A participação do Club
Cyclista no carnaval de 1898
O jornal A Opinião Pública, de 26 de fevereiro de 1898, em matéria divulgada
sob o título de “A Pinhata”, noticiava que o Club Cyclista também desfilaria no
carnaval de rua, com a participação, talvez, de 30 ciclistas, em sua máquinas
adornadas, pretendendo abrir o corso [desfile], que se organizava para o dia
seguinte.
A reunião dos ciclistas seria em frente à Intendência [hoje
Prefeitura Municipal], às 17h30.
O corso, durante trajeto, deveria obedecer às evoluções dos
ciclistas, para melhor andamento da diversão e se evitarem atropelos.
Sabia o jornalista que algumas senhoritas, em suas máquinas,
prometeram abrir a marcha do Club, a qual seria fechada por um elegante carro
ornamentado.
Seria este, possivelmente, o melhor momento naquele ano do
carnaval de rua.
Encerrando a matéria era dito que o Club Cyclista, por
aquele jornal, faria em suas páginas uma declaração a propósito de sua passeata
no domingo da pinhata.
A comunicação do Club
Cyclista
“O Club Cyclista no seu e em nome dos amadores que acederam
ao seu convite, resolveu fazer uma passeata e, para a boa ordem e regularidade
da mesma, estabeleceu o seguinte programa, que pede para ser observado:
Os ciclistas se reunirão às 17h30 em frente à Intendência.
O itinerário será o seguinte: da Intendência pela Rua 15 de
Novembro, Voluntários, Andrade Neves, General Neto e 15 de Novembro, por onde
descerá até à Intendência, onde se dissolverá o préstito.
A distribuição dos pares e direção da marcha ficam a cargo
do Club”.
O Club dos Cyclistas convidava as famílias, que tomassem
parte do corso a acompanharem o préstito, seguindo rigorosamente o movimento
deste, devendo estacionar os seus carros também junto à Intendência, para dali
procederem a organização da marcha, pois, assim, não só evitariam a dispersão,
desordem e qualquer atropelo, como aproveitariam melhor os atrativos, pela
movimentação e abundância do corso.
O Club rogava ao público não atirar serpentinas sobre os
ciclistas, a fim de evitar quaisquer embaraços.
O ciclismo visto pelo
carnaval de rua
Embora o carnaval de 1898 estivesse bastante chocho, à
noite, do dia 28 de fevereiro, a coisa melhorara, com o tempo que parecia se
firmar, havendo grande aglomeração de povo pelas ruas, muito especialmente à
Rua 15 de Novembro, desde o Hotel Aliança [hoje Galeria Zabaleta] até a Praça
da República [atual Pedro Osório], em que esteve iluminado o Café Java, a Casa
Modelo, a Livraria Universal e a Notre Dame de Pariz.
Nesse trecho, hoje Voluntários até a Marechal Floriano,
entretanto, havia mais vibração, mas o jogo de confete e serpentinas fora
pequeno.
Fizera um passeio alegre um grupo de rapazes, num bonde
expresso, com rodas circundadas de cordões de algodão, revelando todos, nesse
cortejo burlesco, bastante espiritualidade.
Estes rapazes distribuíram prospectos análogos à crítica que
faziam.
Junto a estes endiabrados ciclistas fritz mack vinha uma tremebunda orquestra de rufos e tambores,
capaz de ensurdecer o próprio diabo.
Os “nossos ciclistas”, que andaram em maré de contratempos,
tiveram ainda uma crítica num cágado, que andava montado num pau, com duas
rodas, tocando campainha como um doido...
O desfile do Club
Cyclista
Apesar da tarde chuvosa do dia 28 de fevereiro de 1898, não
desanimou a “destemida e distinta mocidade” que fazia parte “deste futuroso”
Club.
Os jovens ciclistas, conforme o anunciado, levaram a efeito
o tão esperado passeio em suas bicyclettes,
percorrendo as Ruas 15 de Novembro, Voluntários, General Neto e voltando pela
15 de Novembro, indo, todos os seus sócios e sócias em suas “lindíssimas”
máquinas, enfeitadas com tão apurado e esmerado gosto que, ousava o jornalista
de A Opinião Pública afirmar, não
poderiam ser excedidas.
