sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
O pecado (parte 2)*
Baile de máscaras na Rua Paysandu
Até janeiro deste ano não encontramos, na imprensa de Pelotas, indícios ou registros de casas de prostituição no sentido mais amplo e que designasse uma casa de meretrizes. O que encontramos, são notícias curtas relacionadas a fato ou fatos ocorridos em casa de uma ou outra prostituta, geralmente provocados por homens, como foi o caso do alferes Antero P. de Moraes, que foi recolhido ao estado maior do quartel da polícia, no dia 18 de janeiro de 1877, por ter provocado distúrbios em casa de uma “meretriz moradora à Rua Paysandu [atual Barão de Santa Tecla]”.
Naquele mesmo dia, o redator do jornal Paiz pede à polícia, que “ao menos por esta vez” o atendesse; pois, até então existia uma completa indiferença para, segundo ele, as perniciosas reuniões cognominadas por bailes masques [bailes de máscaras]; pois, em tais reuniões se encontravam “mulheres enfermas do corpo e da alma”, além de indivíduos sem profissão nem moralidade, cujo único desejo era a saciação de vícios torpes e tendo por norte a devassidão e a orgia.
Ali, segundo o jornalista, contemplava-se a bacanal infrene, que tudo desrespeitava e tudo apodrecia e era onde a prostituição oferecia o braço à ociosidade, e bailavam em “can-can [dança francesa, que por largo tempo foi considerada imoral e indecente, sendo por isto proibida pela polícia] repugnante e licencioso”.
Entendia ainda o jornalista que aquelas reuniões eram o chamariz de incautas vítimas, que ali iam pagar o seu tributo, e a perdição de jovens inexperientes; portanto, que acabassem, pois, com semelhante escola, que serviria apenas para “dar uma triste cópia dos nossos costumes”, e que por isso lhes fossem negadas terminantemente as respectivas licenças.
Dias depois, voltaria o jornalista a denunciar os “celebremente afamados bailes masques”, que continuavam a divertir os amantes das boas reuniões, dizendo ter acontecido no domingo à noite em certa casa da Rua do Imperador [atual Felix da Cunha] um destes, e que a algazarra, a desordem e a confusão eram tamanhas, que “a grande distância se ouvia o eco infernal”; também comunicava que a vizinhança vivia atordoada, privada do sono e queixando-se amargamente de semelhante escândalo e que, tendo em vista que a autoridade policial não apenas ignorava as suas reclamações, como era digno de menção o fato de terem tomado parte na folia, “praças da força policial”. O pior de tudo e indignação maior do jornalista: “A polícia bailando de vis-à-vis com negros cativos!...”.
Encerrando sua indignação chamava a atenção para aquele reprovável procedimento – já que o delegado de polícia “tudo permite” do capitão Delfino, no qual reconhecia um oficial “brioso e fiel cumpridor dos seus deveres”.
Suicídio da meretriz Generosa
A meretriz Generosa dos Santos Corrêa, de 40 e tantos anos de idade, residente à Rua General Vitorino [Anchieta], pôs termo a seus dias precipitando-se ao Arroio Santa Bárbara. Esta por mais uma vez, impelida pelos desgostos, quem sabe as dificuldades ou “levada pelo arrependimento da desgraçada vida a que se entregara”, tentou dar fim a existência; mas, em vão. Finalmente, alcançara seu intento.
O seu cadáver foi encontrado próximo à ponte de madeira, e dali conduzido ao Necrotério, onde procederam ao auto de corpo de delito, devendo, dia 16 de maio de 1877, ser dado à sepultura.
O subdelegado de polícia em exercício, Sr. José Manoel Afonso, acompanhado do escrivão Sr. Francisco de Paula Nunes, deu as providências que o caso exigia.
À notícia do suicídio de Generosa acrescentou o jornalista que, em outro tempo, quando no vigor da mocidade e dotada de atrativos, era Generosa festejada e os seus admiradores a supriam de todas as necessidades, ela se julgava feliz e que essa felicidade não acabaria.
Mas, à medida que os anos se passavam, diminuía o número de adoradores, as faltas começaram a acontecer, até que a miséria, com todos os seus horrores, invadiu-lhe o já não tão frequentado domicílio, outrora tão disputado.
