(parte
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O Marly em ação: novos
maxixes
Na famigerada espelunca que respondia ao nome de “Salão
Marly” e onde se dava Rendez-Vous a
ralé mais característica de Pelotas, se realizariam, hoje e amanhã, 13 e 14 de
janeiro de 1917, mais dois maxixes à fantasia. Noticiando este fato, já aqui ficava o jornal O Rebate com a certeza de que
segunda-feira teria a registrar nas linhas de noticiário, esbórnias deprimentes
e sarilhos grossos.
Isso, por que, desde que fora aberto o Salão Marly,
frequentado por badernistas profissionais e hetairas de beco, resultou teatro
eterno de desordens. À polícia impunha-se o dever de já ter acabado com o
desclassificado antro de vagabundagem, em nome do nosso crédito de terra
moralizada. Desleixada e, por assim dizer, refratária a todo o serviço
que redundasse em benefício coletivo, ela nada fizera até então. Tomavam-se nota para a história de uma época, e de certas
gentes. Ficava ele de pena em
punho, preparado para o registro das badernas que no Marly, certamente,
ocorreriam.
Deprimente: os cartazes
do Marly na Praça da República
Havia para aí, encravado, como apêndice
mau que era preciso extirpar ao organismo da cidade, um antro baixo de perversão,
fedendo à cachaça e a umas quantas coisas mais desagradáveis. Ali imperava, por noites de orgia arrancadas à existência
dos quilombos, a bacanal da plebe que, para se divertir, chafurdava-se no lodo
de todas as abjeções e de todas as vergonhas. Ali reinava, pelas horas movimentadas em que a “zona” estava
repleta, pobres mulheres, farrapentas e esquálidas, sinistras no seu horror. E, como personagem principal, a corja de
navalha ao cinto, provocadora e suja. Isso é que era o celebrizado e repugnante “Marly”, centro de
“banzés” grossos, e cujo funcionamento só uma polícia como a nossa poderia
permitir, vociferava o jornalista aos 30 dias do mês de março de 1917. Pois não era que, agora, à troca de uns pingues níqueis
extorquidos, indiretamente embora, às infelizes profissionais do amor,
decadentes e rotas, a subintendência permitiu que, na Praça da República, um
dos títulos de orgulho de nossa cidade, sítio palmilhado e frequentado por
famílias, se ostentassem imundos cartazes com a propaganda obscena da tasca
infecta. Doía
dizer, mas era a verdade. Não haveria uma autoridade, com uns restos de vergonha, que
se dispusesse a proibir tamanha profanação?
Conflito e ferimento no
Salão Marly
Ontem, dia 9 de janeiro de 1918, às 16
horas mais ou menos, se achava libando entre outros convivas do Salão Marly,
Pedro Faria, servente de pedreiro, preto, solteiro, de 20 anos de idade, e
outro indivíduo mais conhecido pela alcunha de Escovado. Em dado momento, suscitou-se entre eles uma acalorada
discussão, que terminou por chegarem às vias de fato e, fazendo uso de armas,
aquele de um cacete e este de um punhal, travaram luta, resultando sair Faria
com um ferimento penetrante no pulmão direito. Intervindo terceiros, separaram os contendores,
efetuando aqueles a prisão de Escovado,
que foi mais tarde entregue à polícia, a qual sendo avisada do fato, ali
compareceu. Pedro Faria, foi removido para a Santa Casa, onde, depois de
receber curativos, foi internando na Enfermaria Pimenta.
Outros locais de maxixe
Anunciava o jornal O
Dia de 3 de março de 1916, que o maxixe requebrado, no reinado de Momo
daquele ano, também teria o seu culto. Pois, estupefacientes bailes se anunciavam para aquele dia e
dia seguinte no elegante salão da Rua General Vitorino [atual Anchieta],
esquina da Rua General Neto, bem como do Restaurant Maxim’s, onde se prometia
coisas do arco da velha.
Antro de perdição
Em 5 de julho de 1922, o jornal O Rebate publicava em suas páginas a carta de um leitor, cujo conteúdo
era para chamar a atenção da polícia, se é que a polícia ignorava, para os
escandalosos maxixes, abrilhantados pela Banda Musical e realizados na cãs de
tavolagem de Velho Menino, situada num ponto central da cidade, à Rua Andrade
Neves, esquina Tiradentes. Dizia o leitor que sem o mínimo decoro pelas famílias que
residiam no em torno, o pessoal dos tais bailes,
aliás, a escória do “bairro sujo” [referência à Rua Tiradentes, entre as atuais
15de Novembro e Anchieta] e adjacências praticavam escândalos de toda laia,
promoviam desordens e bebedeiras, alarmando o vizindário e ameaçando graves
acontecimentos. Já que a polícia permitia a jogatina em tais tascas imundas,
deveria impedir que houvesse semelhantes maxixes, imorais e perigosos,
afrontando às famílias e à cultura de Pelotas.
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(*) Extraído do livro, ainda inédito, A
princesa do vício e do pecado
Revisão do texto: Jonas Tenfen
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