sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

A revolta dos negros Minas

 (parte 1)


         A.F. Monquelat




         A Província de São Pedro depois da malograda tentativa de alguns fazendeiros, comerciantes e charqueadores de tentarem impor seus interesses pessoais ao império brasileiro, através de um movimento de sedição que com o tempo passou a ser conhecido como Revolução Farroupilha, recém retomara suas atividades.
         A todos os sediciosos, exceto Neto que se retirou da Província, foram concedidos benefícios, cargos ou patentes militares.
         Aos negros sobreviventes, escravos no império escravocrata brasileiro, restava o retorno ao desumano trabalho que os Senhores da Carne lhes impunham.
         Ao sul do sul da Província, no lugar outrora conhecido como os campos das pelotas, alguns charqueadores que durante a revolta farroupilha haviam deixado o lugar e se dirigido ao país vizinho, o Estado Oriental del Uruguay, levando seus escravos e pondo-os a trabalharem em seus novos estabelecimentos ou terceirizando-os aos saladeristas montevideanos, já haviam retornado. Isso depois de uma enorme demonstração de desrespeito com as autoridades do país que os recebera, ao descumprirem o compromisso de entregarem alguns de seus escravos para se engajarem ao exército uruguaio, mesmo sendo indenizados por aquele governo e, através de tal ato, privando homens de suas liberdades, pois o Uruguai já abolira a escravidão, trazendo-os novamente para as insalubres senzalas de suas charqueadas no território pelotense, onde lhes esperava o desumano trabalho e a barbárie do chicote.
         Nas ruas desta, que o viajante passara a chamar de Pérola do Sul, a um caminhante mais atento não passaria despercebido certo ar de conspiração.
         Pela Rua Augusta, ao longe, se avistava dois negros, certamente escravos, em direção a uma das cacimbas do mato que a Câmara mandara abrir para o abastecimento de água dos habitantes da cidade.
         Quem os visse de perto, talvez notasse em suas nucas a parte recém-raspada, muito embora não viesse, a saber, o significado daquela linha reta de orelha a orelha.
         O movimento nas ruas era ainda muito pequeno, a cidade despertara a pouco, um que outro cavaleiro, uma carreta ou outra, talvez em direção ao local determinado onde os colonos poderiam vender seus produtos.
         Naquela mesma Rua Augusta, via-se, saindo de uma bodega, dois tropeiros desamarrando seus cavalos com a intenção de montá-los e partirem em direção aos seus pagos, depois de terem passado pedaço da noite anterior bebendo, jogando e se divertindo com as pensionistas da bodega, que ali tinham seus quartos para atenderem seus clientes.
         Nas proximidades das ruas da Horta e do Padeiro, algumas negras com pesadas trouxas de roupa na cabeça, cantarolando algo ininteligível, se encaminhavam em direção ao arroio. Eram elas, sem dúvida, as lavadeiras do Santa Bárbara. As negras Minas, as tias Minas, de tantos saberes e igual número de histórias.
    Caso alguém as seguisse até o arroio e ali as escutasse, ouviria, ao som da água e a batida das roupas nas pedras, cantando enigmático verso:     -Hoje lavamos para os brancos, e não tarda que os brancos lavem pra nós.
    Mas, quem as escutaria se aquele enigmático cantarolar era abafado pelo badalar do sino da Igreja Matriz ou pelo vozerio dos negros e negras, escravos de ganho, os já tradicionais quitandeiros e quitandeiras, que aos brados ofereciam seus quitutes desde a Praça da Quitanda?
Adiante, quem passasse pela Rua do Poço em direção a Rua Alegre veria, entre dois sobrados ali existentes, um monturo de imundície.
Já na Praça do Theatro, que não era nada além de um campo aberto, relegada ao descaso, à disposição dos animais da vizinhança, pastavam tranquilamente algumas vacas, outras cabras e até mesmo uma mula.
    Em outro terreno, ali próximo, adquirido há pouco para a construção de um mercado, uma pequena casa de comércio funcionava fornecendo mercadorias aos moradores das redondezas, enquanto a Câmara da cidade mobilizava-se em projetos e verbas que lhe permitisse a edificação do já projetado Mercado Central.
    Em casa do Sr. Luiz Manoel Pinto Ribeiro, um de seus escravos, um negro da Nação Mina, “inquestionavelmente reconhecidos como a mais inteligente da raça negra”, que por seu senhor sentia grande amizade, pois aquele sempre o tratara com cordialidade, insistia em dizer-lhe que havia uma conjura em andamento, coisa que seu senhor não achou que fosse de se levar a sério.
    Soubesse o Sr. Luiz Manoel Pinto Ribeiro, que a cidade, para sua guarnição e defesa contava apenas com um destacamento de 70 ou 90 homens do 8º batalhão de Caçadores e uma meia dúzia de policiais, criançolas na sua quase totalidade; além do que, em casa do Sr. Francisco Manoel dos Passos, o primeiro que ouvira da boca de um escravo de sua propriedade, tal informação já fora dita e com insistência, assim como também na casa do Sr. Antônio de Oliveira Castro, outro cativo, de Nação Mina, informava haver um projetado levante de escravos por acontecer, certamente teria dado maior atenção ao que lhe dizia aquele escravo.
O que, em resumo, disseram os escravos aos seus senhores foi: que eles haviam sido convocados para esse levante; que os principais aliciadores do levante eram os escravos do Sr. Manoel Rodrigues Valadares e, em especial os da charqueada do Sr. Manoel Batista Teixeira, e que alguns outros escravos da cidade, inclusive um, de certo cuteleiro e outro, de certo ferreiro, estavam também envolvidos, inclusive se comprometendo a abrirem, na hora aprazada, as portas da casa de seus senhores a fim de que os revoltosos se abastecessem de armas que ali houvesse em condições para o evento. E acrescentaram que todos os negros conjurados deviam ser conhecidos pela nuca rapada, que era o sinal distintivo que usavam os envolvidos na rebelião.
Todas essas informações, fornecidas pelos delatores da conspiração dos Minas aos seus senhores, foram, dias depois de ouvidas, levadas ao conhecimento do Sr. delegado Vieira Viana que, sem titubear, imediatamente expediu circulares a todos os charqueadores que de imediato se puseram de sobreaviso, tratando de encerrar à noite seus escravos, que a tal não se opuseram nem tampouco ofereceram resistência alguma.
                                                                                       
