As notícias que
antecederam a inauguração do Capitólio
Noticiava a imprensa de Pelotas, dia 7
de novembro de 1928, ser assunto obrigatório nas rodas de conversa e, sem
dúvida alguma, o acontecimento daquela semana, a inauguração do suntuoso Cine
Capitólio, que estava anunciada impreterivelmente para o dia 9 daquele mês, às
19 e 15 horas.
Por convites especiais, feitos pela empresa Xavier &
Santos, viriam de Porto Alegre, e outras cidades do Estado, vários
representantes cinematográficos e empresários, marcando presença no festivo
ato.
A orquestra do Cine Capitólio, além dos bons músicos da
cidade, que a compunham, seria acrescida permanentemente com elementos de fora,
que deveriam chegar a Pelotas entre os dias 7 e 8, achando-se já na cidade o
maestro efetivo.
Lia-se no A Opinião
Pública, do dia 8 de novembro, que se inauguraria no dia seguinte
[9.11.1928] o elegante cinema Capitólio, da empresa Xavier & Santos, uma
das melhores casas do gênero que Pelotas teria.
Situada às ruas General Neto e 7 de Setembro, ponto central
e movimentado, a nova casa de diversões estava em condições de proporcionar ao
público o máximo conforto, dispondo de vasta sala de projeções, onde se
acomodariam mais de mil poltronas, em três seções destacadas e dispostas de
maneira que o espaço entre uma e outra fila permitisse ao espectador entrar e
sair sem perturbar os demais.
Magníficas decorações do hábil pintor Sobragil Carollo, no
estilo do histórico Capitólio, e esplêndidas instalações elétricas do técnico
Antenor de Barros Farias, apresentando (interna e externamente) luzes
decorativas, completavam o novo e luxuoso cinema.
A inauguração do Capitólio estava marcada para às 19 e 15
horas, sendo exibida pela Metro Goldwin Mayer a película A semi-noiva, interpretada por Norma Shearer.
A orquestra, composta por excelentes músicos, seria dirigida
pelo maestro Raul Garbini, contratado pela empresa e já em Pelotas.
A estreia vista pela
Imprensa
Com o suntuoso nome de Capitólio, estrearia hoje, 9 de
novembro de 1928, a exuberante casa de diversões que seria explorada pela
empresa Xavier & Santos.
O projeto desta magnífica casa era de seu proprietário Sr.
Francisco Santos, executado pelo engenheiro-arquiteto Sylvio Barbedo.
Obra de grandes proporções, de bom gosto, de conforto e luxo
“será para a cidade de Pelotas mais que um melhoramento digno, será um
orgulho”.
Frente altaneira, elegante, sinfônica, sem torturações de
forma, motivando-a quatro grandes colunas coríntias provocando o antegozo da
expectativa e deslumbramento de seu interior riquíssimo.
A entrada um saguão destinado à venda dos lugares, com três
guichês, limitado por um para vento octogonal, recamado de vidros brilhantes,
luxuosa obra de marcenaria e gosto.
Artista de bom
gosto, e de temperamento excelente, esculpira com vida e com arte admiráveis
baixos-relevos com motivos romanos, tendo a adensá-los uma névoa leve, como se
o tempo espargisse sobre eles sua túnica descorante, ou como se rompesse de
mansinho de um fundo distante uma forma indecisa, embrionária, que se ia
formando dentro de nós, dizia o jornalista.
Dali, entrava-se a um salão de espera, ricamente atapetado,
com admirável mobiliário, todo espelhado, fartamente iluminado e luxuoso.
Neste salão mais uma vez, Carollo mostrava-se em várias
faces: revelando o decorador genial e o pintor extraordinário, onde todo um
mundo musical de decoração aparecia, historiando séculos, nos vislumbres
elementais da expressão.
Obra feita exclusivamente a pincel era uma maravilha pelo
tempo em que fora executada.
Arquitetura de ângulos retos de largos espaços esta se
insinuava numa tensão de formas, fazendo vibrar a magia sublime destes espaços
decorados a ouro.
Arquitetura e decoração formavam um todo harmonioso e
perfeito.
Segundo o jornalista, Carollo ali se excedera para além da
decoração, fora mais que decorador, fora criador de símbolos. Fizera uma
simbolização rápida, expressiva, de toda história artística do ocidente.
Quer na expressão de simpatia estática, simbolizando o
estatismo em arte, quer no jogo de linhas vivas, rítmicas, enviando notas
sinfônicas em todas as direções, símbolo de dinamismo.
Quem diria, observava e interrogava o cronista: a história
romana com seus gestos admiráveis de heroísmo, com suas grandezas sublimes, com
sua psicologia e sua política estariam refletidas em linhas e em forma?
A sala de projeção ricamente ornada com bom gosto, disposta
da melhor forma para maior comodidade do espectador.
