Existem acontecimentos na história de uma comunidade que são
motivo de orgulho e que, por isto, merecem ser comemorados por seus habitantes;
outros, como o ocorrido em 9 de novembro de 1946, servem tão somente para anunciar
tempos difíceis e incertos.Foi este o dia em que Pelotas conheceu a primeira
fila, ou bicha como a elas o povo costumava se referir.
Naquela época, as famosas filas eram assunto tão comentado e
explorado pela imprensa dos grandes centros do país. Serviam de motivo de
humorismo e anedotas espirituosas por parte do povo, que é quem mais sofre com
estas, mas que, apesar de tudo com verdadeiro “espírito de heroísmo” sabia
enfrentar o momento difícil pelo qual passava o país.
Essas filas, que serviam de motivo de humorismo para uns e
de sacrifício para a maior parte da população, eram até aquele dia, 9 de
novembro de 1946, conhecidas pelos pelotenses somente através dos comentários
da imprensa.
Entretanto, desde então, a população de Pelotas começou a
tomar conhecimento mais direto com as famigeradas filas.
Naquela manhã, o fotógrafo Ramão Barros colheu o flagrante
que ilustra esta matéria, quando aproximadamente cem pessoas, formando extensa
fila na rua principal, Rua 15 de Novembro, esperavam pacientemente, recebendo
em cheio o forte sol que se fazia sentir àquela hora, cada um a espera de sua
vez, para receber o minguado meio quilo de pão, para levá-lo para casa.
E assim, Pelotas proporcionou o doloroso espetáculo, quando,
defronte à Confeitaria Nogueira uma centena ou mais de pessoas, formando longa
fila, aguardava a oportunidade de adquirir o que, daquele dia em diante a
imprensa passou a chamar de ouro branco, o pão, pois que, da forma em que as
coisas estavam se encaminhando, com diversas padarias da cidade estando por
fechar suas portas, por falta de matéria-prima.Dessa forma, indiscutivelmente,
o pão, alimento de primeira necessidade, ia, aos poucos, se tornando coisa
rara.
No entanto, parece que, aqui em Pelotas, a coisa começara
com uma intensidade quase desesperadora, pois, se a primeira fila
proporcionou a muitos a satisfação de,
mesmo com algum sacrifício, conseguir meio quilo de pão, nem todos, porém,
tiveram a mesma sorte. Depois de duas longas horas de espera, mais ou menos 40
daquelas pessoas tiveram de passar pela triste decepção de voltarem a suas
casas com as mãos vazias. Nessa altura lhes fora comunicado que já havia sido
vendido todo o pão em estoque.
Ao final da tarde, daquele mesmo dia, a população pelotense
teve oportunidade de assistir a espetáculo talvez mais expressivo ainda que o
primeiro, quando grande número de pessoas parava defronte à Confeitaria Gaspar,
em busca do pão, enquanto que o estabelecimento se encontrava com as portas
fechadas até ficar pronta a fornada que estava sendo cosida.
Assim, a cidade de Pelotas, começou a conhecer, desde aquele
dia, outra face do momento difícil e incerto em que se encontrava o país.
E, como as filas vieram para ficar, infernizando a vida
daqueles que a elas são obrigados a se sujeitarem, a partir daquele dia se
tornaram frequentes no cotidiano da cidade.
Eram tempos inflacionários nos quais as filas passaram a
constituir um pesadelo contínuo.
Em 1947, por exemplo, o povo desejando tecidos baratos,
sujeitava-se a longas filas a espera de vales com os quais podia adquirir
tecidos mais baratos, já que os demais tecidos eram inacessíveis às posses dos
menos favorecidos pela “sorte”, segundo o jornalista de A Opinião Pública.
_____________________________________________
Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen
Postagem: Bruna Detoni
Como toda fila começa por uma pessoa, toda história dessa fila principia pela primeira palavra, para a prossecução do conteúdo, que determina o contexto final. - PFiss - 15.02.2017 - 16:40
ResponderExcluir