Pelotas dos Excluídos (Vol.2) Parte
3
A.F. Monquelat
Prisão no Beco da
Muquirana
Às 22 horas do dia 15 de março de 1889, foi preso no célebre
Beco da Muquirana [nome pelo qual era
conhecido o cortiço do Sr. Barun localizado no final da Rua Sete de Abril,
atual D. Pedro II], pelo Sr.
comandante da polícia particular, um “preto” que
O Sr. comandante fazia-o conduzir para o xadrez, “com toda a
paciência”, quando nas imediações da Praça Pedro II [atual Pedro Osório],
apareceu a amásia do ferido.
Este, exasperando-se com a presença da amante, lança-se
sobre ela e dá-lhe alguns murros.
À vista de tal ousadia, foram ambos levados com violência
para a prisão.
Biongos sujos, não
Dia 15 de março de 1889, o delegado de higiene pública, Sr.
Dr. Joaquim Rasgado, fez com que diversos biongos
[casebres de palha; choças, palhoças] da Várzea fossem desocupados para que
seus inquilinos os limpassem na devida forma.
“Que S. Senhoria” continuasse assim, diz o jornalista do Diário de Pelotas, pois era aquele o seu
maior desejo bem como o da população em geral.
E já que andamos pela Várzea, pedimos ao delegado de
polícia, Sr. Eduardo de Mendonça Moreira, toda a atenção para os abusos que se
dão constantemente nessa; lembramos também a ele a conveniência de mandar
policiais para guardar aquele subúrbio, principalmente aos domingos e dias
santificados.
Nesses dias, os moradores daquele local achavam-se impossibilitados
de chegarem à porta ou à janela de suas casas, porque, se não era um
desordeiro, montado numa mula, desfechando tiros de pistola, como já noticiara
o Diário de Pelotas, que os privava
disso, era um bando de vagabundos que se juntava diariamente ali, soltando um
palavreado áspero e muitas vezes chegando às vias de fato.
Portanto, que essa “digna autoridade” tomasse providências
sobre aqueles elementos, dando assim mais uma prova de dedicação e zelo “pela
tranquilidade da nossa cidade”.
Ratoneiro furta joias
de uma horizontal
Dia três de maio de 1889, o temível gatuno Manuel Antônio de
Oliveira penetrou em casa de uma horizontal
[prostituta] e furtou-lhe uma caixa contendo diversas joias de algum valor.
O “ativo” delegado de polícia, logo que teve conhecimento do
ocorrido mandou prender o ratoneiro, e restituiu os objetos furtados à sua
legítima dona, é o que nos informa o jornal A
Pátria daquele mesmo dia.
Marinheiros desordeiros
Os desordeiros do “célebre” hotel Simplom depois de serem advertidos, em razão das queixas
apresentadas, reproduziram à noite as mesmas cenas de sempre, isto é: as
constantes desordens promovidas por marinheiros ébrios, e ali aquartelados;
pelo que foram dormir alguns no xadrez, sendo postos em liberdade dia 6 de maio,
segundo informava o jornal A Pátria
daquele mesmo dia.
É também daquele mesmo órgão de imprensa a notícia de que um
pintor mais boêmio do que outra coisa, de nome Gustavo, foi ferido em uma das
mãos e em uma coxa, sendo este ferimento profundo, porém sem gravidade.
O fato passou-se às 20 horas da noite em um cortiço da Rua
Barroso, sendo autores, segundo declarou o pintor, o crioulo Miguel,
trabalhador da charqueada do Sr. João Lopes, e o pardinho Pedro, empregado do
mesmo estabelecimento.
Ouvira o jornalista que a origem da briga foi “o ciúme
devorador que lavrava no peito do pintor”.
Os agressores, que foram presos pelo delegado, no entanto
negaram o fato.
Morreu Maria Muquirana
Toda cidade teve ou tem seus tipos populares, Maria Muquirana, em Pelotas, foi um desses e,
a ela, o jornal A Pátria em sua
edição do dia 14 de junho de 1889, dedica o seguinte registro: Maria Muquirana – Quem não conheceu
esta infeliz criatura?
A pobrezinha deixou de existir para sempre, entregando sua
alma ao Criador esta noite, à meia noite mais ou menos, exalando o último
suspiro em uma das calçadas da Rua Gonçalves Chaves, sem um braço carinhoso que
a amparasse no derradeiro momento.
Viveu uma existência mendigando, dançando e cantando umas
canções, que eram como os louvores que os africanos oferecem aos seus Manipansos.
A molecada está triste: perdeu na velha muquirana o seu passatempo.
Era centenária, andrajosa e ao mesmo tempo popular, porém
dessa popularidade irrisória.
Só Deus teve dela piedade, matando-a.
Amém.
Desastre e morte
Dia 1º de novembro de 1889, o jornal A Pátria noticiava ter sido vítima, naquele mesmo dia, a parda
Maria Clara que fora atropelada na Praça da Constituição [região da hoje Praça
Cipriano Barcelos), às 10 horas pouco mais ou menos, pela carroça do colono
Bernardo Peam, que vinha em desenfreada carreira pela lomba abaixo.
Tendo as rodas passadas na altura do peito, a morte de Clara
foi instantânea.
Registrou o óbito da infeliz parda o Sr. Dr. Requião.
Tomou conhecimento do fato o Sr. José Máximo Corrêa de Sá,
subdelegado do 2º distrito, que mandou remover o corpo para a Santa Casa de
Misericórdia e efetuou a prisão do colono Bernardo Peam.
Clara, segundo o jornal, fazia uso imoderado da bebida o
que, talvez, tenha concorrido em parte para o desastre de que foi vítima.
Sequestro, ou o quê...?
Tendo o Sr. subdelegado da polícia conhecimento de que o
menor José Oscar Pereira, desaparecido desde a tarde do último sábado de
outubro de 1889, achava-se em um quarto à Rua l6 de Julho [atual Dr. Cassiano],
próximo à Rua General Vitorino (atual Anchieta), dirigiu-se ao lugar indicado e
lá encontrou o menor.
A porta do quarto estava fechada; aquela autoridade mandou
arrombá-la.
Oscar achava-se encarcerado no tal quarto, que estava
alugado aos crioulos Anastácio M. Martins e Vicente dos Santos Ferreira, que
estavam ausentes, não explicando claramente o menor o motivo porque o haviam
ali encarcerado.
A autoridade entregou-o à família.
E, dia 30 de outubro, pela manhã, os inquilinos do quarto
foram presos para explicações.
É tudo quanto informava o jornal A Pátria do dia 1º de novembro de 1889.
Continua...
Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
Tratamento de imagem:
Marília Bas
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