Lindas poltronas, confeccionadas nas grandes fábricas de
Antônio Castro & Filhos, de Porto Alegre, eram de uma comodidade completa,
dispostas em grandes intervalos umas das outras, permitindo a melhor posição do
espectador.
As poltronas eram idênticas às usadas nos cinemas da empresa
Serrador no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A sala era toda ladeada de espelhos, feitos em Pelotas na
vidraçaria de Corrêa & Cia., do melhor material, que davam ao ambiente uma
luminosidade maior e criavam largos espaços de visualidade.
Acima da plateia ficava uma ordem de 15 camarotes, ricamente
mobiliados e cômodos, além de uma segunda plateia, vasta, em proporções menores
do que a térrea. No segundo andar,
encontrava-se, ainda, uma nova ordem de poltronas, colocadas de forma
apropriada, como era costume na época, dos grandes cinemas das maiores
capitais.
Toda a sala de projeção era profusamente
bem decorada, com um jogo de cores que agradava, atestando mais uma vez a
mestria de seu autor.
O forro era todo de estuque e decorado com arte e talento. Com
rasgos fisionômicos, concretizava formas estranhas, todo movimento, gosto,
arte.
Fora pintado para os olhos e para os ouvidos. Aquilo tudo
era musical, harmonioso, expressivo, mais que ornamento: arte. Arte viva, arte
pura. Estremecia os músculos, embriagava, entusiasmava.
Ao fundo, o palco com capacidade necessária para poder
abrigar números artísticos e pequenas trupes.
Toda a obra arquitetônica foi executada pelo construtor
Manoel Tavares.
A instalação elétrica ficara a cargo do eletricista chefe da
empresa Xavier & Santos, Sr. Barros Farias, e fartamente iluminada com
lâmpadas totalizando mais de 50.000 velas.
Os intervalos eram iluminados por 15.000 velas, ocultas, que
trocavam de cor e tonalidade, passando do verde escuro ao violeta lilás ao
azulão claro numa sequência contínua feita por aparelhos próprios, impedindo
assim que viessem ferir os olhos e agudez forte da luz branca.
Arejada com exaustores elétricos que renovavam continuamente
o ar interior impedindo que se viciasse.
Era uma casa moderna que possuía todos os predicados para
agradar e admirar.
A inauguração do
Capitólio vista pela Imprensa
Comentava a imprensa,
dia 10 de novembro de 1928, ter se constituído um sucesso fora do comum a
inauguração, no dia anterior, do Cine Capitólio, o magnífico centro de diversões
“que veio dar a Pelotas a primazia em matéria de cinema”.
Foi, como previsto, uma noite de gala. Um verdadeiro
acontecimento social, pois, desde cedo, começara a afluir ao luxuoso Cine uma
plateia de elite que, em seguida, lotou totalmente todos os lugares da vasta
sala. Oferecia, então, o Capitólio,
sob o efeito das luzes e das lindas decorações, um aspecto deslumbrante.
Na rua era, também, grande a aglomeração.
De inúmeras felicitações eram alvo constantemente os Srs.
Francisco Santos e Vieira Xavier, desses cumprimentos compartilhando o
secretário Sr. Mário Martins.
Estendiam-se elogios ao construtor, Sr. Manoel Tavares, que
dera corpo a idealização da obra, de inspiração do Sr. Francisco Santos.
Em grande número, também, os telegramas de felicitações
recebidos pela empresa bem como o número de artísticas corbélias.
Foi já com a elegante sala de espera repleta de “exmas.
famílias” que aguardavam a segunda sessão, que teve início a primeira com a
sinfonia do Guarany, executado pela orquestra sob a regência do maestro Raul
Garbini.
Em seguida, descerrada a “formosa cortina” com artística
cenografia de Sobragil Carollo, foi focada a comédia da Metro, A semi-noiva, que logrou o inteiro agrado da vultosa assistência.
E assim foi inaugurado o majestoso cinema Capitólio, por
cuja iniciativa a imprensa de Pelotas felicitava aos Srs. Francisco Santos e
Vieira Xavier.
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Fonte de consulta:
Bibliotheca Pública Pelotense - CDOV
Revisão do texto e
tratamento de imagens: Jonas Tenfen
Fotos: acervo Klécio
Santos
Um belíssimo patrimônio perdido. Mais belo que o Guarani ao meu ver. Pela ser descaracterizado pena fúria modernista dos anos 60 (que vitimou consideravelmente Pelotas). Parabéns pelo resgate! E. Fickel
ResponderExcluirObrigado meu caro amigo Anônimo e, quanto ao Cine Capitólio ter sido mais belo que o Guarani, concordo plenamente. Abraço.
ResponderExcluirParabéns. Como sempre um ótimo resgate!
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