Distúrbio em baile à Rua do
Imperador
Diz o Onze de Junho de 17 de abril de 1888
que, sábado, em uma casa à Rua do Imperador [atual Felix da Cunha], onde
funcionara a loja maçônica Rio Branco,
estavam entregues aos prazeres da dança diversos indivíduos, sendo a maior
parte deles vagabundos de profissão e muitas
damas de baixa hierarquia.
Eles e elas
dançavam desassombradamente, levados nas asas do prazer, sem temor de que a
polícia os fosse incomodar porque, segundo o jornalista, apresentavam
orgulhosos, a licença que a
autoridade policial lhes havia concedido.
No auge do maior
entusiasmo, porém, uma nota destoou em meio à harmonia que reinava e formou-se
um grosso rolo.
O cacete
imperou; as facas brilharam à luz das velas de sebo; os revolveres saíram dos
bolsos; uma gritaria infernal ergueu-se e os contendores saindo da sala do
baile, foram terminar a tremenda contenda à Rua Santa Cruz, onde os ânimos
acalmaram-se talvez pela influência da fresca viração que então ocorria.
Durante o
distúrbio os apitos soaram desesperadamente, os vizinhos acudiram e a polícia do
Sr. capitão Casado deixou-se ficar no quartel ou nas esquinas, muito quieta,
sem preocupar-se com coisa alguma.
Pois se eles, os
bailarinos, tinham licença para
divertir-se..
Menor é deflorada com auxílio de
cafetina
Pelo Sr.
subdelegado do 1º distrito foi, dia 25 de novembro de 1888, encontrada, em casa
da “preta” cafetina Eva da Costa, a menor Silvéria, filha do “preto” João de
Oliveira.
Silvéria fora
raptada da casa de seu pai, com o auxílio daquela cafetina, que já se
encontrava presa e recolhida à cadeia civil.
Dia 26, daquele
mesmo mês, o Sr. subdelegado de polícia mandou proceder o exame na referida
menor, sendo peritos os Drs. Raymundo da Silva e José Brusque, que declararam
ter sido recente o defloramento.
No dia 27
deveria ser aberto o respectivo inquérito.
Morto por ter defendido bofetada em
meretriz
Por volta das 22
horas do dia 27 de dezembro de 1888, foi barbaramente assassinado, no porto da
cidade, Antônio Cordeiro, tripulante do patacho [embarcação antiga de dois
mastros, tendo a cela de proa redonda e a de ré, latina] Pelotense III, pelo
indivíduo Cincinato Ignacio Duarte, tripulante do iate José I.
O fato passou-se
da seguinte maneira:
Encontravam-se
conversando à porta do botequim do Sr. Domingos Leite Marinho, à Rua Conde de
Porto Alegre, Antônio Cordeiro, Augusto José Maria, também tripulante do
Pelotense III, o proprietário do botequim e Cincinato.
Conversavam
sobre a agressão que, por parte de um indivíduo conhecido por Camões, acabava
de ser vítima uma meretriz de nome Sophia.
Em meio da
conversa, Cordeiro disse, entre outras palavras, as seguintes: “A bofetada que
aquele sujeito deu naquela mulher foi muito bem empregada”.
Cincinato, que
um pouco afastado ouvira aquelas palavras, precipitou-se bruscamente sobre
Cordeiro e, dando-lhe certeira punhalada no coração exclamou: “Estou vingado!”.
Pondo-se em seguida a correr em direção à Praça Domingos Rodrigues.
As pessoas que
presenciaram aquela cena inesperada, achando que Cordeiro tivesse recebido
apenas um murro, correram em seu auxílio, fazendo-lhe algumas perguntas.
Cordeiro
respondeu que não era nada, caindo logo após, morto sobre as lajes do passeio.
O Sr. Marinho
apitou imediatamente, comparecendo dois praças da polícia particular que, tendo
conhecimento do ocorrido, trataram de perseguir o criminoso.
Tendo
conhecimento do fato, o Sr. subdelegado do 2º distrito, o comunicou ao Sr.
delegado de polícia e ao Sr. subdelegado do 1º distrito, seguindo aquelas
autoridades para o porto, acompanhadas pelo Dr. José Brusque.
O Sr. delegado
de polícia tratou de proceder a auto de corpo de delito no cadáver, sendo
peritos os Drs. José Brusque e Requião, e os Srs. subdelegados trataram de dar
providências para a captura do assassino dando buscas em diversos iates
atracados no cais, sem obterem resultado.
Nessa ocasião,
foram informados, pelo patrão do iate José I, que o assassino se lançara ao São
Gonçalo, o que foi confirmado pelo proprietário do lanchão Jovem Pelotense, que
vira um vulto nadando em direção àquela embarcação.
Em vista dessas
informações, as autoridades mandaram uma força guarnecer o porto, em diversos
pontos, e moveram dois praças para o Passo dos Negros a fim de evitarem a fuga
do criminoso.
Às 4 horas da
manhã, o patrão do iate José I gritou para os praças, que ali estavam, que acudissem
que o assassino estava a bordo.
Estes acudiram,
sendo logo preso Cincinato, que se entregou sem resistência.
Sendo-lhe
perguntado como se achava naquela embarcação, que já tinha sido vistoriada,
respondeu que havia se escondido junto à retranca, cobrindo-se com uma vela do
iate.
Cincinato
confessou o crime com o maior sangue frio.
O indivíduo que
se atirara a água, como acima referido, foi o mesmo que pouco antes do
assassinato havia dado uma bofetada na meretriz Sophia, predileta do criminoso,
cujo fato a vítima aplaudira, originando-se o acontecimento.
Antônio Cordeiro
era natural de Paranaguá, o assassino era de Porto Alegre e filho do Sr. Thomaz
Inácio Duarte.
Cadetes espancam meretrizes
Às 21h30 do dia
28 de março de 1889, à Rua 16 de Julho [atual Dr. Cassiano], seis cadetes que
se achavam de passagem por esta cidade, invadiram a casa de algumas meretrizes
e espancaram algumas provocando verdadeira celeuma.
Aos gritos das
vítimas, que pediam socorro, os desordeiros fugiram em direção ao hotel São Pedro.
Nessa ocasião,
diversas pessoas começaram a apitar, comparecendo os Srs. Rodrigues de Souza,
su sargento da mesma seção Sr. Rocha e alguns praças que, à Rua Andrade Neves,
encontraram os desordeiros que já vinham ao encontro da polícia, travando-se então
um sério conflito entre eles e os praças.
Graças, porém, a
atitude calma e prudente assumida por aquela autoridade, coadjuvada pelo Sr.
alferes Ribeiro, o conflito não assumiu maiores proporções.
Acalmados os
ânimos, os referidos cadetes foram acompanhados pelo Sr. subdelegado do 1º
distrito até o quartel da polícia, onde permaneceram alguns instantes,
retirando-se depois para o quartel do destacamento de linha, depois de terem
prometido ao Sr. Eduardo Moreira, delegado de polícia, que ali se encontrava,
que não perturbariam mais a ordem pública.
Continua...
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* Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Postagem: Bruna Detoni
Seleção de imagem:
Janaína Vergas Rangel
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
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