte da firma desde o 1º dia daquele mês, e o Sr. Freitas ofereceram chopes e sanduíches aos seus clientes.

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Hotel Grindler, Pelotas (parte 4 e última)

Hotel Grindler, Pelotas (parte 4 e última)

A.F. Monquelat

A confortável sala de estar do Hotel Grindler
Coronel Zeca Neto se hospeda no Hotel Grindler
O jornal O Rebate, em 10 de março de 1919, noticiava estar hospedado no Hotel Grindler o prestigiado chefe político de Camaquã, Sr. coronel Zeca Neto.
O “ilustre patrício”, que gozava de alto conceito naquele município, bem como em todo o Estado, era um fervoroso adepto da candidatura do egrégio senador Rui Barbosa à presidência da República.
“Saudemo-lo”.


Participação de falecimento e comunicação de nova razão social
Aos 28 de setembro de 1927, era participado à imprensa o falecimento do “amigo e sócio” André D. Raupp e, conforme distrato da Junta Comercial do Estado, dissolvida razão social de Konrad & Raupp.
Tendo o Sr. Konrady assumido todo o passivo da extinta firma, continuaria ele com o mesmo ramo de negócio, Hotel Grindler, esperando que todos dispensassem à firma individual André Luiz Konrady a mesma confiança e preferência com que sempre distinguiram aos proprietários anteriores.
Sr. André Luiz Konrady

Nominata das pessoas que fixaram residência no Grindler
Em princípios de maio de 1937, o Diário Popular publicou a Nominata de pessoas que, dado o bom trato que o Hotel Grindler dispensava aos seus hóspedes, para lá haviam fixado residência, fato que comprovava a excelência do acreditado hotel, que passara às mãos do Sr. Ascendino Canez, desde meados de janeiro daquele ano de 1937.

O jardim do hotel
A nominata:
Dr. W. Bivar; Dr. Clarindo Severo e família; Dr. Cesar Campos; Sr. Francisco Morales; Tenente Hugo Claro; Tenente Acácio C. da Rocha e esposa; Sr. A. Krauer e esposa; Sr. José B. da Rosa; Sr. Luiz B. da Rosa; Sr. Luiz Ramalho e família; Sr. Carlos L. Pinto e família; Sr. Antônio Sanches; Sr. Salomon Nianchowac; Sra. Marina Leon e família; Sr. Antônio Nobre; Sr. Libargue Nunes; Sr. Hugo Antônio Augusto; Sr. Eurico de Souza; Sr. Hélio Luz; Sr. Domingos Rocha e família; Sr. Wolnei Ferreira; Sr. Dario do Estreito; Major José Afonso da Rocha; Sr. Dirceu Peres; Sr. Dilon Dias; Sr. Rodolfo Martins; Sr. Dimosman Gomes e Sr. Genes Bento.

Breve histórico do Hotel Grindler
Uma folha local em meados de janeiro de 1938 publicou um ligeiro histórico do afamado Hotel Grindler, na época, de propriedade do Sr. Ascendino Canez, no qual foi dito que o atual administrador, dedicado, atencioso e competente, tinha mantido, com alta visão comercial, o bom nome do conceituado estabelecimento, cuja fama se irradiara por todo o Estado.

Sr. André D. Raupp

O histórico
Carlos Grindler, um trabalhador esforçado, vindo de Cachoeira, fundou em Pelotas, em 1897, logo após cessado o rumor revolucionário, o Hotel Grindler, para onde vinham sempre, atraídos pela sua fama, forasteiros de todos os municípios vizinhos.
Carlos Grindler, muito relacionado no interior, canalizou para sua casa, cujo nome ascendia no conceito público, a admiração de todos os viajantes. 
Em 1919, o Hotel passou a ser administrado, por motivos de saúde do Sr. Grindler, pelos Srs. André Luiz Konrady e André Raupp, cuja sociedade durou até 1927, ficando dessa data em diante, o estabelecimento, sob a exclusiva direção do Sr.André Konrady.
Aos 17 de janeiro de 1937, adquiriu-o por compra o Sr. Ascendino Canez e este, segundo um jornal da época, era um espírito dinâmico e adiantado, que soube mantê-lo com alta dedicação o renome do grande estabelecimento.
O Hotel vinha sofrendo, desde então, sensíveis melhoramentos, como sejam pinturas, adaptações, compra de material, novo mobiliário e muito maior iluminação.
Com 70 quartos, amplos e arejados, era um estabelecimento altamente recomendável ao público.
Nele residiam com todo o conforto, 11 famílias e 41 pensionistas, inteiramente radicados no ambiente sadio e familiar do Hotel.
Mesa farta, serviço atencioso, tratamento cavalheiresco, elegância e distinção, tudo revelava no conceituado  estabelecimento, a sua direção e a solicitude do seu pessoal. 
O Hotel, concluía o jornalista, era um grande elemento de aproximação social, e nele se relacionavam os indivíduos e as famílias, e se estudavam, com informações fidedignas, as mais afastadas regiões do Estado.
Ainda que não esgotado, encerramos aqui nossos apontamentos sobre o Hotel Grindler.


