quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Pelotas: prostitutas e seus senhores


Combate ao consumo e tráfico de cocaína e outros entorpecentes
         O comandante do destacamento policial, Sr. tenente Dorival dos Anjos, recebendo denúncia  de que diversas pessoas estavam envolvidas na venda clandestina de cocaína, levou o fato ao conhecimento das autoridades policiais, as quais entregaram a investigação e captura dos contrabandistas ao tenente Xavier dos Anjos.
         Até dia 24 de fevereiro de 193l, em função das providências tomadas, já tinham sido ouvidas algumas pessoas, apontadas como compradoras da cocaína, sem a competente receita médica, deixando estas através de seus depoimentos, em poder da polícia, elementos para que os contraventores fossem apanhados e que, fatalmente seriam processados judicialmente.
         Aquela ação policial, no entender do jornalista, repercutira muito bem junto à comunidade.
         Na edição seguinte, voltava o Diário Popular em suas “Notas Policiais”, em matéria denominada de “A coca e as coquinhas em cena...”, dizendo que as autoridades policiais de Pelotas continuavam empenhadas na repressão enérgica e constante ao uso e à venda da cocaína bem como de qualquer outro entorpecente, tão do agrado dos bas-fond locais.
         Na delegacia de polícia, já tinham sido ouvidas diversas pessoas e registradas as fontes fornecedoras da cocaína, cujos responsáveis seriam punidos de acordo com a lei em vigor.
         Ainda no dia 24, pela manhã, Aracy Pereira, residente à Rua Gonçalves Chaves nº651, fizera declarações que em muito ajudariam a polícia naquela operação.

Na Pensão do Osmar
         No prédio de nº262, da Rua Dr. Cassiano, local conhecido como a Pensão do Osmar, viviam várias mulheres, entre elas Maria Clara Goulart, de 18 anos de idade.
         Maria Clara, desde muito, estava servindo de “máquina” [termo técnico do proxenetismo], a Manoel Cavalcante e Osvaldo Felipe da Encarnação.
         Dia 11 de junho de 1931, os dois cáftens discutiram e se engalfinharam, por causa de Maria. O policial de nº30, de serviço naquela rua, prendeu os contendores.
         Na manhã do dia seguinte, os dois proxenetas e o proprietário da referida pensão, que atendia por dois nomes, Osmar e Hugo Perret, ele também traficante de mulheres, foram apresentados ao Sr. delegado de polícia.


Canoa policial contra o jogo e o caftismo em Pelotas
         Em dezembro de 1931, a delegacia de polícia de Pelotas recebeu ordens da chefatura de polícia de Porto Alegre, para combater com toda a energia possível, a campanha contra o jogo, ao que, de imediato, o Sr. capitão Edmundo Ossuowsky, delegado de polícia, organizou uma canoa policial, chefiada por ele mesmo.
         Após uma série de batidas em diversas casas cambistas, a caravana regressou à delegacia de polícia, com várias pedras [tabuleiros que apontavam resultados de jogos], grande quantidade de bilhetes de outras loterias, que não a do Estado, centenas de listas de jogo de bicho, etc.
         A campanha, segundo o capitão Edmundo, continuaria encarniçada, atingindo ela toda a sorte de jogos, assim como se estenderia, também, a “essa chusma de indesejáveis, na maior parte proxenetas, que atualmente infestam a cidade, oriunda de países vizinhos”.

Ação conjunta contra o meretrício
Soubera o jornal A Opinião Pública, em 17 de janeiro de l932, que o Dr. Victor Russomano, subprefeito em exercício, convocaria por aqueles próximos dias, em seu gabinete, a imprensa e o Rotary Club para combinarem uma ação enérgica e conjunta contra o meretrício escandaloso nas ruas centrais da cidade.
O Sr. Cherubim Pereira de Queiroz, suplente do subprefeito do 1º distrito, em exercício, já recebera ordem para intensificar a ação policial.

Preso em Pelotas um explorador de mulheres
Noticiava o Opinião Pública, de 18 de fevereiro de 1932, que há dias a delegacia de polícia, desta cidade, recebera denúncia acerca de um indivíduo suspeito que costumava frequentar o prédio nº 305 da Rua Dr. Cassiano, residência da decaída Anita Barros, de nacionalidade uruguaia.
Acrescentava a denúncia que o aludido indivíduo tinha por hábito se ocultar num quarto aos fundos da casa, o que fazia despertar certas desconfianças.
Diante disso, a autoridade tratou de averiguar o que havia de verdade, chegando à conclusão de que se tratava de um proxeneta.
Segunda-feira última, à noite, um sargento da polícia, fazendo-se acompanhar de um civil, foi à casa de Anita.
Ali chegados, para que Anita não desconfiasse, evitando-se assim a fuga do indivíduo, o policial mandou que o seu companheiro batesse à porta. Aberta esta, logo que o civil entrou, o agente policial tratou de nela penetrar também.
Uma vez no interior da casa, o sargento dirigiu-se aos fundos, onde deparou fechada, a porta de um quarto.
Nessa dependência que Anita, à sua ordem, abriu, achava-se escondido, o mesmo ao qual se referira a denúncia.
Dada voz de prisão, foi ele conduzido ao 1º posto e apresentado ao Sr. capitão Edmundo Ossuosky, delegado de polícia.
Interrogado por esta autoridade, declarou ele chamar-se Giovanni Gurrieri, de nacionalidade italiana e ser comerciante.
Exibiu, então, diversos papéis e um passaporte do ano de 1926, das autoridades italianas, no qual lhe dava a idade de 34 anos.
Negou que exercesse o proxenetismo, dizendo que apenas vivia com Annita, como seu amante.
No dia seguinte, foi ouvida Anita Barros.
Declarou ela que há oito meses viera de Rivera, indo então para a cidade de Rio Grande, onde residira à Rua Paysandu.
Ali conheceu Giovanni Gurrieri, que era estabelecido com um pequeno restaurante. Pouco depois se tornaram amantes, dando-lhe ele, nos primeiros tempos, algum dinheiro.
Há dois ou três meses, porém, Giovanni fechara o restaurante, dizendo-lhe que o negócio ia mal.
Hospedara-se ele, então, no Hotel Sul-América, daí em diante passando a viver a custa de Anita.
Há um mês, mais ou menos, Anita transferira-se para Pelotas, indo residir à Rua Dr. Cassiano nº 305.
Giovanni, entretanto, permanecia em Rio Grande, vindo a Pelotas seguidamente para receber a féria [dinheiro ganho por Anita como prostituta], tendo ainda, naquele domingo, espancado Anita por ter esta pouco dinheiro.
Em poder de Giovanni, foi encontrada a importância de 308$ [réis], que Annita disse pertencer-lhe.
Conforme informação das autoridades de Rio Grande, o Hotel Sul-América, onde Giovanni se hospedava, era um estabelecimento de segunda categoria, procurado habitualmente por indivíduos suspeitos.
Giovanni ia ser expulso do território nacional, como “indesejável”, possivelmente no dia seguinte ao da prisão.