                                                                                        Continua...


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Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Cinema Apolo, Pelotas




         É provável que o Cinema Apolo tenha sido o primeiro dos cinemas construídos, em Pelotas, pela empresa Xavier & Santos.
         A iniciativa da empresa foi anunciada pela imprensa aos 25 dias do mês de fevereiro de 1925, sob o título de “Novo cinema”, onde era dito que na segunda-feira da próxima semana teria início a construção do novo cinema da empresa Xavier & Santos, o qual seria localizado à Rua Felix da Cunha, esquina Gomes Carneiro.
         A nova casa denominar-se-ia Cinema Apolo, devendo a obra terminar no mais breve prazo possível.
         Aos 4 dias de fevereiro daquele mesmo ano era dito já ter sido dado início, dia 2 daquele mês, a construção do novo cinema com  o qual a empresa Xavier & Santos dotaria a cidade, aumentando assim o seu raio de ação e oferecendo ao público mais uma confortável e elegante casa de diversões.
         A construção do novo cinema obedeceria a todos os requisitos da técnica moderna, não só quanto a arquitetura como à disposição para a comodidade do público.
         As obras seguiam com máxima atividade, tendo iniciado o assentamento dos tijolos para levantamento das paredes. O ato teve como padrinho o menino Homero Santos, filho mais moço do Sr. Francisco Santos, que colocou o primeiro tijolo. A empresa comemorou o acontecimento oferecendo grande quantidade de chope e outras bebidas a todos os operários, que eram em número de sessenta e dois.
         Em meados de maio de 1925 foi noticiado prosseguirem em ritmo acelerado as obras do novo cinema, já tendo começado a colocação das telhas e, adiantados como iam os trabalhos, era de se esperar que dentro de um mês ou pouco mais fosse inaugurado o “novo theatro”.






A inauguração
         Segundo os jornais do dia 15 de agosto de 1925, estava definitivamente assentada para o dia 4 de setembro a inauguração do “elegante Theatro Apolo”, que a empresa Xavier & Santos construíra à Rua Felix da Cunha, esquina Gomes Carneiro.
         O novo centro de diversões populares, que estava recebendo as últimas demãos, comportaria uma lotação de 1.250 cadeiras e 300 gerais.
A inauguração dar-se-ia às 20 horas do dia 4 de setembro de 1925, com um grandioso espetáculo, sendo executada a sinfonia Guarani pelas orquestras do novo theatro e do 7 de Abril, em conjunto.
Em seguida seriam exibidas magníficas fitas [filmes], sendo uma local, da Fábrica Guarany, a comédia Sunshine Radiomania e o soberbo drama em 7 partes Romance da floresta, interpretado pelo “simpático” Willians Desmond.
         No palco, seria apresentado o duo sertanejo os Rochinhas, em consagrados números de variedades.
         Para esse extraordinário espetáculo vigorariam os preços de 3$ e 1$500 gerais.
         O novo teatro correspondia a um belo melhoramento para a zona onde estava localizado, e para uma parte da população de Pelotas, que com maior facilidade poderia assistir aos espetáculos que a empresa Xavier & Santos costumava proporcionar.
         Além disso, o Apolo fora construído em condições de oferecer conforto e comodidade, quer na estação invernosa, quer no verão, ventilado como era por numerosas e amplas aberturas móveis.
         A plateia, dividida em 5 corredores, comportava 1.200 poltronas e a galeria, a entrada da sala, dava lugar à 250 pessoas.
         Dispunha ainda o Apolo de um magnífico palco e a cabine, destinada às projeções cinematográficas, era toda de cimento armado, oferecendo assim maior segurança em caso de qualquer sinistro.
         A fachada, que quando do ato de inauguração não estava concluída, era de estilo moderno; um elegante vestíbulo, gabinetes reservados para homens e mulheres, bilheterias e depósito, completavam as instalações do novo teatro.
         A iluminação era abundante e bem distribuída, tendo sido toda a instalação executada pelo Sr. Antenor de Barros Farias, hábil operador da empresa.
         A construção do Apolo foi executada pelos Srs. Xavir, Duarte & Companhia e a decoração pelo Sr. Cândido Bello, tendo sido confiado ao Sr. Alfredo Buchardi a confecção do pano de boca.
         Ao ato inaugural compareceu enorme multidão, que lotou a quadra inteira do teatro, achando-se também a vasta sala do Apolo repleta de espectadores. Deu início ao espetáculo uma grande orquestra, sob a regência do Sr. José Amor, que executou a sinfonia do Guarani, sob aplausos da vultosa assistência.          A seguir foram exibidas magníficas fitas, inclusive uma local, da Fábrica Guarany, de propriedade do Sr. Francisco Santos.    No palco apresentaram-se os artistas sertanejos Os Rochinhas, que foram bastante aplaudidos.

