Assassinato por causa da Generosa
O Diário Comercial, em sua edição de 14 de
janeiro de 1887, registrava mais um crime, onde figurava um agente da força
pública.
O fato ocorrera
no dia 13, por volta das 23 horas, mais ou menos, num bordel à Rua São Domingos
[hoje Benjamim Constant] nº 4, pertencente a Augusto Martins, couto de mulheres
“de vida equívoca, onde se joga e bebe, e se leva o tempo na prática de todos os
atos reprováveis”, local em que se achava presente o cabo de polícia Demétrio
dos Santos Cruz, comandante da guarda da Mesa de Rendas provinciais.
Por motivo de
ciúme provocado entre o referido cabo e Ignacio Alves de Campos, e depois de
uma acalorada discussão, em que trocaram insultos de lado a lado, o cabo
Demétrio fazendo uso de uma pistola de dois canos, a qual estava de posse,
disparou quase a queima roupa sobre Ignacio, varando-lhe o pescoço de lado a
lado e cortando-lhe a traqueia.
A morte de Ignacio
foi instantânea.
Do alarido que
tal acontecimento provocou, acudiram algumas praças da polícia particular bem
como o subdelegado de polícia Sr. Manoel da Rosa, que conseguiram a muito custo
efetuar a prisão do assassino.
Foram ainda
recolhidos à detenção o sócio do estabelecimento onde o crime ocorrera, e a
mulher que provocara o ciúme, por nome Generosa.
No momento da
prisão de Demétrio a quantidade de pessoas ali presente quiseram fazer justiça
por suas próprias mãos, sendo necessário toda a “energia” do Sr. subdelegado
Rosa para evitar aquele ato de justiça pública.
Ignacio era
natural de Pelotas e de profissão carpinteiro.
Demétrio era
natural de Santa Vitória, onde tinha família.
O Café do Ramiro
O Sr. Ramiro
Monteiro de Aguiar tinha um Café, ou coisa
que o valha, ali pela Rua General Osório.
Café
tal era o Café do Ramiro, que atraía
freguesia imensa e de todos os sexos, cores e condições, freguesia que não se
desprendia facilmente dos prazeres que encontrava e prolongava até altas horas
da noite, sempre debaixo de um vozerio infernal e de uma permanente ameaça à
ordem pública.
A polícia
procurou por diversas vezes impedir aquela “reunião prejudicial”, obrigando o Café a cessar à hora em que as portas do
comércio se fechavam [o horário era determinado pela câmara municipal].
Foi em vão.
O Café fechava assim que avistava a
polícia, e era reaberto logo que ela se afastava.
Dia 8 de
fevereiro de 1887, porém, o sistema produziu efeito contrário.
A polícia foi,
saiu, mas voltou às 2 horas da madrugada.
Havia, segundo o
jornalista, uma perfeita bacanal.
Mulheres
embriagadas, vagabundos, escravos, tudo em completa libação e em desenfreada
orgia.
Não houve
protestos nem juras.
Foi tudo parar à
correção.
Eis aqui, dizia
o jornalista, seus nomes por extenso para exemplo de outros e castigo daqueles
que se desmandavam nos preceitos estabelecidos pela sociedade: Ramiro Monteiro
de Aguiar, proprietário do tal Café,
Henriqueta, escrava de Serafim José Rodrigues de Araújo, Simplício de Lima, a
parda livre, Manoela, Arcanjo Garcez, Manoel Fernandes, Cândido Mendes da
Silva, Gabriel Pereira da Silva e outro.
A
Despacho de Madame em novo local, mas às voltas com a polícia
Na noite do dia
8 de abril de 1887, em uma “espelunca” que existia à Rua 24 de Outubro [atual
Tiradentes] e denominada Despacho de Madame, agora em novo endereço,
encontravam-se em infernal vozeria e em desordem uns dez ou doze indivíduos
ébrios.
A polícia,
chamando a atenção da proprietária da bodega para que esta restabelecesse a
ordem, foi insolentemente recebida.
Compareceu então
o subdelegado Sr. Manoel da Silva Rosa, a fim de conter os desordeiros.
Estes, porém,
entenderam melhor esgueirarem-se pelos fundos; mas, sete deles, talvez os mais
azarados, caíram em poder da polícia que os conduziu à prisão, onde
permaneceram até o dia seguinte.
Esses indivíduos
chamavam-se: Pedro Zona, Ricardo Balduce, Zancto Francisco, Pencor Josephe,
Benedicto Frederico, Victorio Pegoral e Segundo Labina.
Encerrando a
notícia, informava o jornalista que há muito que o tal Despacho de Madame estava sob a mira da polícia.
Meretriz e criada furtam súdito
alemão
O súdito alemão
Frederico Poreppe, estabelecido com ferraria nas colônias do Sr. Manoel da
Fontoura Lopes, que ficavam do outro lado do Retiro, tendo vindo dia 3 de junho
de 1887 à cidade comprar alguns objetos que lhe eram necessários, demorou-se
até tarde da noite e, não tendo onde dormir, dirigiu-se ao botequim denominado Despacho de Madame, situado à Rua 24 de
Outubro [Tiradentes].
Ali se encontrou
com o célebre vagabundo Alfredo Marcelino de Souza, que logo procurou com ele
travar relações.
No mesmo
botequim encontrava-se a meretriz Etelvina com sua criada, a parda Virgínia, a
quem Frederico obsequiou com duas garrafas de vinho, tomando também parte na
libação o indivíduo Alfredo.
Dali saíram os
quatro e dirigiram-se ao Café do Mercado, onde tomaram mais uma garrafa de
vinho.
Ao saírem,
Alfredo disse a Frederico que não tendo ele onde dormir o aconselhava que
acompanhasse Etelvina, ao que Frederico concordou.
Em caminho, a
polícia particular, conhecendo Alfredo e vendo-o com Frederico, desconfiou logo
de suas intenções e o prendeu.
Frederico seguiu
com Etelvina e sua criada, para a casa onde estas moravam e, chegando ali,
despiu o casaco, deitou-se, adormecendo em seguida.
Acordando-se às
5 horas da manhã, Frederico levantou-se e saiu.
Na rua, tirou do
bolso do casaco a carteira dando pela falta de 40$000 que tinha na mesma.
Às 8 horas,
apresentou-se ao subdelegado Sr. Moncorvo Júnior, a quem narrou o fato,
declarando não conhecer as pessoas com quem andara, nem seus nomes.
O Sr. Moncorvo,
dando as providências que o caso requeria, mandou chamar a sua presença
Etelvina e sua criada, conseguindo descobrir que a principal autora do furto de
40$000 réis havia sido aquela, que se encontrava presa com a sua conivente, a
parda Virgínia.
Continua...
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Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Fonte de pesquisa:
Bibliotheca Pública Pelotense-CDOV
Postagem: Bruna Detoni
Seleção de imagem:
Janaína Vergas Rangel
Revisão do texto: Jonas
Tenfen
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