Um cáften na mira da polícia
Foi dia 10 de outubro de 1878, à repartição da polícia, “uma dessas infelizes filhas do vício”, chamada Rosa de Tal, mais conhecida por Henriqueta, a espanholita, queixar-se de que era constantemente espancada pelo indivíduo Luiz Gonzalez Garcia, com quem a longo tempo vivia amasiada.
Sendo Garcia chamado àquela repartição, foi pela autoridade advertido e comprometeu-se a satisfazer a vontade da ofendida, que desejava ver-se livre dele, que, além dos maus tratos que lhe dava, vivia à sua custa.
A autoridade não procedeu com mais energia, por falta de provas, porém, deixou o acusado sob vigilância porque, além de tudo, suspeitava ser ele um cáften.
Taverna ou lupanar?
Na Rua Sete de Abril [atual D. Pedro II], embaixo de um sobrado azul, existia uma taverna que não se sujeitava à postura municipal – que ordenava hora certa e determinada para o fechamento das casas de negócios à noite.
Dizia o jornalista que ali se davam cenas de lupanares, às horas mortas, bailes chinfrinanos [bailes com desordem, algazarra] e barulho.
Além de chamar a atenção dos fiscais para o que acontecia na tal taverna, pedia que tomassem providências também para um cão morto, próximo ao mesmo sobrado azul, que estava em estado de putrefação e ameaçava a saúde do povo.
Foi ou não a meretriz Geraldina quem se feriu?
O Sr. subdelegado do 2º distrito, ao tomar conhecimento de que a meretriz Geraldina tinha recebido um ferimento sobre o ventre, se fez acompanhar do Dr. Vitor de Brito que lhe aplicou os primeiros curativos, fazendo a seguir o auto de corpo de delito, na intenção se fora ou não um crime, visto a meretriz ter dito que ela mesma se ferira.
A autoridade procederia na investigação; pois, do exame médico, resultaria a certeza de ter se dado um crime, “que a infeliz intenta desculpar”.
Conflito e ferimentos na casa da Constança
Dois sargentos e dois soldados de linha, dia 8 de abril de 1879, à noite, quebraram as vidraças e tentaram arrombar a casa da Rua 3 de Fevereiro [Major Cícero], em que residia a meretriz de nome Constança.
Aos gritos de socorro dados por esta, acudiram vários praças do destacamento policial, comandados pelo sargento José Maria, e intimaram os agressores a retirarem-se.
Como resposta, estes pegaram os rifles e atacaram a polícia que, em defesa, teve de fazer uso das armas, resultando ficar ferido um cadete, dois sargentos de linha e um dos policiais; os outros dois soldados, à vista da resistência que a polícia opunha, fugiram.
O jornalista comentava que tal fato atestava a falta de moralidade de seus autores.
Informava ele também que o Sr. capitão Campelo, comandante do destacamento de linha, telefonou no dia seguinte para o Rio Grande relatando o corrido ao Sr. comandante da guarnição, pedindo que os praças desordeiros fossem substituídos.
Continua...
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* Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
Revisão do texto: Jonas Tenfen
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
O pecado (parte 1)*
Quando a até
então denominada “Pérola do Sul” se transformou em “Princesa do Sul”, por volta
dos anos de 1860, agregou a essa metamorfose alguns elementos, se não desconhecidos,
pelo menos não institucionalizados, dentre eles o jogo, a prostituição e a
feitiçaria.
O progresso e a
modernização de Pelotas, uma cidade materialista, se fez acompanhar de um
aparato de repressão, que se fazia presente em toda e qualquer manifestação
popular. Trabalho sim, diversão não.
Essa repressão,
consequência de uma sociedade escravocrata onde poucos tinham muito, e muitos
tinham apenas o trabalho forçado, no entanto, não conseguiu evitar que os
excluídos da história encontrassem meios de manifestarem outras vontades,
desejos e práticas, que não apenas as voltadas para o trabalho e a submissão às
regras de uma sociedade, cujo único propósito era explorá-los.
