(parte 7)
Havia, na vida do jornalista, uma séria questão de mulheres,
que o perseguiam tenazmente.
Disse-lhe Eusébio que há tempos ele havia tomado, ministrado
por uma das mulheres, cuja visão ele descortinou entre as contas cabalísticas e
os níqueis [moedas]...
Precisava, então, benzê-lo para descobrir o nome da tal
mulher que tinha o poder de fazer com que o tinhoso fosse à noite pregar-lhe
alfinetes às ilhargas e agulhas no fígado...
Teve o jornalista que passar para o Eusébio mais 2$000, pois
aquilo, disse-lhe, estava fora do valor de 10$000.
De posse do dinheiro, o Eusébio muniu-se de um turibulo de
barro, levou-o para o interior da casa, e não tardou que voltasse o recipiente
cheio de brasas.
Polvilhou incenso nas brasas, colocou o turibulo defronte do
altar, no chão, e obrigou o repórter a passar, em cruz, sobre esse aparelho da
“bruxaria”.
Lançou mão de uma almofada, colocou-a a pouca distância do
turibulo, um tanto afastada do altar, e o mandou ajoelhar.
O repórter obedeceu.
Em voz alta, rezou o Padre Nosso acompanhado pelo
jornalista.
Rezado o Padre Nosso, em alta voz, numa prece cheia de fé e
sinceridade, pediu a vários santos da Corte Celeste, que tirassem do cliente o
mal do corpo e da alma.
Depois, borrifou o rosto do jornalista com um pouco de água,
dizendo que aquilo era contra o olho
grosso.
Foi até a mesa,
espalhou níquel a níquel os 2$000 que ali se achavam com as contas e colocou a
referida quantia sobre o altar.
Pediu ao repórter, então, que desse um nome de mulher que
acaso ele desconfiasse que estivesse tecendo alguma com o demo.
Murmurou ele um nome qualquer.
O Eusébio perdeu a compostura sacerdotal e ensaiou um brusco
estremecimento como se tivesse sido tocado pelo rabo do tinhoso, fortemente
eletrificado.
De posse do nome que jornalista havia fornecido, levou
Eusébio uma brasa ao copo de água, dizendo que, se o carvão fosse ao fundo, não
mais seria perseguido pela mulher, cujo nome ela havia dado.
Mandou que o cliente dissesse outro nome. Assim o fez.
A brasa que ele lançara à água, como a primeira, jogou o
carvão ao fundo do copo.
Ainda esta, não o perseguiria mais – disse-lhe Eusébio.
Um terceiro nome. Foi dado. A brasa era pequena e estava
quase em cinza. Posta na água, flutuou fenômeno que é bastante conhecido para
os que tenham pequeno conhecimento sobre pesos específicos.
Era esta a mulher fatal que o perseguia com o olho grosso.
Mandou Eusébio que ele bebesse três goles de água. O que foi
feito.
Depois, ordenou que o jornalista fosse, de costas, jogar a
água do copo à rua. Sujeitou-se ele, ainda, “a mais esta patifaria”.
Dizendo-se enviado de
Deus, Eusébio deu-lhe uns passes com as mãos abertas em garra e terminava
assim a consulta, que o feiticeiro muito ingenuamente oferecia ao público.
Dizendo-lhe, ao final, que voltasse mais duas vezes,
inclusive na sexta-feira, levando na primeira 10$000 e na segunda 20$000.
Terminava ali a atuação do feiticeiro. Surgindo a seguir o
Eusébio charlatão empunhando uma garrafa de litro, com um líquido de cheiro
desagradável e que, logo em seguida que dali saiu o jornalista a levou para o
Dr. Luiz Gomes de Freitas, químico do laboratório do Lyceu da Agronomia, para
análise.
Prescreveu Eusébio três colheres, das de sopa, pela manhã,
ao meio-dia e à noite. Sendo que, cinco minutos antes ele deveria tomar umas
colheradas de azeite de oliva, morno.
Pagou ele os 10$000 pelo
feitiço. Não havendo argumento que demovesse o Eusébio de cobrar menos,
pela suspeita beberagem.
Dias depois, enquanto o jornal aguardava o resultado da
análise da beberagem fornecida por Eusébio, foi o jornalista procurado por um
comerciante da praça de Pelotas, que estava disposto a contar-lhe mais uma do
Eusébio, dispondo-se, se necessário a ser
acareado junto ao feiticeiro. O fato a ser narrado passara-se da seguinte
forma:
Um rapaz, irmão de um comerciante da praça de Pelotas, “por
falta de experiência de vida” ligou-se a uma decaída e, com ela, passou a viver
maritalmente.
O fato desgostou, e muito, a mãe do jovem que via naquela
ligação a ruína do filho, queixando-se ela, diariamente, a todas as pessoas com
quem conversava.
Das queixas resultou que a convencessem de que o Eusébio
seria capaz de, com seus bruxedos e mandinga, desfazer aquela doce
relação.
E tão persuadida ficou a “pobre mãe”, que começou a pedir,
insistentemente e depois implorar ao filho mais velho, que ele fosse a qualquer
custo entender-se com o Eusébio, a fim de que este interrompesse aquela
relação.
E assim, atendendo ao pedido de sua mãe, foi este ter com o
Eusébio que, por sua vez tratou de fazer com que aquela consulta rendesse por
dois meses, tratando de, diariamente, a vítima tivesse que levar-lhe 2$000 para
os santos e, $5, $8 e $10 para as
garrafas do chá caseiro que ele,
homem caritativo, fornecia religiosamente às vítimas que lhe caíam nas garras.
Sujeitou-se o comerciante às práticas ritualísticas, já
conhecidas pelo jornalista, e, como o caso era outro, teve de assistir e
submeter-se a outros atos do farsante.
O paciente acendia três velas, de pavio voltado para baixo,
espetando uma agulha em cada uma e em cruz. No momento em que dizia, por ordem
do sacerdote:
- Como espeto esta agulha nesta vela, espeto-a também no
coração de Fulana!
Em seguida a esta operação, que se repetia diariamente por
largo tempo, a vítima era também forçada a rezar o Creio em Deus Padre de trás
para frente.
Continua...
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Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni
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