(parte 2)
A.F.Monquelat
Na manhã de sábado,
véspera da projetada insurreição, algumas lavadeiras, no arroio Santa Bárbara,
alheias às ações do delegado Viana, trabalhando e cantando, diziam entre si:
-Hoje lavamos para os brancos, e não tarda
que os brancos lavem pra nós.
Já haviam sido presos,
logo após as ações do Sr. Delegado de polícia, uns 60 ou 80 escravos. Dentre
esses, dois sabiam mais a fundo sobre o plano do levante, e conheciam certo
lugar onde se achava depositado – ou escondido – algum armamento de que se
haviam premunido.
Porém, não tinham eles, até então, feito
confissão alguma satisfatória, apesar da violência sofrida, e estavam
incomunicáveis na cadeia.
Escondidos em um
celeiro, próximo a Pelotas, ainda não tinham sido descobertos 200 mosquetes,
semelhante número de carabinas, espadas e pistolas, com uma grande quantidade
de munição, que seriam utilizados para o levante que, mais ou menos 1.500
escravos, já iniciados e preparados, estavam de sobreaviso desde o mês de
janeiro daquele ano, e prontos para agirem no primeiro aviso.
Seria, segundo fontes
diplomáticas inglesas, uma reencenação de São Domingos, ou pelo menos o maior
levante de escravos que a Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, teria
notícia.
Somado a isso, ganhava
corpo o boato de que todo o plano fora arquitetado e manipulado por alguns
partidários de Manuel Oribe, que se achavam disseminados por Pelotas.
Dizia-se também, que o
Sr. delegado Viana já mantinha prisioneiro na cadeia de Pelotas um
tenente-coronel de Juan Manuel de Rosas, segundo outros, esse mesmo
tenente-coronel no exército de Oribe,quando a conjura foi descoberta, fugira para a cidade fronteiriça de Bagé, estando já
a polícia ativamente engajada em sua captura; por outro lado, outros dois
espanhóis do Rio da Prata, estavam presos na cadeia da cidade, além do coronel
residente em Pelotas e um nativo de Buenos Aires, que eram destacadamente suspeitos de envolvimento com
aquela conjura.
Pela Rua São Domingos
era avistado duas ou mais carruagens cujos cocheiros, sob o estalar do chicote,
apuravam seus cavalos, pois, não muito longe dali, no cais, já estava atracada
a barca a vapor, no aguardo dos passageiros.
No meio de todo aquele
alarido, pois a notícia de um possível levante de escravos já corria de boca em
boca pela cidade, não deixaria de zarpar do porto a barca Brasileira, cujo destino era a cidade vizinha, Rio Grande.
As pessoas que se
diziam bem informadas, e que estavam a bordo da barca, fizeram daquela notícia
o motivo de suas conversas durante todo o percurso. E, ao desembarcarem em Rio
Grande, asseguraram que tal imputação ou desconfiança não tinha fundamento
algum de exatidão, acrescentando ainda que todos os negros de nuca rapada que
fossem vistos pela cidade de Pelotas eram imediatamente capturados pela
polícia.
Os negros de nuca
raspada que não foram apreendidos pela polícia, estavam sendo chicoteados e torturados
pelos senhores, até a confissão dos nomes de seus companheiros envolvidos na
conspiração.
Alguns dos chefes mais envolvidos naquela insurgência eram negros
livres ou da Nação Mina e, ainda segundo fontes da diplomacia inglesa na
província, a mão mestra que vinha guiando e encorajando aquele levante, há
algum tempo, empregando os capatazes, na sua maioria espanhóis, das diferentes
charqueadas, para aliciar os escravos, prometendo-lhes que seriam levados para
a Banda Oriental, onde a liberdade os esperava nas fileiras do exército do
general Oribe.
Dois dias depois do
desembarque, a vizinha cidade de Rio Grande permanecia sem novidades outras se
não aquelas levadas pelos passageiros da Brasileira. Quando então um respeitável cidadão
rio-grandino deu a conhecer um trecho da carta recebida de Pelotas, enviada por
um amigo, onde a certa altura lia-se o seguinte: “Temos por aqui estado incomodados com a insurreição dos negros, dos
quais já estão presos mais de 100. Ao que parece, eles se propunham a evadir-se
de seus senhores e, segundo dizem, irem em direção ao estado vizinho Uruguai.
Ontem oito de fevereiro de mil oitocentos e quarenta e oito,começaram a
castigá-los com a intenção de descobrirem o plano de insurreição e evasão, mas
nada se tem conseguido saber.
Parece
que todos os implicados na insurreição tinham, por sinal, rapada uma parte da
cabeça à maneira dos frades.
Veja
vosmecê em que condições não deveria de estar todo este povo se fosse a noite
que acontecesse a rebelião, e que consequências não se seguiriam!
Felizmente
tudo foi descoberto por denúncia de um negro, que nos livrou desse garrote”.
Naquele mesmo dia, em Pelotas, correu a notícia, por denúncia, de
que havia na Serra dos Tapes em torno de 200 negros, os quais supunham terem
para lá fugido, em consequência de saberem do fracasso
do plano de insurreição, ou aterrorizados pelos castigos que estavam aplicando
aos insurretos, que já estavam presos.
O
delegado Viana, na impossibilidade de dispor de qualquer força de cavalaria,
oficiou imediatamente à autoridade competente e logo rumou à Serra dos Tapes.
Ainda
no mesmo dia, às três horas da tarde, o tenente-coronel da guarda nacional de
cavalaria, Serafim Ignacio dos Anjos, com uns 40 ou 60 cidadãos a cavalo, se
reuniram para fazerem o que consideraram ser
um importante serviço, visto que ainda não estava nem organizada ou
fardada a guarda nacional naquele período.
Até a
saída da barca do dia dez, com destino a Rio Grande, e que poderia levar
novidades sobre a expedição à Serra dos Tapes, não sabiam do resultado da
incursão que partira de Pelotas no encalço dos fugitivos.
Continua...
_____________________________________________
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
Postagem: Bruna Detoni
Nenhum comentário:
Postar um comentário