E, como primeiro
exemplo de nossa afirmação, trazemos o caso ocorrido na noite de 16 de março de
1875 quando a polícia invade de surpresa uma casa localizada na Rua General
Osório, esquina da Rua Santo Antônio [atual Senador Mendonça], casa esta que,
segundo o Jornal do Comércio, possuía “o avultado valor de
40$000 réis aproximadamente, em gêneros e armação”.
A inesperada
visita da polícia, que não fora convidada, foi motivo suficiente para que o
divertimento terminasse, pois a música dispersara-se e as damas assustaram-se.
Dentre os
convivas, no total de 15 cavalheiros, diz a notícia, se encontravam alguns
moços ali levados pela sua inexperiência, mas de conduta regular, e outros de
ocupação e meio de vida duvidosos.
Todos foram
recolhidos ao xadrez do quartel da polícia, onde passaram a noite, e noite bem
cruel, pois as gargalhadas da “orgia, foram substituídas pela tristeza da
prisão”.
Aquela invasão
foi efetuada pelos “ativos” Srs. delegado e subdelegado de polícia, major
Francisco Nunes de Souza e capitão Manoel Luiz da Cunha, devidamente
acompanhados.
No dia seguinte,
16 de março, sendo todos os reclusos chamados, 12 foram postos em liberdade,
visto terem exibido provas de sua boa conduta e acharem-se empregados, e 3,
“considerados como vagabundos”, seguiram naquele mesmo dia para a cidade de Rio
Grande, “como recrutas para o exército ou para a armada”.
Segundo o
redator da notícia, a investida das “dignas” autoridades obtivera um feliz
resultado; pois , aqueles três homens ainda poderiam vir a ser úteis “a si e a
pátria”.
Continuasse,
portanto a polícia a fazer suas visitas por aquelas espeluncas situadas em
diversos pontos da cidade, onde se juntavam os “vagabundos”, que, por certo, o
número de “ratoneiros [gatunos, larápios]” diminuiria consideravelmente, e o
“nosso exército e armada” disporiam de mais soldados.
Por causa de uma meretriz
Em consequência
de duas punhaladas que no dia anterior lhe desferira seu compatriota José
Ferreira Lourenço, falecia, dia 5 de setembro de 1875, na Santa Casa de
Misericórdia, o súdito português Joaquim Mendes Ribeiro.
A meretriz
Madalena fora a causa principal de tal acontecimento: em casa desta
encontravam-se os dois que, depois das agressões verbais, chegaram às vias de
fato.
Revira e orgia na casa do Nogueira
Estava lá, ora,
pois, o português José de Pinho Nogueira, casado, a dar um maxixe familiar ou uma revira
em sua casa, na Rua Conde d’Eu [atual Avenida Bento Gonçalves], tendo como
convidados alguns negros e negras cativos, e três negras e um pardo livres,
quando os policiais da polícia fixa e da particular, sob o comando do Sr.
Souto, entraram e acabaram com a festa.
Para o
jornalista do Diário de Pelotas, a
família do Nogueira não podia ser considerada decente, pois, do contrário não
consentiria em casa uma “revira [dança de negros] composta de escravos”. Além
do que, no próprio quarto do “Sr. Nogueira, junto com a esposa dele, foram
encontradas 3 negras e um pardo livres!”.
Tendo o Correio Mercantil contestado certas
declarações do Diário de Pelotas,
quanto a alguns detalhes do ocorrido, revidou este dizendo que, além do
Nogueira, três escravos do Manoel J. de Oliveira e um do Antônio Leite terem
sido levados presos, a polícia “só se apoderou de duas gaitas e um violão”, que
se achavam à disposição no quartel para serem entregues aos seus donos; agora,
quanto a bebidas, doces, café e etc., a polícia nada daquilo vira, no tal revira ou maxixe familiar.
Encerrando a
polêmica, o Diário de Pelotas dava
por finda “esta questão. Não pode classificar como chefe de família quem
consente, em sua casa, com sua esposa, uma bacanal de negros cativos”.
