Se
o Sr. chefe de polícia sabia que a repressão da jogatina era humanamente
impossível, visto como a campanha moralizadora tinha pela frente, IN PRIMO
LOCO, OS CHEFÕES protetores de viciosos e assassinos, para que levava a fazer
FITAS e querer ostentar uma norma de conduta redondamente inviável?
Deixasse o Sr. delegado desses arrancos
de energia... pirotécnica. Nem outro pintado, poderia deter o passo aos
jogadores, enquanto eles fossem arma partidária e como tal julgados
indispensáveis.
Mais valia o silêncio,
prudente, oportuno e cauteloso, do que essas jactâncias quixotescas, que
terminavam sempre, como agora, em FIASCO maiúsculo.
Se o Sr. delegado ordenasse a
perseguição ao jogo, não quisesse a jogatina, tinha poderes para acabar com
ela.
Pois bem. Fizesse-o em Pelotas, se
fosse capaz...
O jornal o auxiliaria naquele trabalho
meritoso.
Apontar-lhe-ia as casas onde se jogava
e as pessoas que as frequentavam.
Poderia, mesmo, fornecer-lhe outros
dados interessantes.
Era só o Sr. delegado pedir, por boca...
A respeito da jogatina
recebeu o jornal a seguinte carta: “Pelotas, 12 de
fevereiro de 1916. Sr. Redator d’O Rebate – Confiados no seu critério e na sua
máscula energia, para com os ditames de tudo quanto é bom e direito, vimos
pedir-vos, para verberar na sua conceituada folha, sobre a casa ou antes, o
antro de perdição e jogatina intitulado “cabaret” da Lili, onde mulheres da
vida fácil, com as sua “toaletes” à última moda, insinuadas pelos seus amantes,
vão como verdadeiros imãs atrair a rapaziada à toda a sorte de gastos e abusos
próprios de sua vida. Aquela tasca, foco de perdição, verdadeira “baiuca”,
semelhante aos albergues sangrentos, deve ser extinta pelas autoridades, como
uma medida de segurança ao sossego público, ali perde-se o moço, o velho, a
honra e o dinheiro alheios; para esse
lupanar imundo, próprio dos jogadores e batedores de carteiras, pedimos
o seu auxílio junto de quem de direito.
Quem
como O Rebate, venceu a questão da menina Francisca, também poderá vencer esta.
Ass. Muitos prejudicados”.
Ao que, depois da publicação da carta, o
jornalista acrescentara: que é que estamos fazendo, se não pedindo vistas ao
poder público para o referido antro de imoralidades?
Há cerca de quinze dias que estamos
“martelando” e, é o mesmo que... chover no molhado.
Em todo caso, um
consolo lhe restava: Era o de que tinha feito arrefecer a concorrência àquela
casa de tolerância, onde por vezes, devido à falta de “aficionados”, a roleta tinha deixado de funcionar.
Aguardando ele uma sessão concorrida para, com o auxílio da reportagem que mantinha lá
dentro, estampar no Rebate, os nomes dos jogadores, desmascarando-os à face da
sociedade. É o mais que poderia fazer.
Moulin Rouge - Paris |
Batida
de “compadres”.
Foi noticiado na imprensa local, dizia o
redator de O Rebate em 15 de fevereiro de 1916, aliás, com a “manha” que
caracterizava os processos CAPIVARESCOS, que o Sr. delegado de polícia,
acompanhado de uma maloca de VERNETIANOS, dera uma batida, sábado último na
casa de tavolagem de Lili de tal, NADA ENCONTRANDO QUE DENUNCIASSE A EXISTÊNCIA
DA JOGATINA, ali.
A tal batida fora o que se podia chamar
farsa indecorosa, autorizando até a supor que antes dela ser executada houvera
TRANSMISSÃO DE PENSAMENTO, ou funcionara a TELEGRAFIA SEM FIOS!
Tudo ele admitiria como sério e honesto, menos a declaração
de não ter sido encontrada, naquele antro, coisa alguma que denunciasse a
existência de jogatina, pois lá estavam, poderia asseverá-lo categoricamente,
as mesas do BACARAT e da ROLETA, com os competentes panos azul e verde bem como
os demais acessórios, que pertenceram ao extinto CABARET da Rua Marechal
Floriano.
Se o Sr. João Manoel Gomes e Silva QUISESSE VER, por certo
que teria deparado com tais objetos e feito a apreensão deles.
O Sr. delegado, entretanto, não levara o
intuito de agir eficazmente, buscando apenas dar uma satisfação ao público ou,
pelo menos, CONFUNDIR O REBATE, com um desmentido indireto.
Soubesse, porém, o Sr. delegado de polícia que mantinha tudo
quanto vinha afirmando, sustentando sob
palavra de honra e até em juízo se fosse necessário, que a jogatina funcionara
várias vezes na casa de tavolagem de Lili de tal, tendo um viajante comercial
perdido 300 mil réis na ROLETA.
Podendo adiantar mais, que, se o jogo não tinha mais
animação, devia-se- à moralizadora campanha do REBATE, o qual determinara a
escassez absoluta de AFICIONADOS, temerosos de uma batida da polícia.
Acrescentando ainda, que os jogadores já haviam declarado
que O REBATE haveria de cansar e eles prosseguiriam no seu NEGÓCIO.
De resto, haveria quem pudesse acreditar que o Sr. João
Manoel não soubesse que o jogo campeava em Pelotas, por toda a parte; que o
BICHO continuava sendo profissão LÍCITA de muita gente?!
Ora, não fossem tão ingênuos!...
O que se fizera foi uma comédia, quiçá precedida de aviso
aos jogadores para que o resultado fosse negativo.
O jornal é que não iria à onda e, como sempre, se manteria
na estacada.
Lili D’or e o Bar
Restaurant Maxim’s
A
Opinião Pública de 31 de janeiro de 1916 noticiava que,
no espaçoso prédio à Rua Andrade Neves nº 168, inaugurar-se-ia, dia 1º de
fevereiro, o Bar Restaurant Maxim’s, do qual era proprietária a cantora Lili
D’or.
A nova casa era inspirada no gênero de outra existentes no
Rio de Janeiro, Buenos Aires e Montevidéu, e nela o público encontraria, todas
as noites, além de boa mesa, atraentes diversões, como sejam: bailes, música e
canto.
A notícia divulgada pela Opinião Pública sobre a inauguração
do Maxim’s, foi também veiculada nos jornais Diário Popular e O Dia,
em forma de anúncio-propaganda.
Mas, ao que tudo indica, os empreendimentos de Mademoisele
Lili D’or eram fachadas para esconderem os seus verdadeiros negócios, que eram
o jogo e a prostituição, haja vista que: às 14 horas do dia 1º de março de
1916, os Srs. Dr. Amaro de Campos Pereira, subchefe de polícia, capitão João
Manoel Gomes e Silva, delegado de polícia, capitão Francisco J. Vernetti,
subintendente, e Prudêncio Ribeiro, apreenderam no Restaurante e Bar Maxim’s,
vários apetrechos e fichas de jogos.
O Bar-restaurante Maxim’s fora inaugurado dia 1º de
fevereiro de 1916, e era de propriedade de Lili D’Or, também proprietária do
Cabaré da Lili.
Enquanto a polícia apreendia os apetrechos e fichas de jogos
no Restaurant Maxim’s, a imprensa anunciava o “Grande baile `fantasia” que
aconteceria dia 4 de março de 1916, no elegante salão do restaurante.
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Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni
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