Rua Tiradentes, sucursal da Dr. Cassiano
Sob o título de “A Cidade”, o jornal A Opinião Pública de 31 de janeiro de 1933, reproduzia a carta de um leitor, na qual dizia este que a imprensa tinha se referido por muitas vezes a situação anormal da Rua Tiradentes, transformada em sucursal da Rua Dr. Cassiano [rua em que se encontrava as casas de prostituição].
“Nela campeava, à noite, a fina flor da nossa vagabundagem e, no meio dela, o que é estranho, alguns moços bonitos!”, que se espalha pelas pensões de meretrizes, casa de jogo (nada menos de quatro em três quadras centrais), quiosques, botequins, salões de bailes, etc., que se conservam abertos até a madrugada.
Sobretudo nas proximidades do Mercado Central, o espetáculo que se oferece ao público é degradante. Muitas famílias já têm deixado de passar ali para não ouvirem obscenidades e não suportarem os motejos dos desclassificados que perambulam naquele local, ajudados muitas vezes nesse triste mister por alguns condutores de veículos que estacionam na Praça Sete de Julho [Praça do Mercado].
Pode-se dizer que a Rua Tiradentes está dominada de ponta a ponta pelos inimigos da ordem pública!
Aproxima-se agora a época em que os pendores fuzarqueiros desses Srs. mais se acentuam. O carnaval bate-nos às portas.
Urge, pois, dar à Rua Tiradentes um policiamento eficiente, a fim de acabar com abusos, em bem do sossego público e do decoro social.
Certamente não faltam as nossas autoridades vontade para isso; bastará por em prática uma vigilância ativa e permanente naquela zona e o mal cessará.
Duas medidas se impõem para o mesmo fim: o fechamento das casas públicas à meia-noite e a proibição de bailes nas quadras onde residem famílias”.

Licenciosidades...
Um cabaré situado à Rua Sete de Setembro anunciava para a noite de 1º de fevereiro de 1934, por meio de folhetins, um baile à fantasia e outras diversões próprias de semelhante meio, dizia o jornal Opinião Pública.
Eram, segundo o jornalista, folhetins sugestivos nos dizeres e nas figuras...
À tarde, um distribuidor dos referidos folhetos andava pela Rua 15 de Novembro, em sua missão.
E teve então o repórter, oportunidade de ver que os folhetos do tal cabaré andavam não só nas mãos de homens, como até de meninas, à porta de suas casas.
Era esse um caso que o fazia meditar nas falhas da organização administrativa da cidade e em quanta falta estava fazendo, em Pelotas, uma polícia de costumes...

Tolerância criminosa
Quem, dia 7 de fevereiro de 1934, às 17h30, passasse pela Praça Piratinino de Almeida, teria tido oportunidade de assistir a uma cena verdadeiramente dolorosa e contristadora.
Uma senhora, acompanhada de um filho, já moço, fora arrancar de uma casa suspeita, existente no em torno daquela Praça, no prédio nº 56 e de propriedade de Ângela de tal, uma menor de 15 anos, filha da referida senhora, que saíra de casa, sob o pretexto de fazer compras.
A mãe, avisada de que sua filha entrara no antro mantido pela caftina Ângela, foi procurá-la e, ao vê-la dali sair, no auge do desespero, esbofeteou a filha, em plena via pública.
A cena, como é natural, provocou escândalo.
De todos os que presenciaram o fato, o comentário era um só:
- Como toleram as autoridades semelhantes antros de perdição e que impunemente exerçam as caftinas essa miserável profissão?
Essa tolerância, dizia o repórter, era realmente estranhável.
A casa de Ângela era por demais conhecida.
Há longos anos vinha sua proprietária contribuindo, nefastamente, para a desgraça alheia arrastando à prostituição, ou cooperando para isso, menores ingênuas que, muitas vezes aguilhoadas pelas dificuldades da vida, deixavam-se facilmente iludir.
E essa, como muitas outras casas desse gênero aí estavam, espalhadas pela cidade, conhecidas de todos, numa verdadeira afronta à sociedade.



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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen

Postagem: Bruna Detoni

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