Embora não
tenhamos elementos necessários para avaliar o que realmente aconteceu na casa
do Nogueira, além dos ditos pela imprensa, a única cena que pode nos levar a
pensar que o tal maxixe familiar virara uma bacanal, é a passagem em que a
esposa deste fora encontrada no quarto do casal com “3 negras e um pardo
livres”, portanto não era, caso fosse, uma “bacanal de negros cativos”.
Fica-nos parecendo, isto sim, é que a censura por parte do Diário foi quanto ao Nogueira ter dado um maxixe familiar com a
presença de negros e negras, livres e cativos.
Sapateiro esfaqueia a Periquita
Às 19 horas do
dia 3 de julho de 1876, foi ferida, com duas ou três facadas, uma “dessas
infelizes vítimas da prostituição”, de nome Maria Faustina dos Santos, vulgo Periquita.
Foi autor deste
crime o português José Maria de Siqueira, homem de 28 anos, sapateiro de
profissão, dado, segundo diziam, a maus costumes e ao vício da embriaguês.
Maria Faustina,
a Periquita, morava em um quarto do
botequim do Sr. Porfírio José da Costa Brasil, localizado à Rua General Osório.
José Maria, com
quem Maria Faustina tinha relações, ali entrou e, por motivos fúteis, começaram
a discutir. Das palavras passaram às ofensas físicas, resultando destas um
primeiro ferimento na Periquita. Esta
saiu para fora do quarto, dizendo que ia queixar-se à autoridade e, quando já
estava na rua, passados poucos momentos, foi novamente agredida por José Maria
que lhe desferiu mais algumas facadas, das quais uma próxima ao pulmão direito.
Encontrando-se
na ocasião um policial da seção fixa, e tendo-se aglomerado muita gente, José
Maria foi preso em fla grante delito e conduzido ao xadrez da polícia, onde
pernoitou, passando no dia seguinte para a cadeia civil.
A agredida ainda
teve forças para ir queixar-se ao subdelegado de polícia, que a mandou ao Dr.
Maia, de quem recebeu os cuidados e curativos necessários.
Dia 4 de julho,
na subdelegacia, fizeram o inquérito do réu e testemunhas.
José Maria negou
o fato e alegou que estava embriagado; porém, ao mesmo tempo em que declarou de
nada se lembrar, confessou que trazia uma faca “de tal e qual qualidade” que
deixara no quarto da agredida.
As testemunhas
foram unânimes em atribuir-lhe o delito.
Não era a
primeira vez que José Maria maltratava a infeliz Maria Faustina. Há não muito
fora preso por idêntico fato, mas de menor gravidade.
O médico que
examinou a vítima não havia respondido aos quesitos que lhe foram apresentados,
segundo entendimento do jornalista, deveria qualificar os ferimentos como
leves.
Continua...
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*Extraído do livro, ainda inédito, A princesa do vício e do pecado
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
A bodega da italiana Catarina (*)
A.F.Monquelat
A partir da intimação
feita pelo Sr. tenente-coronel delegado de polícia aos bodegueiros da Rua
General Osório, bem como aos donos de bodega no porto da cidade, em fevereiro
de 1891, locais onde havia maior concentração dessas casas de negócio, para que
dispensassem as dulcineias, frequentadoras
e moradoras de seus estabelecimentos, com o pretexto de serem estas as grandes
responsáveis pelas desordens ocorridas, houve, de forma gradativa, uma diáspora
e, consequentemente, migração de prostitutas para outros pontos da cidade.
Acreditamos que tal ato migratório tenha acontecido da
seguinte maneira: as meretrizes frequentadoras e moradoras das bodegas da Rua
General Osório, que, por longo tempo foi o primeiro e principal point de suas
atividades, até porque seus clientes eram, na grande maioria, tropeiros,
colonos e outros, assíduos frequentadores das bodegas ali existentes, quase
sempre localizadas no período que abrangia da Rua Voluntários até a hoje
Avenida Bento Gonçalves, situação essa que durou, pelo menos, até a
desobstrução da foz do canal São Gonçalo.
Com a desobstrução do Canal, tornou-se o porto da cidade um
local bastante promissor para os bodegueiros e meretrizes que, embora
inicialmente em menor proporção, ali vieram a exercer suas atividades.