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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Hotel Grindler, Pelotas (parte 3)

Hotel Grindler, Pelotas (parte 3)

A.F. Monquelat


Arrendamento do Hotel Grindler, por motivos de saúde
Em princípio do mês de agosto de 1909, a redação do jornal A Opinião Pública, bem como a de outros jornais da cidade, recebeu a seguinte carta: Amigos e Srs., não podendo, em conseqüência do meu atual estado de saúde, permanecer por mais tempo à frente do Hotel Grindler, pois me vejo forçado a mudar de residência para Caxambu, entregar, por arrendamento, o mesmo estabelecimento, aos Srs. André Luiz Konrady e André Daniel Raupp, meus sobrinhos, que constituídos em sociedade, sob a firma de Konrad & Raupp, comprometeram-se a dar direção idêntica a que sempre usei neste hotel no prazo de 12 ano, que é justamente o tempo que ele tem de funcionamento no sobrado à rua Andrade Neves nº151.
[...]. Aceitai os protestos de minha estima, (...) Carlos Grindler.

Gatuno rouba atriz e é preso ao sair do hotel
De acordo com o jornal A Tribuna de 29 de abril de 1911, às 4 horas e 30 da madrugada, quando saía do Hotel Grindler, conduzindo umas malas, com o propósito de embarcar no trem com destino a cidade de Rio Grande, foi preso o indivíduo Henrique Crum. Dias antes ele se hospedara naquele estabelecimento.
Procurando saber dos motivos daquela prisão, a reportagem do jornal, pondo-se em campo, apurou o seguinte: à noite do dia 27, uma das atrizes da Companhia portuguesa, que se hospedara no Hotel Grindler, deu por falta da quantia de 350$000 réis em moeda papel e de 29 libras que se encontravam em uma das malas de sua propriedade, em seu quarto.
Na porta deste e na fechadura da referida mala, via-se visíveis sinais de violência, o que tudo levou a conclusão lógica de que se tratava de um roubo.
Dada queixa à polícia,  e esta, tomando as medidas cabíveis, efetuou, dia 29, a prisão de Henrique Crum, sobre o qual recaíram logo fundadas suspeitas, por ter ocorrido idêntico fato em Porto Alegre, onde, de um hóspede do Grande Hotel, no qual também Henrique havia se hospedado, ocorrera um furto de 150$000 réis.
O gatuno embarcara com a companhia no porto de Santos, juntamente com uma amante de nacionalidade polonesa, tendo seguido desde então a trupe da Companhia, neste estado.
Em busca realizada no quarto de Henrique, foi encontrada uma pua e um molhe de chaves diversas.
Em poder do larápio, encontravam-se duas notas de 100$000 réis, ambas com marcas da Companhia portuguesa.

Apresentação de um violinista no hotel
Noticiou a imprensa de Pelotas que, dia 2 de dezembro de 1914, foi realizado um concerto, no Hotel Grindler, em audição especial à imprensa e corpo docente desta cidade, pelo violinista cego Sr. Levino Albano da Conceição.
A assistência, que era numerosa, saiu bastante impressionada com a qualidade artística do violinista Levino, como intérprete “sentimental, sóbrio e arrogante quando assim o exigia a técnica musical”.
Assim foi a apresentação, em Pelotas, do exímio violinista brasileiro.

O conto da caixa que continha uma herança
Pelo trem da tarde do dia 24 de outubro de 1916, hospedando-se no Hotel Grindler, chegou um pecuarista no município de Passo Fundo.
Por volta das 21 horas, daquele mesmo dia, o hóspede saiu a passear pela cidade e, ao chegar à rua Andrade Neves, esquina da Marechal Floriano, foi abordado por um desconhecido, “de cor branca” que, mostrando-lhe uma pequena caixa de folha, pintada de preto, disse-lhe que a mesma continha oito contos de réis, dinheiro esse que deixara seu pai, falecido há pouco, na campanha [interior de cidade], para que fosse distribuído entre os pobres da cidade.
Disse o vigarista também que estava hospedado no Hotel Brasil [hotel próximo ao Theatro Sete de Abril] e que, sendo ele um forasteiro, tinha receio de ser roubado, por isso lhe confiaria a caixa com o dinheiro, caso o hóspede do Hotel Grindler lhe desse como garantia a quantia de um conto de réis.
O interpelado, diante da oferta não titubeou e entregou o dinheiro pedido, levando para o Hotel a caixa de folha.
Ao abri-la, logo em seguida viu que esta continha apenas papéis velhos.
Decepcionado foi queixar-se à polícia...
E assim, vê-se como um conto pode acabar rendendo outro.
No entanto, na madrugada do dia seguinte, a polícia conseguiu efetuar a prisão do vigarista, que estava hospedado no Hotel Lisbonense, à rua Sete de Abril [atual rua D. Pedro II]. Este se chamava Antônio Vieira da Silva.
Em seu poder foi apreendida apenas a quantia de 73$000 réis.
Vieira seria processado.

