Pelotas conta em sua
trajetória com muitas e muitas histórias envolvendo fenômenos nem sempre
explicáveis, ou, pelo menos, soluções razoáveis diante dos eventos.
Teve por exemplo, dentre outros acontecimentos, barulhos
sinistros, ranger de portas, vultos fantasmagóricos em velhos casarões ocupados
pela pobreza, que os transformara em cortiços e que não cessavam nem mesmo
diante da presença e vigilância das autoridades policiais.
Grande parte desses eventos data do século XX, ainda que
existam registros, pelo menos noticiados pela imprensa, em século anterior.
Dentre os casos famosos e que despertaram a curiosidade
pública, estão o do Fantasma da Luz e
o Fantasma da Rua Voluntários. Na
zona da Várzea, ficou célebre o do Lobisomem
da Várzea, que, na verdade, eram dois e não um Lobisomem apenas.
Tais
fatos, hoje quase inexistentes, chegaram até o final da década de 50, no máximo
60. Lembro ainda, que na década de 50 ao acompanhar meu tio até os matadouros
das Três Vendas, onde ele buscava produtos suínos para o seu comércio nas
feiras ambulantes, durante o trajeto ele apontava algumas entradas de
propriedades com grandes portões de ferro, e me dizia ser aquela, ou aquela
outra, uma propriedade mal-assombrada. Mesmo assim, e sem ter visto algo que me
levasse a acreditar em tais coisas, apesar de cético: Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay, lembrando Don Quijote.
Outro fenômeno, e que sem dúvida alguma
foi o que mais páginas da imprensa e maiores comentários por parte da população
obteve, foi o das casas apedrejadas, sem que houvesse qualquer explicação, em
sua grande maioria, para tais ocorrências.
Nasci em uma dessas casas, cujo
fenômeno durou cerca de uma semana sem que meus pais soubessem a origem da
chuva de pedras, até que de repente, não mais que de repente, deixasse de
chover pedras em nosso telhado.
Um desses casos, e que causou grande
repercussão na cidade, foi o ocorrido no ano de 1908, em certa casa localizada
na hoje Avenida Bento Gonçalves, entre as ruas Deodoro e Osório. Os jornais da
época descreveram mais ou menos assim: eis um caso, que há muito eles não
registravam em suas páginas.
Registros que por esse mundo a fora, a
imprensa estava acostumada a noticiar. Desses que aos espíritos supersticiosos
fazia crer em fantásticas aparições ou elucubrações satânicas, pois não era que,
há algumas noites no tal prédio, onde residia Conceição Marques Figueiredo e
seus irmãos José, de 10 anos, Joaquim e Jerônimo, filhos de José Marques de
Figueiredo, - que fora assassinado há pouco no Prado Pelotense, em conflito com
Luiz Nicolau Gronus que se encontrava preso e, na época, respondendo a
processo, - vinha sendo misteriosamente apedrejado, sem que soubessem de onde
partiam as pedras... mágicas.
Houve até quem dissesse que aquilo era
obra de alguma alma que andava errante pelos espaços, pagando males que havia
praticado na terra.
Outros, diziam que na casa alvejada
existia um corpo enterrado, que daquela forma, agora, resolvera se comunicar.
Outros, ainda, que o referido prédio
fora, no passado, habitado por feiticeiros, que ali haviam deixado o encanto de
suas mandingas e bruxarias, tornando-o, por isso, assombrado.
Vizinhos do armazém do finado Álvaro
Ely, localizado na esquina próxima a casa assombrada, por sua vez, diziam ter
visto o vulto do assassinado José Marques de Figueiredo, amarrado pela cabeça,
de pés para cima, jogando pedras, à meia noite, na casa em que residia.
Acrescentavam eles que isso acontecia
quando Conceição Figueiredo chamava pelo cão que possuía cujo nome era
“Rompe-Ferro”.
Quando Conceição gritava o nome do cão,
como que por encanto, começava a chuva de pedras.
Entretanto, no meio de todas aquelas
conjecturas fantasmagóricas de arrepiar couro e cabelo dos supersticiosos, o
fato é que os moradores vizinhos da casa apedrejada encontravam-se
sobressaltados, incapazes até de pregar olho durante a noite e a fazerem o Cruz
Credo para espantarem o demo, receando serem visitados pelas almas errantes que
costumavam, segundo alguns ou costumam, segundo outros, se divertirem à noite,
em “dar por paus e por pedras”.
A imprensa, procurando ouvir a moradora
da casa, Sra. Conceição Marques Figueiredo, vizinha do armazém do falecido
Álvaro Eli, estabelecimento situado à Avenida Bento Gonçalves, esquina Marechal
Deodoro.
Disse ela ao repórter, o seguinte:
- Que Emílio Miller, caixeiro do
armazém e sócio da viúva de Álvaro, dia 19 daquele mês de março, às 15horas,
espancara, em plena rua, a seu irmão José, menor de 10 anos de idade;
- Que o motivo daquele ato de
brutalidade por parte de Emílio, segundo ouvira dizer, foi o fato de José
brincando, ter brigado com outro menor, irmão de Emílio;
- Que fora ela ao armazém saber de
Emílio o verdadeiro motivo de ter ele espancado José:
- Que ali, Emílio com maus modos não
somente a destratou como lhe disse que assim como batera em José, bateria nela
também;
- Que seu irmão Jerônimo Rodrigues fora
também ao armazém tomar satisfações da viúva de Álvaro Ely, ao que ela
respondeu que não queria conversa com bandidos ou com um simples boleeiro de
carro [condutor de carroça];
- Que se dirigiu, então, ao 3º posto,
onde apresentou queixa ao tenente-coronel Cristóvão José dos Santos, delegado
de polícia;
- Que aquela autoridade mandou intimar
a Emílio Miller a comparecer à sua presença, indo, porém, em seu lugar, a viúva
de Álvaro Ely, que se empenhou com o delegado de polícia para que não prendesse
Emílio, dizendo ser ela, viúva, ter nove filhos e que Emílio era seu sócio e o
seu único amparo;
- Que, entretanto, Emílio ia ser preso;
- Que foi então Emílio procurar outro
de seus irmãos, o Joaquim, com quem se abraçou, pedindo-lhe que o perdoasse;
- Que Joaquim, sensibilizado, perdoou,
indo pedir ao delegado de polícia que nada fizesse contra Emílio;
- Que tudo aquilo se passara
quinta-feira, 19 daquele mês e que, às 22 horas daquele mesmo dia começara o
apedrejamento, sendo, porém, as pedras arremessadas à casa de uma “preta”
vizinha;
- Que no dia seguinte, sexta-feira, dia
em que o diabo andava solto, o apedrejamento começara às 20 horas da noite,
sendo sua casa alvejada até a meia-noite;
- Que o bombardeio fora contínuo e horrível;
Continua...
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Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Adoro essas histórias...cresci escutando o meu pai contando casos de quando era jovem e morava no Fragata. Em que segundo ele, viu lobisomem na Gotuzzo, vampiros, fogo fátuo nas colônia e espíritos que per tubavam as pessoas no antigo Parque Pelotense. Parabéns pelas postagens
ResponderExcluirIsrael, valeu mais uma vez, e Pelotas está povoada dessas histórias. Abraço.
ResponderExcluirAmando o site.
ResponderExcluirGrato, Ilanah. É bom tê-la aqui conosco. Abraço.
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