Combate ao consumo e
tráfico de cocaína e outros entorpecentes
O comandante do destacamento policial,
Sr. tenente Dorival dos Anjos, recebendo denúncia de que diversas pessoas estavam envolvidas na
venda clandestina de cocaína, levou o fato ao conhecimento das autoridades
policiais, as quais entregaram a investigação e captura dos contrabandistas ao
tenente Xavier dos Anjos.
Até dia 24 de fevereiro de 193l, em função das providências
tomadas, já tinham sido ouvidas algumas pessoas, apontadas como compradoras da
cocaína, sem a competente receita médica, deixando estas através de seus
depoimentos, em poder da polícia, elementos para que os contraventores fossem
apanhados e que, fatalmente seriam processados judicialmente.
Aquela ação policial, no entender do jornalista, repercutira
muito bem junto à comunidade.
Na edição seguinte, voltava o Diário Popular em suas “Notas Policiais”, em matéria denominada de
“A coca e as coquinhas em cena...”, dizendo que as autoridades policiais de
Pelotas continuavam empenhadas na repressão enérgica e constante ao uso e à
venda da cocaína bem como de qualquer outro entorpecente, tão do agrado dos
bas-fond locais.
Na delegacia de polícia, já tinham sido ouvidas diversas
pessoas e registradas as fontes fornecedoras da cocaína, cujos responsáveis
seriam punidos de acordo com a lei em vigor.
Ainda no dia 24, pela manhã, Aracy Pereira, residente à Rua
Gonçalves Chaves nº651, fizera declarações que em muito ajudariam a polícia
naquela operação.
Na Pensão do Osmar
No prédio de nº262, da Rua Dr. Cassiano, local conhecido
como a Pensão do Osmar, viviam várias mulheres, entre elas Maria Clara Goulart,
de 18 anos de idade.
Maria Clara, desde muito, estava servindo de “máquina”
[termo técnico do proxenetismo], a Manoel Cavalcante e Osvaldo Felipe da
Encarnação.
Dia 11 de junho de 1931, os dois cáftens discutiram e se
engalfinharam, por causa de Maria. O policial de nº30, de serviço naquela rua,
prendeu os contendores.
Na manhã do dia seguinte, os dois proxenetas e o
proprietário da referida pensão, que atendia por dois nomes, Osmar e Hugo
Perret, ele também traficante de mulheres, foram apresentados ao Sr. delegado
de polícia.
Canoa policial contra o
jogo e o caftismo em Pelotas
Em dezembro de 1931, a delegacia de
polícia de Pelotas recebeu ordens da chefatura de polícia de Porto Alegre, para
combater com toda a energia possível, a campanha contra o jogo, ao que, de
imediato, o Sr. capitão Edmundo Ossuowsky, delegado de polícia, organizou uma
canoa policial, chefiada por ele mesmo.
Após uma série de batidas em diversas casas cambistas, a
caravana regressou à delegacia de polícia, com várias pedras [tabuleiros que
apontavam resultados de jogos], grande quantidade de bilhetes de outras
loterias, que não a do Estado, centenas de listas de jogo de bicho, etc.
A campanha, segundo o capitão Edmundo, continuaria
encarniçada, atingindo ela toda a sorte de jogos, assim como se estenderia,
também, a “essa chusma de indesejáveis, na maior parte proxenetas, que
atualmente infestam a cidade, oriunda de países vizinhos”.
Ação conjunta contra o
meretrício
Soubera
o jornal A Opinião Pública, em 17 de janeiro de l932, que o Dr. Victor
Russomano, subprefeito em exercício, convocaria por aqueles próximos dias, em
seu gabinete, a imprensa e o Rotary Club para combinarem uma ação enérgica e
conjunta contra o meretrício escandaloso nas ruas centrais da cidade.
O
Sr. Cherubim Pereira de Queiroz, suplente do subprefeito do 1º distrito, em
exercício, já recebera ordem para intensificar a ação policial.
Preso em Pelotas um
explorador de mulheres
Noticiava
o Opinião Pública, de 18 de fevereiro de 1932, que há dias a delegacia de
polícia, desta cidade, recebera denúncia acerca de um indivíduo suspeito que
costumava frequentar o prédio nº 305 da Rua Dr. Cassiano, residência da decaída
Anita Barros, de nacionalidade uruguaia.
Acrescentava
a denúncia que o aludido indivíduo tinha por hábito se ocultar num quarto aos
fundos da casa, o que fazia despertar certas desconfianças.
Diante
disso, a autoridade tratou de averiguar o que havia de verdade, chegando à
conclusão de que se tratava de um proxeneta.
Segunda-feira
última, à noite, um sargento da polícia, fazendo-se acompanhar de um civil, foi
à casa de Anita.
Ali
chegados, para que Anita não desconfiasse, evitando-se assim a fuga do
indivíduo, o policial mandou que o seu companheiro batesse à porta. Aberta
esta, logo que o civil entrou, o agente policial tratou de nela penetrar
também.
Uma
vez no interior da casa, o sargento dirigiu-se aos fundos, onde deparou
fechada, a porta de um quarto.
Nessa
dependência que Anita, à sua ordem, abriu, achava-se escondido, o mesmo ao qual
se referira a denúncia.
Dada
voz de prisão, foi ele conduzido ao 1º posto e apresentado ao Sr. capitão
Edmundo Ossuosky, delegado de polícia.
Interrogado
por esta autoridade, declarou ele chamar-se Giovanni Gurrieri, de nacionalidade
italiana e ser comerciante.
Exibiu,
então, diversos papéis e um passaporte do ano de 1926, das autoridades
italianas, no qual lhe dava a idade de 34 anos.
Negou
que exercesse o proxenetismo, dizendo que apenas vivia com Annita, como seu
amante.