        

      
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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV

Revisão do texto, tratamento de imagens e postagem: Bruna Detoni

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Bazar Edison, Pelotas




         Em 3 de dezembro de 1901 o Sr. Francisco Di Paola entregava ao público pelotense uma organização que viria a dar um grande passo no setor comercial de Pelotas, o Bazar Edison.
         O Sr. Di Paola, cinco anos antes, 1896, aportara no Sul do país  e, segundo Klécio Santos em seu livro “Sete de Abril – O teatro do imperador”, se tornaria um dos pioneiros do cinema em Porto Alegre e Pelotas.
         Dentre as muitas iniciativas do fundador deste tradicional estabelecimento - que desde muito cedo angariou a simpatia e popularidade dentre os clientes, não só da Princesa do Sul - deve também a cidade o título de pioneira no Estado, com referência a introdução de fonógrafo, gramofone, rádio-eletrola e outras mercadorias mais, durante sua longa trajetória comercial, onde apresentou sempre aos seus clientes artigos cuja procedência e fabricação eram o ponto alto de suas vendas.
         Uma das primeiras referências ao estabelecimento do Sr. Di Paola nos parece ser a do jornal A Opinião Pública de 18 de dezembro de 1902, na qual era dito que: junto ao Café  Java, estava instalada a Casa Edison [parece ter sido inicialmente o nome do Bazar Edison], nova no gênero em Pelotas e que constava o seu sortimento de fonógrafos e aparelhos respectivos, campainhas elétricas, objetos para escritório e outras novidades próprias para presentes, tudo importado dos Estados Unidos.
         Ao público o jornal recomendava uma visita ao novo estabelecimento, do qual era proprietário o Sr. Francisco Di Paola.
         O Sr. Di Paola que em Pelotas montara caprichosamente, à Rua 15 de Novembro, a casa especializada em fonógrafos, denominada de Casa Edison, havia obsequiado o jornal com um prendedor de papéis muito elegante, e que servia-lhe de reclame.
         Era uma bonita peça em madeira lustrada, com mola, tendo na parte superior um pequeno cão, como que a escutar as vozes de um fonógrafo, a cuja campana [escuta] punha o ouvido atento.


         Cinco anos após sua instalação, à Rua 15 de Novembro nº 153 A, o Bazar Edison no intuito de ampliar suas instalações mudou-se para o prédio de nº 608, da mesma rua, já dispondo de uma enorme clientela.
         Em novembro de 1913, com a morte de seu fundador, passou a firma a girar sob a denominação de Viúva C. de Paola, tendo como gerente o Sr. Abílio Colvara que, na condição de gerente, não economizando esforços conseguiu amenizar a forte lacuna deixada pelo sócio fundador, Sr. Francisco De Paola.  



         Naquele mesmo período foram realizados diversos melhoramentos a fim de proporcionar mais conforto e presteza nos serviços aos seus clientes, tais como a criação das seções fotográficas e dos serviços fotográficos para amadores, serviço este que foi o primeiro a ser instalado nesta cidade, e que, dia a dia fez aumentar o prestígio e o conceito junto ao povo pelotense.
         Por volta do ano de 1922, assumiu a gerência o Sr. Ettore Bacci, o qual, dado o seu senso de organização comercial, já em 1937 passou a sócio gerente.
         Em 1951, ano de seu jubileu, o Bazar Edison gozava de um enorme conceito e popularidade, graças ao Sr. Ettore e a dedicação e conhecimento no ramo de seus auxiliares, que na época eram os senhores: Armando De Paola, chefe da seção de varejo, auxiliado pela Srta. Luiza Nanine; o Sr. Alfredo Wenzel, chefe da seção de impressão fotográfica; Sr. Mário Bacci, chefe da seção de revelação, auxiliado pelo Sr. Elbio Bacci, que dirigia a seção de esmaltação; o Sr. João Carvalho, chefe da seção de reportagens fotográficas e ampliações.
         Em Pelotas o Bazar Edison era o representante exclusivo dos acordeões Todeschini, marca das mais renomadas e que, na época, constituía um símbolo de perfeição e durabilidade de instrumento musical.  

