terça-feira, 24 de maio de 2016

Ciclismo: um esporte da elite pelotense (2)

       
                                                                              AF. Monquelat
 
O surgimento formal do Club Cyclista
         Aos 14 dias do mês de novembro de 1897, a diretoria provisória do Club Cyclista convidava a todos os já sócios, e também a todos aqueles que já possuíam ou tencionavam adquirir bicyclettes, para se reunirem naquele mesmo dia, domingo, às 9 horas, na loja Ao Amazonas, à Rua 15 de Novembro.
         Nesta reunião, seriam apresentados os Estatutos, e eleita a diretoria efetiva; por isso, rogavam o comparecimento de todos os ciclistas.
Transferência de passeio ao Retiro
         Aos 26 dias do mês de dezembro de 1897, o “Club Cyclista Pelotense” avisava aos Srs. sócios que, em vista do mau tempo, ficava transferido o projetado passeio de exercício ao Retiro.
         A nota divulgada estava assinada pelo secretário F. Boyunga.
 Aos “Cyclistas”
         Os Srs. Cupertino & C. informavam aos ciclistas, via imprensa, que se encarregavam de todo e qualquer conserto em bicyclettes, e que poderiam ser procurados, para tal, à Rua General Argolo nº 39.
O crescimento do uso de bicicletas
         Segundo o Diário Popular de 1º de janeiro de 1898, para que se tivesse uma ideia do desenvolvimento do ciclismo no Brasil, “nestes últimos tempos”, bastaria ver o consumo extraordinário que estava tendo as bicyclettes.
         As grandes remessas chegavam quase que diariamente à capital federal (Rio de Janeiro), e ainda há 14 dias recebera a Casa Mitchel, de lá, 150 bicicletas da marca Cleveland, vendendo-as, todas, em menos de seis dias.
         A propósito, informava o jornal: para o Bazar Musical (Pelotas) estavam já em viagem bicyclettes dos mais afamados fabricantes.
O ciclismo no final do século XIX
         Parecia não haver dúvida que o ciclismo, naquele final de século, firmaria a sua indispensabilidade como o melhor meio de condução e como o mais belo esporte.
         Em Pelotas, via-se já grande número de biciclistas, que deixavam, à tarde, os seus trabalhos e percorriam as ruas e arrabaldes da cidade; prosseguindo, dizia o jornalista em 27 de janeiro de 1898: faltava ainda ver, pelo fim da tarde, graciosas senhoras entregues àquele belo divertimento higiênico e civilizado, como já acontecia em outras cidades do Brasil.
         Brevemente, talvez nos primeiros dias do mês seguinte, as encontrássemos, em suas máquinas, formosas e encantadoras.
         Das fábricas de bicicletas conhecidas, uma que se destacara na fabricação “desse delicado aparelho” fora a The Monarch Cycle Mfg, C., de Chicago, cuja fábrica, situada às ruas Lake Halsted e Fueton, em Chicago, continha 215.000 pés quadrados de espaço, cinco acres e produzia 500 bicicletas por dia.
         A história da bicicleta Monarch despertava interesse. Era uma história de êxitos, informava o jornalista.
         Em 1891, The Monarch Cycle era um infante recém-nascido, ainda que robusto.
         Nesse ano, a fábrica empregara 35 operários e fabricara 150 bicicletas somente.
         No curto espaço de tempo, a experiência de 1891 dera certo e a fábrica crescera e se multiplicara centenas de vezes.
         No ano que passara, ano de 1897, os 35 operários e as 150 bicicletas foram aumentadas a 1.500 operários e 50.000 bicicletas de primeira ordem, as quais se venderam em todos os “países civilizados” do mundo.
                Agora, no entanto, dizia o jornalista que estavam tendo maior procura as máquinas francesas e alemãs, que, em coisa alguma eram inferiores às americanas, sendo muitas as opiniões favoráveis àquelas, principalmente das marcas Clement e Française, que se encontravam à venda no Bazar Musical.
 


 
Bicyclettes em oferta
                       O Sr, Willi Spanier anunciava à venda, pelo diminuto preço de 450$, as excelentes bicyclettes Columbia, modelo Hartford.
         Essas máquinas, que reuniam em si a superioridade do fabrico e a elegância, vinham merecendo a geral aceitação em Buenos Aires, Montevidéu e Porto Alegre, segundo o anúncio publicado em 28 de janeiro de 1898.
                       Inauguração de um velódromo em Porto Alegre


         A 30 de janeiro de 1898, em Porto Alegre, inaugurou-se o velódromo da União Velocipédica, no prado Independência, com a presença de mais de 200 ciclistas.

 
Os ciclistas foram ou não ao Capão do Leão?
         Sob o título de “Cyclismo”, o Diário Popular de 15 de fevereiro de 1898 noticiava que dois valentes ciclistas foram, domingo, dia 13 de fevereiro, em 1 hora e 20 minutos, da Praça da República [atual Pedro Osório] ao Capão do Leão.
         Apesar do mau caminho, fizeram o passeio em tão diminuto tempo.
         As máquinas, que nada haviam sofrido, eram das marcas La Française e Naumann, uma das quais fora adquirida no Bazar Musical.
         Ao que o jornalista Vitú, em sua coluna do dia seguinte ao divulgado pelo Diário Popular, disse que: “O D. Petósca [referência irônica ao Diário Popular], de ontem, empurrou nos seus diminutos leitores mais uma peta [lorota, mentira].
         E essa para reclame [propaganda]... talvez em troca de alguns saquitos de confete..
         Imaginem que ele noticiou terem ido daqui ao Capão do Leão, em uma hora e 20 minutos, em suas máquinas, dois ciclistas.
         Quem poderia engolir semelhante mentira?
         Eu não me admiraria muito se dois ciclistas fossem a um lugar tão distante como o Capão do Leão numa hora ou até em menos.
         O que eu não acredito e ninguém deve acreditar é que o caso se desse com o Capão do Leão, cuja estrada, como todas as do município, é uma sucessão de buracos e de sangas, numa das quais não pôde passar, há 3 ou 4 dias, um carro, que daqui seguira, tirado [puxado] por três cavalos.
         O autor da tremenda peta que vá dormir com os defuntos!
         E, se quiser me abichornar, que cite os nomes dos ciclistas que fizeram o celebrado tour de force.
         Cite, se é capaz!”.
         Voltando a ironizar a “notícia”, Vitú, o colunista de A Opinião Pública, em 17 de fevereiro de 1898, dizia em seu espaço diário que os dois fantásticos ciclistas que foram ao Capão do Leão em 1 hora e 20 minutos, segundo noticiara o matutino instalado na mesma rua, constava que iriam em breve fazer “uma viagem ciclópica... as gafas [bordas] da lua, até onde levariam, em triunfo, o número do pêtas-monstro [exemplar do Diário Popular] que se ocupara daquela sua excursão de estreia...
                                                                                              Segue...
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Fontes: acervo da Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Tratamento de imagens: Bruna Detoni

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