segunda-feira, 22 de maio de 2017

O cabaré da Lili (parte 5 e final)

 

Se o Sr. chefe de polícia sabia que a repressão da jogatina era humanamente impossível, visto como a campanha moralizadora tinha pela frente, IN PRIMO LOCO, OS CHEFÕES protetores de viciosos e assassinos, para que levava a fazer FITAS e querer ostentar uma norma de conduta redondamente inviável?
 Deixasse o Sr. delegado desses arrancos de energia... pirotécnica. Nem outro pintado, poderia deter o passo aos jogadores, enquanto eles fossem arma partidária e como tal julgados indispensáveis.
 Mais valia o silêncio, prudente, oportuno e cauteloso, do que essas jactâncias quixotescas, que terminavam sempre, como agora, em FIASCO maiúsculo. 
Se o Sr. delegado ordenasse a perseguição ao jogo, não quisesse a jogatina, tinha poderes para acabar com ela.
Pois bem. Fizesse-o em Pelotas, se fosse capaz...
O jornal o auxiliaria naquele trabalho meritoso.
Apontar-lhe-ia as casas onde se jogava e as pessoas que as frequentavam.
Poderia, mesmo, fornecer-lhe outros dados interessantes.
Era só o Sr. delegado pedir,  por boca...
A respeito da jogatina recebeu o jornal a seguinte carta: “Pelotas, 12 de fevereiro de 1916. Sr. Redator d’O Rebate – Confiados no seu critério e na sua máscula energia, para com os ditames de tudo quanto é bom e direito, vimos pedir-vos, para verberar na sua conceituada folha, sobre a casa ou antes, o antro de perdição e jogatina intitulado “cabaret” da Lili, onde mulheres da vida fácil, com as sua “toaletes” à última moda, insinuadas pelos seus amantes, vão como verdadeiros imãs atrair a rapaziada à toda a sorte de gastos e abusos próprios de sua vida. Aquela tasca, foco de perdição, verdadeira “baiuca”, semelhante aos albergues sangrentos, deve ser extinta pelas autoridades, como uma medida de segurança ao sossego público, ali perde-se o moço, o velho, a honra e o dinheiro alheios; para esse  lupanar imundo, próprio dos jogadores e batedores de carteiras, pedimos o seu auxílio junto de quem de direito.
Quem como O Rebate, venceu a questão da menina Francisca, também poderá vencer esta. Ass. Muitos prejudicados”.
        Ao que, depois da publicação da carta, o jornalista acrescentara: que é que estamos fazendo, se não pedindo vistas ao poder público para o referido antro de imoralidades?
Há cerca de quinze dias que estamos “martelando” e, é o mesmo que... chover no molhado.
Em todo caso, um consolo lhe restava: Era o de que tinha feito arrefecer a concorrência àquela casa de tolerância, onde por vezes, devido à falta de “aficionados”, a roleta tinha deixado de funcionar.
Aguardando ele uma sessão concorrida para, com o auxílio da reportagem que mantinha lá dentro, estampar no Rebate, os nomes dos jogadores, desmascarando-os à face da sociedade. É o mais que poderia fazer.

