Religiões de matriz africana em Pelotas(parte 4)
A.F.Monquelat
Jonas Tenfen
Elvira o prato do dia da Imprensa
Pelo visto, Elvira era um grande prato
para a imprensa de sua época, uma vez que os três jornais deram destaque para o
assunto: Elvira.
O Diário de Pelotas
deu a seguinte versão: Tendo o Sr. Vigésimo José da Silva participado ao
delegado de polícia que há tempos andava uma sua escrava fugida, desconfiava
ele de que a escrava estava acoutada em casa “da preta forra “ Elvira, moradora
na Várzea.
Naquela ocasião, o delegado foi também informado de outras
passagens de Elvira pela cadeia.
Mandou policiais, pois, à casa de Elvira e, “felizmente
estava ela em sessão magna, sendo
apanhada com a boca na botija”.
Comparecendo à polícia, dizia o jornalista, que Elvira
portava uma caixa onde se encontravam “grande porção de bugigangas e, entre
elas, objetos que pertenceram ao espólio de Pedro Álvares Cabral”.
Interrogada, disse Elvira que a tal preta do Sr. Vigésimo
nunca esteve em sua casa e que aqueles objetos não eram mais do que para
decidir pleitos entre seus constituintes.
Foram, também, encontradas algumas cartas de pessoas que lhe
enviavam consultas. Disse o jornalista que as bugigangas foram presas... pelas
chamas, no quintal da polícia.
As pessoas que assistiam a sessão de feitiçaria foram severamente admoestadas pelo Sr.
delegado de polícia.
O jornalista encerrava a notícia dizendo saber um remédio
infalível contra aquela súcia de feiticeiros e, se o Delegado estivesse
disposto a aplicar o tal remédio, o consultasse a tal respeito.
E por falar em Elvira, onde anda...
O Sr. subdelegado de polícia ao dar uma batida, dia 24 de
maio de 1880, em uma casa da Rua 24 de Outubro [atual Tiradentes], casa esta
habitada pela preta Elvira, ali encontrou vários “inocentes” que tinham ido
consultar a “inspirada do Senhor”.
A autoridade policial mandou conduzir para a secretaria de
polícia as “bugigangas” que faziam as delícias dos papalvos que frequentavam
aquele “templo”.
Deu causa àquela batida, uma denúncia de que ali se
encontrava acoitada uma preta fugida, a qual não foi encontrada.
Braz, um modesto Juca Rosa é descoberto em Pelotas
Dia
23 de julho de 1880, a polícia descobriu a presença de um Juca Rosa em Pelotas:
esse, mais modesto que o Juca Rosa carioca, vivia num casebre da Rua Paysandu
[atual Barão de Santa Tecla], fornecendo “drogas e fazendo milagres a troco dos
cobres [dinheiro] dos crentes que lhe frequentavam o templo”.
Dizia
a matéria jornalística que o Juca Rosa, de Pelotas, se chamava Braz e era
natural da Mina, na África Ocidental. A polícia, no entanto, irreverente e
cética como tinha orgulho de demonstrar, invadiu-lhe o templo, profanou-lhe os
deuses e trancafiou tudo no xadrez.
De
nada valeu a Braz estar na intimidade dos seus deuses, os insensíveis policiais
ensurdeceram aos seus lamentos e levaram-no para dar com os costados na cadeia.
E
prossegue o repórter afirmando ser aquele o destino de todos os “Brazes” –
ninguém crer neles. E que a história falava de um Braz Tizana, de um Braz Cubas
e de outro que era Gil. O último dessa raça de “Brazes”, segundo o jornalista,
era o mina feiticeiro que “hoje” estava engaiolado, para exemplo dos seus
iguais no nome e na profissão. E encerrava a notícia lamentando: - Pobre Braz!
O
Diário de Pelotas, por sua vez, tratando da mesma notícia informava aos seus
leitores que o inspetor do 27º quarteirão descobrira, dia 23 de junho, mais um
Manipanso. E que o dono do pio estabelecimento era um preto forro de nome Braz,
morador à Rua Paysandu [atual Barão de Santa Tecla] esquina de Santo Antônio [depois
Miguel Barcelos e atualmente Senador Mendonça].
Entre
outras bugigangas foram apreendidos dois gatos amarrados, um chapéu com ovos,
em mau estado, e algumas tigelas contendo drogas desconhecidas. Encerrava
dizendo que a autoridade policial transportara os objetos para o canal São
Gonçalo e o hábil Braz para o xadrez da polícia.
Elvira volta a ser notícia
O Subdelegado de polícia do 1º distrito fez,
na noite de 25 de julho de 1880 uma surpresa na casa da “muito conhecida
feiticeira” Elvira, negra forra moradora à Rua 24 de Outubro [atual Tiradentes].
Depois da sessão, que terminara por volta das 11 horas da noite, formaram-se os
pares e a música deu sinal para uma quadrilha. Concluída a dança, a polícia,
que tinha convites para todas aquelas funções, entrou e convidou Elvira e os
demais presentes para irem terminar o baile nos espaçosos salões do xadrez,
porém em lugar de ser a toque de música foi a toque de caixa.
O número de convidados era nada menos que 14
pessoas, as quais, por ordem de seus senhores (os que as tinham) foram “ontem
concluir a boda no salão Mário (cadeia da cidade)”.
A
noitada na casa da Elvira, segundo o preconceituoso jornalista do Correio
Mercantil: com o título de “Consequências de um baile, aconteceu, no dia 25 de
julho de 1880, da seguinte forma: que a noite, à Rua 24 de Outubro [atual
Tiradentes], a preta Elvira dava um soirée [noitada]. A casa, iluminada a
giorno, achava-se repleta da aristocracia da sua raça. Os filhos de Cham [Cam]
segredavam amores e deidades cor da noite. Os sons da orquestra, um berimbau e
uma gaita, enchiam a sala e, no rodopiar das valsas, entre requebros e palavras
entrecortadas pela emoção, “tresandava a catinga”. Era um Deus nos acuda.
Ameaçava infeccionar a cidade e desenvolver a peste. A vizinhança, assustada,
correu a dar parte à polícia, e esta, desembainhando os chanfalhos [espadas dos
guardas municipais e dos agentes da polícia] meteu-se na dança. A presença dos
filhos de Marte causou o efeito da cabeça de Medusa [espalhou gente para todos
os lados]. Foi um sauve qui peut [um salve-se quem puder]... uns
treparam no muro, outros engatinharam pelo telhado, houve até alguns que se
sumiram debaixo das camas, dentro dos armários, e, ... quem o acreditaria? O
próprio pote de água serviu de tampo a um dos mais famosos. A não ser os que
escaparam, os mais foram pernoitar no xadrez de polícia, entregues à meditação
sobre os efeitos das havaneiras [habaneras, ‘dança própria de Havana, que se
generalizou’].
Braz volta à prisão
O
Diário de Pelotas, noticiou a prisão do insigne feiticeiro Braz de quem a
polícia dias atrás apreendera grande quantidade de bugigangas e, dentre elas,
um inocente gato amarrado de pés e mãos. Foi
preso depois de surpreendido em sessão extraordinária. A vítima, dizia a
notícia, de quem ele já tinha cobrado 30$000 (réis) por uma feitiçaria era um
súdito português, que também fora levado à presença da autoridade.
Depois de alguma discussão, o Delegado de
polícia entregou o dinheiro à vítima, Braz foi parar no xadrez e os célebres
cozimentos apreendidos no canal São Gonçalo.
Continua...
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Fontes: acervo da
Bibliotheca Pública Pelotense -CDOV e
Pelotas dos Excluídos
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