Quando da intimação, tanto uns, umas e outros, tiveram de
readequarem-se as novas regras determinadas pelas autoridades, em nome do
sossego, bem estar e da moral dos cidadãos da pérola, que se transformara em
princesa. Porém, como nem só de trabalho vivem os vassalos, novos locais foram
alvo daqueles que queriam gozar de outras formas de vida, até porque não tinham
sido aquinhoados ou tampouco encontraram condições de se aquinhoarem nessa
minicorte, que era Pelotas.
Pelotas, nesse período, guardada as proporções, tornara-se
uma cidade cosmopolita e, entre a diversidade de seus habitantes, em sua
maioria ex-escravos e pobres, somavam-se os inúmeros imigrantes não colonos,
que eram os artesãos e aventureiros, atraídos pelo luxo e esplendor que as
guaicas dos “pataqueiros da aristocracia do sebo” construíram.
Voltando aos nossos
bodegueiros e dulcineias do passado,
que já não eram mais vassalos do Império, e sim, servos da República,
espraiaram-se estes então pela zona da Várzea, e outros em direção ao Mercado
Público, sem esquecermos-nos das prostitutas que já estavam, ou vieram a se
localizarem nas ruas Voluntários, 16 de julho [Dr. Cassiano] e 3 de Fevereiro
[Major Cícero].
E
é nesta transição e cenário que vemos surgir bem próximo ao quadrilátero do
poder político e econômico as primeiras bodegas da Rua Tiradentes, uma delas de
propriedade da italiana de nome Catharina Cuniga; bodega que, em curto espaço
de tempo, se tornaria célebre e
contribuiria para que esta rua se tornasse, por longas décadas, o assunto
preferido das páginas de ocorrências policiais.
Assim
é que Vitú, jornalista da Opinião Pública,
em sua coluna do dia 3 de fevereiro de 1898, comentando sobre a ordem que
reinava, à noite, em Pelotas, dizia estarem os moradores da Rua Tiradentes
iniciando um abaixo-assinado contra os escândalos que aconteciam na bodega de
uma italiana.
Além
das musicatas [músicas de baixa qualidade artística] e imoralidades, as
bebedeiras ali eram frequentes, com grave escândalo da moral pública.
Quem
cuidaria daquilo? Perguntava o colunista.
Cachorro de Catharina leva Papagaio à cadeia
Dia 31 de janeiro de 1900, a bodegueira
Catharina Cuniga que tivera um palpite para o jogo do bicho, palpitara que
daria cachorro, bichinho este de sua predileção, pela sua tradicional lealdade
e de amigo certo, e lá foi ter com o bicheiro Manoel Gomes dos Santos, vulgo Papagaio.
Catharina estava certa,
deu cachorro.
Acontece que Papagaio
recusou-se a pagar o premio do jogo que com ele havia feito Catharina.
Não deu outra, lá foi a bodegueira para a delegacia
queixar-se ao Sr. delegado de polícia, da cachorrada do Papagaio.
A polícia, porém, que não estava aí para apurar esses incidentes da afeição, deu com o Papagaio e a devota do cachorro no
xadrez, o primeiro por vendedor falso
de cachorros e a segunda por acreditar demais na sorte destes.
Por causa de um troco
Ferimento
grave: ontem, 23 de junho de 1901, às 23 horas, entraram na bodega de Catharina
Cuniga, à Rua Tiradentes, entre 15 de Novembro e General Vitorino [atual
Anchieta], dois orientais que pediram um copo de caninha.
Pouco
depois, esses orientais, por causa de um troco, promoveram desordem na referida
bodega, alarmando a vizinhança.
O
Sr. Álvaro Alberto, português, morador no prédio 81, fronteiro a casa onde se
dava a rixa e ali estabelecido com sapataria, saindo para ver o que ocorria,
foi inesperadamente agredido por um dos orientais, que, armado de faca, lhe
desferiu profundo golpe, abaixo da mamica esquerda.
O
criminoso foi logo preso e remetido para a cadeia civil, bem como o seu
companheiro de falcatruas.
Ambos
se negaram a dar os nomes.
Álvaro
Alberto foi levado à Farmácia Providência, onde foi medicado pelo Dr. Alves
Requião.
