terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O dia em que Pelotas conheceu a primeira fila







         Existem acontecimentos na história de uma comunidade que são motivo de orgulho e que, por isto, merecem ser comemorados por seus habitantes; outros, como o ocorrido em 9 de novembro de 1946, servem tão somente para anunciar tempos difíceis e incertos.Foi este o dia em que Pelotas conheceu a primeira fila, ou bicha como a elas o povo costumava se referir.
         Naquela época, as famosas filas eram assunto tão comentado e explorado pela imprensa dos grandes centros do país. Serviam de motivo de humorismo e anedotas espirituosas por parte do povo, que é quem mais sofre com estas, mas que, apesar de tudo com verdadeiro “espírito de heroísmo” sabia enfrentar o momento difícil pelo qual passava o país.
         Essas filas, que serviam de motivo de humorismo para uns e de sacrifício para a maior parte da população, eram até aquele dia, 9 de novembro de 1946, conhecidas pelos pelotenses somente através dos comentários da imprensa.
         Entretanto, desde então, a população de Pelotas começou a tomar conhecimento mais direto com as famigeradas filas.
         Naquela manhã, o fotógrafo Ramão Barros colheu o flagrante que ilustra esta matéria, quando aproximadamente cem pessoas, formando extensa fila na rua principal, Rua 15 de Novembro, esperavam pacientemente, recebendo em cheio o forte sol que se fazia sentir àquela hora, cada um a espera de sua vez, para receber o minguado meio quilo de pão, para levá-lo para casa.
         E assim, Pelotas proporcionou o doloroso espetáculo, quando, defronte à Confeitaria Nogueira uma centena ou mais de pessoas, formando longa fila, aguardava a oportunidade de adquirir o que, daquele dia em diante a imprensa passou a chamar de ouro branco, o pão, pois que, da forma em que as coisas estavam se encaminhando, com diversas padarias da cidade estando por fechar suas portas, por falta de matéria-prima.Dessa forma, indiscutivelmente, o pão, alimento de primeira necessidade, ia, aos poucos, se tornando coisa rara.
         No entanto, parece que, aqui em Pelotas, a coisa começara com uma intensidade quase desesperadora, pois, se a primeira fila proporcionou  a muitos a satisfação de, mesmo com algum sacrifício, conseguir meio quilo de pão, nem todos, porém, tiveram a mesma sorte. Depois de duas longas horas de espera, mais ou menos 40 daquelas pessoas tiveram de passar pela triste decepção de voltarem a suas casas com as mãos vazias. Nessa altura lhes fora comunicado que já havia sido vendido todo o pão em estoque.
         Ao final da tarde, daquele mesmo dia, a população pelotense teve oportunidade de assistir a espetáculo talvez mais expressivo ainda que o primeiro, quando grande número de pessoas parava defronte à Confeitaria Gaspar, em busca do pão, enquanto que o estabelecimento se encontrava com as portas fechadas até ficar pronta a fornada que estava sendo cosida.
         Assim, a cidade de Pelotas, começou a conhecer, desde aquele dia, outra face do momento difícil e incerto em que se encontrava o país.
         E, como as filas vieram para ficar, infernizando a vida daqueles que a elas são obrigados a se sujeitarem, a partir daquele dia se tornaram frequentes no cotidiano da cidade.
         Eram tempos inflacionários nos quais as filas passaram a constituir um pesadelo contínuo.
         Em 1947, por exemplo, o povo desejando tecidos baratos, sujeitava-se a longas filas a espera de vales com os quais podia adquirir tecidos mais baratos, já que os demais tecidos eram inacessíveis às posses dos menos favorecidos pela “sorte”, segundo o jornalista de A Opinião Pública.
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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
 Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni

         

Um comentário:

  1. Como toda fila começa por uma pessoa, toda história dessa fila principia pela primeira palavra, para a prossecução do conteúdo, que determina o contexto final. - PFiss - 15.02.2017 - 16:40

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