quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Alguns aspectos históricos sobre o porto de Pelotas (1)



                                                                                
                                     

                                  
   Pelotas é uma dádiva do São Gonçalo”
                                               Jorge Salis Goulart


        
         A paródia cunhada pelo sociólogo Jorge Salis Goulart sobre a cidade de Pelotas é, em nosso entender, uma premissa parcial à qual podemos acrescentar que: Pelotas é uma dádiva do canal São Gonçalo, da escravidão e do charque.
         Considerando não ser este o tema de nosso trabalho, não trataremos aqui de tal acréscimo, e sim das obras do porto de Pelotas no São Gonçalo.

 As obras do porto de Pelotas e o martelo de bronze e prata

         Em reunião realizada dia 11 de outubro de 1933, uma semana após a assinatura do contrato entre o governo do estado e a empresa acertada para a construção do porto de Pelotas, os “acadêmicos do comércio”, em uma das salas da Escola Prática, resolveram homenagear o general Flores da Cunha, por ocasião de sua próxima visita a Pelotas.
         Constaria a homenagem do oferecimento a S. Exa, de um martelo de bronze, com cabo de prata, para bater a estaca que marcaria o início das obras do porto de Pelotas.
         Essa proposta, unanimemente aprovada, foi apresentada pelo presidente do Grêmio Acadêmico, Sr. Mário Gastaud de Oliveira.

O início das obras

         A primeira das dificuldades encontradas pela empresa contratada para a construção do novo porto de Pelotas foi a mudança de local em princípio escolhido e onde seria o porto construído.
         Essa mudança, que por certo ocasionou novas sondagens, novos estudos e diferentes projetos, ocorreu pelo fato dos proprietários dos antigos trapiches existentes no porto da cidade, bem como outros proprietários de imóveis a serem desapropriados pelo Estado, pretenderem pela venda dos referidos bens quantias exageradas, até mesmo fabulosas.
         A lista de obstáculos enfrentados pela firma Costa & Boegh, com o intuito de fazê-la fracassar, com relação a construção do porto de Pelotas foram muitos, um deles no entanto é muito expressivo, pois, pretendendo a empresa  fazer, no parque da construção, instalação de força elétrica, solicitou orçamento para essa obra à Light & Power. Esta última, que sempre se mostrava pouco disposta para com as reivindicações do povo pelotense, pediu em torno de 20 contos de réis para estender fios em uma distância, de mais ou menos, cem metros.
         O valor proposto pela Light foi considerado absurdo e, é claro, a Costa & Boegh viu-se obrigada a adquirir, por compra, um locomóvel [máquina a vapor automotora usada para movimentar cargas ou para fornecer energia em locais determinados] para solucionar o problema.
         Todos esses fatores, dos quais o público não tinha conhecimento, ocasionaram perda de tempo e acréscimo de despesas à firma contratante.
         Porém, a despeito de tudo, o respectivo contrato, assinado a 5 de outubro de 1933, entre o Estado e Costa & Boegh, para a construção do porto de Pelotas, vinha sendo fielmente cumprido, inclusive quanto à data a qual se referia o documento, para o início das obras, que era a de 30 dias após a data da assinatura, o que foi feito, tendo sido desembarcado em Pelotas, grande quantidade de material de diversas procedências.
         Como até o início das obras ainda não houvesse sido nomeado o respectivo fiscal representante do governo, foi lavrada, perante “pessoas de reconhecida idoneidade”, uma ata provisória do início dos trabalhos.
         Somente a 20 de novembro, recebeu a firma Costa & Boegh comunicação oficial de haver sido nomeado fiscal, junto às obras do porto, o engenheiro Sr. Dr. Antônio Pradel.

Vista aérea do Porto de Pelotas


Os detalhes técnicos das obras

         Segundo o projeto do engenheiro Carlos Boegh, engenheiro chefe e membro da firma construtora, projeto aprovado pelo Sr. Secretário das Obras Públicas do Estado, toda a construção seria feita de concreto armado, constituída por 22 caixões [blocos] independentes de 20 metros de comprimento, 8.76 de altura e 4.70 de largura, com o peso unitário de 161 toneladas.
         Esses caixões, uma vez construídos, iriam formar a muralha do cais, propriamente dito.
         Tal construção, entretanto, não poderia ser feita no local definitivo, mas sim em terra firme, em local previamente preparado, constituindo um dique seco, exigindo movimento de terra que alcançaria um volume aproximado a 10.000 metros cúbicos de “difícil extração”, em virtude não somente de sua natureza, como também das constantes cargas de água que naquele mês de março, estavam caindo, prejudicando assim, e muito, o andamento normal do trabalho.
         A escavação estava sendo feita até a cota de 2.23 metros abaixo de zero da escala marítima, e estaria por aqueles dias, em vias de conclusão, bem como o avançamento dos moldes sobre o concreto, que prosseguia em rápido progresso.
         Depois de concluído aquele trabalho preliminar, seria dado início à construção dos caixões do dique, os quais, assim que construídos, flutuariam no próprio dique, com a entrada das águas do canal, e dali sairiam rebocados para serem colocados, definitivamente, “na linha locada do futuro cais”.
         Logo o trabalho mais árduo e mais demorado estava sendo totalmente efetuado em terra firme, exigindo tempo determinado para ser ultimado na sua totalidade.
         Aliás, se o cais fosse construído em estacas de cimento, ou mesmo em blocos de concreto, o problema inicial de construção seria o mesmo, isto é, o trabalho seria feito todo em terra, como no caso dos caixões estava sendo feito e, quer num quer noutro caso, qualquer firma contratante não poderia construir o cais, sem o trabalho preliminar que cada um daqueles vários processos exigia.
         Na visita que a imprensa fez ao local da construção, na época, tiveram a oportunidade de constatar que trabalhavam, nas obras do porto de Pelotas, 180 homens, em média, entre trabalhadores, capatazes, carpinteiros, ferreiros e maquinistas.
         Até o mês de fevereiro de 1934, as folhas de pagamento do pessoal operário atingiam, aproximadamente, a 60.000$000 [contos de réis], conforme fora mostrado pelo contabilista da empresa.
         Além dessa despesa, ainda deveria ser levado em conta o pessoal que trabalhava nas pedreiras, nos areais, nos transportes dos diversos materiais e, ainda que muitos recebiam indiretamente, não deixava a firma construtora de despender quantia bem expressiva com tais serviços.
                                               
                                                                                                                                                                Continua...



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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen      

Foto:  Daniel Giannechini       

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