No
dia seguinte, foi ouvida Anita Barros.
Declarou
ela que há oito meses viera de Rivera, indo então para a cidade de Rio Grande,
onde residira à Rua Paysandu.
Ali
conheceu Giovanni Gurrieri, que era estabelecido com um pequeno restaurante.
Pouco depois se tornaram amantes, dando-lhe ele, nos primeiros tempos, algum
dinheiro.
Há
dois ou três meses, porém, Giovanni fechara o restaurante, dizendo-lhe que o
negócio ia mal.
Hospedara-se
ele, então, no Hotel Sul-América, daí em diante passando a viver a custa de
Anita.
Há
um mês, mais ou menos, Anita transferira-se para Pelotas, indo residir à Rua
Dr. Cassiano nº 305.
Giovanni,
entretanto, permanecia em Rio Grande, vindo a Pelotas seguidamente para receber
a féria [dinheiro ganho por Anita como prostituta], tendo ainda, naquele
domingo, espancado Anita por ter esta pouco dinheiro.
Em
poder de Giovanni, foi encontrada a importância de 308$ [réis], que Annita
disse pertencer-lhe.
Conforme
informação das autoridades de Rio Grande, o Hotel Sul-América, onde Giovanni se
hospedava, era um estabelecimento de segunda categoria, procurado habitualmente
por indivíduos suspeitos.
Giovanni
ia ser expulso do território nacional, como “indesejável”, possivelmente no dia
seguinte ao da prisão.
Rua Tiradentes,
sucursal da Dr. Cassiano
Sob
o título de “A Cidade”, o jornal A
Opinião Pública de 31 de janeiro de 1933, reproduzia a carta de um leitor,
na qual dizia este que a imprensa tinha se referido por muitas vezes a situação
anormal da Rua Tiradentes, transformada em sucursal da Rua Dr. Cassiano [rua em
que se encontrava as casas de prostituição].
“Nela
campeava, à noite, a fina flor da nossa vagabundagem e, no meio dela, o que é
estranho, alguns moços bonitos!”, que se espalha pelas pensões de meretrizes,
casa de jogo (nada menos de quatro em três quadras centrais), quiosques,
botequins, salões de bailes, etc., que se conservam abertos até a madrugada.
Sobretudo
nas proximidades do Mercado Central, o espetáculo que se oferece ao público é
degradante. Muitas famílias já têm deixado de passar ali para não ouvirem
obscenidades e não suportarem os motejos dos desclassificados que perambulam
naquele local, ajudados muitas vezes nesse triste mister por alguns condutores
de veículos que estacionam na Praça Sete de Julho [Praça do Mercado].
Pode-se
dizer que a Rua Tiradentes está dominada de ponta a ponta pelos inimigos da
ordem pública!
Aproxima-se
agora a época em que os pendores fuzarqueiros desses Srs. mais se acentuam. O
carnaval bate-nos às portas.
Urge,
pois, dar à Rua Tiradentes um policiamento eficiente, a fim de acabar com
abusos, em bem do sossego público e do decoro social.
Certamente
não faltam as nossas autoridades vontade para isso; bastará por em prática uma
vigilância ativa e permanente naquela zona e o mal cessará.
Duas
medidas se impõem para o mesmo fim: o fechamento das casas públicas à
meia-noite e a proibição de bailes nas quadras onde residem famílias”.
Licenciosidades...
Um
cabaré situado à Rua Sete de Setembro anunciava para a noite de 1º de fevereiro
de 1934, por meio de folhetins, um baile à fantasia e outras diversões próprias
de semelhante meio, dizia o jornal Opinião Pública.
Eram,
segundo o jornalista, folhetins sugestivos nos dizeres e nas figuras...
À
tarde, um distribuidor dos referidos folhetos andava pela Rua 15 de Novembro,
em sua missão.
E
teve então o repórter, oportunidade de ver que os folhetos do tal cabaré
andavam não só nas mãos de homens, como até de meninas, à porta de suas casas.
Era
esse um caso que o fazia meditar nas falhas da organização administrativa da
cidade e em quanta falta estava fazendo, em Pelotas, uma polícia de costumes...
Tolerância criminosa
Quem,
dia 7 de fevereiro de 1934, às 17h30, passasse pela Praça Piratinino de
Almeida, teria tido oportunidade de assistir a uma cena verdadeiramente
dolorosa e contristadora.
Uma
senhora, acompanhada de um filho, já moço, fora arrancar de uma casa suspeita,
existente no em torno daquela Praça, no prédio nº 56 e de propriedade de Ângela
de tal, uma menor de 15 anos, filha da referida senhora, que saíra de casa, sob
o pretexto de fazer compras.
A
mãe, avisada de que sua filha entrara no antro mantido pela caftina Ângela, foi
procurá-la e, ao vê-la dali sair, no auge do desespero, esbofeteou a filha, em
plena via pública.
A
cena, como é natural, provocou escândalo.
De
todos os que presenciaram o fato, o comentário era um só:
-
Como toleram as autoridades semelhantes antros de perdição e que impunemente
exerçam as caftinas essa miserável profissão?
Essa
tolerância, dizia o repórter, era realmente estranhável.
A
casa de Ângela era por demais conhecida.
Há
longos anos vinha sua proprietária contribuindo, nefastamente, para a desgraça
alheia arrastando à prostituição, ou cooperando para isso, menores ingênuas
que, muitas vezes aguilhoadas pelas dificuldades da vida, deixavam-se
facilmente iludir.
E
essa, como muitas outras casas desse gênero aí estavam, espalhadas pela cidade,
conhecidas de todos, numa verdadeira afronta à sociedade.
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Fonte de pesquisa: Bibliotheca
Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni
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