Um homem perverso: ficará impune?
Na Seção Livre do jornal O Rebate do dia 29 de janeiro de 1919, sob o título de “Um homem perverso” seguido da interrogação: “Ficará impune”?, a irmã de Firmino Ferreira, de 14 anos de idade, Paulina Teixeira, denunciava que seu irmão acabara de ser vítima de um ato miserável, que merecia um enérgico castigo.
Funcionário há bastante do Hotel Grindler, seu irmão vivia perseguido pelo “tineiro” do mesmo hotel, de nome Saraiva que, sujeito de baixos instintos que era, queria submetê-lo a práticas imorais, encontrando sempre “a mais enérgica repulsa”, por parte de seu irmão Firmino.
Firmino, entretanto, era perseguido por Saraiva a toda hora e momento, de forma acintosa.
No dia anterior ao da denúncia, renovando suas propostas, o “sátiro” foi além, agarrando Firmino pelas costas com o firme propósito de violentá-lo.
Como seu irmão sacasse de um canivete para se defender, Saraiva levantou-o no ar e atirou-o de encontro à parede fraturando-lhe uma das pernas em dois locais.
Firmino, em lamentável estado foi conduzido para a Santa Casa, onde ficou em tratamento.
Quanto ao agressor, estava impune, rindo-se do ato infame segundo constava a irmã da vítima, ele não seria  pela polícia, pois lhe parecia que tinha “padrinhos”.
Lavrava assim o seu protesto, exigindo a “punição do malvado”, sob pena de voltar à imprensa e apelar para todos os recursos possíveis.


Continua...

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Hotel Grindler, Pelotas (Parte 2)

Hotel Grindler, Pelotas (parte 2)

A.F. Monquelat



Novos melhoramentos no hotel
Sr. Grindler, no propósito de elevar o seu hotel à altura dos melhores estabelecimentos no gênero existentes no Estado, comunicava aos interessados, em fins de julho de 1898, recém terminar a construção de cômodos e modernos banheiros, bem como efetuar outras reformas e melhoramentos de alta relevância, não só na vasta e bem cuidada área, para o fim de deixá-la própria para o serviço de refeições no verão, como também promovera reformas no interior do prédio.
Este, que já contava com um salão especial para visitas, seria dotado de quartos para noivos, sala para leitura e outros aposentos, todos confortáveis e cômodos.

Inauguração de salão ao ritmo de orquestra de jovens 
Dia 29 de outubro de 1899, foi inaugurado no hotel do Sr. Carlos Grindler o seu novo e espaçoso salão denominado de salão São José, que fora decorado com “muito gosto e vistosamente pelo habilidoso artista Sr. Rosales (Y)”.
O aspecto do salão era agradabilíssimo e muito adequado, em vista  da distribuição das armações, que haviam sido reformadas, bem como os móveis que o decoravam.
Durante o dia, a frequência ao novo e atraente ponto de reunião foi numerosa, tornando-se muito movimentado e festivo.
Havia muitos vasos de flores espalhados pelo ambiente.
À noite, por volta das 20 horas, estando o salão iluminado fartamente a lâmpadas e venezianos [acreditamos tratar-se de um tipo de espelho], surgiu então uma excelente orquestra, composta por jovens do comércio local, deleitando os presentes, dentre as quais inúmeras senhoras, com seleto e harmonioso repertório.
Nessa ocasião,  foi servida uma taça de “champagne” aos presentes, momento em que o Sr. Carlos Grindler recebeu uma amistosa e eloquente saudação do oficial do exército Sr. tenente Tito Villalobos, assim como o cumprimento de outras pessoas ali presentes.
Agora, dizia o jornalista, que o Hotel Grindler concluiu com perseverança e trabalho de seu ativo proprietário as benfeitorias que se havia proposto, cumpria-lhe desejar prosperidades e agradecer as gentilezas que até então lhe tinham sido dispensadas.

Jovem “crioulo” tenta o golpe do bilhete no hotel
Um jovem “crioulo”, de 16 a 18 anos de idade, trajando regularmente e desconhecido, apresentou-se dia 13 de novembro de 1899 no Hotel Grindler pretendendo, por meio de um bilhete com a assinatura falsa, do médico na cidade Dr. Calero, obter do proprietário do hotel a quantia de 31$200 (réis).
Pressionado que foi pelas perguntas que lhe foram feitas, o espertalhão fugiu.
O Sr. Carlos Grindler comunicou o fato ao Dr. Calero, que, por sua vez, o levou ao conhecimento da polícia.
No ato  de apresentar o falso bilhete no hotel, o “crioulo” escolheu-o dentre outros papéis que portava, o que fez supor que ele tencionasse aplicar o golpe em outros locais.

Seria o José, o autor do roubo das panelas?
Entre as noites  de 17  para 18 de janeiro de 1902, os gatunos foram à residência do Sr. Carlos Grindler, proprietário do Hotel Grindler, e penetrando pelo quintal, na cozinha da casa, que ficava anexa à do Sr. José Inácio do Amaral, no extremo da rua Manduca Rodrigues [atual Marcílio Dias], suspenderam com panelas, e mais apetrechos, que puseram em dois sacos, dos quais despejaram o milho que ali estava.
A polícia deteve, para averiguações, um empregado do Sr. Carlos Grindler, de nome José Francisco Abreu.

