segunda-feira, 29 de maio de 2017

Jack, o estripador, em Pelotas?


                                                                                     A.F.Monquelat

 

         Diante de um fato ocorrido em janeiro de 1902, na Rua Tiradentes nº 187, no lugar conhecido pela popular alcunha de Beco do Periquito, localizado entre as ruas Marechal Deodoro e Paysandu [atual Barrão de Santa Tecla] e que se tornou célebre nos anais da cidade também pela alcunha de Corredor do Periquito, aventava o jornalista do jornal Correio Mercantil a hipótese da existência em Pelotas “do original ou de um novo Jack, o estripador”.
         Por volta das 23 horas, foi o Dr. Gustavo Doss, clínico alemão aqui domiciliado, procurado em sua residência por duas pessoas negras, um homem e uma mulher, que, de carro, foram solicitar seus serviços profissionais para outra, que se achava ferida.
         O casal foi logo atendido pelo Dr. Doss e, com ele se dirigiram ao Beco, ou Corredor do Periquito.
         No local, o Dr. Doss, - a quem as duas pessoas que o foram buscar disseram já ter procurado outros médicos, que não as puderam atender, sendo que o fato ocorrera às 20 horas – encontrou deitada no leito uma mulher apresentando profundo e grave ferimento no ventre, produzido por instrumento perfurocortante.
         A enferma declarou chamar-se Maria Borges e ter sido ferida, na rua, quando voltava para casa, por um indivíduo desconhecido que, enfrentando-a, desferiu-lhe o golpe, logo fugindo precipitadamente.
         As declarações de Maria Borges foram confirmadas pelas pessoas presentes.
         Dizia o repórter que obtivera as informações em primeira mão e que o ocorrido tratava-se de uma grave ocorrência. Neste acontecimento poderia conter a tentativa de um crime abominável, pois, segundo o exame médico, ficara bem claro que o ferimento fora feito de baixo para cima, evidenciando que o intuito do autor daquele crime era atingir as partes genitais da vítima.
         Entretanto, fosse lá como fosse ocaso ainda não era do conhecimento da polícia, sendo que aquele jornal era o primeiro a divulgá-lo e, naturalmente que, a partir de então, caberia à polícia investigar e resolver aquele mistério.
         Na matéria posterior a do furo de reportagem dado pelo Correio Mercantil, divulgava este que a polícia estava procurando esclarecer o crime ocorrido.
         O jornal havia fornecido à polícia as informações que obtivera e que, a partir daquelas, estava à polícia levantando hipóteses quanto ao misterioso crime.
         Naquela manhã, recebera o jornalista, por intermédio do escrivão de polícia o Sr. Hercio Araújo, o convite do Sr. tenente-coronel Cristóvão José dos Santos, delegado de polícia, para que ele, ao meio dia, comparecesse na delegacia.
         O jornalista prestou à autoridade os esclarecimentos que sabia sobre o caso.
         Antes dele, já tinha sido ouvida a mulher Maria Borges, a vítima do misterioso crime.



         Disse ela ser moradora no lugar conhecido pela popular alcunha de Beco do Periquito.
         Era uma mulher, de cor parda, ainda moça e de bela aparência. Era casada, mas vivia separada do marido, que fora soldado do 29º batalhão de infantaria e que, pouco antes do ocorrido, ao dar baixa, seguira para a Bahia.
         Maria não o quis acompanhar, com receio de que ele lhe fizesse algum mal, vingando-se do que ela lhe fizera. Nunca se deram bem, e, em uma discussão entre o casal, Maria Borges esfaqueara o marido.
         Era mulher de gênio violento e, segundo a polícia, de maus precedentes. Na época, havia suspeitas de que Maria andasse envolvida em um crime que ocorrera dias antes de ter sido ferida da forma misteriosa como fora.
         Sobre o atentado, Maria Borges disse o seguinte: não saber a quem atribuir àquela agressão. Naquela noite, 7 de janeiro, ao chegar à esquina da Rua Tiradentes com a Andrade Neves, notou um indivíduo parado na calçada oposta, o qual aproximando-se dela, vibrou-lhe uma facada, pondo-se em seguida a correr.
         Estava assim, no entender do jornalista, comprovado que o golpe era dirigido as partes genitais de Maria Borges.
         “Um novo Jack, o estripador”? indagava o jornalista. E prosseguia em suas indagações: ou algum amante desesperado da folgazona viúva... em parte?...  
         Maria Borges disse também não haver contado o ocorrido antes à polícia porque não conhecendo o indivíduo que a ferira, pensava ela que de nada adiantaria com a sua queixa.
         O Sr. tenente-coronel Cristóvão José dos Santos, além da imprensa, quem descobrira o fato, e da vítima, ouviu o médico que a tratara, o Dr. Gustavo Doss.
         O depoimento foi secreto.
         O Dr. Gustavo Doss, além das declarações que prestou, respondeu aos quesitos formulados pela polícia, procedendo ao corpo de delito.
         Na cidade inteira, foi o sensacional fato comentado o dia inteiro, especulando-se a seu respeito todo o tipo de comentários.
         Considerando o fato de Jack não ter atacado outra vez, pelo menos em Pelotas, acreditamos que o Estripador tenha voltado para Londres...

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Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
 Revisão do texto: Jonas Tenfen

Postagem: Bruna Detoni

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