Dando prosseguimento às declarações prestadas pela Sra.
Figueiredo à imprensa, disse ela também:
- que no terceiro dia, sábado, começara o apedrejamento ao
escurecer, isso era, às 19h30 mais ou menos, sendo sua casa alvejada
barbaramente por verdadeira chuva de pedras, até às 2 horas da madrugada;
- que domingo, indo até o quintal de sua casa buscar uma
caneca de água, viu Guilherme Hossel, sapateiro da casa Kruger, do quintal do
armazém de Ely arremessar algumas pedras, fugindo logo a seguir;
- que Guilherme, conversando com Emílio Miller, em voz alta,
de maneira que ela pudesse escutar a conversa, ridicularizou o fato do apedrejamento,
atribuindo, ironicamente, o acontecido à alma do pai dela, José Marques de
Figueiredo;
- que, dali, ele se dirigiu ao restaurante de João Tavares,
vulgo “João Mocotó”, e lá, referindo-se ao episódio do apedrejamento, do qual
ele era um dos responsáveis, disse que para a senhorita Conceição Figueiredo
não reservava uma pedra e sim o facão que, naquele momento, mostrou;
- que em sua casa, contígua ao prédio, Hossel narrou à sua
mãe a brincadeira de mau gosto, em termos tais que aquela senhora, cujo nome
era Alberta Hossel, foi à porta da rua para insultar as suas vizinhas;
- que. às 23 horas, Hossel novamente insultou a família
Figueiredo, ao passar em direção ao armazém, aonde iria se encontrar com o seu
incomparável amigo Emílio Miller;
- que, ao que parecia, depois da descoberta feita pela
senhorita Conceição, cessara o apedrejamento da casa de sua família;
- que a ação prejudicial de Hossel, no entanto, continuara,
pois na véspera fora encontrado um bilhete de Guilherme Hossel, assinado com o
pseudônimo pelo qual era conhecido, Willy, e dirigido à senhorita Conceição
Figueiredo, avisando-a de que não passasse pela sapataria onde ele trabalhava,
à Avenida bento Gonçalves, esquina da Rua General Osório, sob pena de ser
esbofeteada;
- que aquele bilhete fora lido por muitos vizinhos da
família Figueiredo, e rasgado num acesso de raiva pelo Sr. Armando Neto,
cunhado dessa senhorita.
A senhorita Conceição Marques de Figueiredo levou à redação
de um dos jornais da cidade duas enormes pedras, pesando cada uma mais ou menos
dois quilos.
Essas pedras, dizia o redator do jornal, tinham toda a
aparência de pedras comuns e, pelo exame, ainda que superficial por ele feito,
não pareceram serem pedras de outro mundo, pois ele quase poderia jurar que
eram tijolos com restos de concreto.
Dizia o jornalista também, não ter ele conhecimento até
então de outro caso semelhante àquele, já célebre, caso ocorrido no Rio de Janeiro,
cujas pedras eram comestíveis, nem tampouco outro caso sensacional, misterioso
e tão complicado.
Entendia o jornalista que tudo não passava de brincadeira de
mau gosto e se o fato, bem analisado fosse, não sobraria pedra sobre pedra,
caso não tivesse ele em sua mesa de trabalho as pedras, que ali ficavam à
disposição do público, em cujo sapato lamentava não poder colocá-las, para
intrigá-lo.
No dia posterior ao da reportagem sobre a casa “assombrada”,
o que fez aumentar, e muito, a venda avulsa do jornal, tinha o jornalista a
informar aos leitores, que o prédio nº91 da Avenida Bento Gonçalves, em que
residia a família Figueiredo, continuava sob o império... da bruxaria.
Cerradas cargas de pedra haviam sido arremessadas até às
duas horas da madrugada daquele dia...
Dissemos, e aqui repetimos, que o fenômeno das casas
apedrejadas, pelo menos em Pelotas, foi, e durante mais de um século fato comum
e bastante expressivo. Como exemplo disso, trazemos aqui um ocorrido no mês de fevereiro do ano de 1935, acontecimento
que levou o jornalista a dizer para os seus leitores que, por vezes se
verificavam coisas que embora não tivesse nada de sobrenatural, revestiam-se de
tais circunstâncias, que faziam reviver em nossa imaginação velhas histórias de
assombrações, tão do agrado de certos
criadores de novelas.
Uma casa apedrejada não era um fato inédito, ao contrário,
vários desses casos tinham sido verificados, todos ele, encontrando, por fim,
uma explicação que nada tinha de coisa do outro mundo.
Esses apedrejamentos eram, em geral, ocorrências noturnas.
O caso que ele se propunha a narrar, no entanto, apresentava
uma singularidade: era em plena luz do dia que as pedras “choviam”.
Foi por isso que a reportagem do jornal, informada daquela
ocorrência, dirigiu-se imediatamente ao local do mistério, procurando ouvir os
habitantes e vizinhos da casa “assombrada”, o que lhes permitiu relatar que: há
cerca de dois anos residia à Vila São Francisco, situada à Avenida vinte de
Setembro [hoje Duque de Caxias], defronte ao cemitério, a viúva Bernardina da
Silva Calaman.
Era uma pequena casa de madeira sob nº145, onde, com a viúva
moravam suas três filhas, duas já moças e uma de 4 anos, mais ou menos.
Pouco aquém da casa de Bernardina, no nº143, morava com a
família o Sr. João Rocha, empregado no cemitério.
Tanto a família de Bernardina quanto a de João Rocha, não
mantinham relações com vizinho algum.
Uns cinco dias antes da visita dos jornalistas, até aquele
momento, começara a casa da viúva a ser, dia e noite, apedrejada.
Como era natural, o fato preocupou a vizinhança que, durante
o dia acorria à casa alvejada pelas pedras, no intuito de observar de onde as
pedras provinham; entretanto, nada conseguiam descobrir.
Na presença de todos, à plena luz solar, as pedras, algumas
de grande porte, continuavam a cair sobre a casa.
No dia anterior, uma das filhas de Bernardina fora atingida
por três pedras.
O fato, porém, foi além: desde dois dias antes daquele,
também a casa do Sr. João Rosa, que morava aquém da casa “assombrada”, vinha
sofrendo violento apedrejamento.
Durante a visita da reportagem, teve esta a oportunidade de
ver cair na casa do Sr. João Rocha uma pedra de cerca de 10 centímetros de
diâmetro.
Em vista de ter o fato continuado e do perigo que corriam os
habitantes das casas atingidas pelas pedras, especialmente as crianças,
resolveram as vítimas levar o fato ao conhecimento da subprefeitura.
Foram imediatamente tomadas providências por parte daquela
repartição, que destacou alguns soldados do policiamento, para observarem o
local.
Entretanto, segundo informações levadas ao jornal pelos
habitantes das casas “assombradas”, apesar da presença dos policiais, o
mistério continuava...
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Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni
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