Em comemoração ao aniversário de 7º ano de fundação do hotel
Que já se tornara um dos principais pontos de referência na cidade, e em sinal de satisfação e alegria, seu proprietário, o Sr. Carlos Grindler, o deixou vistosamente embandeirado, fato que foi comentado pela imprensa local.
O Sr. Grindler, por tal acontecimento, foi muito felicitado pelos seus amigos, vizinhos, hóspedes e fregueses.
O Arauto, semanário local, como merecida homenagem ao “perseverante trabalhador”, estampou, naquele dia, um retrato do Sr. Carlos Grindler, acompanhado de referências elogiosas a ele e ao seu hotel.
As felicitações pelo transcurso de outros aniversários de fundação do hotel se sucederam ano após ano por parte, não só da imprensa de Pelotas como por todos os amigos que o Sr. Carlos fizera desde sua vinda da cidade de Cachoeira, sua cidade natal, para Pelotas.

Janeiro de 1908, o Hotel Grindler anuncia nova ampliação
Pois, o Sr. Grindler desejando corresponder à animadora preferência que lhe vinha dispensando o público, tanto de Pelotas como de outras cidades do Estado, acabava de inaugurar, no espaçoso sobrado onde residira a Exma. família Joucla [o Sr. Joucla foi um dos sócios da Casa Scholberg] – junto ao prédio que, há dez anos, ocupava à rua Andrade Neves nº151 – novas e caprichosas instalações, as quais estavam montadas em condições de proporcionar aos Srs. hóspedes as confortáveis e higiênicas comodidades exigidas em uma casa de tal ordem.
Os novos quartos, entre os quais dois preparados exclusivamente para noivos, encontravam-se providos de modernos e luxuosos móveis, cortinas, finos aparelhos de “toillete”, espelhos, mosquiteiros e etecétera.
Tendo ainda salas para hóspedes, aposentos para Exmas. famílias, quartos para casal, dependência especial para mostruário de caixeiros viajantes, magnífico banheiro de chuva, grande área com soberbo caramanchão, quartos de banho para senhoras, enfim: tudo o quanto era necessário a um estabelecimento nas condições do Hotel Grindler que, desde a sua fundação, tinha mantido a seguinte divisa: Asseio – Conforto – Moralidade – Critério.
Ao final da comunicação feita pelo Sr. Carlos, notassem bem que: com essas reformas, ficou o Hotel Grindler com 19 janelas de frente, sendo 11 pela rua Andrade Neves e 8 pela rua Sete de Setembro.


Continua...

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Hotel Grindler, Pelotas

Hotel Grindler, Pelotas



A. F. Monquelat
Dedicado ao prof. Samir Curi

Certa manhã de certo dia, caminhando por algumas ruas centrais da cidade, ao lado do meu amigo professor e hoteleiro, Samir Curi, mostrava me ele alguns prédios e me perguntava se eu sabia isso, ou aquilo ou outra coisa qualquer a respeito desse ou daquele prédio por ele apontado, e assim fomos até nos despedirmos, depois de saborearmos um cafezinho no Aquário.
Um daqueles prédios em especial despertou minha curiosidade, aquele em que simultaneamente havia abrigado, no passado, dois importantes estabelecimentos comerciais, que foram a Casa Scholberg e o Hotel Grindler, rua Andrade Neves em encontro com a rua Sete de Setembro. E, desde então, parafraseando o Bruxo do Cosme Velho, fui picado pela mosca azul, ou seja: passei a incluir nas minhas buscas em nossa vetusta Bibliotheca Pública Pelotense e noutras andanças, material sobre a existência de hotéis na nossa cidade, que, devo dizer não sabia que foram tantos os que aqui existiram no decorrer dos anos, localizados nos mais diversos pontos geográficos.
A coleta foi feita no decorrer de anos de pesquisa e, inclusive, dada a quantidade de informações obtidas quem sabe até possa algum dia se transformar em livro, coisa para o qual, de momento me ocorre apenas o título para tal projeto: “História dos hotéis de Pelotas – roteiro histórico”.
Enquanto tal projeto não se materializa, vejamos um pouco da história do Hotel Grindler e de seu fundador, Sr. Carlos Grindler.
O nome Carlos Grindler, que saibamos, surge por primeira vez na imprensa através de uma propaganda de seu anterior estabelecimento, quando da publicação em um canto de jornal veiculado no dia 25 de novembro de 1896, na qual era informado aos leitores que o Café do Comércio, estava localizado à rua Andrade Neves 140, em frente à redação do jornal A Opinião Pública, e propriedade do Sr. Carlos Grindler.
Naquele bem montado estabelecimento, dizia o anúncio, encontrava-se, pela manhã, bom café com leite, magnífico chocolate, bem como fatias de gemada e ditas de chocolate, caprichosamente feito.
Durante o dia haveria excelente café, bebidas frescas e o serviço de restaurante satisfaziam aos paladares mais exigentes, estando à direção do serviço a cargo do proprietário, que se esforçaria em bem servir aos amáveis fregueses.
Aos domingos, havia o suculento mocotó e canja de galinha.
O estabelecimento ficava aberto até a meia-noite.
Em meados de janeiro do ano seguinte, 1897, o Café do Comércio era motivo de nota na imprensa local, na qual era dito que esta conhecida casa vinha ampliando o seu serviço de restaurante, fornecendo excelente comida e aceitando pensionistas.
O Carlos Grindler, segundo a nota, fizera bem em ampliar tal serviço da casa, pois preenchia com isso uma falta que se notava em pelotas, que era a de um estabelecimento que fornecesse boa comida, por bons preços, e prestasse serviço de pratos à minuta.