       Quanto à fotografia e o material nela utilizado, distribuía o Bazar Edison o das fábricas Kodak, Gavert e Ilford, possuía ainda um completo sortimento dos mais variados modelos de máquinas fotográficas e acessórios, como lâmpadas, lentes, etc.
         No Bazar eram encontrados instrumentos musicais em geral, bem como acessórios e pertences como livros e partituras para dança e estudo.
         Nos anos 50 do século XX, em virtude da crescente procura e interesse que se observava por discos, o Bazar ampliou sua seção especializada oferecendo maior quantidade e variedade de discos tanto nacionais quanto estrangeiros.
         Também os carnavalescos iam comprar no Bazar Edison suas fantasias e adornos tão necessários nos festejos momescos. Possuía ainda um variado estoque de artigos para o carnaval, como sejam máscaras, lantejoulas, vidrilhos e uma infinidade de outros objetos.       







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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Foto de Di Paola: Acervo Klécio Santos.

Revisão do texto, tratamento de imagens e postagem: Bruna Detoni

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Pelotas: prostitutas e seus senhores


Combate ao consumo e tráfico de cocaína e outros entorpecentes
         O comandante do destacamento policial, Sr. tenente Dorival dos Anjos, recebendo denúncia  de que diversas pessoas estavam envolvidas na venda clandestina de cocaína, levou o fato ao conhecimento das autoridades policiais, as quais entregaram a investigação e captura dos contrabandistas ao tenente Xavier dos Anjos.
         Até dia 24 de fevereiro de 193l, em função das providências tomadas, já tinham sido ouvidas algumas pessoas, apontadas como compradoras da cocaína, sem a competente receita médica, deixando estas através de seus depoimentos, em poder da polícia, elementos para que os contraventores fossem apanhados e que, fatalmente seriam processados judicialmente.
         Aquela ação policial, no entender do jornalista, repercutira muito bem junto à comunidade.
         Na edição seguinte, voltava o Diário Popular em suas “Notas Policiais”, em matéria denominada de “A coca e as coquinhas em cena...”, dizendo que as autoridades policiais de Pelotas continuavam empenhadas na repressão enérgica e constante ao uso e à venda da cocaína bem como de qualquer outro entorpecente, tão do agrado dos bas-fond locais.
         Na delegacia de polícia, já tinham sido ouvidas diversas pessoas e registradas as fontes fornecedoras da cocaína, cujos responsáveis seriam punidos de acordo com a lei em vigor.
         Ainda no dia 24, pela manhã, Aracy Pereira, residente à Rua Gonçalves Chaves nº651, fizera declarações que em muito ajudariam a polícia naquela operação.

Na Pensão do Osmar
         No prédio de nº262, da Rua Dr. Cassiano, local conhecido como a Pensão do Osmar, viviam várias mulheres, entre elas Maria Clara Goulart, de 18 anos de idade.
         Maria Clara, desde muito, estava servindo de “máquina” [termo técnico do proxenetismo], a Manoel Cavalcante e Osvaldo Felipe da Encarnação.
         Dia 11 de junho de 1931, os dois cáftens discutiram e se engalfinharam, por causa de Maria. O policial de nº30, de serviço naquela rua, prendeu os contendores.
         Na manhã do dia seguinte, os dois proxenetas e o proprietário da referida pensão, que atendia por dois nomes, Osmar e Hugo Perret, ele também traficante de mulheres, foram apresentados ao Sr. delegado de polícia.


Canoa policial contra o jogo e o caftismo em Pelotas
         Em dezembro de 1931, a delegacia de polícia de Pelotas recebeu ordens da chefatura de polícia de Porto Alegre, para combater com toda a energia possível, a campanha contra o jogo, ao que, de imediato, o Sr. capitão Edmundo Ossuowsky, delegado de polícia, organizou uma canoa policial, chefiada por ele mesmo.
         Após uma série de batidas em diversas casas cambistas, a caravana regressou à delegacia de polícia, com várias pedras [tabuleiros que apontavam resultados de jogos], grande quantidade de bilhetes de outras loterias, que não a do Estado, centenas de listas de jogo de bicho, etc.
         A campanha, segundo o capitão Edmundo, continuaria encarniçada, atingindo ela toda a sorte de jogos, assim como se estenderia, também, a “essa chusma de indesejáveis, na maior parte proxenetas, que atualmente infestam a cidade, oriunda de países vizinhos”.

Ação conjunta contra o meretrício
Soubera o jornal A Opinião Pública, em 17 de janeiro de l932, que o Dr. Victor Russomano, subprefeito em exercício, convocaria por aqueles próximos dias, em seu gabinete, a imprensa e o Rotary Club para combinarem uma ação enérgica e conjunta contra o meretrício escandaloso nas ruas centrais da cidade.
O Sr. Cherubim Pereira de Queiroz, suplente do subprefeito do 1º distrito, em exercício, já recebera ordem para intensificar a ação policial.