O
seu estado era grave, achando-se ele em sua residência, no referido prédio.
O
ferido era um homem trabalhador e gozava de bom conceito entre seus vizinhos.
Aberto
o inquérito pelo Sr. delegado de polícia sobre o ferimento grave, recebido pelo Sr. Álvaro Alberto, o ofensor,
que se encontrava preso, disse chamar-se Mariano Mancia e que fora, por muito
tempo, ordenança do finado major da brigada militar Utaliz Lupi.
O
Sr. Álvaro, dois dias depois da agressão, apresentava sinais de melhoras.
O golpe do Vigário
Aos 28 de agosto de
1911, era comunicada a prisão de vários gatunos, os quais haviam sido
fotografados por Rafael Grecco, no 3º posto, onde estavam recolhidos aguardando
a ação da justiça.
Dentre os gatunos presos, estava o menor João Pires Toledo
que, segundo o jornal Opinião Pública,
era o autor do conto do vigário de que fora vítima Catharina Cuniga.
Desordem na bodega
Dia 13 de outubro de
1911, às 20h30, na conhecida bodega de Catharina Cuniga, foco de contínuas
desordens, dois soldados do Exército promoveram grossa baderna, provocando
grande ajuntamento de povo.
Ao trilar de apitos, compareceram vários guardas da Polícia
Administrativa, que a muito custo conseguiram levar os perturbadores da ordem
ao lº posto.
O fato foi comunicado, pelo telefone, ao tenente Manoel de
Faria Corrêa, comandante do destacamento do Exército, o qual deu as devidas
providências.
Encontrado morto
Dia 14 de junho de
1913, às 13 horas, uma empregada da bodega de Catharina Cuniga encontrou morto,
à Rua Tiradentes nº 564, um homem de cor branca, de 70 anos presumíveis.
Em seu quarto, foram encontrados uma mala de mão e um baú
contendo roupa.
Comunicado o fato ao Sr. capitão Pedro Dias, delegado de
polícia, este compareceu em companhia do Dr. Arnaldo Menezes, médico municipal
e que atestou o óbito.
Aquela autoridade providenciou no sentido de ser o cadáver
removido para o necrotério da Santa Casa.
Agressão na espelunca da Catarina
Dia 3 de janeiro de 1914, à noite, na espelunca de Catarina
Cuniga, Sílvio Veleda, depois de rasgar as vestes de sua amásia a espancou
brutalmente.
O agressor foi preso e recolhido ao 1º posto.
Prostitutas promovem desordem na bodega
À celebérrima quadra da Rua Tiradentes,
entre 15 de Novembro e General Vitorino, na famosa bodega de Catharina Cuniga,
a mulher Colota, vulgo Ruiva,
promoveu dia 16 de janeiro de 1915, grande desordem com suas companheiras de
prostituto.
Comparecendo um guarda do 1º posto, a desalmada fugou,
barafustando pelo Hotel Portugal.
O guarda, cujo número de identificação desaparecera muito de
propósito, invadiu o estabelecimento e, sem pedir licença a quem quer que
fosse, arrancou dali a mulher, a socos e pontapés, e do mesmo modo conduzindo-a
até o 1º posto.
Como se vê, a nossa polícia prima sempre pela cortesia e
urbanidade, conhecendo a fundo as leis e as regras de educação!...
Baderna na espelunca da Catarina
Augusto José Farias, 30 anos de idade, “cor preta”, natural
de Canguçu, residente nas Três Vendas, meteu-se em uma baderna, dia 22 de março
de 1915, na Rua Tiradentes em casa da celebérrima Catarina Cuniga, tendo
recebido um ferimento inciso da região frontal esquerda, produzido por copo que
lhe foi arremessado.
A polícia não tomou conhecimento do fato.
Nova desordem na bodega da Catharina
Aos 17 dias de abril de
1916, à noite, vários indivíduos promoveram grande baderna na bodega de
Catharina Cuniga, na Encrencópolis,
havendo garrafas e móveis quebrados.
Ao se aproximar a polícia, os badernistas fugiram.
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(*) Extraído do livro, ainda inédito, A princesa
do vício e do pecado
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