O francesismo pelotense
(parte
2/2)
O cardápio? Aliás, o “Menu”? Bem, o cavalheiro poderia pedir
um “Poulet aux petit-pois jambom” e madame, quem sabe “Bifteech aux
champignons” ? Oui? Então que seja.
O restaurante ao qual nos referimos, acreditamos não tenha
sido bem sucedido: ou os pratos não foram, quando servidos, do agrado da
clientela pelotense ou pode ter sido pelo local, distante e não muito
afrancesado; pois, em julho de 1884, estava à venda podendo os interessados em
comprá-lo se dirigirem ao próprio local ou tratarem, “na cidade”, com Joaquim
José Dias Ferreira, Rua General Vitorino [atual Anchieta] nº 168.
O restaurante possuía um fogão de ferro superior e tudo o
mais que era preciso haver em “um estabelecimento desta ordem”.
Considerando a hipótese do Sr. Joaquim Dias Ferreira ser o
proprietário do Restaurante, e de origem portuguesa, o que é bem provável,
vemos então quão importante era o ser francês, naquela época, em Pelotas, aliás,
ser ou parecer francês era importante, de bom tom e necessário em quase todos
os lugares do mundo, pois, o idioma francês era o idioma mais influente, pelo
menos no mundo ocidental.
Agora, quisesse o cavalheiro uma novidade e fosse amante de
qualquer qualidade de bebidas, como cerveja, licores, etc., etc., etc., e
também doces diversos, etc., desse um pulo ao novo estabelecimento denominado
Cassino Parisiense, situado à Rua General Vitorino [atual Anchieta] esquina
Voluntários, que encontraria um serviço feito verdadeiramente à parisiense por
duas senhoras recém-chegadas de Montevidéu, que garantiam o ameno trato e a
excelente qualidade das bebidas; era, pois, um recreio agradável oferecido ao
respeitável público, que de certo não deixaria de afluir àquele novo
estabelecimento, completa novidade em Pelotas.
Já por sua vez o Sr. Henri Bensa, francês que havia
trabalhado nas principais cidades da Europa, bem como no Rio de Janeiro e
Montevidéu, dispondo, portanto de uma longa prática, afiançava ao público
pelotense que poderia satisfazer qualquer gosto, por mais “esquisito” que fosse
em seu estabelecimento, Colchoaria de
Pariz, que estava reaberta (onde fora o comércio dos Srs. J. M. Ribas &
Cia.) à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] nº 89, local onde o público
pelotense encontraria os serviços de “colchoaria, estofador e armador”,
trabalho à capricho, completo sortimento e modicidade em preços.
Quanto ao Sr. Eduardo Jeanneret, proprietário da “Óptica”
localizada à Rua São Miguel [atual 15 de Novembro] nº 153, fazia ciente que
comprara do Sr. Leopoldo Leon seu completo “sortimento de objetos de óptica”
bem como informava ter à disposição do respeitável público telescópios,
microscópios, lentes de óculos de alcance, binóculos para teatro e campanha
[zona rural], óculos e pince-nez de ouro, prata dourada, prata, tartaruga e
aço. Vidros brancos e de cores de todos os graus, barômetros e termômetros para
parede e banhos.
Salientamos também que o relógio da Torre do Mercado foi
adquirido pelo município de Pelotas através da empresa do Sr. Jeanneret.
E aproveitando a caminhada pela Rua São Miguel, essa do Café
Aquário, demos uma parada na loja dos Srs. Mascarenhas & Barcellos, que
anunciaram terem “altas novidades!”: Cortes de vestidos. O que tem aparecido de
mais chique neste gênero, tecidos os mais modernos, recém-chegados de Paris.
Para os meninos os Srs. Mascarenhas &Barcellos haviam recebido não somente
sobretudos franceses, muito baratos, bem como trajes de casimira para todos os
preços, calçados superiores para o inverno e meias de lã, muito finas.
Em caso de festa para ir, e precisando de artigos direto de
Paris, sem precisar ir a Paris, era só dar uma chegadinha no “Paraizo das
Damas”, que acabara de receber um lindíssimo sortimento de sedas para vestidos
e enfeites, cores as mais modernas assim como: rendas finas de diversas
qualidades; rendas com vidrilhos; filó de seda, branco e preto, bordados a
vidrilhos; sapatos de cetim, em diversas cores e pretos, e muitos outros. Luvas
de cores escolhidas, muito modernas. Leques? Também recebera o “Paraizo das
Damas” e o que “pode se apresentar demais chic”, informavam os comerciantes.
Enquanto você pensa a respeito, daremos uma olhada no
comunicado que a viúva Celestina Bardou fazia ao comércio: “A Viúva Bardou
participa ao comércio e a todos os seus fregueses da cidade e da campanha, que
a fábrica de seges do finado Furtuné Bardou seu marido, sucessor de Carlos Ruelle”,
continuava a operar sob a direção do “antigo e inteligente contramestre Pedro
Tapier”.
No comunicado, a Sra. Bardou dizia esperar continuando a
merecer a confiança “que há tanto tempo esta população e a da campanha” tinham
dispensado a seu pai e marido.
Furtuné Bardou, 45 anos de idade, sucessor de seu sogro Carlos
Ruelle, ambos artesãos franceses e desde há muito radicados em Pelotas, foi
enterrado no cemitério da cidade.
Agora, depois de todo esse passeio por essa Pelotas
parisiense, que achamos ter lhe mostrado, você ainda achar que foram buscar em
Paris os motivos para o surgimento da lenda urbana, nos resta dizer-lhe que
embora não pareça haver diferença entre o dizer que Pelotas não foi a Paris, e
sim que Paris veio a Pelotas, existe sim e é importante entendê-la.Se não,
vejamos: quando é dito que Pelotas foi a Paris, fica-nos a impressão de que o
fez por iniciativa própria e com o intuito de se modernizar, não somente agregando
conhecimentos novos, em todos os sentidos e áreas, mas, e também, evidenciar o
poder econômico de certa classe social.
Enquanto pensamos a respeito, convidamos o leitor a,
juntamente com a enorme colônia francesa se reunir no local situado à Rua Sete
de Setembro a fim de deliberar sobre a maneira de comemorar a festa nacional do
14 de Julho [Queda da Bastilha], bastando tratar nos endereços dos Srs. J.
Perez, C. Serres, Augusto. Blandin, L. Broqua e Monsieur C. Tarnac.
A comissão encarregada de organizar a festa teve como
Presidente o Sr. Bonelli; vogais os Srs. Dominique Pineau, Augusto Blandin,
Ramain Prieux, Adrian Behocaray e Lescure.
Segundo a imprensa da época, durante o dia (14) estiveram
embandeiradas algumas casas de residência e os navios atracados no porto da
cidade.
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Fonte: acervo da Bibliotheca Pùblica Pelotense e livro Mercado Central - Pelotas- de Klécio Santos
Fonte: acervo da Bibliotheca Pùblica Pelotense e livro Mercado Central - Pelotas- de Klécio Santos
Ilustrações: acervo da
Bibliotheca Pública Pelotense
Revisão do texto:
Professor Jonas Tenfen
Tratamento de imagens:
Bruna Detoni
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