Inauguração da Casa de Pensão, embrião do futuro hotel


Em junho de 1897, sob o título de “Casa de Pensão Carlos Grindler”, era anunciada para o domingo, dia 27, a inauguração desta casa, única em seu gênero, possuindo excelentes cômodos, vasto refeitório, decorado, sala reservada e etc.
A casa forneceria boa comida, tendo sempre bons líquidos em estoque.
Garantia serviço correto e sem delongas, se comprometendo seu proprietário ao escrupuloso cumprimento de seus compromissos.
Encarregar-se-ia de preparar, ao paladar do cliente, qualquer prato extraordinário.
Verificassem e tratassem diretamente com o Sr. Carlos Grindler, à rua Andrade Neves nº 151 (sobrado), onde estivera o Club Caixeiral.


Continua...



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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

O coqueiro da Casa Scholberg e outros coqueiros

O coqueiro da Casa Scholberg e outros coqueiros

A.F. Monquelat
Colégio Gonzaga

        A atual Rua General Neto em seus primórdios, pelos idos de 1815 a 1835, provavelmente tenha sido chamada pelo nome de Rua Coqueiro, passando a partir de 1835, a ser denominada de Rua da Palma. Seja lá como esta mudança de nome tenha se dado, pode-se dizer que se trata de uma clara alusão à existência, àquela época, de um ou mais coqueiros na rua central da cidade.
Meados de março de 1885, quase todos, senão todos os jornais da cidade, noticiaram um fato inusitado ocorrido em Pelotas: a morte de antigo coqueiro, tendo como causa o efeito da explosão de três bananas de dinamite, e, como autores os niilistas da cidade.
A vítima, para alguns de idade quase centenária e para outros contando poucas décadas, era moradora à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] esquina com Sete de Setembro e servia de referência ao estabelecimento comercial do Sr. Sampaio [fundador da célebre loja Bule Monstro], tratado com todo o cuidado pelos moradores da quadra, que após o desaparecimento do coqueiro da esquina, sentiram muito a sua falta sem deixar de amaldiçoarem os autores daquele ato vandálico.
Examinado foi o corpo da vítima, a polícia local se pôs no encalço dos autores do atentado sem conseguir detê-los. Foi constatado que o tronco do finado coqueiro havia sido minado, em parte, onde introduziram três bananas de dinamite, cujo uso era bastante comum na época apesar das restrições impostas pela câmara municipal, prendendo fogo por meio de um comprido estopim.
Os coqueiros, ao que tudo indica, sempre estiveram presentes na paisagem e, em especial, em muitas das esquinas da cidade.
Outro, e centenário, coqueiro da cidade, cantado em prosa e verso por algumas gerações de conzagueanos, era o da esquina do Colégio Gonzaga, dali removido no ano de 1954 pela prefeitura, porque este, dada a sua desafiadora inclinação, tal qual a Torre de Pisa, punha em risco não somente os veículos que por ali transitassem bem como os transeuntes, incluindo os estudantes da própria instituição de ensino.
Há indícios de que, em frente ao antigo sobrado do Barão de Correntes [Felisberto Inácio da Cunha, 1824-1896], havia um centenário coqueiro. Em virtude do violento temporal que se abateu sobre a cidade entre os dias 19 e 20 de setembro do ano de 1934, causando enormes prejuízos, dentre esses o tombamento das inúmeras árvores provocou o desaparecimento do centenário coqueiro.
No entanto, que saibamos, nenhum outro coqueiro elevou tão longe o nome da cidade de Pelotas quanto o coqueiro localizado à frente da Casa Scholberg, rua Andrade Neves esquina rua Sete de setembro, coqueiro esse que serviu como marca registrada não somente para o próprio estabelecimento comercial, quanto para ser usado como a imagem gravada, nos artigos desta célebre casa.
Fundada em 1850, a famosa casa Scholberg teve como primeiro proprietário o Sr. Vicin Laport; com a morte deste, a razão social passou a ser Viúva Laport & Irmão.
Durante muitos anos, a casa Scholberg foi dirigida pelo Sr. Alexandre Gadret.
No decorrer dos anos de funcionamento da Scholberg, sucederam-se as firmas Scolberg & Gadet; Scholberg, Joucla & Silva e Scholberg & Joucla.
Em novembro de 1888, era noticiado que no dia 17 daquele mesmo mês estaria reabrindo para o público a grande e importante fábrica de armas de fogo e instrumentos cirúrgicos dos Srs. Scholberg, Joucla e Silva, que fora transferida para o novo prédio, situado à Rua Sete de Setembro, esquina da Andrade Neves.

