quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Hotel Grindler, Pelotas (Parte 2)

Hotel Grindler, Pelotas (parte 2)

A.F. Monquelat



Novos melhoramentos no hotel
Sr. Grindler, no propósito de elevar o seu hotel à altura dos melhores estabelecimentos no gênero existentes no Estado, comunicava aos interessados, em fins de julho de 1898, recém terminar a construção de cômodos e modernos banheiros, bem como efetuar outras reformas e melhoramentos de alta relevância, não só na vasta e bem cuidada área, para o fim de deixá-la própria para o serviço de refeições no verão, como também promovera reformas no interior do prédio.
Este, que já contava com um salão especial para visitas, seria dotado de quartos para noivos, sala para leitura e outros aposentos, todos confortáveis e cômodos.

Inauguração de salão ao ritmo de orquestra de jovens 
Dia 29 de outubro de 1899, foi inaugurado no hotel do Sr. Carlos Grindler o seu novo e espaçoso salão denominado de salão São José, que fora decorado com “muito gosto e vistosamente pelo habilidoso artista Sr. Rosales (Y)”.
O aspecto do salão era agradabilíssimo e muito adequado, em vista  da distribuição das armações, que haviam sido reformadas, bem como os móveis que o decoravam.
Durante o dia, a frequência ao novo e atraente ponto de reunião foi numerosa, tornando-se muito movimentado e festivo.
Havia muitos vasos de flores espalhados pelo ambiente.
À noite, por volta das 20 horas, estando o salão iluminado fartamente a lâmpadas e venezianos [acreditamos tratar-se de um tipo de espelho], surgiu então uma excelente orquestra, composta por jovens do comércio local, deleitando os presentes, dentre as quais inúmeras senhoras, com seleto e harmonioso repertório.
Nessa ocasião,  foi servida uma taça de “champagne” aos presentes, momento em que o Sr. Carlos Grindler recebeu uma amistosa e eloquente saudação do oficial do exército Sr. tenente Tito Villalobos, assim como o cumprimento de outras pessoas ali presentes.
Agora, dizia o jornalista, que o Hotel Grindler concluiu com perseverança e trabalho de seu ativo proprietário as benfeitorias que se havia proposto, cumpria-lhe desejar prosperidades e agradecer as gentilezas que até então lhe tinham sido dispensadas.

Jovem “crioulo” tenta o golpe do bilhete no hotel
Um jovem “crioulo”, de 16 a 18 anos de idade, trajando regularmente e desconhecido, apresentou-se dia 13 de novembro de 1899 no Hotel Grindler pretendendo, por meio de um bilhete com a assinatura falsa, do médico na cidade Dr. Calero, obter do proprietário do hotel a quantia de 31$200 (réis).
Pressionado que foi pelas perguntas que lhe foram feitas, o espertalhão fugiu.
O Sr. Carlos Grindler comunicou o fato ao Dr. Calero, que, por sua vez, o levou ao conhecimento da polícia.
No ato  de apresentar o falso bilhete no hotel, o “crioulo” escolheu-o dentre outros papéis que portava, o que fez supor que ele tencionasse aplicar o golpe em outros locais.

Seria o José, o autor do roubo das panelas?
Entre as noites  de 17  para 18 de janeiro de 1902, os gatunos foram à residência do Sr. Carlos Grindler, proprietário do Hotel Grindler, e penetrando pelo quintal, na cozinha da casa, que ficava anexa à do Sr. José Inácio do Amaral, no extremo da rua Manduca Rodrigues [atual Marcílio Dias], suspenderam com panelas, e mais apetrechos, que puseram em dois sacos, dos quais despejaram o milho que ali estava.
A polícia deteve, para averiguações, um empregado do Sr. Carlos Grindler, de nome José Francisco Abreu.

