O
Café da Infância, conhecido e denominado pela imprensa de Pelotas como o Antro do Mãosinha, é a terceira e última
das bodegas, ou tascas, que escolhemos para
destacar dentre as mais afamadas da Rua Tiradentes, o Bairro Sujo ou A Encrencópolis da cidade.
Das
notícias recolhidas sobre o Antro do
Mãosinha, pode-se depreender que no local moravam prostitutas, a exemplo
das bodegas da Rua General Osório, que era ele protegido de alguma autoridade e
uma espécie de xerife da quadra.
Quanto à antonomásia, acreditamos se tratasse de alguma deficiência em uma das
mãos. Vejamos então:
A Rua Tiradentes em dança
Às
2 horas da madrugada do dia 28 de janeiro de 1914, na espelunca de Marcelino
Vidal, vulgo Mãosinha, situada à Rua Tiradentes entre 15 de Novembro e General
Vitorino [Anchieta], os desordeiros Fernandes Marques Rodrigues, Maria Emília
Pereira e Cantalice Tavares dos Santos proferiram as maiores obscenidades,
desrespeitando os transeuntes.
Afinal,
aparecendo o rondante daquela rua, conduziu as desordeiras e o desordeiro para
o 1º posto, não com muita facilidade.
A
licença que esses freges [locais de má aparência] desfrutavam, de estar abertos
pela noite a dentro, devia lhes ser cassada, dizia o jornalista, a bem da moral
pública e da tranquilidade da cidade.
Grosso sarilho
Dia
13 de dezembro de 1914, às 17 horas, na espelunca denominada Café da Infância
situada à célebre Rua Tiradentes, houve mais um grosso sarilho.
Longino
Vens, sentindo a canícula [calor muito forte] reinante, foi à casa do Mãosinha desalterar-se, e lá encontrou
Fernando de tal, com quem entrou a questionar.
Da
discussão rompeu a luta, engalfinhando-se os dois contendores.
Chamada
à polícia, compareceram os guardas 25 e 7 do 1º posto, que efetuaram a prisão
de Longino e conduziram-no, abaixo de estouros, para o 1º posto.
O
infeliz chegou ao xadrez em lastimável estado e deitando sangue pela boca.
Quanto
a Fernando e Mãosinha foram apenas intimados.
No
outro frege, à Rua Tiradentes, de propriedade de Fructuoso Alves, houve,
quinta-feira, àsl9 horas, grossa baderna.
Um
indivíduo, depois de beber a farta, esbofeteou a mundana Emilia Podowisky, por
antonomásia “Polaca”, e em seguida manuseando um revólver, tentou alvejar o
dono do frege.
Dois
marinheiros que se encontravam no local desarmaram o valente e entregaram-no à polícia.
No
1º posto, o badernista não quis declarar o seu nome.
Quadros vivos: a apologia
do nu, sempre a Rua Tiradentes
Na
faina diária de registrar fatos passados nas ruas, o jornalista de O Rebate já se habituara a descrever as
cenas havidas na célebre quadra da Rua Tiradentes, entre 15 de Novembro e
General Vitorino [Anchieta].
Terríveis
borracheiras, grandes badernas, ciumeiras e suicídios, punhaladas, tiros e
pancadaria grossa, davam-se quase que diariamente.
O
fato que ele nos narra, ocorrido dia 14 de dezembro de 1914, era inédito em
Pelotas:
A
meretriz Tininha, em companhia de outras hetairas, foi à espelunca denominada
Café da Infância e, com as colegas, despiu os trajes, envergou roupas de renda,
saindo a passeio...
Nessa
exibição de plástica, se divertiram até aborrecerem-se.
Os
guardas que policiavam aquele trecho, que envergonhava Pelotas, nada viram, ou,
aliás, viram e... gostaram, dizia o jornalista.
Santa
cegueira...
As espeluncas da
célebre Rua Tiradentes
Ontem, 13 de janeiro de 1915, às 11 horas
da manhã, encontraram-se um bombeiro e outro soldado que pertenciam à nossa
polícia, que deixava o jornalista de dar número por não trazê-lo, como era de
obrigação, a gola do dólmã, a porta de uma das mais baixas meretrizes, em
completa anarquia.
Uma família que por aquele local passasse seria obrigada a
presenciar alguma imoralidade.
Para quem apelar?
Ainda naquele mesmo dia e local, às 16 horas, o chauffer Barbosa, um tanto alcoolizado,
foi visitar a mulher por nome Maria da Conceição Carvalho, de cor parda, que
residia no afamado antro de perdição denominado Café de Infância, propriedade
do alcunhado Mãosinha, e depois de
uma discussão com aquela dama fez uso
de um pequeno revólver, detonando-o uma vez e ferindo-a no braço esquerdo.
Barbosa foi preso em flagrante e conduzido ao 1º posto.
Maria, cujo ferimento era leve não se medicou, em parte
alguma.
Apesar de várias vezes ter o jornal chamado a atenção das
autoridades locais para aquele trecho escandaloso da cidade, ainda não fora
tomada nenhuma providência.
Ainda o antro do Mãosinha
Dia
7 de fevereiro de 1915, os hóspedes do Café da Infância apanharam uma terrível
mona [bebedeira].
Intoxicaram-se
com “finos” líquidos e começaram a praticar mil badernas.
Comparecendo
o guarda de serviço, na célebre quadra, foi recebido pelas Messalinas a copos e garrafas.
Afinal,
o mantenedor da ordem conseguiu prender as pandegas que eram em número de
quatro.
O Mãosinha
O
proprietário da imunda tasca à célebre quadra da Rua Tiradentes, denominada
Café da Infância, conhecido pela antonomásia de Mãosinha era o “Jesus daquela
zona”.
Paschoal
Bonifácio de Bonfim, cozinheiro do Hotel Portugal, foi à casa do Mãosinha dia 8 de fevereiro de 1915, e
pediu 6 garrafas de cerveja, ingerindo o líquido em companhia de alguns
camaradas.
Pagou
a despesa, ficando os copos cheios de cerveja.
O
proprietário da espelunca, possuído de fúria, quebrou copos e garrafas e quis
desancar ao seu freguês.
Paschoal
procurou os guardas 12 e 14 que davam serviço na quadra e lhes pôs ao corrente
do sucedido.
Estes
declararam que nada podiam fazer.
“Ao
que nos consta o Mãosinha é acobertado por um ‘grande’ na polícia; daí a
impunidade de que goza”, acrescentava o jornalista.
No Bairro Sujo
O
indivíduo Mário Rieira, que há dias ferira a mulher Aracy Furtado, defronte ao
Colyseu, cometeu dia 17 de março de 1915, forte desordem na Rua Tiradentes, na
célebre tasca do Mãosinha, sendo
preso e recolhido ao 1º posto.
Ainda no bairro sujo
Dia
24 de abril de 1915, às 12 horas, o conhecido desordeiro Haroldo Moreira, vulgo
Barbadinho, foi ao Café da Infância,
situado à Rua Tiradentes e, armado de navalha, cortou a meretriz Clotilde de
Faria no rosto e na mão direita.
Após
o delito, Barbadinho fugou, mas foi
preso e desarmado, estando com as costelas bem aquecidas pelo chanfalho, e
levado ao xadrez do lº posto.
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(*) Extraído do livro, ainda inédito, A
princesa do vício e do pecado
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Excelente amigo Adão, tenho que adquirir todos os seus livros, uma verdadeira maravilha!
ResponderExcluirÉ uma grande satisfação saber do interesse do amigo pelo meu trabalho. Abraço.
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