Nova inauguração da “Casa Scholberg”

No vasto prédio, à Rua 7 de Setembro, esquina da Andrade Neves, onde estivera o Banco do Brasil, dar-se-ia, dia 3 de outubro de 1926, a inauguração, da antiga “Casa Scholberg”.
O prédio para o qual se mudara a “Casa Scholberg”, a fim de poder ser adaptado às necessidades desta, recebera importantes obras, que o tornara um edifício à altura dos créditos da conhecida casa comercial.
Para que a tradição não sofresse solução de continuidade, à esquina foi plantado majestoso coqueiro, emblema e divisa da “Casa Scholberg”. Mas este coqueiro já é outro, e tem ele outra história, a qual de momento não vem ao caso.
. O coqueiro anterior, existente no endereço confronte onde, na parte superior do prédio desde 1888 funcionou na parte térrea a Casa Scholberg, e na parte superior o Hotel Grindler fundado em 1897 pelo Sr. Carlos Grindler, é o coqueiro que foi vitimado pelo forte temporal que assolou a cidade na noite de 11 para 12 de junho de 1927, para o qual, em sua memória foram feitos os seguintes versos, pelo Sr. P. A. Luz e dedicados ao Sr. capitão Silvino Joaquim Lopes, na época um dos sócios da Scholberg:

Velho Coqueiro
Tu me perguntas a história
Daquele triste coqueiro,
Que sempre viste altaneiro
Na esquina do “Joucla”,

Pois bem, resumidamente,
Vou contar de uma só vez
O que me disse um veterano
Há pouco menos de um mês;

Transportado para ali
O nosso protagonista.
Era ainda um pigmeu.
Com tamanho igual ao teu, 
De lindos ramos contido
Quando a terra ele desceu
Quando a terra ele desceu, 
Debaixo de um alarido...

Assistiu seu plantamento
Um preto de idade avançada,
Que passava no momento,
Cheio de vida e ardor,
Trazendo a mão enlaçada
Na do pretinho seu filho,
Por alcunha “ferrador”;

E debaixo do ajuntamento
Do povo que então estacava,
Era com o acatamento
Daquela gente que olhava,
Metido em funda cova
Na esquina que aludi,
Um filhote de coqueiro, 
Com saúde a toda prova;

E sobre os transtornos do tempo,
Foi crescendo, pouco a pouco,
Dia e noite foi crescendo
De verdejantes repleto
Até que a natureza,
Com sua vasta realeza,
Com sua vasta realeza, 
O aumentou por completo.

Assim, viveu muitos anos, 
Sempre alegre e admirado
Por todos que ali passava,
Até que ultimamente, 
Com a mudança do negócio
Ficou o pobrezinho,
Para a esquina em frente,
Triste...só...abandonado...

Numa tarde, tarde horrenda,
Onze de junho lembrada,
Caiu sobre a cidade
Vento e chuva em rajada;
E, no outro dia mui cedo,
Embora o frio que fazia,
Saindo a ver os destroços
Me dirigi para lá;
E qual não foi a surpresa,
Ao deparar na valeta, 
Que sobre o pé da sarjeta
Um corpo rolava já!...

Aí tens a história que pedes
Do coqueiro do “Joucla”.


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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O célebre baile das cozinheiras - Primeira Parte