Moulin Rouge - Paris


Batida de “compadres”.
            Foi noticiado na imprensa local, dizia o redator de O Rebate em 15 de fevereiro de 1916, aliás, com a “manha” que caracterizava os processos CAPIVARESCOS, que o Sr. delegado de polícia, acompanhado de uma maloca de VERNETIANOS, dera uma batida, sábado último na casa de tavolagem de Lili de tal, NADA ENCONTRANDO QUE DENUNCIASSE A EXISTÊNCIA DA JOGATINA, ali.
        A tal batida fora o que se podia chamar farsa indecorosa, autorizando até a supor que antes dela ser executada houvera TRANSMISSÃO DE PENSAMENTO, ou funcionara a TELEGRAFIA SEM FIOS!
    Tudo ele admitiria como sério e honesto, menos a declaração de não ter sido encontrada, naquele antro, coisa alguma que denunciasse a existência de jogatina, pois lá estavam, poderia asseverá-lo categoricamente, as mesas do BACARAT e da ROLETA, com os competentes panos azul e verde bem como os demais acessórios, que pertenceram ao extinto CABARET da Rua Marechal Floriano.
      Se o Sr. João Manoel Gomes e Silva QUISESSE VER, por certo que teria deparado com tais objetos e feito a apreensão deles.
       O Sr. delegado, entretanto, não levara o intuito de agir eficazmente, buscando apenas dar uma satisfação ao público ou, pelo menos, CONFUNDIR O REBATE, com um desmentido indireto.
       Soubesse, porém, o Sr. delegado de polícia que mantinha tudo quanto vinha  afirmando, sustentando sob palavra de honra e até em juízo se fosse necessário, que a jogatina funcionara várias vezes na casa de tavolagem de Lili de tal, tendo um viajante comercial perdido 300 mil réis na ROLETA.
       Podendo adiantar mais, que, se o jogo não tinha mais animação, devia-se- à moralizadora campanha do REBATE, o qual determinara a escassez absoluta de AFICIONADOS, temerosos de uma batida da polícia.
        Acrescentando ainda, que os jogadores já haviam declarado que O REBATE haveria de cansar e eles prosseguiriam no seu NEGÓCIO.
         De resto, haveria quem pudesse acreditar que o Sr. João Manoel não soubesse que o jogo campeava em Pelotas, por toda a parte; que o BICHO continuava sendo profissão LÍCITA de muita gente?!
         Ora, não fossem tão ingênuos!...
         O que se fizera foi uma comédia, quiçá precedida de aviso aos jogadores para que o resultado fosse negativo.
         O jornal é que não iria à onda e, como sempre, se manteria na estacada.

Lili D’or e o Bar Restaurant Maxim’s

         A Opinião Pública de 31 de janeiro de 1916 noticiava que, no espaçoso prédio à Rua Andrade Neves nº 168, inaugurar-se-ia, dia 1º de fevereiro, o Bar Restaurant Maxim’s, do qual era proprietária a cantora Lili D’or.
        A nova casa era inspirada no gênero de outra existentes no Rio de Janeiro, Buenos Aires e Montevidéu, e nela o público encontraria, todas as noites, além de boa mesa, atraentes diversões, como sejam: bailes, música e canto.
         A notícia divulgada pela Opinião Pública sobre a inauguração do Maxim’s, foi também veiculada nos jornais Diário Popular e O Dia, em forma de anúncio-propaganda.
       Mas, ao que tudo indica, os empreendimentos de Mademoisele Lili D’or eram fachadas para esconderem os seus verdadeiros negócios, que eram o jogo e a prostituição, haja vista que: às 14 horas do dia 1º de março de 1916, os Srs. Dr. Amaro de Campos Pereira, subchefe de polícia, capitão João Manoel Gomes e Silva, delegado de polícia, capitão Francisco J. Vernetti, subintendente, e Prudêncio Ribeiro, apreenderam no Restaurante e Bar Maxim’s, vários apetrechos e fichas de jogos.
         O Bar-restaurante Maxim’s fora inaugurado dia 1º de fevereiro de 1916, e era de propriedade de Lili D’Or, também proprietária do Cabaré da Lili.
      Enquanto a polícia apreendia os apetrechos e fichas de jogos no Restaurant Maxim’s, a imprensa anunciava o “Grande baile `fantasia” que aconteceria dia 4 de março de 1916, no elegante salão do restaurante.
                                                                                             

_____________________________________________
Fonte de pesquisa: Bibliotheca Pública de Pelotas/CDOV
Revisão do texto: Jonas Tenfen

Postagem: Bruna Detoni

Nenhum comentário:

Postar um comentário