Preso em Pelotas um explorador de mulheres
Noticiava o Opinião Pública, de 18 de fevereiro de 1932, que há dias a delegacia de polícia, desta cidade, recebera denúncia acerca de um indivíduo suspeito que costumava frequentar o prédio nº 305 da Rua Dr. Cassiano, residência da decaída Anita Barros, de nacionalidade uruguaia.
Acrescentava a denúncia que o aludido indivíduo tinha por hábito se ocultar num quarto aos fundos da casa, o que fazia despertar certas desconfianças.
Diante disso, a autoridade tratou de averiguar o que havia de verdade, chegando à conclusão de que se tratava de um proxeneta.
Segunda-feira última, à noite, um sargento da polícia, fazendo-se acompanhar de um civil, foi à casa de Anita.
Ali chegados, para que Anita não desconfiasse, evitando-se assim a fuga do indivíduo, o policial mandou que o seu companheiro batesse à porta. Aberta esta, logo que o civil entrou, o agente policial tratou de nela penetrar também.
Uma vez no interior da casa, o sargento dirigiu-se aos fundos, onde deparou fechada, a porta de um quarto.
Nessa dependência que Anita, à sua ordem, abriu, achava-se escondido, o mesmo ao qual se referira a denúncia.
Dada voz de prisão, foi ele conduzido ao 1º posto e apresentado ao Sr. capitão Edmundo Ossuosky, delegado de polícia.
Interrogado por esta autoridade, declarou ele chamar-se Giovanni Gurrieri, de nacionalidade italiana e ser comerciante.
Exibiu, então, diversos papéis e um passaporte do ano de 1926, das autoridades italianas, no qual lhe dava a idade de 34 anos.
Negou que exercesse o proxenetismo, dizendo que apenas vivia com Annita, como seu amante.
No dia seguinte, foi ouvida Anita Barros.
Declarou ela que há oito meses viera de Rivera, indo então para a cidade de Rio Grande, onde residira à Rua Paysandu.
Ali conheceu Giovanni Gurrieri, que era estabelecido com um pequeno restaurante. Pouco depois se tornaram amantes, dando-lhe ele, nos primeiros tempos, algum dinheiro.
Há dois ou três meses, porém, Giovanni fechara o restaurante, dizendo-lhe que o negócio ia mal.
Hospedara-se ele, então, no Hotel Sul-América, daí em diante passando a viver a custa de Anita.
Há um mês, mais ou menos, Anita transferira-se para Pelotas, indo residir à Rua Dr. Cassiano nº 305.
Giovanni, entretanto, permanecia em Rio Grande, vindo a Pelotas seguidamente para receber a féria [dinheiro ganho por Anita como prostituta], tendo ainda, naquele domingo, espancado Anita por ter esta pouco dinheiro.
Em poder de Giovanni, foi encontrada a importância de 308$ [réis], que Annita disse pertencer-lhe.
Conforme informação das autoridades de Rio Grande, o Hotel Sul-América, onde Giovanni se hospedava, era um estabelecimento de segunda categoria, procurado habitualmente por indivíduos suspeitos.
Giovanni ia ser expulso do território nacional, como “indesejável”, possivelmente no dia seguinte ao da prisão.

Rua Tiradentes, sucursal da Dr. Cassiano
Sob o título de “A Cidade”, o jornal A Opinião Pública de 31 de janeiro de 1933, reproduzia a carta de um leitor, na qual dizia este que a imprensa tinha se referido por muitas vezes a situação anormal da Rua Tiradentes, transformada em sucursal da Rua Dr. Cassiano [rua em que se encontrava as casas de prostituição].
“Nela campeava, à noite, a fina flor da nossa vagabundagem e, no meio dela, o que é estranho, alguns moços bonitos!”, que se espalha pelas pensões de meretrizes, casa de jogo (nada menos de quatro em três quadras centrais), quiosques, botequins, salões de bailes, etc., que se conservam abertos até a madrugada.
Sobretudo nas proximidades do Mercado Central, o espetáculo que se oferece ao público é degradante. Muitas famílias já têm deixado de passar ali para não ouvirem obscenidades e não suportarem os motejos dos desclassificados que perambulam naquele local, ajudados muitas vezes nesse triste mister por alguns condutores de veículos que estacionam na Praça Sete de Julho [Praça do Mercado].
Pode-se dizer que a Rua Tiradentes está dominada de ponta a ponta pelos inimigos da ordem pública!
Aproxima-se agora a época em que os pendores fuzarqueiros desses Srs. mais se acentuam. O carnaval bate-nos às portas.
Urge, pois, dar à Rua Tiradentes um policiamento eficiente, a fim de acabar com abusos, em bem do sossego público e do decoro social.
Certamente não faltam as nossas autoridades vontade para isso; bastará por em prática uma vigilância ativa e permanente naquela zona e o mal cessará.
Duas medidas se impõem para o mesmo fim: o fechamento das casas públicas à meia-noite e a proibição de bailes nas quadras onde residem famílias”.