O célebre baile das cozinheiras 

Primeira Parte



A.F. Monquelat

    O local onde provavelmente funcionou o célebre baile das cozinheiras, entre as décadas de vinte e trinta do século XX à praça Piratinino de Almeida, seja o mesmo em que no dia 8 de dezembro de 1912 a imprensa local tenha se referido como onde funcionava o “maxixe desbragado” no qual o chofer do auto nº 42 da garagem Fabres, Lourival Ávila foi  “despojado” do seu relógio pela mundana Maria Assis. Esta o havia convidado para dançar. 
A “meliante”, segundo o jornalista, deixara o seu par a “ver navios e deu sebo nos calcanhares” não sendo encontrada pelo motorista no local onde residia, no famoso corredor do Pimpão (Rua Riachuelo, hoje Lobo da Costa, nas proximidades do Camelódromo).
Lourival deu queixa à polícia “que estava agindo”.
Ainda que no local rolasse um maxixe desbragado, frequentado por mundanas despojadoras de relógios, não foi isso o suficiente para estabelecer a fama que nas décadas seguintes o local viria a desfrutar a ponto de ser fechado várias vezes pelas autoridades por denúncias da imprensa.
O nome Baile das Cozinheiras surgiu por primeira vez na imprensa em matéria publicada no A Opinião Pública de 4 de março de 1929.  Nesta qual é dito que na sede da Sociedade Floresta do Sul, mais conhecida por Baile das Cozinheiras e onde cada reunião quase sempre terminava em grossa desordem, houve uma discussão no dia anterior, por volta das 2 horas da madrugada, entre João Francisco Oliveira e outros.
Nessa ocasião, um indivíduo que Oliveira supunha ser Basílio de tal, agrediu-o pelas costas, vibrando-lhe três golpes de arma branca que lhe cortaram o paletó, sendo que um o atingiu na região parietal esquerda até a orelha.
Foi ele medicado na Santa Casa e aí ficou, retirando-se no dia seguinte para sua residência à rua General Osório.
Dia 1º de janeiro de 1930, à noite, no Baile das Cozinheiras, Rosa Lemos e Tolentina Nogueira desentenderam-se por causa de uns olhares ensopados de ternura de um rapaz. Trocadas algumas palavras ríspidas, Tolentina, capoeira de saia, vibrou uma cabeçada no ventre de Rosa, com tal força, que a jogou ao chão. Sob fortes dores, a vítima foi conduzida para a Santa Casa, onde ficou internada na enfermaria Nunes Vieira.
Tolentina, após a marrada, fugiu, não sendo encontrada pela polícia.
Em abril de 1932, sob o pseudônimo de Pelotense, publicou o jornal O Libertador em uma de suas colunas que a polícia julgava-se com o direito de proibir a exibição de filmes com excesso de beijos e redução de roupas. Parecia impossível, segundo o articulista, mas havia filmes com mais beijos e menor roupas do que os que, nos cinemas locais, não poucas vezes, eram vistos... Muito mais atentatórios da moral pública, do que tais filmes eram os bailes públicos que em Pelotas se realizavam, com o nome de Bailes das Cozinheiras que, além de indecorosos, eram turbulentos.
Quantas vezes já haviam ocorrido em Pelotas, nos últimos anos, crimes nos Bailes das Cozinheiras!
Há um ano, mais ou menos, prosseguia o jornalista, depois de uma série de violentas desordens, companheiras inseparáveis das farras onde a prostituição e o álcool se reuniam, a polícia proibira os bailes públicos, ordenando o fechamento de suposto clube.
Mas, havia meses, o mesmo suposto clube, mudando o nome, porém conservando as suas torpezas, voltara a funcionar.
No dia anterior, verificara-se mais uma desordem na perniciosa casa de baile.
Se a polícia não podia evitar que nos bailes públicos ocorressem os conflitos, como sempre ocorriam, por que não os proibia de vez, indagava o jornalista.
Seguindo o baile, vamos nos deparar com a notícia de 15 de abril de 1932, onde era dito que, apesar de noticiado o fechamento do celebrizado Clube 3 de Outubro, mais conhecido pelo nome de Baile das Cozinheiras, continuava este foco de desordens em pleno funcionamento.
Dia 14 ainda, aconteceram naquele local as mesmas deploráveis cenas de sempre.
O pessoal arruaceiro, que ali se reunia, promoveu nova baderna da qual resultou a prisão das “crioulas” Maria de Lourdes e Maria Pereira.
A desordem foi tal que até o muro de um prédio vizinho foi derrubado pela parte dos fundos do famigerado clube.
Acrescia que, a algazarra, as palavras pornográficas e toda uma série de inconveniências tornavam o local inaceitável.
As famílias que residiam nas redondezas reclamavam contra aquele estado de coisas que vinham até prejudicando o proprietário de um prédio ao lado do tal “baile”, pois ninguém havia que se animasse a alugá-lo.
Não era possível conceber que um antro daquela natureza fosse digno de proteção para que até então continuasse a afrontar a moral e o sossego público.
Urgia que se tornasse efetiva a medida saneadora, há dias anunciada e que consistia no fechamento definitivo do pseudoclube.
Outro jornal da cidade, no mesmo dia, dizia que em um desafio à moral pública e às próprias autoridades, o celebrizado Clube 3 de Outubro (Baile das Cozinheiras) içara hoje (16-04-1932) a bandeira, o que significava que, apesar de todas as reclamações e as contínuas desordens ali ocorridas, naquela noite haveria novo baile e novas arruaças.
Esse descaso pelo sossego e ordem pública estava sendo objeto de comentários pela cidade.
Para o jornalista de O libertador, era, francamente, estranhável que, depois de uma ordem dada diretamente pela Prefeitura, no sentido do fechamento do Baile das Cozinheiras, esse pseudoclube anunciasse bailes, como o repórter daquele jornal verificara naquela manhã, ao passar pela frente da sede daquele “foco de torpezas e desordens”, ao ver os cartazes colocados à sua frente, anunciando para “logo mais” à noite um baile.
Quarta-feira última, continuava o jornal em sua denúncia: um jornalista de outro jornal da cidade, autorizado, acreditava ele, noticiava que o Sr. Dr. Victor Russomano, vice-prefeito, ordenara o fechamento do Baile das Cozinheiras.

Continua...


Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Dominguinhos, o mais que centenário

pelotasdeontem.blogspot.com

A. F. Monquelat



Certa feita, publiquei uma série de artigos sobre alguns dos muitos tipos folclóricos e ou populares da cidade de Pelotas, dentre esses, propositalmente, deixei de fora o mais que centenário e popular Dominguinhos, cujo nome é Domingos Moreira. O motivo que me levou a tal decisão foi o fato de não haver muitos dados sobre o nosso personagem e os poucos que por aí circulam, além de pouco confiáveis, são preconceituosos.

Em meados do ano de 1911 o jornal Diário Popular de Pelotas publicou em suas páginas fotos e dados, ainda que poucos, sobre alguns personagens mais que centenários da cidade, e lá se encontrava o nosso Domingos Moreira, o popular Dominguinhos.

Dominguinhos, assim como outros apontados pelo jornal, na ocasião estava recolhido ao Asilo e gozava de boa saúde.