Após uma pequena pausa da chuva, que impertinente desafiava
o entusiasmo dos ciclistas, saiu o préstito, às 20 horas, da Biblioteca
Pública, rompendo uma multidão que os saudava com palmas prolongadas e ovações
entusiásticas de “bravo!” que, dizia o jornalista, realmente mereciam.
Assim desfilou o préstito: na frente, os comissários do
Club, na direita, Sr. Carino de Souza, na esquerda Sr. Mirtyl Franck, logo em
seguida o porta-estandarte, o jovem Bidam, depois o grande atrativo da festa,
as “gentilíssimas meninas” Firmina Oliveira, filha do negociante Sr. Pompílio
Oliveira, e Nilsa Pinto, filha do Sr. José Pinto, coproprietário da Livraria
Americana, ocupando o centro de ambas, num ponto distanciado para a retaguarda,
o ciclista Sr. Heráclito Brusque, cuja vestimenta e máquina,
“incontestavelmente eram as mais belas e ornamentadas, pelo seu apurado bom
gosto e extraordinária vista”.
Descrever minuciosamente um por um todos os ciclistas e suas
riquíssimas máquinas seria um trabalho longo, dizia o jornalista, limitava-se
então, a citar alguns que mereceram aprovações gerais.
Sr. Heráclito Brusque, no qual não sabia o que admirar, se
sua custosa e elegante vestimenta, de camiseta de seda, com listras de cores
ouro e preta, calção preto e meias de seda, cores também iguais à camiseta, ou
a sua soberba Monarch, que bem merecia figurar num desses famosos concursos
que, a propósito de festas iguais, costumava-se fazer nas capitais do velho
mundo.
Além deste, havia mais as seguintes máquinas: as das meninas
Firmina Oliveira, ornada de flores de seda, e Nilsa Pinto, também de flores
artificiais, ambas luxuosamente vestidas de seda branca e bonés, manejando com
perícia suas máquinas, dando assim a essa festa um efeito surpreendente e
admirável; a do Sr. Carino de Souza, caprichosamente enfeitada com flores
naturais e largas fitas de seda grená e branca e uma profusão de laços e fitas
nos eixos e nos pedais de sua experimentada máquina La Française; a do jovem José Areas, com fitas e laços de seda
branca e azul, vestido com iguais cores; a do Sr. João Simões Lopes Neto,
salientando “a belíssima borboleta de seda na frente do guidon”; a do jovem
Bidam, com flores naturais e bandeirinhas nacional e francesa; a do Sr. Fritz
Boyunga com o cadre [quadro] e guarda-lama totalmente ornados; a do Sr. Mirtyl
Franck, ornada de flores naturais: a do Sr. Eduardo Almeida, com muitas rosas e
os raios com laços de fitas; a do Sr. Dr. Rasgado, com flores naturais pelo guidon e cadre [quadro]; as dos Srs. Tonny Costa, Dr. Ildefonso Simões e seu
filho Sílvio, as dos jovens Cássio Tamborindenguy, Adolfo Maia, Lúcio Lopes
Júnior; e, as dos Srs. Pompílio Oliveira, Eleutério P. Pinto e mais as dos
moços Chapon, Marques, etc.
Era de causar muita pena o tempo não ter permitido que o
público melhor apreciasse essa festa, para a qual não só havia geral ansiedade,
como também ser a primeira, que neste gênero se organizava nesta cidade.
Os extraordinários esforços e grandes despesas que haviam
feito aqueles moços poderiam ser mais bem recompensados, se não fosse o estado
de muitas ruas, mesmo a rua principal, cuja lama e mau calçamento em muitos
trechos era de lastimar, não permitindo que os ciclistas fizessem algumas
evoluções, dando assim mais um atrativo à sua festa.
As casas comerciais da Rua 15 de Novembro, à passagem dos
ciclistas, acenderam suas gambiarras [luzes] e muitas senhoritas e moços
empunhavam fogos de bengala, concorrendo desta maneira para maior
deslumbramento do cortejo.
Concluindo, dizia o jornalista que, com franqueza os
destemidos ciclistas mereciam um “bravo!”.
Segue...
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Fontes: acervo da
Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
Tratamento de imagens:
Bruna Detoni