sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O pecado (parte 3)*



À autoridade


Já por mais de uma vez declarava o Jornal do Commercio, de 15 de novembro de 1879, ter chamado a atenção da autoridade para os constantes distúrbios, que na Rua Barroso, quadra entre as ruas 24 de Outubro [Tiradentes] e São José [General Teles], promoviam algumas “pretas” ali residentes.
O jornal ignorava que providências haviam sido tomadas, o que sabia, porém, é que era raro o dia em que as tais megeras, de parceria com praças do destacamento de linha, vagabundos e “pretos” de charqueadas, não exibissem espetáculos pouco edificantes, insultando a vizinhança e os transeuntes.
Ainda, no dia anterior repetira-se uma daquelas cenas, que tanto depunham “contra a nossa moralidade”.
Pedia o jornalista a repressão de tais abusos, esperando que as dignas autoridades policiais fizessem sentir, de uma maneira enérgica, a sua reprovação para tais desacatos.

Pancadas de amor


Dia 28 de janeiro de 1880, ao cair da tarde, em uma das extremidades da Rua General Neto, uma rameira, conhecida por Maria das Papas, mimoseou a um tal D. Thomaz Bica, com algumas biqueiras, em testemunho da profundeza do amor que por ele sentia.
Como sempre acontecia quando se davam esses arrufos, houve intervenção, pacífica, de potências neutras que restabeleceram a paz entre os beligerantes, tendo como princípio que... pancadas de amor não doem.

Tropeiros agitam à Rua General Osório


Dia 26 de abril de 1880, à noite, deu-se à Rua General Osório uma grande desordem entre vários tropeiros.
Constava ao Jornal do Commercio ter saído ferido um dos desordeiros.
Sendo tão repetidas as desordens naquela rua, pedia o jornalista toda a vigilância das autoridades para certas bodegas daquele local, onde se entregavam ao jogo e à devassidão indivíduos de reputação duvidosa e, na sua maioria, já conhecidos da polícia.
Constava também ao redator do jornal, que alguns praças do destacamento de linha e da seção policial frequentavam aqueles antros de libertinagem, contra os quais pedia enérgicas providências.

A sociedade dos Terríveis


Segundo o jornal Correio Mercantil de 9 de janeiro de 1881, há muito tempo que existia nesta cidade, a ponto de anunciarem pelos jornais, uma sociedade denominada Os Terríveis, cujos fins e lugar dos trabalhos eram apenas conhecidos pelos confrades.
A polícia nunca se importou com a vida dos tais Terríveis e, entendeu, até então, que o negócio não passava de alguma inocente brincadeira de rapazes.
O tempo, porém, tudo esclarece, dizia o jornalista.
Dia 8, chegou ao conhecimento das autoridades policiais que a sociedade dos Terríveis era mesmo e unicamente composta de terríveis vagabundos e desordeiros, dos tais que dormiam de dia e rondavam de noite.
E a atividade foi descoberta, porque três dos associados, pelas quatro horas da madrugada, cometeram um grande desacato em casa da meretriz Maria Luiza, Rua Andrade Neves, quebrando as vidraças das janelas e derramando pelas portas uma porção de extrato [fezes] do Asseio Pelotense [empresa responsável pelo recolhimento dos cubos, que eram utilizados como vasos sanitários].
Os autores desse atentado foram os indivíduos, já muito conhecidos da polícia, e por mais de uma vez repreendidos, José Aprichieto de Campos, vulgo José Quebrado, João Maisonave e João Menino, contra os quais se tomaram providências no sentido de chamá-los à ordem, e evitar os escândalos que diariamente praticavam com ofensa à moral pública e aos direitos individuais.
Os estatutos dos Terríveis, segundo informações que o jornalista obtivera, consignavam princípios de perigosas consequências para a sociedade.
A ameaça para conseguir gozos e prazeres, a violência, o desacato, quando suas libidinosas pretensões eram repelidas, como aconteceu com a Maria Luiza e tinha acontecido com outras meretrizes, em iguais condições, eram as suas armas favoritas.
Funcionavam regularmente em um hotel-bilhar, à Rua Andrade Neves esquina 3 de Fevereiro [Major Cícero], e acreditava o jornalista que partisse dos Terríveis umas cartas anônimas, que há tempos recebera o Sr. Joaquim José de Assumpção, pedindo-lhe para depositar 5:000$ [cinco mil réis], em certo lugar, sob ameaça de morte caso não fosse feito.
As autoridades policiais tratavam de descobrir a verdade e garantir o público, contra ações de semelhantes indivíduos.
Era provável que os Terríveis desaparecessem da cena, desta vez, dos escândalos e atentados.



Ferimento em casa de uma mulher da vida airada


Segundo o jornal Onze de Junho, dia 8 de setembro de 1881, à noite, Joaquim Andrade, munido de um facão, procurava arrombar a porta da casa “de uma dessas mulheres da vida airada”, à Rua Santo Antônio [Miguel Barcelos].
Nisto, um sujeito que lá estava, abre a porta e sem que Andrade esperasse, atirou sobre ele algumas pedras, fazendo-lhe no crânio diversos ferimentos leves.
A autoridade não teve conhecimento do fato.

Escândalo


Dia 31 de dezembro de 1881, segundo o jornalista do Onze de Junho, à Rua 24 de Outubro [Tiradentes] próximo ao Arroio Santa Bárbara, duas heroínas da vida airada, descompuseram-se mutuamente a ponto de obrigarem as famílias a retirarem-se das janelas.
Estes fatos, dizia o redator da notícia, davam-se ali constantemente e, segundo informações que recebera, eram levadas ao conhecimento das autoridades, sem que estas, até então, tivessem dado a menor providência no sentido de evitar semelhantes escândalos.
Concluía desejando não ter de voltar mais àquele assunto.

Esfaquearam a Geraldina


O jornal A Discussão noticiava que, dia 28 de janeiro de 1882, acontecera um crime com uma “pobre mulher que vive do comércio iníquo de seu corpo”, de nome Geraldina.
Em sua própria casa, naquele dia, às 3 horas da madrugada, por um indivíduo que Geraldina não quis revelar o nome, foi ela ferida com uma faca.
O Sr. subdelegado do 2º distrito, averiguando o fato, obtivera informações seguras a respeito de quem cometeu o delito, e tratava de proceder na forma da lei.
Pela referida autoridade e pelo Sr. Dr. Victor de Brito foi feito o auto de corpo de delito.

Continua...


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* Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado

Revisão do texto: Jonas Tenfen




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