Ao lado da foto, em uma espécie de moldura, era dito que aquela figura era a do popular e muito conhecido Dominguinhos, o qual, não poucas vezes, fora visto nas ruas da cidade dançando, cantando e rindo com a rapaziada, que o apreciava muito, pelo caráter alegre que possuía.

Recolhido ao Asilo há mais ou menos um ano, “conta 130 anos”. Natural do Congo foi para a Bahia, já casado. Sendo vendido como escravo para o Rio Grande, veio, depois para Pelotas, onde casou pela segunda vez.Passava os dias ao sol, cantando e comendo rapaduras, das quais muito gostava.

Diante da precariedade de dados expostos na matéria publicada pelo Diário Popular, sobre alguns personagens centenários da cidade, podemos dizer e lamentar que o jornalista, perdeu, naquela ocasião, a oportunidade de nos legar uma importante reportagem sobre um vulto de tão longa e experiente vida.

Não muitos meses após a publicação da matéria, voltava o Diário Popular a falar sobre Dominguinhos, mas, desta vez, na coluna “Necrologia”, para informar aos seus leitores que falecera, nesta cidade, Domingos Moreira, africano e contando 110 anos de idade.

Observe o leitor que o próprio jornal ao noticiar a morte de Domingos Moreira, em 13 de junho de 1912, que antes dissera ter Dominguinhos 130 anos, dizia agora ser este, africano, contando 110 anos.

Antes de prosseguirmos com a leitura de outras fontes sobre a morte de Dominguinhos, é preciso considerar que, embora de forma bastante sucinta, podemos considerar a reportagem do Diário Popular, sobre os tipos centenários de Pelotas, a principal responsável pela divulgação e permanência entre nós desta popular figura que, inclusive, virou um dos inúmeros cartões postais da Editora Meira, com circulação aérea desde o ano de 1911 e, posteriormente, incorporado ao livro A cidade de Pelotas, em 1922.

O autor da obra, Fernando Osório, não somente utiliza os mesmos dados publicados pelo Diário Popular, bem como reproduz o postal da Meira com a foto de Dominguinhos, e dá asas a sua fértil imaginação,  ao acrescentar: “(...). Como o carneiro do batalhão, cheio de guizos e fitas, surgia o vulto grotesco, minúsculo, quase invisível, do Dominguinhos, trovador da cor inconfundível do carvão, dançarino incansável que atravessou a vida sempre carreando o peso da desventura, constantemente a rir, a cantar e a dançar, para ver se a boa sorte despertava do sono que para ele seria eterno...”

“Aquele metro de gente durou mais de um século (107 anos), a esperar a morte. Pobre alma! Nasceu quando o século XIX tinha apenas oito anos; o século expirou e ele sobreviveu; o século foi das luzes, morreu numa apoteose de grandezas e ele viveu sem luz para morrer numa apoteose de misérias; a morte parecia ter se esquecido de o levar na onda, o século viveu numa orgia de sol e ele, sempre negro, atravessou-o na ignorância profunda, e quando o novo século surgia numa alvorada polar bizarra, cortada pelo jato dos holofotes e pela asa leve e ligeira dos aeroplanos, o Dominguinhos desceu à terra, e nem os sete palmos clássicos os seus  despojos ocuparam, que tanto não tinha ele de altura, mas a memória de cinco gerações está cheia dessa figura de preto que se fez branco para viver na tradição.”

Deixando de lado a fértil criatividade e os gongóricos preconceitos do autor de A cidade de Pelotas, vejamos duas notícias mais sobre a morte de Domingos Moreira, sendo que o jornal A Opinião Pública de 13 de junho de 1912, sobre o ocorrido diz que no dia 11 daquele mês falecera o conhecido Dominguinhos que se achava internado há tempos no Asilo de Mendigos e contava 130 anos de idade.

Domingos Moreira, como se chamava, era um tipo popular, alegre, sempre pronto a servir de brinco, principalmente das crianças, que ele sempre recebia carinhosamente.

O Dominguinhos era africano e, segundo o jornal, guardou sempre, apesar de encanecido pela longa idade, nítidas recordações da era primitiva de Pelotas, para onde viera com tenra idade.
Concluía o jornalista desejando paz aos seus manes [ancestrais].

E por último o jornal A Tribuna, de 13 de junho, que nos informando que: no asilo de Mendigos onde se achava recolhido falecera anteontem o popular preto velho Dominguinhos.

Domingos Moreira contava para mais de um centenário de existência e só recolheu se ao leito daquela instituição nos últimos dias de sua longa vida, quando se sentiu desalentado para prosseguir no labutar constante da luta pela existência.

Dominguinhos, prossegue o jornal, sempre a cantar, tendo sempre um riso franco para os que dele se acercavam, era amigo de todos e por isso não conhecera inimigos.

As crianças, então, eram o seu predileto entretenimento e só elas faziam, muitas vezes, o Dominguinhos parar por momentos na rua para responder-lhes ao ser interpelado: “Quantos anos tens? – Só dois dias, o dia em que nasci e o dia em que vou morrer.”

Que descansasse em paz o Dominguinhos, concluía o jornalista.



Fonte de pesquisa: CDOV- Bibliotheca Pública Pelotense
Revisão do texto e postagem: Jonas Tenfen