Em comemoração ao aniversário de 7º ano de fundação do hotel
Que já se tornara um dos principais pontos de referência na cidade, e em sinal de satisfação e alegria, seu proprietário, o Sr. Carlos Grindler, o deixou vistosamente embandeirado, fato que foi comentado pela imprensa local.
O Sr. Grindler, por tal acontecimento, foi muito felicitado pelos seus amigos, vizinhos, hóspedes e fregueses.
O Arauto, semanário local, como merecida homenagem ao “perseverante trabalhador”, estampou, naquele dia, um retrato do Sr. Carlos Grindler, acompanhado de referências elogiosas a ele e ao seu hotel.
As felicitações pelo transcurso de outros aniversários de fundação do hotel se sucederam ano após ano por parte, não só da imprensa de Pelotas como por todos os amigos que o Sr. Carlos fizera desde sua vinda da cidade de Cachoeira, sua cidade natal, para Pelotas.

Janeiro de 1908, o Hotel Grindler anuncia nova ampliação
Pois, o Sr. Grindler desejando corresponder à animadora preferência que lhe vinha dispensando o público, tanto de Pelotas como de outras cidades do Estado, acabava de inaugurar, no espaçoso sobrado onde residira a Exma. família Joucla [o Sr. Joucla foi um dos sócios da Casa Scholberg] – junto ao prédio que, há dez anos, ocupava à rua Andrade Neves nº151 – novas e caprichosas instalações, as quais estavam montadas em condições de proporcionar aos Srs. hóspedes as confortáveis e higiênicas comodidades exigidas em uma casa de tal ordem.
Os novos quartos, entre os quais dois preparados exclusivamente para noivos, encontravam-se providos de modernos e luxuosos móveis, cortinas, finos aparelhos de “toillete”, espelhos, mosquiteiros e etecétera.
Tendo ainda salas para hóspedes, aposentos para Exmas. famílias, quartos para casal, dependência especial para mostruário de caixeiros viajantes, magnífico banheiro de chuva, grande área com soberbo caramanchão, quartos de banho para senhoras, enfim: tudo o quanto era necessário a um estabelecimento nas condições do Hotel Grindler que, desde a sua fundação, tinha mantido a seguinte divisa: Asseio – Conforto – Moralidade – Critério.
Ao final da comunicação feita pelo Sr. Carlos, notassem bem que: com essas reformas, ficou o Hotel Grindler com 19 janelas de frente, sendo 11 pela rua Andrade Neves e 8 pela rua Sete de Setembro.


Continua...

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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Hotel Grindler, Pelotas

Hotel Grindler, Pelotas



A. F. Monquelat
Dedicado ao prof. Samir Curi

Certa manhã de certo dia, caminhando por algumas ruas centrais da cidade, ao lado do meu amigo professor e hoteleiro, Samir Curi, mostrava me ele alguns prédios e me perguntava se eu sabia isso, ou aquilo ou outra coisa qualquer a respeito desse ou daquele prédio por ele apontado, e assim fomos até nos despedirmos, depois de saborearmos um cafezinho no Aquário.
Um daqueles prédios em especial despertou minha curiosidade, aquele em que simultaneamente havia abrigado, no passado, dois importantes estabelecimentos comerciais, que foram a Casa Scholberg e o Hotel Grindler, rua Andrade Neves em encontro com a rua Sete de Setembro. E, desde então, parafraseando o Bruxo do Cosme Velho, fui picado pela mosca azul, ou seja: passei a incluir nas minhas buscas em nossa vetusta Bibliotheca Pública Pelotense e noutras andanças, material sobre a existência de hotéis na nossa cidade, que, devo dizer não sabia que foram tantos os que aqui existiram no decorrer dos anos, localizados nos mais diversos pontos geográficos.
A coleta foi feita no decorrer de anos de pesquisa e, inclusive, dada a quantidade de informações obtidas quem sabe até possa algum dia se transformar em livro, coisa para o qual, de momento me ocorre apenas o título para tal projeto: “História dos hotéis de Pelotas – roteiro histórico”.
Enquanto tal projeto não se materializa, vejamos um pouco da história do Hotel Grindler e de seu fundador, Sr. Carlos Grindler.
O nome Carlos Grindler, que saibamos, surge por primeira vez na imprensa através de uma propaganda de seu anterior estabelecimento, quando da publicação em um canto de jornal veiculado no dia 25 de novembro de 1896, na qual era informado aos leitores que o Café do Comércio, estava localizado à rua Andrade Neves 140, em frente à redação do jornal A Opinião Pública, e propriedade do Sr. Carlos Grindler.
Naquele bem montado estabelecimento, dizia o anúncio, encontrava-se, pela manhã, bom café com leite, magnífico chocolate, bem como fatias de gemada e ditas de chocolate, caprichosamente feito.
Durante o dia haveria excelente café, bebidas frescas e o serviço de restaurante satisfaziam aos paladares mais exigentes, estando à direção do serviço a cargo do proprietário, que se esforçaria em bem servir aos amáveis fregueses.
Aos domingos, havia o suculento mocotó e canja de galinha.
O estabelecimento ficava aberto até a meia-noite.
Em meados de janeiro do ano seguinte, 1897, o Café do Comércio era motivo de nota na imprensa local, na qual era dito que esta conhecida casa vinha ampliando o seu serviço de restaurante, fornecendo excelente comida e aceitando pensionistas.
O Carlos Grindler, segundo a nota, fizera bem em ampliar tal serviço da casa, pois preenchia com isso uma falta que se notava em pelotas, que era a de um estabelecimento que fornecesse boa comida, por bons preços, e prestasse serviço de pratos à minuta.


