terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O pecado (parte 10)










Assassinato por causa da Generosa

O Diário Comercial, em sua edição de 14 de janeiro de 1887, registrava mais um crime, onde figurava um agente da força pública.
O fato ocorrera no dia 13, por volta das 23 horas, mais ou menos, num bordel à Rua São Domingos [hoje Benjamim Constant] nº 4, pertencente a Augusto Martins, couto de mulheres “de vida equívoca, onde se joga e bebe, e se leva o tempo na prática de todos os atos reprováveis”, local em que se achava presente o cabo de polícia Demétrio dos Santos Cruz, comandante da guarda da Mesa de Rendas provinciais.
Por motivo de ciúme provocado entre o referido cabo e Ignacio Alves de Campos, e depois de uma acalorada discussão, em que trocaram insultos de lado a lado, o cabo Demétrio fazendo uso de uma pistola de dois canos, a qual estava de posse, disparou quase a queima roupa sobre Ignacio, varando-lhe o pescoço de lado a lado e cortando-lhe a traqueia.
A morte de Ignacio foi instantânea.
Do alarido que tal acontecimento provocou, acudiram algumas praças da polícia particular bem como o subdelegado de polícia Sr. Manoel da Rosa, que conseguiram a muito custo efetuar a prisão do assassino.
Foram ainda recolhidos à detenção o sócio do estabelecimento onde o crime ocorrera, e a mulher que provocara o ciúme, por nome Generosa.
No momento da prisão de Demétrio a quantidade de pessoas ali presente quiseram fazer justiça por suas próprias mãos, sendo necessário toda a “energia” do Sr. subdelegado Rosa para evitar aquele ato de justiça pública.
Ignacio era natural de Pelotas e de profissão carpinteiro.
Demétrio era natural de Santa Vitória, onde tinha família.

O Café do Ramiro
O Sr. Ramiro Monteiro de Aguiar tinha um Café, ou coisa que o valha, ali pela Rua General Osório.
Café tal era o Café do Ramiro, que atraía freguesia imensa e de todos os sexos, cores e condições, freguesia que não se desprendia facilmente dos prazeres que encontrava e prolongava até altas horas da noite, sempre debaixo de um vozerio infernal e de uma permanente ameaça à ordem pública.
A polícia procurou por diversas vezes impedir aquela “reunião prejudicial”, obrigando o Café a cessar à hora em que as portas do comércio se fechavam [o horário era determinado pela câmara municipal].
Foi em vão.
O Café fechava assim que avistava a polícia, e era reaberto logo que ela se afastava.
Dia 8 de fevereiro de 1887, porém, o sistema produziu efeito contrário.
A polícia foi, saiu, mas voltou às 2 horas da madrugada.
Havia, segundo o jornalista, uma perfeita bacanal.
Mulheres embriagadas, vagabundos, escravos, tudo em completa libação e em desenfreada orgia.
Não houve protestos nem juras.
Foi tudo parar à correção.
Eis aqui, dizia o jornalista, seus nomes por extenso para exemplo de outros e castigo daqueles que se desmandavam nos preceitos estabelecidos pela sociedade: Ramiro Monteiro de Aguiar, proprietário do tal Café, Henriqueta, escrava de Serafim José Rodrigues de Araújo, Simplício de Lima, a parda livre, Manoela, Arcanjo Garcez, Manoel Fernandes, Cândido Mendes da Silva, Gabriel Pereira da Silva e outro.

A Despacho de Madame em novo local, mas às voltas com a polícia
Na noite do dia 8 de abril de 1887, em uma “espelunca” que existia à Rua 24 de Outubro [atual Tiradentes] e denominada Despacho de Madame, agora em novo endereço, encontravam-se em infernal vozeria e em desordem uns dez ou doze indivíduos ébrios.
A polícia, chamando a atenção da proprietária da bodega para que esta restabelecesse a ordem, foi insolentemente recebida.
Compareceu então o subdelegado Sr. Manoel da Silva Rosa, a fim de conter os desordeiros.
Estes, porém, entenderam melhor esgueirarem-se pelos fundos; mas, sete deles, talvez os mais azarados, caíram em poder da polícia que os conduziu à prisão, onde permaneceram até o dia seguinte.
Esses indivíduos chamavam-se: Pedro Zona, Ricardo Balduce, Zancto Francisco, Pencor Josephe, Benedicto Frederico, Victorio Pegoral e Segundo Labina.
Encerrando a notícia, informava o jornalista que há muito que o tal Despacho de Madame estava sob a mira da polícia.

Meretriz e criada furtam súdito alemão
O súdito alemão Frederico Poreppe, estabelecido com ferraria nas colônias do Sr. Manoel da Fontoura Lopes, que ficavam do outro lado do Retiro, tendo vindo dia 3 de junho de 1887 à cidade comprar alguns objetos que lhe eram necessários, demorou-se até tarde da noite e, não tendo onde dormir, dirigiu-se ao botequim denominado Despacho de Madame, situado à Rua 24 de Outubro [Tiradentes].
Ali se encontrou com o célebre vagabundo Alfredo Marcelino de Souza, que logo procurou com ele travar relações.
No mesmo botequim encontrava-se a meretriz Etelvina com sua criada, a parda Virgínia, a quem Frederico obsequiou com duas garrafas de vinho, tomando também parte na libação o indivíduo Alfredo.
Dali saíram os quatro e dirigiram-se ao Café do Mercado, onde tomaram mais uma garrafa de vinho.
Ao saírem, Alfredo disse a Frederico que não tendo ele onde dormir o aconselhava que acompanhasse Etelvina, ao que Frederico concordou.
Em caminho, a polícia particular, conhecendo Alfredo e vendo-o com Frederico, desconfiou logo de suas intenções e o prendeu.
Frederico seguiu com Etelvina e sua criada, para a casa onde estas moravam e, chegando ali, despiu o casaco, deitou-se, adormecendo em seguida.
Acordando-se às 5 horas da manhã, Frederico levantou-se e saiu.
Na rua, tirou do bolso do casaco a carteira dando pela falta de 40$000 que tinha na mesma.
Às 8 horas, apresentou-se ao subdelegado Sr. Moncorvo Júnior, a quem narrou o fato, declarando não conhecer as pessoas com quem andara, nem seus nomes.
O Sr. Moncorvo, dando as providências que o caso requeria, mandou chamar a sua presença Etelvina e sua criada, conseguindo descobrir que a principal autora do furto de 40$000 réis havia sido aquela, que se encontrava presa com a sua conivente, a parda Virgínia.


                   Continua...



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* Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Postagem: Bruna Detoni
Seleção de imagem: Janaína Vergas Rangel

Revisão do texto: Jonas Tenfen       

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