A quarta visita feita pelo jornalista de O Dia, foi à casa do Osório, o profeta.
Osório era morador à Rua Conde de Porto Alegre nº602, um
chalé.
Tratava-se de um homem branco, novo, robusto e de grande
estatura. O Osório não era, como alguns de seus colegas, natural da África,
parecendo ser, pelo sotaque, uruguaio e usava um bigode à americana.
O jornalista foi introduzido, na sala de espera, por uma
mulher que o atendera ao batido.
Nada de anormal: mobília simples, quadros sem valor.
Não tardou el profeta.
De chegada deu ao “cliente” um:
- Buenas noches.
Osório era um tipo “limpo de roupa”. Apresentou-se ao
cliente com decência. Para melhor conquistar a confiança, foi cativante ao
tratar.
Em princípio pretendeu negar que fosse sacerdote de bruxaria. Fez-se o jornalista de
ingênuo.
Osório não resistiu, entregando-se de corpo e alma... ao
domínio público.
Inventou o repórter uma história. Querendo saber do mal que o
atormentava, pois se julgava enfeitiçado por alguém.
O profeta lançou mão a umas contas cabalísticas e as meteu
numa cabaça ou porongo, que agitou repetidas vezes. No meio das contas, havia
uma espécie de berloque [enfeite, pingente] em forma de porco, que o Osório
disse ser a figura da alma humana.
Espalhou as contas e começou a ver o que de misterioso e
fantástico ia à existência do jornalista.
- Claro – dizendo ao “cliente” que haviam feito bruxedo.
- Quem seria? – perguntou o jornalista.
- Fuera una mujer.
E continuou:
- De seis meses até agora, está usted com brujas al cuerpo.
- Mas, é coisa que mate?
- Como no?
Esforçou-se por dizer outras coisas enfadonhas, insípidas,
consultando sempre as contas e terminou dizendo que daria uma medicina para matar
o bruxedo, que o “cliente” tinha no corpo.
Pediu ao repórter que voltasse no dia seguinte a buscar a
beberagem, cujo preço, depois de alguma insistência do jornalista, disse ser
5$000.
A consulta custara 3$000, que teve de pagar na hora.
Dizia o jornalista que o Osório não era exagerado nos seus
preços; mas que ele, acreditando piamente que a beberagem do Osório fosse
apenas uma infusão inocente, resolvera não voltar para não perder mais tempo
com o mandingueiro.
Osório volta a ser
notícia na imprensa, 13 anos depois
Decorridos 13 anos desde a matéria do jornal O Dia, Osório volta às páginas da
imprensa local, desta vez aos 21 de outubro de 1929, via A Opinião Pública, em matéria que tratava da infestação de mandingueiros
na cidade de Pelotas, fauna da qual eram líderes Madame Corrêa e o mandingueiro
Osório, que chegavam ao desplante de publicar anúncios às gazetas e na tela dos
cinemas, à vista das autoridades policiais, e do povo todo, como se isso
constituísse o negócio mais honesto deste mundo.
O feiticeiro Osório é
alvo de uma canoa policial
As reportagens dos jornais A Opinião Pública e do Diário Popular, dia 22 de janeiro de
1937, sabedoras que as autoridades policiais organizavam uma canoa procuraram,
e foram convidadas a, fazer parte desta.
A batida policial era no palacete, em construção, do Sr.
major Antônio Vidal, situado à Rua 15 de Novembro, esquina da Conde de Porto
Alegre; pois, no referido prédio, por informação do seu proprietário, se
reuniam várias pessoas para praticar a feitiçaria.
Lá chegados encontraram, efetivamente, objetos
“comprometedores”, que foram apreendidos, assim como o ronda da propriedade.
Como julgassem de pouca importância o resultado daquela
diligência, os jornalistas resolveram sugerir, ao Sr. capitão delegado de
polícia, uma batida na residência do “conhecido homem das sortes”, Osório,
situada a uma quadra do local, onde se encontravam, à Rua Conde de Porto Alegre
nº602, esquina Andrade Neves. Aceita que foi a sugestão, a canoa policial se
encaminhou em direção ao prédio, aonde, poucos minutos depois, foram encontrar
uma “impressionante macumba”.
Osório recebeu a polícia sem aparente constrangimento, o que
deu aos repórteres a impressão que nada seria encontrado.
Encontraram-se dentro de uma vivenda confortável, mobiliada
e decorada com toda a suntuosidade.
Percorrendo a casa, foram encontrar o templo e o que viram era indescritível. Uma pequena sala atapetada,
guarnecida de objetos exóticos, tinha, dentre outras coisas, diversas vasilhas
com iguarias as mais variadas e opíparas, frutas as mais caras, velas acesas,
uma sopeira cheia de dinheiro em níquel, facções [heresias] e rosários, breves
e búzios, farinha amarela e galinha morta, pimenta da Costa e cuias, drogas e
ainda mais outras miudezas que, segundo o repórter, seria fatigante
enumerá-las.
Mais adiante, em outra sala, sobre uma mesa havia, um
baralho e correspondência.
Cartas remetendo dinheiro, pedindo consultas e ainda outras
acusando o recebimento de remédios.
Mais adiante, em uma espécie de galpão, encontraram ainda,
numerosos santos e velas acesas.
Ali estavam as “amarrações” para casamento e jogo do bicho:
um papel com o nome de um homem e outro com o de uma mulher; uma lista de jogo
de bicho com a centena 155 e o final correspondente.
Continua...
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Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni
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