Inauguração da Casa de Pensão, embrião do futuro hotel


Em junho de 1897, sob o título de “Casa de Pensão Carlos Grindler”, era anunciada para o domingo, dia 27, a inauguração desta casa, única em seu gênero, possuindo excelentes cômodos, vasto refeitório, decorado, sala reservada e etc.
A casa forneceria boa comida, tendo sempre bons líquidos em estoque.
Garantia serviço correto e sem delongas, se comprometendo seu proprietário ao escrupuloso cumprimento de seus compromissos.
Encarregar-se-ia de preparar, ao paladar do cliente, qualquer prato extraordinário.
Verificassem e tratassem diretamente com o Sr. Carlos Grindler, à rua Andrade Neves nº 151 (sobrado), onde estivera o Club Caixeiral.


Continua...



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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

O coqueiro da Casa Scholberg e outros coqueiros

O coqueiro da Casa Scholberg e outros coqueiros

A.F. Monquelat
Colégio Gonzaga

        A atual Rua General Neto em seus primórdios, pelos idos de 1815 a 1835, provavelmente tenha sido chamada pelo nome de Rua Coqueiro, passando a partir de 1835, a ser denominada de Rua da Palma. Seja lá como esta mudança de nome tenha se dado, pode-se dizer que se trata de uma clara alusão à existência, àquela época, de um ou mais coqueiros na rua central da cidade.
Meados de março de 1885, quase todos, senão todos os jornais da cidade, noticiaram um fato inusitado ocorrido em Pelotas: a morte de antigo coqueiro, tendo como causa o efeito da explosão de três bananas de dinamite, e, como autores os niilistas da cidade.
A vítima, para alguns de idade quase centenária e para outros contando poucas décadas, era moradora à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] esquina com Sete de Setembro e servia de referência ao estabelecimento comercial do Sr. Sampaio [fundador da célebre loja Bule Monstro], tratado com todo o cuidado pelos moradores da quadra, que após o desaparecimento do coqueiro da esquina, sentiram muito a sua falta sem deixar de amaldiçoarem os autores daquele ato vandálico.
Examinado foi o corpo da vítima, a polícia local se pôs no encalço dos autores do atentado sem conseguir detê-los. Foi constatado que o tronco do finado coqueiro havia sido minado, em parte, onde introduziram três bananas de dinamite, cujo uso era bastante comum na época apesar das restrições impostas pela câmara municipal, prendendo fogo por meio de um comprido estopim.
Os coqueiros, ao que tudo indica, sempre estiveram presentes na paisagem e, em especial, em muitas das esquinas da cidade.
Outro, e centenário, coqueiro da cidade, cantado em prosa e verso por algumas gerações de conzagueanos, era o da esquina do Colégio Gonzaga, dali removido no ano de 1954 pela prefeitura, porque este, dada a sua desafiadora inclinação, tal qual a Torre de Pisa, punha em risco não somente os veículos que por ali transitassem bem como os transeuntes, incluindo os estudantes da própria instituição de ensino.
Há indícios de que, em frente ao antigo sobrado do Barão de Correntes [Felisberto Inácio da Cunha, 1824-1896], havia um centenário coqueiro. Em virtude do violento temporal que se abateu sobre a cidade entre os dias 19 e 20 de setembro do ano de 1934, causando enormes prejuízos, dentre esses o tombamento das inúmeras árvores provocou o desaparecimento do centenário coqueiro.
No entanto, que saibamos, nenhum outro coqueiro elevou tão longe o nome da cidade de Pelotas quanto o coqueiro localizado à frente da Casa Scholberg, rua Andrade Neves esquina rua Sete de setembro, coqueiro esse que serviu como marca registrada não somente para o próprio estabelecimento comercial, quanto para ser usado como a imagem gravada, nos artigos desta célebre casa.
Fundada em 1850, a famosa casa Scholberg teve como primeiro proprietário o Sr. Vicin Laport; com a morte deste, a razão social passou a ser Viúva Laport & Irmão.
Durante muitos anos, a casa Scholberg foi dirigida pelo Sr. Alexandre Gadret.
No decorrer dos anos de funcionamento da Scholberg, sucederam-se as firmas Scolberg & Gadet; Scholberg, Joucla & Silva e Scholberg & Joucla.
Em novembro de 1888, era noticiado que no dia 17 daquele mesmo mês estaria reabrindo para o público a grande e importante fábrica de armas de fogo e instrumentos cirúrgicos dos Srs. Scholberg, Joucla e Silva, que fora transferida para o novo prédio, situado à Rua Sete de Setembro, esquina da Andrade Neves.

Nova inauguração da “Casa Scholberg”

No vasto prédio, à Rua 7 de Setembro, esquina da Andrade Neves, onde estivera o Banco do Brasil, dar-se-ia, dia 3 de outubro de 1926, a inauguração, da antiga “Casa Scholberg”.
O prédio para o qual se mudara a “Casa Scholberg”, a fim de poder ser adaptado às necessidades desta, recebera importantes obras, que o tornara um edifício à altura dos créditos da conhecida casa comercial.
Para que a tradição não sofresse solução de continuidade, à esquina foi plantado majestoso coqueiro, emblema e divisa da “Casa Scholberg”. Mas este coqueiro já é outro, e tem ele outra história, a qual de momento não vem ao caso.
. O coqueiro anterior, existente no endereço confronte onde, na parte superior do prédio desde 1888 funcionou na parte térrea a Casa Scholberg, e na parte superior o Hotel Grindler fundado em 1897 pelo Sr. Carlos Grindler, é o coqueiro que foi vitimado pelo forte temporal que assolou a cidade na noite de 11 para 12 de junho de 1927, para o qual, em sua memória foram feitos os seguintes versos, pelo Sr. P. A. Luz e dedicados ao Sr. capitão Silvino Joaquim Lopes, na época um dos sócios da Scholberg:

Velho Coqueiro
Tu me perguntas a história
Daquele triste coqueiro,
Que sempre viste altaneiro
Na esquina do “Joucla”,

Pois bem, resumidamente,
Vou contar de uma só vez
O que me disse um veterano
Há pouco menos de um mês;

Transportado para ali
O nosso protagonista.
Era ainda um pigmeu.
Com tamanho igual ao teu, 
De lindos ramos contido
Quando a terra ele desceu
Quando a terra ele desceu, 
Debaixo de um alarido...

Assistiu seu plantamento
Um preto de idade avançada,
Que passava no momento,
Cheio de vida e ardor,
Trazendo a mão enlaçada
Na do pretinho seu filho,
Por alcunha “ferrador”;

E debaixo do ajuntamento
Do povo que então estacava,
Era com o acatamento
Daquela gente que olhava,
Metido em funda cova
Na esquina que aludi,
Um filhote de coqueiro, 
Com saúde a toda prova;

E sobre os transtornos do tempo,
Foi crescendo, pouco a pouco,
Dia e noite foi crescendo
De verdejantes repleto
Até que a natureza,
Com sua vasta realeza,
Com sua vasta realeza, 
O aumentou por completo.

Assim, viveu muitos anos, 
Sempre alegre e admirado
Por todos que ali passava,
Até que ultimamente, 
Com a mudança do negócio
Ficou o pobrezinho,
Para a esquina em frente,
Triste...só...abandonado...

Numa tarde, tarde horrenda,
Onze de junho lembrada,
Caiu sobre a cidade
Vento e chuva em rajada;
E, no outro dia mui cedo,
Embora o frio que fazia,
Saindo a ver os destroços
Me dirigi para lá;
E qual não foi a surpresa,
Ao deparar na valeta, 
Que sobre o pé da sarjeta
Um corpo rolava já!...

Aí tens a história que pedes
Do coqueiro do “Joucla”.


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Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O célebre baile das cozinheiras - Primeira Parte

O célebre baile das cozinheiras 

Primeira Parte



A.F. Monquelat

    O local onde provavelmente funcionou o célebre baile das cozinheiras, entre as décadas de vinte e trinta do século XX à praça Piratinino de Almeida, seja o mesmo em que no dia 8 de dezembro de 1912 a imprensa local tenha se referido como onde funcionava o “maxixe desbragado” no qual o chofer do auto nº 42 da garagem Fabres, Lourival Ávila foi  “despojado” do seu relógio pela mundana Maria Assis. Esta o havia convidado para dançar. 
A “meliante”, segundo o jornalista, deixara o seu par a “ver navios e deu sebo nos calcanhares” não sendo encontrada pelo motorista no local onde residia, no famoso corredor do Pimpão (Rua Riachuelo, hoje Lobo da Costa, nas proximidades do Camelódromo).
Lourival deu queixa à polícia “que estava agindo”.
Ainda que no local rolasse um maxixe desbragado, frequentado por mundanas despojadoras de relógios, não foi isso o suficiente para estabelecer a fama que nas décadas seguintes o local viria a desfrutar a ponto de ser fechado várias vezes pelas autoridades por denúncias da imprensa.
O nome Baile das Cozinheiras surgiu por primeira vez na imprensa em matéria publicada no A Opinião Pública de 4 de março de 1929.  Nesta qual é dito que na sede da Sociedade Floresta do Sul, mais conhecida por Baile das Cozinheiras e onde cada reunião quase sempre terminava em grossa desordem, houve uma discussão no dia anterior, por volta das 2 horas da madrugada, entre João Francisco Oliveira e outros.
Nessa ocasião, um indivíduo que Oliveira supunha ser Basílio de tal, agrediu-o pelas costas, vibrando-lhe três golpes de arma branca que lhe cortaram o paletó, sendo que um o atingiu na região parietal esquerda até a orelha.
Foi ele medicado na Santa Casa e aí ficou, retirando-se no dia seguinte para sua residência à rua General Osório.
Dia 1º de janeiro de 1930, à noite, no Baile das Cozinheiras, Rosa Lemos e Tolentina Nogueira desentenderam-se por causa de uns olhares ensopados de ternura de um rapaz. Trocadas algumas palavras ríspidas, Tolentina, capoeira de saia, vibrou uma cabeçada no ventre de Rosa, com tal força, que a jogou ao chão. Sob fortes dores, a vítima foi conduzida para a Santa Casa, onde ficou internada na enfermaria Nunes Vieira.
Tolentina, após a marrada, fugiu, não sendo encontrada pela polícia.
Em abril de 1932, sob o pseudônimo de Pelotense, publicou o jornal O Libertador em uma de suas colunas que a polícia julgava-se com o direito de proibir a exibição de filmes com excesso de beijos e redução de roupas. Parecia impossível, segundo o articulista, mas havia filmes com mais beijos e menor roupas do que os que, nos cinemas locais, não poucas vezes, eram vistos... Muito mais atentatórios da moral pública, do que tais filmes eram os bailes públicos que em Pelotas se realizavam, com o nome de Bailes das Cozinheiras que, além de indecorosos, eram turbulentos.
Quantas vezes já haviam ocorrido em Pelotas, nos últimos anos, crimes nos Bailes das Cozinheiras!
Há um ano, mais ou menos, prosseguia o jornalista, depois de uma série de violentas desordens, companheiras inseparáveis das farras onde a prostituição e o álcool se reuniam, a polícia proibira os bailes públicos, ordenando o fechamento de suposto clube.
Mas, havia meses, o mesmo suposto clube, mudando o nome, porém conservando as suas torpezas, voltara a funcionar.
No dia anterior, verificara-se mais uma desordem na perniciosa casa de baile.
Se a polícia não podia evitar que nos bailes públicos ocorressem os conflitos, como sempre ocorriam, por que não os proibia de vez, indagava o jornalista.
Seguindo o baile, vamos nos deparar com a notícia de 15 de abril de 1932, onde era dito que, apesar de noticiado o fechamento do celebrizado Clube 3 de Outubro, mais conhecido pelo nome de Baile das Cozinheiras, continuava este foco de desordens em pleno funcionamento.
Dia 14 ainda, aconteceram naquele local as mesmas deploráveis cenas de sempre.
O pessoal arruaceiro, que ali se reunia, promoveu nova baderna da qual resultou a prisão das “crioulas” Maria de Lourdes e Maria Pereira.
A desordem foi tal que até o muro de um prédio vizinho foi derrubado pela parte dos fundos do famigerado clube.
Acrescia que, a algazarra, as palavras pornográficas e toda uma série de inconveniências tornavam o local inaceitável.
As famílias que residiam nas redondezas reclamavam contra aquele estado de coisas que vinham até prejudicando o proprietário de um prédio ao lado do tal “baile”, pois ninguém havia que se animasse a alugá-lo.
Não era possível conceber que um antro daquela natureza fosse digno de proteção para que até então continuasse a afrontar a moral e o sossego público.
Urgia que se tornasse efetiva a medida saneadora, há dias anunciada e que consistia no fechamento definitivo do pseudoclube.
Outro jornal da cidade, no mesmo dia, dizia que em um desafio à moral pública e às próprias autoridades, o celebrizado Clube 3 de Outubro (Baile das Cozinheiras) içara hoje (16-04-1932) a bandeira, o que significava que, apesar de todas as reclamações e as contínuas desordens ali ocorridas, naquela noite haveria novo baile e novas arruaças.
Esse descaso pelo sossego e ordem pública estava sendo objeto de comentários pela cidade.
Para o jornalista de O libertador, era, francamente, estranhável que, depois de uma ordem dada diretamente pela Prefeitura, no sentido do fechamento do Baile das Cozinheiras, esse pseudoclube anunciasse bailes, como o repórter daquele jornal verificara naquela manhã, ao passar pela frente da sede daquele “foco de torpezas e desordens”, ao ver os cartazes colocados à sua frente, anunciando para “logo mais” à noite um baile.
Quarta-feira última, continuava o jornal em sua denúncia: um jornalista de outro jornal da cidade, autorizado, acreditava ele, noticiava que o Sr. Dr. Victor Russomano, vice-prefeito, ordenara o fechamento do Baile das Cozinheiras.

Continua...


Fonte de pesquisa: CDOV – Bibliotheca Pública Pelotense
Imagens: acervo de A.F. Monquelat
Revisão de texto e postagem: Jonas Tenfen