Licenciosidades...
Um cabaré situado à Rua Sete de Setembro anunciava para a noite de 1º de fevereiro de 1934, por meio de folhetins, um baile à fantasia e outras diversões próprias de semelhante meio, dizia o jornal Opinião Pública.
Eram, segundo o jornalista, folhetins sugestivos nos dizeres e nas figuras...
À tarde, um distribuidor dos referidos folhetos andava pela Rua 15 de Novembro, em sua missão.
E teve então o repórter, oportunidade de ver que os folhetos do tal cabaré andavam não só nas mãos de homens, como até de meninas, à porta de suas casas.
Era esse um caso que o fazia meditar nas falhas da organização administrativa da cidade e em quanta falta estava fazendo, em Pelotas, uma polícia de costumes...

Tolerância criminosa
Quem, dia 7 de fevereiro de 1934, às 17h30, passasse pela Praça Piratinino de Almeida, teria tido oportunidade de assistir a uma cena verdadeiramente dolorosa e contristadora.
Uma senhora, acompanhada de um filho, já moço, fora arrancar de uma casa suspeita, existente no em torno daquela Praça, no prédio nº 56 e de propriedade de Ângela de tal, uma menor de 15 anos, filha da referida senhora, que saíra de casa, sob o pretexto de fazer compras.
A mãe, avisada de que sua filha entrara no antro mantido pela caftina Ângela, foi procurá-la e, ao vê-la dali sair, no auge do desespero, esbofeteou a filha, em plena via pública.
A cena, como é natural, provocou escândalo.
De todos os que presenciaram o fato, o comentário era um só:
- Como toleram as autoridades semelhantes antros de perdição e que impunemente exerçam as caftinas essa miserável profissão?
Essa tolerância, dizia o repórter, era realmente estranhável.
A casa de Ângela era por demais conhecida.
Há longos anos vinha sua proprietária contribuindo, nefastamente, para a desgraça alheia arrastando à prostituição, ou cooperando para isso, menores ingênuas que, muitas vezes aguilhoadas pelas dificuldades da vida, deixavam-se facilmente iludir.
E essa, como muitas outras casas desse gênero aí estavam, espalhadas pela cidade, conhecidas de todos, numa verdadeira afronta à sociedade.



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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen

Postagem: Bruna Detoni

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Carolina de Jesus na 1ª Feira do Livro de Pelotas






A Feira e seus idealizadores
Nos primeiros dias do mês de novembro do ano de 1960, era anunciada pela imprensa local que, a exemplo de outras grandes cidades do país, Pelotas seria contemplada com a Feira do Livro. Seria a primeira no interior do estado e deveria ser instalada ainda naquele mês.
A notícia fora dada por seus idealizadores, Srs. Itamar Rezende Duarte e Gilberto Rezende Duarte, que haviam retornado de Porto Alegre, onde haviam estado tratando da realização da Feira junto ao Sr. Henrique Bertaso, presidente da Câmara Brasileira do Livro (Secção do Rio Grande do Sul) e com a Comissão Organizadora da Feira do Livro. Os idealizadores debateram com estes as possibilidades da instalação em Pelotas desse empreendimento.
Segundo declarações prestadas pelos Srs. Duarte, na ocasião, a 1ª Feira do Livro de Pelotas funcionaria no período de 25 de novembro a 4 de dezembro, no horário das 16 às 23 horas, diariamente.
Em Pelotas, o objetivo desejado, a realização da Feira, foi conseguido após a palestra dos idealizadores com o prefeito da época, Dr. João Carlos Gastal, que prometeu o apoio da prefeitura, com o padre Raul Farina e com o Instituto de Sociologia Política, dirigido pelo Dr. Mozart Russomano.

Os mais vendidos na VI Feira do Livro de Porto Alegre
Estando já na sua sexta edição, dois livros foram destaque na feira do livro de Porto Alegre no ano de inauguração da 1ª Feira do Livro de Pelotas: “Furacão sobre Cuba”, de Jean-Paul Sartre, e “Quarto de Despêjo”, da favelada Maria Carolina de Jesus, que esgotaram no segundo dia da feira.

As onze editoras participantes da 1ª Feira de Pelotas e o orador
Estiveram presentes ou representadas com bancas na Praça Coronel Pedro Osório as seguintes editoras: Livraria do Globo S.A.; Livraria Editora José Olympio; Livraria Mundial; Companhia Editora Nacional; Livraria Leonardo da Vinci; Livraria Editora Pilar S.A.; Livraria Sulina; Livraria Farroupilha S.A.; Livraria Espírita; Editora Sulina; e, Organização Mercantil de Livros.
Foi orador da feira o Dr. Mozart Russomano.
A recepção e estada de Carolina de Jesus em Pelotas
Dia 29 de novembro era divulgado que “Carolina chegará amanhã”. Sim. Carolina de Jesus, a “escritora favelada”, viria a Pelotas a fim de contribuir com sua presença para o maior sucesso da Feira do Livro.

O roteiro traçado A autora de “Quarto de Despejo”, o “maior best seller nacional da atualidade”, viria do Rio de Janeiro diretamente a Porto Alegre onde deveria chegar na tarde do dia 29 de novembro.
Na quarta-feira, dia 30, Carolina visitaria Pelotas, onde deveria chegar por volta do meio-dia.
Pela primeira vez no Rio Grande do Sul, Carolina daria uma sessão de autógrafos em Pelotas, isto porque em Porto Alegre não haveria tempo para tal atividade. Os caçadores de autógrafos pelotenses teriam assim a oportunidade de receber, em primeira mão, o livro de Carolina de Jesus autografado pela própria autora, “a preta que conhecia a favela por dentro”.

A chegada de Carolina a Pelotas vista pela imprensa
Carolina, que segundo o jornalista, você poderia confundir com a lavadeira, chegou a Pelotas com um ar calmo dando a impressão que traria dentro de si, certo tremor íntimo que a celebridade repentina lhe havia emprestado.
Desceu da limusine [nome de ônibus da época] às 9h:40 sendo recebida por editores, livreiros, autoridades, representantes do Clube Fica Aí e pessoal de imprensa, a todos cumprimentando e dirigindo uma palavra amigável.

“Como é compadre, está cansado?”
Um gaúcho típico, com aquela indumentária bem característica, ficou a observar aquele movimento todo em torno “da preta”, que na cabeça trazia um lenço com o mapa do Brasil, na cintura um adorno de Brasília, cobria-se com uma capa de chuva e nos pés usava sapatos tipo italiano, marrom com pontinhos brancos. Carolina não titubeou, apartou-se do grupo e foi estendendo a mão ao homem do campo, dizendo: “Como é compadre, está cansado? Que preguiça é essa, nem vem cumprimentar a gente, não?”


Da Rodoviária para o Hotel
Acompanhada da jornalista Elsa Heloísa, da Revista Leitura, do Rio de Janeiro, Carolina hospedou-se num apartamento do Hotel Rex, onde repousou em torno de 40 minutos, já que se mostrava disposta e não estava cansada.

Visita ao prefeito Dr. João Carlos Gastal
A entrada de Carolina na Prefeitura provocou aquela estupefação natural, semelhante, na época, a daqueles políticos famosos do passado.
Disse o repórter que acompanhou a visita que Carolina era natural e espontânea e que possuía um poder assimilativo espantoso, o que eram as características mais marcantes daquela mulher que ganhara fama de uma hora para a outra.
No gabinete do prefeito, Carolina fez pregação intensa de sua campanha antifavela e falou de seus desejos de nunca mais ver brasileiro algum crescer analfabeto.
Nessa oportunidade, o Dr. João Carlos Gastal disse que havia dispositivos legais que asseguravam a todo brasileiro a garantia de aprenderem a ler.
Carolina, de imediato, com um ar assustadiço, replicou: “Isso é pura teoria. Na prática a coisa é bem diferente”.

Um giro pela cidade e a visita à Catedral
No carro oficial da Prefeitura, Carolina deu um passeio pela cidade. Inicialmente, visitou a vila do Gasômetro, onde não se horrorizou com o que por lá viu, até porque conhecia coisa muito pior. Mesmo tendo achado o “lugar limpinho”, perguntou se ali não se geravam muitas doenças.
Do Gasômetro, foi visitar e conhecer o outro lado da moeda: “Copacabana Sêca”, que era o bairro residencial na Rua Dr. Berchon [atual Gonçalves Chaves, sentido Bento Gonçalves em direção a Dom Joaquim]. Achou ela tudo muito bonito.
A Catedral a deixou maravilhada, e ali disse ao repórter já ter lido a Bíblia quatro vezes. Falou que a pintura da cúpula sobre o altar-mor representava Elias. A seguir, reparou que os quatro evangelistas pintados por Locatelli encontravam-se escrevendo.
Depois, observando uma imagem em que São Vicente está ensinando uma criança a ler, Carolina, que era livromaníaca, voltou então a afirmar o seu ponto de vista de que era imprescindível que todo o brasileiro aprendesse a ler: “Se não a gente fica desconhecendo tanta coisa bonita e valiosa”, afirmou a escritora.

Do carro da rádio patrulha para o carro do prefeito
Quando do passeio pela cidade, Carolina, de um momento para outro, soltou uma gostosa gargalhada. Contou ao repórter que se lembrara de seu tempo de favela, quando, no máximo, o que conseguia era andar em carro de polícia (Radiopatrulha): “Agora, vejam só como estou importante, até no carro do Prefeito eu já ando”.

“Favelados são apáticos porque não têm cultura”
A conversa preferida de Carolina, - que para ir visitar o prefeito colocara um vestido azul, de bolinhas brancas, usando um colar de cristal e brincos fantasia - versava sobre favela e livros.
Contou ela ao jornalista que, certa feita, a Secretaria da Agricultura de São Paulo ofereceu aos favelados, seus vizinhos, terras para plantar, além de um pequeno crédito agrícola. Nenhum aceitou, preferindo permanecer na situação de penúria. “Eles são apáticos”, afirmou a escritora, “porque eles não têm cultura para compreenderem”.

Quanto ao casamento...
No almoço que lhe foi oferecido na Taverna do Willy, Carolina teve a oportunidade de desmentir a notícia de que estaria em vias de casar-se com um desembargador aposentado da Guanabara. Afirmou ela que o referido jurista, cujo nome não quis revelar, apenas era muito amigo seu, tendo-lhe presenteado muitos livros. Nada de casamento, porém. No entanto, disse ela, não pensassem que quando mais moça tivesse aquele aspecto, pois: “Fui bonita”.
Por outro lado, a autora de “Quarto de Despejo” afiançara que tinha obras para publicar até o ano dois mil. Afiançara também que, em direitos autorais, ganharia mais de dezessete milhões, esperando chegar à casa dos vinte milhões, quando tivesse seu livro editado nos dezoito diferentes idiomas em que seriam traduzidos seus originais.

Não bebia álcool porque poderia falar demais
Carolina comeu bem, não tendo, no entanto, tomado qualquer bebida alcoólica. Pediu uma água mineral, achando-a muito gostosa.
Revelou à reportagem que tinha músicas compostas, com letra correspondente, e que talvez viesse a gravá-las em breve: “Quem decide isso, é o meu pai-branco, o Audálio”.
Tratava-se do repórter da revista O Cruzeiro, Audálio Dantas, que fora quem descobriu Carolina e seus escritos em plena favela.

O cafezinho no Nacional, a queijadinha da Nogueira e Pelotas, onde até as malocas eram bonitinhas
Depois do almoço na Taverna do Willy, Carolina foi tomar um cafezinho no Nacional [atual Café Aquário], onde cumprimentou todos que por lá estavam. Por fim, dirigindo-se a um senhor corado, que se encontrava ali sentado, disse a escritora em voz alta: “Gostei muito disto aqui, todo mundo é robusto, corado, forte...”.
Do Nacional, Carolina foi levada até a Confeitaria Nogueira onde, Joãozinho, o relações públicas do local, desfez-se em gentilezas e ofereceu-lhe uma queijadinha. A escritora mastigou, mastigou e falou: “Não é fama, não. Os doces são bons mesmo”.
Ainda dentro da Confeitaria Nogueira, a ex-favelada revelou que, quando saíra do Rio de janeiro, amigos tinham-lhe dito que tivesse cuidado em Pelotas, porque o povo de lá era muito bairrista e vaidoso.
E eles tinham razão, acrescentou Carolina: “porque todo mundo anda tão limpinho nesta terra. Até as malocas são bonitinhas”.

“Não me sobra tempo para pensar em esportes”
Quanto às suas preferências esportivas, por este ou por aquele outro clube de futebol, replicou ela ao repórter: “Ora, meu filho, eu tenho tanto que escrever e que ler, que não me sobra tempo para andar pensando em esportes”.

“Como é que eu vou governar sem verba?”
Em visita ao presidente da câmara municipal, Sr. Wolney Vieira, Carolina disse que já lhe haviam proposto a “Prefeitura da favela”. Não iria aceitar, disse ela: pois como é que vou governar, sem verba?”. Soltando, logo após, uma gargalhada bem espraiada.

Quadrinhas e leis trabalhistas
Quando de sua visita ao prefeito e mais tarde no almoço, a ex-favelada, de 46 anos de idade, cantou suas inspirações poéticas, com uma voz lânguida. Os presentes ouviram então, Carolina dizer das desventuras do negro, das qualidades de Getúlio Vargas, que, segundo Carolina de Jesus, deveria ter sido o presidente nacional desde Cabral, e da importância das leis trabalhistas.
Disse o jornalista que Carolina em sua poesia demonstrava e manifestava um cunho social, como seus demais escritos, tendo como mote principal a favela e seus pesadelos diuturnos.

A sessão de autógrafos e a recepção no Clube Fica Aí
Dia 30 de novembro, às 14h30, Carolina instalou-se na Feira do Livro, dando autógrafos.
Ainda naquele dia, véspera de sua partida, à noite, a escritora Maria Carolina de Jesus foi recepcionada pelo Clube Cultural Fica Aí, local onde se encontravam várias autoridades representativas do município, tendo a festa decorrido em um clima bastante animado. 
O presente de Carolina ao repórter Aldyr Garcia Schlee
Durante sua estada no apartamento nº 504 do Hotel Rex, do qual Carolina teve ótima impressão e achou moderno e bastante higiênico, escreveu em seu Diário sobre o dia vivido em Pelotas, presenteando os originais ao repórter Aldyr Garcia Schlee, a quem dedicou tais impressões.

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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Foto: Acervo da Livraria Mundial. 
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni